Como de costume é uma gentileza do Tony’s News.
A coisa toda é muito interessante, pois, embora de um ponto de vista muito americano, coloca em perspectiva, e de uma forma muito pedagógica, o problema cambial pelo qual passam todos os países.
Da perspectiva brasileira fica meio que parecendo que a questão se resolve pelo estrito controle cambial do dólar americano. O que a matéria deixa muito claro, até para quem não for economista, é que a questão é bem mais complexa.
É também um bom ponto de referência para avaliar os rumos da política externa brasileira. Conveniente lembrar que em fins de 2008 o discurso oficial brasileiro era o da luta do sul contra o norte e da profunda aliança entre os países Emergentes.
Nada irritou mais brasileiros que as recentes medidas americanas de ligar as impressoras e colocar no mundo novos U$ 600 bi. A matéria contextualiza essa questão e mostra claramente que terá que haver uma mudança de paradigmas na economia americana e européia, por extensão. Do contrário as coisas irão mudar muito pouco.
O discurso sul contra o norte desmonta frente ao números e mostram o mundo como ele é. Em diversos posts anteriores comentamos a dificuldade de alinhar o mundo frente às necessidades locais de cada país. O chamado Trilema de Dan Rodrik. A política externa de avestruz do Brasil parece estar mais preocupada em estar “politicamente correta” a partir de suas matrizes ideológicas fundadas nas convicções dos verdadeiros manda-chuvas do Itamaraty.
Finalmente, é bom registrar que também fica mais clara a necessidade do debate sobre as questões estruturais e processos que acabam implicando numa condição onde o país é fragilizado de forma extremamente pesada frente aos problemas do resto do mundo. Ai também não tem discurso ideológico que resolva o problema. Muito menos os recurso ao nacionalismo tosco do nacional-desenvolvimentismo, figura ideológica dominante nesse governo. A se conferir se permanece no próximo.
Demetrio Carneiro
Início da transcrição
Comentário de fundo:
O assunto dominou a reunião entre o presidente Hu Jintao e Obama em Seul, na Coreia, hoje. O correspondente de economia do NewsHour, Paulo Solman, explica o que está por trás da disputa.
É parte de sua reportagen no Making Sense sobre notícias financeiras.
PAULO SOLMAN: Na reunião do G-20 na Coreia do Sul esta semana, os conflitos mais recentes sobre a moeda : O de que a impressão do Federal Reserve de mais dólares, a chamada flexibilização quantitativa, poderia perturbar a economia mundial.
Mas esta história é sobre uma questão mai antiga: os EUA e outros pressionando a China para deixar de controlar sua moeda, para de manter seu valor baixo, situação que continua a dar aos produtos e de empresas chinesas uma supostamente desleal vantagem global.
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DAVID Steck, Nomura Securities: Net-net(1), você viu um pequeno movimento para baixo do dólar, mas não tão significativo.
PAULO SOLMAN: David Steck, que dirige a mesa de câmbio da Nomura Securities em Nova York, nos mostrou como o dólar tem se saindo contra o Yuan chinês.
DAVID Steck: Sim, sim, aqui, você está olhando para um gráfico de longo prazo.
PAULO SOLMAN: Por muitos anos, a China colou a sua moeda ao dólar dos EUA. Mas, a partir de 2005, a China mostrou suas garras, deixando o valor de suas moeda cair frente ao U$D cerca de 20 por cento em três anos.
Mas, em 2008, a crise financeira mundial chegou e a China re-colou o Yuan ao dólar. Na sequência, a China tenha se recuperou, enquanto a economia dos EUA entrou em crise e a nossa taxa de desemprego ficou perturbadoramente alta.
DAVID Steck( mostrando o gráfico): Os EUA querem que isso aconteça, esse movimento aqui. Queremos voltar a este caminho em que o dólar perder valor frente ao yuan.
PAULO SOLMAN: Precisamos então exportar mais e importar menos.
DAVID Steck: Correto, e, talvez, preservar alguns empregos industriais.
PAULO SOLMAN: Mas trata-se de como a China olha para si própria, diz o economista do MIT Yasheng Huang.
Yasheng Huang, professor de Economia Política e Gestão Internacional, MIT Sloan School of Management: O setor exportador chinês é um grande empregador e eles tendem a ser maiores em termos de emprego, em comparação com as empresas que não vendem no exterior. Assim, quando o premiê Wen Jiabao disse que a valorização da moeda vai ter um efeito substancialmente negativo sobre o desemprego, eu concordo com ele.
PAULO SOLMAN: Mas, exatamente como se faz na China o controle do valor da moeda? Certamente não será no mercado...
DAVID Steck: Todos os dias, às 09:15 hora de Pequim, o banco central, o Banco Popular da China, em conjugação com o SAFE, que é a Administração Estatal de Câmbio, emitem uma circular a todos os bancos no país. E o que diz a circular? : Esta vai ser a taxa de referência do Dólar frente ao Yuan hoje.
PAULO SOLMAN: Suponha que a Ford Motor Company compre alguma siderúrgica chinesa, diz David Steck...
DAVID Steck: A Ford paga pela siderúrgica chinesal, digamos, US $ 50 milhões. Assim, a empresa tem agora US $ 50 milhões. Entretanto, como uma empresa que atua na China desejará sua própria moeda. O banco estatal irá emitir Yuan para a empresa siderúrgica em troca desses dólares. E então, o banco estatal vai para o Banco Central para trocar os dólares.
PAULO SOLMAN: Então, o banco central da China acumula os dólares pagos a empresas chinesas, centenas de bilhões de dólares por ano. Se o BCP simplesmente repassá-los, os riscos bancários aumentarão, inundando o mundo com tantos dólares. A demanda por eles forçará sua queda. O dólar, então, cai de preço.
DAVID Steck: Então, eles têm de colocar os dólares em algum lugar. Os dólares estão sendo colocados no nível mais básico, o mercado mais líquido do mundo, que é o mercado de títulos do Tesouro americano. É aí que você tem essa mesma lógica circular da China executando grandes superávits comerciais e os EUA fazendo grandes déficits, mas eles estão interligados.
PAULO SOLMAN: Porquê a China está emprestando o dinheiro para realizarmos os nossos grandes déficits?
DAVID Steck: Uma interpretação é que a China está basicamente nos emprestando o dinheiro para comprarmos coisas deles.
PAULO SOLMAN: Agora, neste momento, poderíamos apresentar grande uma montagem com a opinião de políticos e mesmo alguns economistas sobre o que um grande problema que isto é.
Mais gráficos e uma suscinta visão futurista nesse vídeo que se tornou viral.
Obs.: É apresentado um vídeo que se passa em uma espécie de conferência na China no ano de 2033.
O PALESTRANTE (através do tradutor): Por que as grandes nações caem?
PAULO SOLMAN, comentando no fundo: ( O vídeo ) É sobre a ascensão da China, o declínio e a queda dos grandes impérios.
Eles gastaram demais, diz o professor chinês, também no fundo, e acabaram devedores - o grande devedor mais recente: os Estados Unidos.
O PALESTRANTE (através do tradutor): Claro, nós possuímos a maior parte da sua dívida, então agora eles trabalham para nós.
(Risos da platéia no vídeo futurista)
PAULO SOLMAN: Isso é um ponto de vista dos chineses. Mas eles dizem que estão apenas sendo prudentes, controlando a sua moeda para manter o “hot money” no superaquecimento de sua economia.
Yasheng Huang: Hot money, dinheiro que vai e volta muito, muito rapidamente. Se você olhar para os EUA, as taxas de juros aqui são muito, muito baixo. As taxas de juro japonesas são muito, muito baixas. Esse dinheiro tem que encontrar uma abrigo, para parar, para gerar retornos mais elevados.
PAULO SOLMAN: OK, então, os lotes de "hot money" correm para a China. Então o que há de errado com isso?
Yasheng Huang: Eles - bem, quero dizer que eles aumentam os preços. Eles compram os ativos imobiliários. Eles compram os ativos do mercado de ações, aumentar os preços. E então, derepente, eles podem ter uma redução catastrófica, certo? Esse é o medo.
PAULO SOLMAN: Mas, ao desencorajar ativamente o hot money, proibindo o comércio aberto da sua moeda, a China se abre para a situação já tão familiar.
Se a China mantém sua moeda artificialmente baixa, isso significa que seus produtos são artificialmente baixos, as suas empresas fecham negócios, a areia que passa pelos dedos e que leva os empregos para fora dos Estados Unidos.
Yasheng Huang: Para os Estados Unidos ter um défcit é consequência de um país que simplesmente consome muito além do que pode. Isso é importante. A taxa de câmbio é importante. Quando ela despenca importa com qual país você incorre em déficit, com a China, com a Índia ou com o Brasil? Esse é o problema.
PAULO SOLMAN: Então, se os bens da China estavam mais caros do que estão hoje, você acha que os Estados Unidos ainda deveria continuar a pedir dinheiro emprestado?
Yasheng Huang: Da Índia, do Vietnã, do Brasil. Não estou dizendo que eu concordo completamente com os chineses.Tudo que estou dizendo é que é muito difícil fazer a discussão com os chineses e dizer, você têm fazer algo sobre sua taxa de câmbio, mas, nós podemos gastar do jeito que queremos, certo?
Então, isso é um - Isso não é um argumento de peso com ninguém.
PAULO SOLMAN: Mas, olha, diz o David Steck, do Nomura, que os chineses estão deixando agora a sua moeda se tornar mais valiosa. O Dólar Americano mais fraco compra 2,5 por cento menos que qualquer coisa cotada em Yuan com relação ao início do verão.
DAVID Steck: Se você extrapolar o ritmo dos últimos dois meses, você está ficando para trás nesse caminho onde, você sabe, 5 por cento a 7 por cento por ano está definitivamente no controle, desde que as autoridadesmantenham a mesma política.
PAULO SOLMAN: Do outro lado do escritório, no entanto, há dois caras que trabalham para David Steck, que ainda vêem uma queda no Yuan.
Jens Nordvig, Nomura Securities: Se você olhar para o mesmo período, comparando com o euro, tivemos um avanço dramático, na direção oposta da região, de 7 por cento.
PAULO SOLMAN: Jens Nordvig funciona a mesa que lida com euros.
Jens Nordvig: A moeda chinesa está um pouco mais forte frente ao dólar. Mas a moeda chinesa está realmente mais fraca contra quase todas as moedas do mundo.
PAULO SOLMAN: Não admira que tantos países do G20 estão ainda mais ativos que os Estados Unidos, especialmente as economias emergentes da América Latina, cujas divisas apreciaram, desde a crise, em relação à China.
Liran Blum dirige a mesa Lat-Am.
Liran BLUM, Nomura Securities: Se olharmos para o Brasil em relação à China, temos visto um movimento muito significativamente maior, 60 por cento, a valorização de 70 por cento, desde o início da crise.
PAULO SOLMAN: Então, 60 por cento, a moeda brasileira se valorizou, ganhando valor de face frente à moeda chinesa, o que significa que as exportações brasileiras são as mais caros do mundo.
Liran BLUM: Correto. Então, se você faz sapatos no Brasil, é muito mais difícil competir, mesmo no mercado local, contra as importações chinesas. E com muito do que está sendo importado, porque os chineses têm a sua moeda ligada ao dólar.
PAULO SOLMAN: É por isso o resto do mundo continuará a pressionar a China, na Coreia do Sul, esta semana.