sexta-feira, 9 de outubro de 2009

RTRS-Discurso não alivia alta de DI por risco de atividade mais forte

Por Paula Laier SÃO PAULO, 9 de outubro (Reuters) - A curva futura de juro tem sido objeto constante de declarações de autoridades econômicas, que consideram exagerado o prêmio nos contratos de DI diante de um cenário benigno de inflacão e crescimento dentro do potencial. 
Palavras, contudo, não têm sido suficientes para abrandar o movimento. Apenas neste mês, o DI janeiro de 2011 --mais liquído e que sinaliza a expectativa de juro ao fim de 2010-- passou de 10,23 para 10,45 por cento ao ano. Há pouco mais de um mês, esse contrato apontava 9,72 por cento, conforme o ajuste.
 A curva tem no preço uma alta de 4 pontos percentuais em 2010, mas os vencimentos também embutem probabilidade de elevação, mesmo que marginal, a partir de outubro deste ano. Atualmente, a Selic está em 8,75 por cento ao ano.
 O risco de o ritmo da atividade econômica se mostrar acima do potencial, provocando pressões inflacionárias e alta do juro, é um dos argumentos para justificar o comportamento dos DIs. "O mercado está convencido de que o risco existe e busca se proteger disso", destaca Julio Callegari, economista do JPMorgan, em São Paulo. Ele avalia que a economia poderá crescer acima do potencial nesta segunda metade do ano, citando uma expansão muito acelerada já no terceiro trimestre e destacando estoques menores no fim do ano e juro historicamente baixo. "Isso não significa que não exista ociosidade, mas ela está sendo corroída de forma muito rápida." O JPMorgan estima elevação da Selic em janeiro de 2010.
 Na visão do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, a reação do mercado é de quem aprendeu a não se deixar iludir pela inflação corrente. Em cenário de políticas econômicas expansionistas, se a demanda estiver crescendo com força, a inflação tende a subir, avalia. Também há um componente de credibilidade, de que o Banco Central fará o que for necessário, mesmo que isso implique em alta de juro em período eleitoral, acrescenta o Bradesco, que estima alta da Selic em abril.
 Os analistas do Citigroup também vêem aumento da taxa básica em abril. Apesar de estimarem um cenário benigno de inflação no futuro próximo, citam que, se o PIB seguir crescendo a taxas de 2 por cento por vários trimestres, pode levantar pressões nos preços no segundo semestre de 2010 e particularmente em 2011. Eles ponderam, contudo, que a curva de DI ainda oferece prêmio diante de um prognóstico de Selic a 10,75 por cento no fim do ano que vem.
 Tony Volpon, estrategista para América Latina no Nomura Securities, avalia que a curva de DI não está exagerando, uma vez que se trata de um momento de forte incertezas. "Qual a políica fiscal do governo em um momento de recuperação? Quem estará no BC, e ele terá liberdade de agir? Qual a força e sustentabilidade da recuperação internacional?", questiona. A expectativa do banco de investimentos é de alta da Selic também em abril.
 CURVA NÃO REFLETE TODAS AS OPINIÕES
 Na corrente alinhada à visão do governo, a percepção é de que a diminuição da ociosidade não acontece em ritmo preocupante. "O mercado de DI está exagerando. Quando observo o ritmo da atividade, não vejo inflação suficiente para uma alta rápida de juro", analisa André Loes, economista-chefe do HSBC, que prevê aumento da Selic apenas no segundo semestre de 2010.
 Flávio Castelo Branco, economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), também descarta riscos de descasamento entre oferta e demanda à frente. Apesar de o uso da capacidade instalada das empresas ter crescido em julho e agosto, ele destacou que o índice segue relativamente baixo. O uso da capacidade instalada na indústria estava em 80,1 por cento em agosto. O dado ainda está abaixo dos 82,7 por cento apurados no mesmo período de 2008, antes do agravamento da crise global, mas bem acima dos 78,2 por cento registrados em fevereiro, quando o país vivia uma recessão. "Não tem que temer o uso da capacidade instalada. É até bom que ele suba um pouco porque promove novos investimentos", afirmou Castelo Branco.
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