segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A MÃO VISÍVEL: CONTROLE DE CAPITAIS

Ainda nesse tema do controle de capitais, premissas do desenvolvimentismo keynesiano e política um interessante post do A Mão Visível


Demetrio Carneiro

Comentário de Irineu de Carvalho Filho

O Irineu mandou o seguinte comentáro ao post anterior. Sozinho vale um post.

* * *

Além dos problemas operacionais da proposta do Professor Oreiro que você já discutiu, existem outros problemas mais profundos, que demonstram falta de reflexão sobre processos históricos e de economia política, algo irônico em se tratando de um economista que se entende como heterodoxo.

Vejamos, o objetivo do professor é recuperar a competitividade da indústria manufatureira brasileira, que teria sido prejudicada pela apreciação cambial. A premissa, compartilhada por economistas como Dani Rodrik, é que o Brasil sendo um país em desenvolvimento (não é), existem falhas de mercado que impedem o desenvolvimento de nossa manufaturas. Para tanto, ele sugere políticas econômicas que dentro de sua argumentação causariam uma depreciação da taxa de câmbio efetiva (que eu acredito ele define implicitamente como a razão de nosso índice de preços em dólar com os preços de nossos parceiros comerciais).

Mas este é um erro conceitual. A variável que de fato dita a competitividade de nossa indústria não é o preço relativo dos bens que nós consumimos, mas sim os custos unitários do trabalho em dólar relativamente a nossos parceiros comerciais. Estes custos dependem crucialmente de fatores como o nível do salário mínimo, do salário de reserva e dos custos extra-salário, que pelo menos na base da distribuição de salários e no setor formal da economia são variáveis de política.

Mas aqui mora a ironia. O professor ignora a história e a economia política brasileira. Existe um consenso em nossa sociedade, que certamente vai ser refletido na política econômica de qualquer grupo político no poder, que o Estado deve agir para reduzir nossa desigualdade e aumentar a participação dos salários na renda nacional, principalmente aqueles da maioria de trabalhadores com menor qualificação. Deste consenso emanam várias políticas públicas desde a Nova República que com diferentes graus de efetividade visavam reduzir a concentração de renda ou consumo: a aposentadoria rural, o programa do leite, o aumento do salário mínimo real, a expansão da rede de proteção social, o Bolsa Família etc.

Não tenho dúvidas, este objetivo é nobre, e certamente vai ser uma diretriz básica de nossa política econômica desde que continuamos sendo uma democracia. Mas esse objetivo está em direta contradição com a competitividade em setores da indústria manufatureira intensivos em mão-de-obra.

Minha opinião é que a escolha já foi feita: desde que o Brasil se tornou uma democracia, tanto os eleitores quanto a classe política têm demonstrado com votos e escolhas de política econômica que nossa prioridade (como alguns gostam, nosso projeto nacional) é melhorar a distribuição funcional e pessoal de renda, não competir com as Chinas do mundo na fabricação de roupas ou sapatos.

Então, posso agora concluir com uma metáfora: o professor Oreiro está esgrimindo contra moinhos de vento como se fossem dragões e a vasta maioria dos brasileiros torce para os moinhos e não tem medo de dragões.

Abraços,

Irineu de Carvalho Filho