Tem gente assustada com a apreciação do real. Mas tem gente interessada em usar a apreciação.
Nessa leitura as exportações podem cair devido ao maior preço dos nossos produtos em dólar para os compradores no exterior.
Grupos extremamente poderosos, ligados à indústria, nesse momento se aliam a economistas que defendem o maior controle do Estado sobre a economia, que se aliam a um governo que só olha para o Estado como solução para tudo e, principalmente, para seu projeto de poder.
Dessa aliança nasce a proposta de controle de capitais como solução para a apreciação cambial.
De uma forma ou de outra o termo “controle de capitais” incendeia o imaginário nacionalista de muita gente.
A vontade de controlar os capitais estrangeiros já está presente em projetos políticos desde a década de 50 e foi tema de inúmeras campanhas eleitorais. Certamente também será dessa.
A questão é se realmente é preciso controlar o câmbio.
O setor exportador ligado às commodities não mostrou sentir reflexos negativos na apreciação. Mas para a indústria o câmbio pode servir como um adicional importantíssimo, aumentando a sua vantagem competitiva.
Normalmente essa vantagem deveria ser buscada no aumento de produtividade, por exemplo, mas um câmbio depreciado reduz o valor em dólar e pode tornar um produto mais atrativo, sem que seja necessário qualquer investimento extra. Coisas como novos nichos, inovações, novos processos, enfim competitividade são dispensáveis se o real desvaloriza.
Para o próprio governo é mais prático tentar controlar a apreciação cambial e não apenas pelo fácil discurso eleitoral.
Dá menos trabalho do que reduzir o custo-Brasil, por exemplo.
Dá menos trabalho que modificar a burocracia cartorial ligada ao comércio exterior ou definir questões institucionais ligadas ao estatuto da propriedade.
Nesse seleto grupo de empresários, economistas e gestores públicos todos ganharão com o controle de capitais. Quem perderá é o país, mas isso é detalhe, já que empresários lucrarão mais, economistas encontrarão cargos no poder e gestores terão argumento eleitoral.
Demetrio Carneiro