sábado, 10 de outubro de 2009

CHOQUE DE CAPITALISMO


O que nosso país precisa é de um choque de capitalismo. Curiosamente boa parte da esquerda brasileira já lutou pela chamada “revolução democrático-burguesa” que nada mais era que a consolidação de um capitalismo nacional, com base numa ampla democracia, em oposição ao invasivo e hegemonizante capitalismo imperialista.

Na lógica dessa proposta era fundamental desenvolver o capitalismo, pois assim teríamos uma classe operária e essa classe operária conduziria à revolução socialista.

A revolução não chegou, a classe operária migrou para o sindicalismo de resultados. Mas o fato é que tanto a prática econômica do regime da ditadura, como a aposta da esquerda, foram na mesma direção e, hoje, o capitalismo chegou até mesmo ao campo, visto antes como uma herança feudal.
Muitos dos “latifúndios” que o MST busca invadir hoje não são os mesmo de 50 anos atrás. Tem muita tecnologia envolvida na produção rural e isso explica a atitude fundamentalista da Via Campesina destruindo locais de pesquisa.
O recente episódio da destruição do laranjal é mais uma pista que aponta para uma luta contra a tecnologia.
A visão MST é a do Estado provedor aliado às unidades de agricultura familiar e não das unidades agrícolas familiares voltadas para o mercado buscando sua própria sustentação. Se fosse haveria toda uma preocupação com a etapa de comercialização, que não existe.
Claro que isso não justifica o que ocorre no campo. O governismo prefere se acomodar administrando a tampa da panela social e admitindo uma “válvula de escape” nas invasões e na aposentadoria rural, ao contrário de estimular uma real política sistemática, verticalização das cadeias, de emprego e/ou empreendedorismo no campo.
É evidente que tem uma questão institucional e que tem a haver com o estatuto da propriedade da terra melhor resolvido, na prática.

Hoje, aparentemente vencida a etapa da revolução democrático-burguesa, nossos socialistas não sabendo bem o que querem quanto ao socialismo, mas querem, pelo menos, o capitalismo do bem estar social e para isso querem que o Estado, como síntese hipotética das vontades da maioria, seja um indutor e provedor do bem comum.
Na realidade, embora a economia privada e as famílias que com ela se relacionam na matriz econômica, seja a grande provedora dos recursos que sustentam a ação de Estado, para essa lógica só o controle estatal viabilizará a sociedade mais justa.
Se não podemos ser socialistas num regime socialista seremos socialistas num regime capitalista criando um capitalismo de Estado.
Talvez falte perceber que esse Capitalismo de Estado é o mesmo que acaba se movimentando ao largo da sociedade e atendendo de forma mais eficiente as demandas de grupos econômicos ligados às estruturas de poder. O Estado “forte” não é o lugar das demandas sociais autenticas e muito menos o lugar da democratização do Estado ou do desenvolvimento econômico sustentado.

Demetrio Carneiro