A internet brasileira é muito lucrativa para as empresas, muito cara - comparando parões internacionais - para os consumidores, bastante ineficiente - novamente tendo em vista os padrões internacionais - do ponto de vista de um projeto nacional de desenvolvimento. Mas o que ligas essas qualidades negativas?
Em maio de 2009 a Câmara Federal, em parceria com o Instituto Teotônio Vilela (PSDB), Fundação Liberdade e Cidadania (DEM) e Fundação Astrojildo Pereira (PPS), organizou um pequeno Seminário voltado para discutir a questão da banda larga no Brasil. Pequeno mesmo, foram poucas pessoas. Como sempre.
De importante:
1) A constatação final de que embora o Brasil tivesse mais de 900 empresas plenamente capacitadas para trabalhar com a tecnologia de banda larga, o modelo brasileiro era de privilegiar um oligopólio, que por razões evidentes ficava muito satisfeito em estar presente onde houve muita escala;
2) Que embora tivesse amplos recursos um caixa, via FUST, o governo não investia nada e nem estimulava investimentos a partir dos recursos do fundo.
Conclusão: Nossa internet era cara, ruim e concentrada em alguns poucos centros urbanos.
Três anos depois a internet continua cara, ruim e concentrada. Ruim ao ponto de o próprio governo federal cometer o fiasco de enviar computadores para municípios que não tinham acesso à rede ou só tinham sinal numa praça pública(1). Entre o seminário e agora Lula usou o tema para agitar as eleições e prometer mais uma mentira: Que a tal empresa estatal cabearia todo o país etc. Até agora só quem ganhou com o projeto de Lula foi o mega-especulador e ex-revolucionário José Dirceu.
Dilma parece gostar muito de montar palanque nos locais dos projeto mirabolantes e inexecutados como a Transposição do são Francisco, a Transnordestina ou a conversa fiada das habitações de interesse social. Ela poderia montar um palanque virtual para comemorar a banda larga que não temos. Fica ai a sugestão para a Presidência da República.
Demetrio Carneiro
(1)
O fracasso do UCA-Total, coluna de Elio Gaspari
Texto publicado no jornal O Globo de hoje (8) trata sobre um relatório do programa 'Um Computador por Aluno'.
A doutora Dilma deveria mandar que sua Secretaria de Assuntos Estratégicos divulgasse o conteúdo do relatório final da "Avaliação de Impacto do Projeto UCA-Total (Um Computador por Aluno)", coordenado pela professora Lena Lavinas, da UFRJ. Ele está lá, a sete chaves, desde novembro passado.
A providência é recomendável, sobretudo agora que o governo licita a compra de até 900 mil tablets. Com 202 páginas, relata um desastre. A professora Azuete Fogaça, da Federal de Juiz de Fora, trabalhou na pesquisa e resume-a: "Boa parte dos computadores não foi entregue nos prazos. Outros foram entregues sem a infraestrutura necessária para sua adoção em sala de aula. O treinamento dos docentes não deu os resultados esperados. O suporte técnico praticamente inexiste. Os laptops que apresentaram problemas acabaram encostados em armários ou nos almoxarifados, porque não há recursos".
O programa UCA-Total, lançado em 2010, comprou um laptop para cada um dos 10.484 alunos da rede pública de cinco municípios-piloto: Tiradentes (MG), Terenos (MS), Barra dos Coqueiros (SE), Santa Cecília do Pavão (PR) e São João da Ponta (PA). Uma equipe de 11 pessoas acompanhou a iniciativa.
Os computadores chegariam a escolas equipadas com internet sem fio e professores capacitados colocariam a garotada no mundo novo da pedagogia informatizada.
Em São João da Ponta, o sinal mal chegava à escola. Em Barra dos Coqueiros, chegava às praças públicas e, para recebê-lo, os estudantes saíam do colégio. Em Terenos não havia rede. Tudo bem, porque algum dia ela haverá de chegar. Até lá, alguns heroicos professores pagam as conexões de provedores privados com dinheiro dos seus bolsos.
Os laptops comprados pelo governo têm baterias para cerca de uma hora. Como as aulas duram cinco, como fazer para recarregá-los? (Uma tomada para cada carteira, nem pensar.) As prefeituras colocariam armários-alimentadores nas salas. Nem todos os municípios fizeram isso. Na Escola Estadual Basílio da Gama, em Tiradentes, não havia sinal nem armários de recarga, e os laptops estavam encaixotados.
Deixou-se em aberto uma questão central: o aluno deve levar o computador para casa? Em três municípios, levavam. Num, foram instruídos a não trazê-los todos os dias.
Só metade dos alunos teve aulas para aprender a usar os laptops. Depois de terem recebido cursos de capacitação, 80% dos professores tinham dificuldade para usar as máquinas nas salas de aula. (Problema dos cursos, não deles, pois 91% tinham nível superior ou curso de especialização.) Uma barafunda. As escolas estaduais não conversavam com as municipais e frequentemente não se conseguia falar com o MEC ou com a Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Não se diga que os laptops são trambolhos. A garotada adorou recebê-los, e os professores tinham as melhores expectativas. As populações orgulharam-se da novidade. O problema esteve e está na gestão.
A única coisa que funcionou foi a compra de equipamentos. O professor Mário Henrique Simonsen, que conhecia o governo, ensinava: "Às vezes, quando um sujeito te traz um projeto, vale a pena perguntar: 'Qual é a tua comissão? Dez por cento? Está aqui o cheque, mas prometa não tocar mais nesse assunto'".