É um texto extenso (o documento original tem 60 páginas), mas os problemas a serem enfrentados, em nome de nosso bem estar e o das gerações futuras, são igualmente extensos.
Quem se aventurar pelas próximas linhas necessariamente sairá dessa leitura de alguma forma balançado, mesmo que seja para negar as evidências e seguir em seu cotidiano apartado do mundo. Quem acreditar no que aqui se apresenta precisará repensar as suas práticas e a capacidade própria de mudar as coisas de alguma forma. Há um óbvio chamado para a ação afirmativa.
Governança. Assim como será na Rio+20 o foco do documento é de certa forma demonstrar como a questão não de governo, mas de governança se torna central no enfrentamento desses problemas emergentes.
Estado. De forma geral o documento se rende à realidade. Danos ambientais “não têm dono”. O mercado por si mesmo não é capaz de solucionar essas questões emergentes. Sem dúvida o dano ambiental visto como uma externalidade pode ser dado como uma falha de mercado e nos casos de falha de mercado o Estado precisa atuar. Isto parece pacífico. A questão é quanto poder se dá ao Estado e quanto a sociedade civil precisa se mobilizar para que as soluções não caiam no colo do Estado e virem reféns de coalizões de poder e da tecno-burocracia. Isso vale tanto para o Estado-Nação como para as estruturas semi-estatais que são criadas para atuar de forma multilateral. Esse é uma questão de governança, que não pode ser vista apenas como uma questão de “técnicas de governo”.
É um pouco como a vida imitando a arte. A ficção científica, no caso. Já temos nosso lado
Blade Runner facilmente identificável nas nossas atuaismegalópolis, mas será que chegaremos ao
Resident Evil? Um dos temas do texto produzido pelo PNUMA, 10ª questão do ranking, trata justamente da velocidade e descompromisso em considerar possíveis efeitos negativos no lançamento de novidades científicas.
Mais do que nunca nos deparamos com o conceito de que o planeta é um todo único e que suas partes são interdependentes, gostemos ou não.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) apresentou um substancial documento destinado a fundamentar seu programa de trabalho e que pode ser visto como uma válida contribuição ao evento Rio +20.
Evidentemente um documento com este aporte, originado do debate de cientistas e pesquisadores os mais renomados não deve ser objeto de interesse apenas dos participantes da Rio+20 e precisa, até mesmo respeitando a prioridade dada no documento ao conceito de governança, ser conhecido e debatido pela sociedade e não apenas pelos agentes políticos e agentes públicos.
Denominado “
21 questões para o século 21”(
21 issues to the 21th century, no original), o documento basicamente alinha 21 temas caracterizados como desafios emergentes que a humanidade enfrentará neste século. Novos desafios ou desafios emergentes no sentido de que os temas arrolados envolveram novas abordagens, novas propostas ou aparecem aqui arrolados por seus efeitos e consequências para a economia e a humanidade terem sido intensificados. O rol de temas, que não distingue entre os que são positivos ou negativos, é resultado de 20 diferentes painéis, organizados por 22 eminentes cientistas, de diferentes países, ao longo de meses de trabalhos, entre dezembro de 2010 e agosto de 2011. Por meios eletrônicos foram consultados 400 outros cientistas e pesquisadores, também renomados.
Estatísticas:
76% dos cientistas e pesquisadores são da área de ciências naturais. 15% da área de ciências sociais. 9% são economistas.
73% são homens.
27% são da Europa. 18% dos EUA. 17% da África. 15% da Ásia-Pacífico. 13% da América Latina-Caribe. 10% do Oeste da Ásia.
O PNUMA se propõe a renovar esse debate a cada dois anos, pois assume que a prioridade dos temas pode ser alterada ao longo do tempo, tanto pela perda relativa de importância, como pela emergência de outros temas mais relevantes para aquele momento futuro.
Deste imenso trabalho coletivo foram sacados 21 temas, que chegaram a ser mais de 90 inicialmente, cuja relevância nos leva à formulação de questões que se se apresentam como desafios deste século e nos solicitam resposta objetivas e concretas. Os temas foram organizados em diferentes eixos e ranqueados a partir das preferências daquele seleto colégio eleitoral de cientistas e pesquisadores citado acima. Os eixos, na ordem que aparecem no documento, são:
Questões transversais;
Questões de alimentação, biodiversidade e solo;
Questões referentes à água doce e marinha;
Questões de mudança climática;
Questões envolvendo energia, tecnologia e resíduos.
No resumo executivo – em inglês - apresentado pelo PNUMA as questões são apresentadas e ordenadas pela sequência dos eixos. Aqui iremos apresentar o tema e sua justificativa na ordem do ranking estabelecido pelos cientistas. Entre parêntesis estará o número de ordem no documento original e o eixo a que está subordinado o tema.
Demetrio Carneiro
21 QUESTÕES PARA 0 SÉCULO 21
1ª – Alinhar a governança com o desafio da sustentabilidade global (001 – Questões transversais)
O atual sistema internacional de governança ambiental, com seu labirinto de acordos multilaterais e travados entre si, foi criado durante o século passado e supomos ser inviável nesse século. Alguns comentaristas acreditam que este sistema é falho na necessária representatividade, accountability e efetividade com vistas a transição para a sustentabilidade. Para isso é fundamental um nível bem maior de transparência. Novos modelos de governança estão sendo testados, indo de comunidades de parceria público-privadas até alianças entre ambientalistas e outros grupos da sociedade civil. Entretanto a efetividade desses novos arranjos de governança ainda não é evidente e requer análise mais aprofundada.
2ª Transformando as competências humanas frente o século 21. Agregando os desafios ambientais globais e indo na direção de uma economia verde. (002. Questões transversais)
Adaptar-se para as mudanças globais e caminhar em direção a uma economia verde irá demandar toda uma variedade de novas competências, em particular uma nova formação para o trabalho, novos modos de aprendizagem, novas abordagens gerenciais e esforços em pesquisas. São necessárias ações para aproximar as diferenças de formação em relação as necessárias para o setor verde; é preciso atualizar as instituições educacionais para que possam dar melhores respostas às demandas do trabalho sustentável; treinar gestores para melhor identificar e responder às mudanças ambientais globais e encorajar as pesquisas voltadas para os desafios da sustentatibilidade.
3ª Novos desafios para garantir alimentação saudável e segurança alimentar para 9 bilhões de pessoas. (007. Questões de alimentação, biodiversidade e solo)
Muito embora a segurança alimentar seja uma questão de longo prazo o mundo precisa enfrentar um novo conjunto de desafios como as mudanças climáticas, a competição pelo solo por conta da produção de bioenergia, o aumento da escassez da água e a possível queda da oferta de fósforo para uso fertilizante. A alimentação saudável também enfrenta novos desafios oriundos da crescente transmissão de doenças de animais para pessoas e a contaminação dos alimentos.Há uma urgente necessidade de incrementar a segurança e a qualidade da oferta mundial de alimentos pela adoção de sistemas mais amplos de alerta, apoio aos pequenos fazendeiros, redução dos lixo orgânico de origem alimentar e incremento da eficiência agrícola.
4ª Diálogo interrompido: Reconectar a ciência e a política. (003. Questões transversais)
Na busca de cooperação com relação às mudanças ambientais globais nossa sociedade precisa de estratégias e políticas que sejam sustentadas por uma ciência robusta e com base em evidências. Muitos acreditam que a ligação entre a comunidade científica e os políticos é inadequada ou prejudicial e essa ponte interrompida dificulta o desenvolvimento de soluções. Isto requer um novo olhar sobre como a ciência se organiza e sobre como implementar a interface ciência-política.
5ª Pontos de inflexão da sociedade: Catalisando mudanças rápidas e estruturantes do comportamento humano com relação ao meio ambiente. (004. Questões transversais)
Novas pesquisas em ciências sociais fundamentaram o caminho no qual o comportamento humano danoso, em relativamente pouco tempo, pode ser transformado por meio de políticas públicas direcionadas positivamente. Um exemplo é conceito corrente em anos passados sobre o hábito de fumar. Visto então como uma atitude elegante, em muitos países ao longo de apenas uma geração o novo conceito empresta a este hábito um caráter danoso. Esses insights poderiam ser utilizados para transformar hábitos de consumo tendo em vista as mudanças ambientais disruptivas? Como incentivos públicos – sejam econômicos, informativos e mesmo proibições – podem ser melhor trabalhados para alcançar estes objetivos?
6ª Novas perspectivas na interação entre solo e água. Alterações nos paradigmas de gestão. (011. Questões de água doce e marinha)
A pesquisa científica recente demonstra uma nova perspectiva sobre como a água e o solo interagem, seja local ou seja globalmente. Por exemplo, hoje os cientistas entendem melhor a extensão de mudanças no solo que afetam o regime das chuvas e são capazes de avaliar o enorme volume de água apropriado (por transpiração ou evaporação) na produção agrícola irrigada (fluxo de água “verde” versus fluxo de água “azul”)(1).
Este novo conhecimento dá elementos que apoiam a aproximação entre gestão de solo e gestão de águas. O resultado pode ser o aumento da produtividade da água e uma maior produção de alimentos por litro de água consumida, assim como novos meios de manter a qualidade da água.
7ª Além do conservacionismo: Integrando a biodiversidade por meio das agendas econômica e ambiental. (008. Questões de alimentação, biodiversidade e solo)
Em anos recentes duas importantes linhas de pesquisa documentaram como a biodiversidade é influenciada pela sociedade e pela natureza. Uma linha articulou as ligações entre biodiversidade e outras questões ambientais (impacto das mudanças climáticas nos ecossistemas; interação entre os ecossistemas e o ciclo das águas). A outra linha trata da relação entre biodiversidade e economia (valoração dos serviços ecossistêmicos; o papel da biodiversidade na determinação das atividades econômicas). É hora de agir por conta dessas novas inferências científicas e lidar com a biodiversidade como algo mais que uma questão de conservação ambiental. É preciso integrar as questões de biodiversidade com as questões ambientais e econômicas globais.
8ª Novos desafios para a mitigação das mudanças climáticas e a adaptação: Administrando as conseqüências inesperadas. (015. Questões de mudanças climáticas)
Quando usadas amplamente as medidas de mitigação ou adaptação podem ter consequências inesperadas. O largo uso, por exemplo, de fazendas de vento (2) pode interromper o comportamento migratório de pássaros. Um número massivo de diques marinhos pode proteger uma população, mas também pode interferir no regime natural de cheias, eliminando zonas de alagamento, pântanos e mangues. A geoengenharia em larga esclar pode ter efeitos inesperados. Esses efeitos potencialmente negativos podem ser avaliados e então minimizados ou orientados para serem mantidos como suporte para políticas climáticas.
9ª Acelerando a implementação de sistemas amigáveis de energia renovável. (018. Questões de energia, tecnologia e resíduos)
Assim como o mundo procura soluções para as mudanças climáticas também olha com interesse para a energia renovável. Mas apesar do grande potencial em termos mundiais ele não se realiza devido a muitas barreiras. Uma importante tarefa é identificar os meios para eliminar barreiras econômicas, regulatórias e institucionais que impedem a ampliação do uso da energia renovável e acabam minando a sua competividade com relação as fontes tradicionais.
10ª Maiores riscos que os necessários? A necessidade de uma abordagem que minimize os riscos de novas tecnologias e químicos em geral. (019. Questões de energia, tecnologia e resíduos)
Estabelecemos uma norma pela qual a sociedade primeiro produz novas tecnologias e produtos ou processos químicos para depois de produzi-los procurar avaliar os impactos possíveis. Os exemplos mais recentes são os da biotecnologia sintética e a nanotecnologia. Tendo em vista a acelerada velocidade com a qual as novas tecnologias e produtos químicos são implementados uma nova abordagem precisa ser considerada levando em conta que as implicações precisam ser sistemática e compreensivamente consideras antes do início da fase de produção com o objetivo de minimizar riscos à sociedade e a natureza. Tal como vem ocorrendo em diversas partes do mundo com certas tecnologias e certos produtos e processos químicos será necessária uma nova abordagem e novas formas de governança internacional.
11ª Estimulando a sustentabilidade urbana e a resciliência(3). (009. Questões de alimentação, biodiversidade e solo)
A questão da sustentabilidade das cidades envolve a qualidade ambiental com a qual seus habitantes devem conviver, assim como as mudanças ambientais que elas podem gerar para além de seus limites. Hoje nenhum desses aspectos é particularmente sustentável., especialmente nos países em desenvolvimento. A chave para a sustentabilidade está em conceitos como cidade verde ou ecocidades que diferem do conceito mais convencional, pois implicam em maior compaticidade, têm um mix diferenciado de uso do solo em seus limites, provendo diversas oportunidades de transporte de baixa energia e produzem parte de sua própria energia de forma renovável. Essa cidades devem oferecer aos seus moradores um alto nível de qualidade habitacional e ambiental. Também devem gerar menos pegadas(4) ambientais além de seus limites.
12ª A nova corrida pelo solo: Respondendo às pressões nacionais e internacionais. (010. Questões de alimentação, biodiversidade e solo)
Preocupações com a futura oferta de energia e alimentos devem estar focadas na nova corrida para a aquisição de terras por investidores nacionais ou estrangeiros. As pesquisas mostram que as aquisições de terras cresceram muito nos últimos anos. Há necessidade de entendermos melhor a escala deste fenômeno, as regiões envolvidas e os dilemas envolvidos. Também é importante estabelecer como isto afetará as famílias, a segurança alimentar, os serviços dos ecossistemas e os conflitos. Criar salvaguardas que delimitem os impactos potenciais, tanto econômicos, como sociais desses processos antes que eles se completem poderia minimizar os inconvenientes para os países envolvidos tendo em vista as necessidades de aquisição de terras com a finalidade de segurança alimentar e energia.
13ª O potencial colapso dos sistemas oceânicos requer uma governança oceânica integrada. (013. Questões de água fresca e marinha)
Os oceanos provêm diversas funções do sistema Terra, incluindo a regulação do clima e os ciclos hidrológicos, assim como habitat para uma rica diversidade de organismos e alimentos, materiais e energia para o uso humano. O sistema oceânico é confrontado com crescentes problemas que afetam sua integridade no longo prazo, incluindo a acidificação das águas marinhas, excesso de pesca, poluição de origem marinha ou terrestre, destruição de habitats em larga escala e a proliferação de espécies invasoras. Há uma crescente noção de que a gestão atual dos oceanos é impotente para prever ou/e evitar o colapso de alguns sistemas oceânicos. Isto ocorre por que, entre outras razões o corpo técnico responsável está disperso por diversas agências da ONU. Reformas vsão necessárias e novas formas de governança precisam ser consideradas e avaliadas, inclusive a opção de estabelecer um novo corpo técnico para coordenar uma governança oceânica integrada.
14ª Mudando a lógica do desperdício: Solucionando a restritiva escassez de minerais estratégicos e evitando o desperdício de material eletrônico. (020. Questões de energia, tecnologia e resíduos)
A crescente demanda por equipamentos high-tec e os de energia renovável vêm contribuindo para a depleção de minerais estratégicos, incluindo os mais raros. Compõem ainda essa questão a obsolescência programada e os hábitos de desperdício nas manufaturas. A crescente exploração de minerais também causa grandes problemas de gestão de resíduos, em particular de resíduos eletrônicos (e-wastes). Uma promissora opção é maximizar a reutilização de metais, materiais de eletrônica e de outras origens, a chamada mina de resíduos.Isso irá reduzir o risco de depleção dos minerais, reduzir a quantidade de desperdícios e talvez reduzir sua relaçãocom os problemas ambientais e outros impactos.
15ª Evitando a degradação da água doce territorial nos países em desenvolvimento. (012. Questões de água doce e marinha)
Degradação da qualidade da água, modificação dos leitos dos rios, excesso de pescas são alguns dos fatores que criam um crescente problema para os ecossistemas de água doce nos países em desenvolvimento. Mas, embora os países em desenvolvimento estejam próximos à degradação de suas águas em larga escala, eles têm a opção de barrá-la usando tecnologia que estejam baseadas em experiências passadas e mesmo técnicas de gestão que não estavam disponíveis para os países da Europa ou para os EUA quando começaram a contaminar seus rios.
16ª Agindo por conta dos sinais de mudança climática em vista da intensificação da frequência dos eventos extremos. (016. Questões de mudança climática)
Um grupo bem razoável de novos estudos científicos compararam os resultados da modelagem climática com as evidências observadas e confirmaram a hipótese de que as mudanças climáticas podem alterar não apenas a frequência, mas a potência e a distribuição dos eventos extremos. Estudos ligaram, por exemplo, o aquecimento global com crescentes riscos de enchentes na Inglaterra e País de Gales, com o aumento da variabilidade das chuvas de vero no sudeste dos EUA e com outras precipitações de chuva intensificadas sobre as áreas terrestres do hemisfério norte. Esses novos achados deixam evidente a necessidade de se adaptar as mudanças ocorridas em relação aos eventos extremos e sugere que a implantação de um sistema de alertas precoces pode ser necessária no médio termo.
17ª Consequências ambientais da retirada de serviço dos velhos reatores nucleares. (021. Questões de energia, tecnologia e resíduos)
Muitos dos atuais reatores nucleares são velhos e será necessário desativá-los rapidamente. Isso merece uma atenção concentrada, pois desativá-los é uma operação que produzirá enorme quantidade de material radiotivo que precisará ser descartada com segurança. O número de profissionais adequadamente preparados é pequeno ao passo que o número de plantas a serem desativadas será dobrado nos próximos dez anos. O acidente em Fukoshima, em março de 2011, acelerou os planos de desativação em muitos países. Intervenção multilateral, procedimentos, políticas e cooperação são necessários para minimizar o perigo potencial para a sociedade e para o meio ambiente.
18ª Novos conceitos para lidar com mudanças incrementais(5) e o alcance eminente de limites. (005. Questões transversais)
Muitas das interações humanas com o meio ambiente acabam causando uma lenta, incremental e cumulativa degradação nesse último, como, por exemplo, a depleção do ozônio na estratosfera, chuvas ácidas, deflorestamento nas áreas tropicais, destruição de mangues e perde generalizada da biodiversidade, entre outras conseqüências. Ironicamente este tipo de mudança costuma ser desprezada em seu estágio inicial, quando poderia ser mais facilmente contornada ou até revertida. Contudo elas só se tornam evidentes como negativas quando suas conseqüências ficam bem mais evidentes e nesse momento podem ser irreversíveis ou apresentarão custos muito maiores para ser mitigadas. Dessa forma os sistemas de monitorização para alertas precoces são necessários antes que se tornem questões ambientalmente críticas.
19ª Ecossistemas costeiros: Enfrentando as crescentes pressões com uma governança adaptada. (014. Questão de água fresca e marinha)
A crescente pressão resultando as exploração de recursos costeiros afeta de forma significativa os ecossistemas costeiros. Indústrias, agricultura, pesca, comércio e aglomerados urbanos estão concentrados nas zonas costeiras. Devido a isto os ecossistemas costeiros, altamente sensíveis e ambientalmente muito valorosos, são objeto de degradação. A presente abordagem de gestão é inadequada para conter o processo. Por isso uma abordagem adaptativa de governança é necessária , envolvendo graus de delegação a gestores, direitos e poder num sentido que envolva a participação dos principais agentes envolvidos nesse processo.
20ª Lidando com a migração causada por novos aspectos da mudança ambiental.(006. Questões transversais)
Um crescente número de estudos sugere que as mudanças ambientais irão, de forma crescente, se transformando em razão para as migrações de pessoas. Essas mudanças ambientais envolvem eventos extremos de ação rápida, que poderão ocorrer de forma mais freqüente e/ou mais intensa, como inundações em regiões costeiras ou de rios. As migrações estarão igualmente associada a processos mais lentos como a degradação da terra ou o aumento do nível das marés. As possíveis opções para as migrações de origem ambiental são: Implementar o trabalho de previsão da migração incorporando suas avaliações de forma a lidar com elas nos planos nacionais de adaptação às mudanças climáticas; ampliar políticas nacionais e internacionais de imigração para que sejam incluídos os migrantes ambientais; procurar mitigar as causas das migrações.
21ª Gerenciando os impactos dos recuos das geleiras. (017. Questões de mudança climática)
As pesquisas mais recentes demonstram que muitas geleiras permanentes estão se retraindo algumas com uma taxa de derretimento bem acelerada. Essas mudanças colocam em evidência ameaças concretas para muitos povos e ecossistemas. Os problemas são mais intensos especialmente no Himalaia, Ásia Central e Andes. As ameaças incluem o risco de enchentes decorrentes do desmonte de barragens naturais dos lagos glaciais, bem como o declínio do escoamento das águas durante a estação das secas em algumas regiões. É necessária uma melhor compreensão sobre as conseqüências hidrológicas e os impactos econômicos e sociais desses fenômenos. É igualmente urgente a necessidade de desenvolver estratégias adaptativas.
Notas de esclarecimento sobre alguns conceitos utilizados no documento do PNUMA:
(1)
Água verde é a umidade do solo usada pelas plantas e devolvida à atmosfera pela evaporação (evapotranspiração), ou seja, é o suplemento de água para toda a vegetação não irrigada, cuja disponibilidade depende em grande parte do manejo da água no solo. Pode ser produtiva, quando contribui para a produção vegetal (se é transpirada através de grãos, árvores ou vegetação natural), ou não-produtiva (quando é evaporada diretamente do solo ou de uma superfície de água aberta). Normalmente pouco se considera o fluxo de água verde na agricultura.
Água azul é aquela utilizada das aguadas, dos rios e do subsolo. Representa a água que pode ser utilizada para irrigação. Em áreas sem suficiente água verde no solo para permitir o cultivo de uma determinada cultura, as plantas têm que ser irrigadas pela água azul.
Falkenmark, M, Rockström, J ,& Savenije, H. G., Feeding Eight Billion People, Time to Get Out of Past Misconceptions, SIWI, Stockholm, Suécia, 2002
(2)
Os autores se referem ao aglomerado de geradores de energia eólica em formato de moinhos de vento.
(3)
Resciliência vista como a capacidade dos ecossistemas em absorver e superar danos ambientais decorrentes de poluição ou deposição de resíduos.
(4)
Pegadas ecológicas: visto o conceito como explicitação impacto da ação humana sobre o meio ambiente.
(5)
O termo mudanças incrementais refere-se ao conceito chamado creeping normalcy que significa mudanças ambientais importantes, mas que são feitas de forma tão lenta que acabam sendo aceitas como “normais”.