sexta-feira, 2 de outubro de 2009

DA RECESSÃO AO CÉU SEM PASSAR PELA DEPRESSÃO?



Tem muita gente confundindo as coisas e o noticiário não ajuda muito. Os governos menos ainda.
É fato que a economia mundial começa a dar sinais de recuperação, mas isso está muito longe de ser uma retomada dos níveis anteriores. Pessoas de bom senso estão percebendo que essa saída será lenta e deverá ser demorada. Admite-se que poderá demorar mais de três ou quatro anos para que o comércio internacional retome níveis pré-crise.
As condições desse momento ainda são difíceis. Embora as chamadas economias emergentes não tenham sido tão atingidas e estejam apresentando uma recuperação mais rápida, o fato é que são emergentes por estarem ligadas direta ou indiretamente aos mercados consumidos dos países mais desenvolvidos. O caso americano é emblemático: as famílias continuam endividadas e seu nível de consumo ainda está acima de sua renda efetiva.
Com a economia privada ainda em ritmo lento o governo vem assumindo um papel politicamente importante como agente promotor, o que reforça a presença do Estado no jogo econômico.
Vamos entrar em um quadrante onde reforço da estatização e populismo acabarão andando de mãos dadas e não serão improváveis ondas nacionalizantes em muitos países.
No caso brasileiro especificamente andamos muito longe de termos um mercado interno capaz de manter um crescimento econômico sustentado e a exportação tem um papel multiplicador fundamental. Uma economia mundial em recuperação lenta e submetida à surtos nacionalistas não dá asas para imaginar que iremos recuperar magicamente o meso ritmo de crescimento do pré-crise.
Os discursos eleitorais excessivamente otimistas podem ser uma armadilha perigosa.
Um pouco nessa linha geral de raciocínio passa abaixo um trecho de um post do Naked Capitalism publicado dia 1º.
Demetrio Carneiro
                        

A recessão acabou, mas a depressão apenas começou

Então, o que isso significa para a economia americana e mundial?

O setor privado (especialmente das famílias) está excessivamente endividados. O nível de endividamento das famílias não pode ser sustentado pela sua renda nos níveis atuais de consumo. A tendência natural é, portanto, em direção a mais poupança e menos gastos no setor privado (apesar de apreciação dos preços dos ativos poder atenuar isso, através do efeito riqueza). Significa necessariamente que o sector público tem que ter um déficit ou o sector da importação e exportação deve ter um excedente.
A maioria dos países está num estado de debilidade econômica. Isso significa que a demanda é restrita mundialmente. Não há nenhuma chance de que os E.U.A. poderem exportar como uma saída da recessão, sem uma queda no valor do dólar americano. Isso deixa o governo como a única solução.
Desde que os governos locais e estaduais são limitados pela queda das suas receitas fiscais (ver artigo do WSJ) e a sua incapacidade de imprimir dinheiro, apenas o Governo Federal pode produzir grandes déficits.
Déficits nessa escala são politicamente inaceitável e não permanecem por muito tempo.Logo que a economia mostra sinais de vida (digamos, um crescimento de 2 a 3% a.a.). Portanto, ao primeiro sinal de retomada econômica, o Governo Federal irá aumentar os impostos e / ou cortar gastos. O resultado será uma recessão profunda com o aumento do desemprego e preços mais baixos.
Enquanto isso, todos os países que emitem a maior parte da sua dívida na própria moeda (E.U., Eurozona, Reino Unido, Suíça, Japão) irão inflar. Eles vão imprimir tanto dinheiro quanto necessário para se safar razoavelmente. Enquanto a economia estiver em uma fase ascendente, isto irá criar um falso “boon”, refletido no aumento dos preços dos ativos. Este será um grande bônus para os ativos tangíveis como ouro, platina ou prata. No entanto, quando os gastos de governo forem retirados, a economia global terá a recaída na recessão.
Como resultado, haverá uma Scylla e Charybdis ( N.T.: Personagens mitológicos gregos. Dois monstros entre os quais Ulisses teve que passar com seu navio ) das forças inflacionária e deflacionária, o que forçará as mãos dos bancos centrais na adição ou retirada de liquidez. Adicione a provável volatilidade dos gastos de governo e da tributação e você terá o resultado de uma depressão em forma de uma série em “W”, composta por ciclos de negócios de curto e desigual duração. A força secular é a atuação da desalavancagem e, por isso espero  que a deflação seja a tendência secular resultante mais que a inflação.
Escusado será dizer que este tipo de volatilidade vai induzir uma onda de populismo, levando a um clima imprevisível e violento na geopolítica e a  probabilidade de formas mais musculosas de governo.
Íntegra do texto em inglês