domingo, 27 de julho de 2014

OS PÉS DE BARRO DO PT: INADIMPLÊNCIA ATINGE UM QUARTO DAS FAMÍLIAS EM FAVELAS


Matéria do Estado de São Paulo¹ alerta para a situação de inadimplência de cerca de 25% das famílias que vivem em favelas.

Corretamente a matéria coloca a inflação como responsável pelo que acontece. Realmente nas famílias de baixa renda a capacidade de realizar gastos além do trivial, pagamentos de compras à prazo, por exemplo, está fortemente conectada com o custo de vida. Essa mesma questão responde pela queda de consumo, já registrada, nos itens de higiene pessoal e alimentos processados. Enfim, com a persistente inflação o poder de compra dessas famílias cai e as suas aquisições acabam se concentrando nos itens básicos de alimentação, transporte etc. Pode não sobrar e não sobra espaço para outros pagamentos.

A se registrar, então, que sempre são as famílias mais pobres que pagam o custo de processos inflacionários mais intensos. O conceito de relativização da inflação já veio do segundo mandato de Lula, mas as escolhas da Nova Matriz de Dilma passaram pelo aprofundamento da relativização de inflação, já supondo que não haveria nenhum problema em fugir do centro da meta. 

A realidade dos fatos mostra o equívoco de quem recebe altos salários e não percebe o que pode acontecer no andar de baixo.  Os desprezados dois porcento a mais, 4,5% para 6,5%, o teto da meta, vão além da correção da massa salarial e, os acúmulos de mais de seis por cento mensais ao longo do tempo corroem o poder de compra dos mais pobres. 

Essa simples falha de lógica econômica tem seu custo e coloca por água abaixo o discurso petista de proteção social dos mais pobres. São os pés de barro do ídolo de ouro. 

1
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,nas-favelas-26-da-populacao-tem-contas-em-atraso,1534550??

sábado, 26 de julho de 2014

José Eustáquio Diniz comenta os limites da tecnologia do ponto de vista da ecologia



Ótimo artigo publicado por José Eustáquio Diniz no boletim Ecodebate¹ comentando o livro "Techno-Fix: Why Technology Won’t Save Us or the Environment", autores Michael and Joyce Huesemann, coloca em debate as limitações da tecnologia. 

Há um antigo embate entre os economistas neoclássicos e os economistas da linha de pensamento ecológico e envolve o quanto a tecnologia pode ou não resolver os problemas criados pelo atual padrão de consumo e demanda por bens não renováveis. Isto sem entrar muito no debate dos danos ambientais por conta do aquecimento global e as alterações climáticas. 

Aceitando-se os argumentos dos neoclássicos sempre haverá algum tipo de inovação tecnológica que irá suprir a escassez de um determinado bem finito. Da mesma forma sempre haverá uma solução tecnológica para superar danos causados. De fato muito se avançou nos estudos em áreas sensíveis como a questão do uso de biotecnologia para melhorar a qualidade do ar ou da água ou na questão da matriz energética, citada no artigo. Se há fortes possibilidade de substituir a tecnologia das tradicionais usinas nucleares por sistemas que usam a fusão e geram uma energia limpa, sem a produção de resíduos radioativos. 

Já do ponto de vista dos economistas ecologistas a capacidade de inovação tecnológica não é infinita e mesmo algumas tecnologias podem gerar danos futuros não observáveis no presente, tema do livro analisado por Diniz. Para esses economistas há um limite prudencial que não deveria ser ultrapassado e os projetos de crescimento ou manutenção da sociedade humana deveriam sempre ser articulados com a permanência dos ecossistemas responsáveis por serviços essenciais à sobrevivência e qualidades de vida das espécies. De todas elas. 

Este é sem dúvida um debate que envolve escolhas em última análise políticas e que são resolvidas pelo voto em primeiro lugar. Também envolvem apostas, ou não, no modelo de Sociedade de Transição. 

Economistas neoclássicos tendem a olhar o debate da Sociedade de Transição como desnecessário, pois consideram que tudo se faz num projeto de racionalidade, fato que os desaparecimento de sociedades ao longo da história humana não parece comprovar.

1
http://www.ecodebate.com.br/2014/07/25/techno-fix-por-que-a-tecnologia-sozinha-nao-e-capaz-de-salvar-o-meio-ambiente-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

A SUBMISSÃO DO BANCO CENTRAL ÀS NECESSIDADES ELEITORAIS DE DILMA



Nenhuma escolha pode ser pior do que submeter a Autoridade Monetária nacional à necessidades de sobrevivência da Presidência da República. A proposta é bem simples: esticar a corda até onde der. Se ela quebrar depois das eleições é outro problema.

As recentes decisões do BC, afrouxando os laços fiscais, não são sábias e nem mesmo oportunas. Não ajudarão na retomada da economia. Apenas sinalização que nossa Autoridade Monetária não é independente, o que torna suas escolhas de política econômica não confiáveis, num quadro onde a confiança nos agentes públicos cai a cada dia.

É um jogo perigoso e terá altos custos. A se ver...

sexta-feira, 25 de julho de 2014

CONFIANÇA, PRODUÇÃO EM BAIXA, DESPESA PÚBLICA E... ELEIÇÕES



Confiança, produção baixa e despesa pública é o sub-título de matéria publicada no The Economist (1). Com um título que poderíamos traduzir como "Tudo desacelera" a revista questiona a tática eleitoreira de Dilma de jogar para 2015 todos os problemas da desaleceração da economia tomando medidas de qualidade duvidosa. 

Conforme a matéria as despesas públicas de 2014 são 16% maiores que as despesas de 2013, enquanto a arrecadação caiu 8% na mesma comparação.. Não é preciso ser muito perspicaz para perceber que não há como fechar a conta. 

Em déficit de confiança Dilma prefere deixar o desastre para o futuro a incomodar o seus potenciais eleitores. Na mesma linha vão as medidas adotadas pelo agora subserviente Banco Central brasileiro. Com a inflação no topo o BC, pressionado por um governo assustado com a baixa atividade econômica acaba liberando mais recursos que darão “mais capacidade de crédito aos bancos. 

Vai resolver? Não? Só vai piorar e a eminência de uma recessão técnica indica que talvez possamos entrar numa faixa de estaginflação; A Mãe de Todos os Pesadelos de Dilma e ekipe. Dai medidas sem muito sentido prático, mas muito boas de colocar na mídia. O gráfico acima é bem claro e mostra para onde sopram os ventos.

Talvez esteja na hora de alguém ir colocando os pingos nos is. Vencendo um candidato da oposição cada medida desastrada como as que são tomadas será uma casca de banana a partir de 2015. Que ninguém se iluda. O PT não vai perdoar e nem assumir a herança. Como oposição, e eles sabem ser, vai vir para cima.

(1) 
http://www.economist.com/news/americas/21608643-confidence-and-growth-down-public-spending-up-all-systems-slow
Em potuguês: 
http://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/3476867/economist-questiona-dilma-talvez-medidas-para-mascarar-problemas-nao-estejam


quinta-feira, 24 de julho de 2014

ESTUDO MOSTRA SER POSSÍVEL RECUPERAR 70 MILHÕES DE HECTARES COM PECUÁRIA INTENSIVA




Boas ideias existem...o Brasil tem uma vocação rural que não pode ser ignorada. Parte do debate ambiental passa por uma forte oposição entre setores conservacionistas e a atividade agropecuária. Grupos mais radicais do conservacionismo praticamente defendem o fim do agronegócio com investimentos públicos apenas na agricultura familiar como se esta fosse a solução para todos os problemas e ignorando o peso econômico da atividade agropecuária, especialmente na região Centro-Oeste.

Realmente não é possível desenvolver a atividade agropecuária sem desmatar, mas as soluções vão aparecendo...

Por meio da aplicação de práticas intensivas um estudo indica que seria possível recuperar para a agricultura intensiva um espaço de mais de 35 milhões de hectares e talvez outros 35 milhões adicionais para reflorestamento. 

Isso indica que um programa governamental bem direcionado pode colocar em uso cerca de 70 milhões de hectares destinados ao uso extensivo da agropecuária.


Estudo mostra que Brasil pode ter a maior expansão agropecuária do mundo com desmatamento zero

Um estudo coordenado pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), em parceria com a Embrapa e o INPE e publicado no períodico ‘Global Environmental Change’ mostrou que uma melhor utilização de áreas já dedicadas à pecuária pode conciliar uma expansão expressiva da agropecuária nacional com desmatamento zero.

“Nossas análises mostram que o Brasil já possui áreas agrícolas e pecuárias suficientes para absorver a maior expansão de produção agrícola do mundo nas próximas três décadas, sem precisar desmatar um hectare adicional de áreas naturais”, afirmou o coordenador do estudo, Bernardo Strassburg, professor da PUC-Rio e diretor executivo do Instituto Internacional para a Sustentabilidade.

“A chave é um aumento de produtividade das áreas de pastagem. Hoje utilizamos apenas um terço do potencial das nossas pastagem, e se passarmos a utilizar metade deste potencial em 30 anos conseguiríamos aumentar em 50% a produção de carne e liberar 32 milhões de hectares para outros cultivos como a soja e florestas plantadas. Se conseguirmos atingir 70% do potencial, ainda liberarísmos outros 36 milhões de hectares para recompor áreas nativas, tão importantes para garantir a provisão de água e outros serviços ambientais que sustentam o próprio agronegócio, a produção de energia e a economia brasileira”, acrescenta Strassburg.

“O aumento da produtividade da pecuária no Brasil irá exigir esforços significativos , incluindo um planejamento territorial integrado, oferta de linhas de crédito compatíveis com a pecuária, de preferência com assistência técnica integrada. Estes podem ser caracterizados como um grande desafio. No estudo, entretanto, mostramos que esse aumento é possível e que poderia contribuir para resolver uma variedade de problemas socioambientais, aumentar a renda do produtor, diminuir a pobreza rural e fixar o homem no campo, resultando em um setor agrícola mais sustentável no Brasil', afirma Agnieszka Latawiec, diretora de pesquisas do Instituto Internacional para Sustentabilidade.

Por outro lado tal iniciativa também apresenta riscos: “É imprescindível que uma política de aumento de produtividade – e portanto do lucro - na pecuária seja acompanhada de esforços complementares para evitar um impulso por mais desmatamento”, completa Bernardo Strassburg.

Segundo Judson Valentim, pesquisador da Embrapa Acre, tecnologias desenvolvidas pela Embrapa na forma de sistemas intensivos de produção bovina a pasto, associados a sistemas de integração lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta estão promovendo uma revolução na agropecuária brasileira. As cultivares de gramíneas e leguminosas forrageiras desenvolvidas pela Embrapa já são adotadas em mais de 42 milhões de hectares de pastagens cultivadas em todo o Brasil. “Por serem bem adaptadas as diferentes condições de clima e solo, além de mais produtivas e de melhor qualidade, estas pastagens proporcionaram renda adicional de R$ 8,9 bilhões aos produtores em 2013. Esses sistemas de produção sustentáveis conciliam aumento da produção e a melhoria da renda e do bem-estar dos produtores com a conservação dos recursos naturais.”

O Plano ABC (Plano Setorial de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura) desenvolvido pelo governo federal é um exemplo de política pública que estimula a adoção dessas práticas. Produtores rurais podem requerer crédito para adoção de técnicas de baixa emissão de carbono, como recuperação de pastagens degradadas, Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs), sistema Plantio Direto (SPD),Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) e florestas plantadas; tratamento de dejetos animais. A meta é incorporar 8 milhões de hectares até 2020.

Ao evitar o desmatamento e diminuir a emissão de metano por quilo de carne produzida, tal iniciativa também seria uma poderosa ferramenta de conservação da biodiversidade e de mitigação das mudanças climáticas, evitando a emissão de até 14,3 GtCO2.

http://www.iis-rio.org/noticia/28#sthash.a6cneGeQ.dpuf

BOLSA FAMÍLIA, ELEIÇÕES E PROPOSTAS DE MUDANÇA



É assim: o PT espalha o terrorismo dizendo que a oposição "vai acabar com o Bolsa Família". Os candidatos de oposição enfiam a viola no saco e não dizem nada de muito concreto. 

Ai a gente descobre que há críticas dentro do próprio PNUD, que sempre era posto como uma linha de defesa do programa. Lendo o que está abaixo o que fica claro é o que sempre se disse: o bolsa, independentemente da desculpa que o governo dá, não é um programa com porta de saída. É assistencialista. O resto é muita publicidade, alguma mentira e muito papo furado. 

A "revolução social do PT" é, depois de dar uma melhorada(1), deixar os extremamente pobres e os muito pobres exatamente onde estão...

"Para representantes do PNUD que trabalharam no texto final, no entanto, o Bolsa Família é uma ferramenta especialmente para situações emergenciais. "Mas a nossa avaliação prevalece. O debate está praticamente decidido", afirmou Chediek. Ele ainda comentou a crítica da oposição ao governo brasileiro de que o programa não tem porta de saída. O coordenador do PNUD avaliou que os beneficiários têm dificuldades de sair do programa porque contam com "capital social" muito baixo, vivem em regiões de poucas oportunidades econômicas e não possuem um bom nível educacional."




Em conexão com esse tema outra matéria é interessante:

IDH do Brasil sobe, mas evolui em ritmo cada vez menor

Gabriel Castro, Veja

O Brasil subiu uma posição no novo ranking do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. O país continua evoluindo, mas num ritmo cada vez menor. O índice, que vai de 0 a 1, foi de 0,744 em 2013. Quando aplicada a mesma metodologia aos números do relatório anterior, o IDH do Brasil em 2012 ficou em 0,742. Por esse cálculo, o Brasil passou do 80º para o 79º lugar, atrás de países como Ilhas Maurício, Cazaquistão e Líbia.

A Noruega se manteve no primeiro lugar da lista, com um IDH de 0,944. Em seguida, aparecem Austrália, Suíça, Holanda, Estados Unidos, Alemanha, Nova Zelândia, Canadá, Singapura e Dinamarca. No lado oposto da tabela, a 187ª e última colocação ficou com o Niger. Os dezoito últimos colocados são africanos.



Na realidade o crescimento mais lento do IDH é decorrente não da crise econômica, como alguns dirão, mas do esgotamento do modelo assistencialista. Quer dizer, na hora que você esgota ou chega perto do esgotamento do público a receber o padrão assistencialista a qualidade média de vida para de subir. Daí para frente a única forma de melhorar o IDH é oferecer oportunidades de emprego mais qualificado, o que só se consegue com a inserção das famílias em programas de capacitação de médio e longo prazo, escolas mais eficientes etc. E, claro, ofertas de emprego mais qualificado.

Evidentemente, como essas populações são classicamente de periferia, há a oferta de soluções de habitação, saneamento, higiene e transportes públicos que são extremamente relevantes na melhoria da qualidade de vida. 

Obviamente nenhuma dessas medidas é de curto prazo, isto é, não se resolvem em um mandato e demandam altíssimos custos de investimento, o que caminha na contramão da lógica de governo atual, mas está na lógica das outras propostas?


(1) Bom lembrar que até a ideia de melhorada veio da herança maldita de FHC, pois começou com as iniciativas de Ruth Cardoso e Betinho...

quinta-feira, 17 de julho de 2014

VARIEDADE DE CAPITALISMO E PATRIMONIALISMO NO BRASIL: AS MULTINACIONAIS BRASILEIRAS




Cerca de dois anos atrás escrevi um post aqui para o Alternativa, "Capitalismo de amigos e capitalismo de laços no Brasil" (1), onde eu comentava sobre como se davam as relações entre governo e Poder Real no Brasil. Basicamente partia do estudo acadêmico feito por Lazzarini(2) sobre o Capitalismo de Laços no Brasil. Nele o autor faz um exaustivo levantamento sobre o relacionamento entre os grandes grupos empresariais e o governo Lula. 

A síntese desta questão é a formação de uma Coalizão Dominante que articula os agentes políticos, sindicatos, partidos e grandes grupos econômicos num único projeto de benefícios mútuos.

Outro trabalho acadêmico, desta feita de Danilo de Oliveira Rocha, intitulado "Estado, empresariado e variedades de capitalismo no Brasil:  internacionalização de empresas privadas no governo Lula" (USP, Instituto de Relações Internacionais, 2012), dá uma ideia sobre como funciona a política de promoção das empresas multinacionais brasileiras:

"O objetivo desta pesquisa foi analisar a economia política do recente processo de formação de empresas transnacionais privadas brasileiras. Iniciado em meados da década passada, na gestão Lula, contou com forte apoio da política industrial do governo federal, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Uma característica importante desse movimento foi a concentração dos incentivos governamentais em setores nos quais o Brasil já é competitivo, como os intensivos em recursos naturais, embora as diretrizes originalmente estabelecidas pela própria política industrial do governo Lula preconizassem o apoio a setores mais intensivos em tecnologia. Buscando desvendar a razão dessa contradição, este artigo argumenta que, dada a dificuldade de se estabelecerem acordos de longo prazo entre Estado e setor privado, a política industrial brasileira pautou-se por demandas de curto prazo do empresariado nacional. Utilizando a abordagem institucional das variedades de capitalismo, que vincula resultados de políticas de desenvolvimento a diferentes arranjos institucionais das economias nacionais, mostrou-se como a ausência de mecanismos institucionais que permitam estabelecer acordos intra e inter setoriais com o empresariado privado deixou a política de internacionalização de empresas sujeita a demandas de curto prazo de grupos econômicos nacionais. Assim, conclui-se que a concentração de apoio em setores já competitivos decorreu do fato de apenas esses setores terem sido capazes de  apresentar projetos de investimentos viáveis no curto prazo, e não de uma suposta capacidade de influenciar politicamente os resultados da política industrial – e isso é path dependent."

Algumas notícias recentes retomam o tema:

a) o Portal Congresso em Foco(3) dá o rateio do destino dos recursos de financiamento ao exterior do BNDES no últimos 5 anos:

Odebrecht - 41%
Andrade Gutierrez - 7%
Queirós Galvão - 2%
Camargo Correia - 2%;

b) não fica muito difícil associar este favorecimento às diversas bondades e a forma como o governo brasileiro promove sua "política africana"(4);

c) notícia do Estado de São Paulo (5) relata o possível envolvimento da Odebrecht em ação, no exterior, de favorecimento ilícito com sobre preço promovida pela Petrobras em favor daquela empresa;

d) finalmente, e já no Brasil, matéria da Agência Pública (6) relata um quadro carioca, mas que muito provavelmente se repte Brasil à fora:

"Nas maiores intervenções urbanas no Rio de Janeiro em função da Copa e Olimpíadas mudam os objetivos das obras, os valores, os impactos e as suspeitas de ilegalidade na condução dos projetos. Só não mudam as empresas beneficiadas. Por meio de consórcios firmados entre si e com outras empresas, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e OAS se revezam nos dez maiores investimentos relacionados aos jogos

......

A Odebrecht é a grande campeã: está presente em oito dos dez projetos. Já a OAS e a Andrade Gutierrez dividem o segundo lugar, com participação em seis projetos cada uma. Em 7 dos 10 projetos a licitação foi ganha por consórcios com presença de duas ou mais das “quatro irmãs”, como são conhecidas. Em dois destes, a concorrência pública foi feita tendo apenas um consórcio na disputa."

Enfim, quem quiser somar dois mais dois está livre para fazê-lo...


(1)
http://alterbrasil.blogspot.com.br/2012/06/acronica-do-sardenberg-agradecendo-ao.html

(2)
https://www.youtube.com/watch?v=XceMSabHyT4

(3)
http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/odebrecht-e-embraer-concentram-81-do-credito-do-bndes-para-o-exterior/

(4)
http://alterbrasil.blogspot.com.br/2014/07/geoestrategia-brasileira-e-ditaduras-na.html
(5)http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,ex-diretor-da-petrobras-e-alvo-de-denuncia-por-fraude-em-contrato,1529751

(6)



segunda-feira, 14 de julho de 2014

BRICS: A CAMINHADA INSUSTENTÁVEL PARA O CENTRO



Na ânsia de buscar uma agenda positiva Dilma se apressa em aproveitar a Copa para reunir no Brasil os BRICS(1). 

Immanuel Walerstein(2), um dos mais ativos formuladores da forte teoria sobre o Sistema-Mundo, falando sobre a possível multipolaridade que se instala na geopolítica planetária coloca os países emergentes numa caminhada para o Centro do Sistema-Mundo capitalista.

De fato, e apesar da crise mundial, essa vontade de caminhar para o Centro é forte entre os emergentes. Na abertura da crise a leitura mais comum era a da janela de oportunidades. A ordem mundial da polaridade americana/européia vinha abaixo e os emergentes eram a nova e vigorosa força. Essa leitura esquecia que o planeta é um só e que, é o que o próprio Walerstein fala, as economias estão ligadas em escala planetária, mesmo que muitos insistam em desconhecer o fato. A teoria da imunidade dos emergentes não resistiu aos fatos e a crise chegou também a eles, retardando a chegada ao Centro.

Especialmente a situação brasileira é mais complicada. Transformado em laboratório do socialismo moreno de Dilma o país tem se colocado sempre atrás dos outros emergentes. Talvez por isso o governo brasileiros sinta tanta necessidade de se por na cena, mesmo que de forma equivocada como no caso do debate do item 16 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU(3).

O fato real é que, da mesma forma que a Classe C(4) é muito mais heterogênea do que gostaria o governo brasileiro, os emergentes também são heterogêneos. 

Mas a questão agora é o que exatamente significa "caminhar para o Centro". Se caminhar para o Centro for manter os mesmos padrões de consumo e uso de recursos naturais das sociedades que já estão no Centro, então, se considerarmos a Pegada Ecológica(5) dessas sociedades certamente não haverá Centro e sim um planeta esgotado e um risco de extinção da vida.  

Se tivermos por base o Brasil e usarmos nos padrões atuais de consumos e uso de recursos naturais não renováveis, e a nossa pegada é uma das menores,  um planeta não seria suficiente para sustentar este estilo de padrão de vida.

Dai que qualquer debate sobre a Caminhada para o Centro é falso e demagógico se não for um debate sobre a Sociedade de Transição.


(1)
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/economia/2014/07/13/internas_economia,437187/brics-reunem-se-para-reforcar-o-papel-dos-emergentes-na-nova-ordem-global.shtml

(2)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_do_sistema-mundo

(3)
http://alterbrasil.blogspot.com.br/2014/07/geoestrategia-e-debate-dos-objetivos-do.html

(4)
http://alterbrasil.blogspot.com.br/2014/07/a-classe-c-nao-foi-ao-paraiso-inflacao.html

(5) 
http://alterbrasil.blogspot.com.br/2014/07/sociedade-de-transicao-pegada-ecologica.html


domingo, 13 de julho de 2014

A CLASSE C NÃO FOI AO PARAÍSO: INFLAÇÃO, CONSUMO E VOTO NO BRASIL



Segundo Neri(1):

O crescimento da classe C deve englobar cerca de 60% da população em 2014, chegando a 118 milhões de pessoas. Em 2003, a classe C representava apenas 65,8 milhões de pessoas. 

Essa nova classe C tem menos de dois filhos em média. Se compararmos com a década de 60, o número médio de filhos era superior a seis, conforme a publicação. Agora a classe C está mais preocupada com a educação desses filhos e com o emprego formal. 

O crescimento da Classe C no Nordeste foi de 42% de 2003 até 2011. No sudeste, o crescimento foi de 16%.


Matéria da Folha de hoje(2), domingo, trata de pesquisa de consumo da Nielsen.

A reparar o efeito da inflação no padrão de consumo. Nos segmentos de renda mais baixa, comparativamente com anos anteriores,  o ano de 2014 tem sido de forte retração para a chamada classe C. Os números são medidos até abril, mas a se imaginar que não mudem expressivamente pelo resto do ano, este ano o consumo deste segmento é significativamente menor numa série que começa em 2009:

2009 - 22
2010 - 34
2011 - 34
2012 - 39
2013 - 16
2014 - 5,3

A empresa de pesquisa de mercado debita o fenômeno de forte redução de consumo à conjugação de fatores negativos da inflação e do endividamento. Este comportamento ainda pode ser aliado ao resultado de outras pesquisas, com base no CAGED, que indicam uma relativa redução da massa salarial. O que se vê aqui está refletido de alguma forma nas pesquisas eleitorais. Também já se detecta do problema por meio da expensão das expetativas de inadimplência.

Especialmente a inflação é perversa com os segmentos de menos poder aquisitivo que não possuem muitas defesas contra o processo inflacionário. De um lado estamos num longo processo onde o próprio governo foi defensor do gasto familiar e pouco ou nada fez para estimular a formação de poupança. De outro o aumento dos preços de produtos alimentícios, higiene e saúde pesa muito mais no bolso dos segmentos de menor renda, comprometendo a renda familiar. A pesquisa mostra mudanças de hábito inclusive na classe B que busca aumentar as refeições em casa em detrimento das refeições fora de casa. 

Tanto o esgotamento do modelo de consumo pela expansão do crédito e não pelo aumento da renda salarial decorrente do aumento de produtividade, como a relativização da inflação são escolhas no como conduzir a política econômica e, em parte explica por qual razão a economia não reage às medidas governamentais. 

Embora essas questões não pareçam haver sido capturadas de forma propositiva consistente nos Programas de Governo o fato é que aos poucos os segmentos que formam a classe C vão sendo tirados da sua zona de conforto e isto pode ter reflexos na hora do voto. A se ver como será.

(1) Neri parece que gostou de conceitos amplos, como quando trabalhou com a questão das pessoas com deficiência e decidiu que um quarto de toda a população brasileira tem "algum tipo de deficiência", que pode ser desde alguém que precisa de óculos para dirigir até o cego total.

No caso desta invenção que transforma em classe social um segmento de população extremamente heterogêneo ele foi ainda mais criativo.

(2)http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/07/1485156-classe-c-ja-nao-e-motor-do-gasto-em-supermercados.shtml

sábado, 12 de julho de 2014

GEOESTRATÉGIA BRASILEIRA E DITADURAS NA ÁFRICA



A geoestratégia brasileira ainda segue os passos traçados por Lula em seus dois mandatos: fazemos negócios. 

De preferência com países com muitas riquezas naturais. Melhor que sejam regimes autoritários, já que é mais fácil negociar com as Elites. Naquela África nossos agentes não são do corpo do Itamarati, mas de corporações multinacionais brasileiras vinculadas às obras de infraestrutura e com braços nas áreas voltadas para extração de recursos naturais. De modo geral as ditaduras africanas são muito boas em dilapidar recursos naturais e usá-los em favor das elites consorciadas na coalizão dominante. A África tem sido o lugar de estudos acadêmicos sobre o neopatrimonialismo em sua relação com a predação dos recursos naturais. O caso padrão é o petróleo.

Para quem se interessar há inúmeras referências na mídia que mostram como se dá a caminhada emergente do Brasil para o Centro do Sistema-Mundo Capitalista por meio do apoio à nossas multinacionais. Em outro momento voltaremos ao assunto com dados e informações relevantes.

Agora patrocinamos o ingresso da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Brasil. As entidades de defesa de direitos humanos já se manifestaram, pois se trata de um ditadura. 

Apenas um por cento da população local fala um português da idade média, eles falam espanhol, francês e dialetos locais e são o maior PIB per capita da África. O que é bem interessante, pois o IDH é médio. A situação sugere uma forte concentração de renda.

O texto abaixo esclarece bem a questão:

A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) pode vir a transformar-se num grupo de Estados com objetivos muito diferentes daqueles para que foi criada em 1996.*

por Cristina Mestre

Foi recentemente recomendado, numa reunião cúpula em Luanda, a adesão de um país-observador, a Guiné Equatorial, como membro efetivo da organização, a ocorrer na próxima cúpula deste ano em Díli.

A CPLP reúne os países lusófonos, “nações irmanadas por uma herança histórica, pelo idioma comum e por uma visão compartilhada do desenvolvimento e da democracia”, conforme indica o site da organização.

De acordo com os seus estatutos, “a CPLP é regida pelos seguintes princípios: primado da paz, da democracia, do Estado de Direito, do bom governo, dos direitos humanos e da justiça social”.

Se assim fosse, seria muito bom. Ora a adesão a Guiné Equatorial porá em causa estes mesmos princípios.

O semanário português Expresso desta semana escreve: “Aos comandos da Guiné Equatorial está, há 35 anos, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, considerado um dos piores ditadores africanos (…) É um país onde, segundo uma inspeção da ONU, a tortura é o meio normal de investigação, onde mutilações, violações, choques elétricos são prática comum, onde falta justiça, liberdade de expressão e informação e onde sobram execuções extrajudiciais e raptos pelo Governo. Obiang foi, à semelhança dos déspotas Idi Amin e Bokassa, acusado de praticar canibalismo contra inimigos”.

O que de pior se pode apontar aos mais mal governados países africanos (e não só) está presente na Guiné Equatorial: Má governo (78% com habitantes abaixo do limiar de pobreza não obstante o país ser um dos maiores produtores de petróleo de África, metade da população sem acesso a água potável ou eletricidade); corrupção generalizada, (o país foi incluído entre os 12 Estados mais corruptos do mundo); repressão e utilização da tortura; culto da personalidade (o presidente é chamado “Deus do país”); democracia de fachada (delegados eleitorais da oposição tiveram de assinar, com uma arma apontada à cabeça, o relatório da contagem oficial de votos nas últimas eleições).

É este país que os países lusófonos vão aceitar na organização e considerar membro de pleno direito?

Até agora, Portugal tinha uma posição “claramente negativa” sobre a adesão da Guiné-Equatorial à CPLP enquanto não fosse abolida a pena de morte, que existe naquele país. De fato, a Guiné Equatorial está longe de obedecer aos parâmetros democráticos, para além de a língua principal na Guiné Equatorial ser o castelhano e não o português (a língua de Camões foi imposta pelo presidente como segunda língua oficial em 2011, mas ninguém a fala).

Mas, no passado dia 20 de fevereiro, o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, parece ter mudado de opinião. Segundo foi informado pelo próprio, a Guiné Equatorial terá aprovado “há três dias um instrumento legal que suspende a pena capital”.

A moratória sobre a pena de morte era uma das condições, para além da promoção do uso da língua portuguesa, para o ingresso da Guiné Equatorial, estabelecidas pela organização lusófona na cúpula de Luanda, em 2010.

O mais caricato é que a Guiné Equatorial não mudou a sua legislação para cumprir os critérios. A prometida democratização é uma miragem. Tudo se limitou, segundo o ministro Rui Machete, a “uma garantia solene feita pelas afirmações do ministro das Relações Exteriores da Guiné Equatorial na reunião de Maputo”, realizada no dia 20 deste mês.

Pelo visto, para aceitar um país despótico, basta a garantia oral de um dos seus ministros.

A questão, no entanto, tem uma explicação mais prosaica.

Uma empresa estatal da Guiné Equatorial vai investir 133 milhões de euros no Banif, um banco português em dificuldades, dirigido pelo ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Luís Amado. Pelo visto, a pressão diplomática para a entrada da Guiné Equatorial tem a ver com negócios e petróleo. Daí virá a súbita mudança de opinião do atual ministro português. Não importa a origem do dinheiro, é preciso que seja “injetado”. O governo português parece não ter resistido à força dos interesses económicos.

Aparentemente, os petro-Estados mandam mais hoje na CPLP do que mandavam em 1996.

Muitas vozes em Portugal dizem que a entrada da Guiné Equatorial na CPLP viola claramente as regras da organização em termos de liberdade, democracia e direitos humanos, sendo um desrespeito pelos povos que a organização representa.

O regime ditatorial de Teodoro Obiang precisa da CPLP para ter reconhecimento internacional. Não havendo outros motivos de credibilidade, esta pode ser comprada.

Nós, cidadãos, não nos conformamos com isso. Portugal deve utilizar o seu direito de veto e impedir que a Guiné Equatorial adira à CPLP, porque há princípios que unem os países lusófonos que não queremos que sejam postos à venda.

*http://portuguese.ruvr.ru/2014_03_12/a-cplp-passou-a-ser-uma-organizacao-de-petro-estados-1333/


SOCIEDADE DE TRANSIÇÃO, PEGADA ECOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO

Uma das questões que ficam ocultas pela ausência do debate da Sociedade de Transição é o debate do custo ecológico do desenvolvimento tal como se pretende hoje. 

Explicamos melhor: as sociedades emergentes buscam caminhar para o Centro do sistema tipo eu quero ser amanha o que você é hoje. Mas quantos planetas seriam necessários para sustentar o estilo de consumo dos países emergentes caso venham a ter o o mesmo padrão de renda dos países do Centro? Impossível, não é?

Por isto falar em desenvolvimento sem falar na Sociedade de Transição é inconsistente, pois não se trata apenas do Brasil, mas do Brasil, o resto do muindo e o planeta.

Neste sentido o Global Footprint Network (Footprint Network News)* acaba de enviar um mailing bem pedagógico onde analisam a pegada ecológica dos finalistas da Copa:



Enfim, se, por exemplo, todas as sociedade do planeta fossem ter os mesmos padrões de vida e consumo do Brasil precisaríamos de 1,7 planetas.

É uma discussão bem interessante, pois joga uma forte luz sobre o que realmente queremos para o futuro e sobre como lidamos com a questão intergeracional, mas principalmente mostra que a questão da equidade geracional é muito mais do que oferecer Bolsa Família e estimular o consumo por meio do crédito fácil.

*http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/

sexta-feira, 11 de julho de 2014

NEM TUDO É PELO SOCIAL, MAS MUITO É PELA SOBREVIVÊNCIA POLÍTICA




Em 2010 ao lançar o Fundo Social do Pré-Sal Lula fez a festa na mídia. Em 2012 foi a vez de Dilma editar um decreto e fazer a festa: 50% dos recursos do fundo seriam para a educação.

Depois de tanta festa nada acontece, pois tudo depende da regulamentação do fundo e o governo não parece ter a menor pressa. Afinal, sem uso os R$ 2 bi acumulados acabam ajudando a disfarçar o vexame do superávit primário, mais uma questão de mídia, desta vez para tentar mostrar que somos economicamente bem comportados.

Primeiro a mídia, depois o social.


quinta-feira, 10 de julho de 2014

POR QUAL RAZÃO LULA NÃO DEVE SER CRITICADO NA CAMPANHA ELEITORAL?





Alguns segmentos da oposição insistem em não criticar Lula sob o argumento de que o "povão" adora Lula. Curioso, pois é um argumento de marqueteiro. 

É um fato inegável que o atual Estilo da Capitalismo brasileiro, incorporado por Lula no Poder, envolve, além dos sindicatos do sindicalismo de resultados, os grandes grupos de interesse econômico da sociedade sobre rodas - indústria automobilística, grandes empreiteiras de obras civis, indústria do petróleo, segmentos do setor de crédito etc. - e que estes grupos não têm interesse em buscar a Sociedade de Transição e sim na manutenção do status atual. Também é fato, sob o argumento de sustentação do crescimento, que a exacerbação do consumismo foi comanda pessoalmente por Lula. 

Então, a não ser que me mostrem que Lula está na liderança da democratização da sociedade brasileira e do Estado e, ao mesmo tempo, na liderança da luta por uma sociedade de transição que nos leve à sustentabilidade de longo prazo, eu continuo achando que ele está mesmo é na origem da desdemocratização da sociedade e do Estado brasileiros e na origem da manutenção do modelo insustentável de sociedade de alto consumo de carbono que vivemos.


terça-feira, 8 de julho de 2014

EM UM CENÁRIO DE DESCRÉDITO DOS PARTIDOS POLÍTICOS CUSTOS DE CAMPANHA PODEM CHEGAR A R$ 10 BI



Na última pesquisa do Datafolha 68% dos entrevistas não mostraram preferência por qualquer partido. Esse é o número mais baixo desde 1.989. Entre as mulheres o número vai a 74% e no Sudeste bate 77%.

É neste quadro de descredito que os partidos devem gastar perto de R$ 6 bilhões para reeleger ou eleger seus candidatos. Cerca de R$ 1 bi para os presidenciáveis, o dobro para os candidatos a governador e o triplo, no caso das campanhas a deputado e senador. Certamente mais alguns para cobrir os custos de propaganda eleitoral por meio da renúncia fiscal. Se tivermos em vista que os valores declarados não são reais, já que parte da despesa corre pelo caixa dois, facilmente os custos chegam a R$ 10 bi. 

É quando o eleitor que trabalha todos os dias, recolhe seus tributos, vive suas batalhas pela qualidade de vida e constata na mídia todo tipo de composição fisiológica e completamente desvinculada de qualquer proposta programática, se pergunta: Qual tipo retorno quem gasta R$ 10 bi espera ao longo de 4 anos de mandato?


segunda-feira, 7 de julho de 2014

SOCIEDADE DE TRANSIÇÃO E PROGRAMA DE GOVERNO



Pacífico, me parece, que o termo Sociedade de Transição se refere a uma sociedade que transita do insustentável para o sustentável.

Imagino que todos concordam que a sociedade brasileira é, no conjunto, insustentável, que não temos hoje meios de garantir para as próximas gerações os mesmos serviços ecossistêmicos dos quais usufruímos hoje. A ser verdadeira a afirmação a leitura estratégica sobre nosso futuro deveria então ter que lidar com o conceito de transição.




Programas de governo são leituras estratégicas sobre o futuro. Por qual razão, então, nenhum dos programas de governo apresentado incorpora o conceito de Sociedade de Transição?

Talvez por que seja preciso antes de tudo reconhecer o caráter insustentável de nosso projeto civilizatório nacional, o que leva ao custo político de admitir que algumas medidas sustentáveis e corretas não transformam o conjunto do projeto em projeto sustentável no longo prazo.

Talvez por que seja preciso admitir a necessidade de uma Economia da Transição que ataque em profundidade o atual modelo de industrialização, ainda e infelizmente, fundado na economia do alto consumo de carbono.

Talvez por que a revisão da Matriz Energética, da Matriz de Transportes e Logística, dos grandes projetos habitacionais, da circulação e mobilidade urbana, da desconcentração urbana, dos Projetos de Desenvolvimentos de C,T & I, dos Projetos Nacionais de Ensino e Capacitação que precisam estar voltados para a Inovação e a Economia Verde, do aprofundamento da glocalização, precisem ser mais que intenções e devam ser todos integrados num único projeto de transição.

Talvez por que seja necessário repensar a relação entre qualidade de vida e consumo, quando o consumo predatório e irresponsável fica no topo do projeto de crescimento da economia.

Questionar tantas frentes tem alto custo eleitoral, pois retira os eleitores de todas as classes e segmentos de sua zona de conforto geracional. É, há sim uma zona de conforto geracional, mesmo que haja desconforto relativo dentro dela. Todos estão confortáveis em não ter que pensar a sua responsabilidade frente às gerações futuras. Ou não é verdade?

É provável que a manutenção do conforto geracional como forma de garantir a sobrevivência política estejam na base das escolhas programáticas que evitam o debate da Sociedade de Transição. Fica mais fácil, então, falar em propostas que se dispersam e não enfrentam a questão principal, sustentabilidade genérica ou muito específica, mas não da necessidade de garantir a equidade intergeracional.

É. Não há como garantir a equidade intergeracional se não adotarmos a Sociedade de Transição.



domingo, 6 de julho de 2014

DILMA VAI INDICAR UM INTERLOCUTOR PARA A ECONOMIA



Parece que finalmente a ficha do absoluto fracasso do projeto petista para a economia caiu. Lula já vinha publicamente comentando o assunto, mas Dilma do alto de seu saber econômico não dava a mínima. Parece que a persistência da forte rejeição está mudando a lógica de campanha. 

Dilma parece disposta a colocar um interlocutor para o mercado e para o empresariado. Não que o interlocutor tenha qualquer importância, pois todos sabem que Dilma não arreda pé de sua Nova Matriz. 

Nomeado o interlocutor vai acreditar em Papai Noel quem quiser, mas manter Mantega ou indicar Mercadante é delírio demais. Até para Dilma. 

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/07/1481773-dilma-busca-interlocutor-para-acalmar-eleitor-quanto-ao-cenario-economico.shtml


ARGENTINA MOSTRA COMO NÃO FAZER UMA NEGOCIAÇÃO




Dando sequência à sua lógica bolivariana Cristina Kirchner irá promover um evento no próximo dia 9 de julho na Argentina. Lá exibirá orgulhosamente seus aliados políticos: os presidentes do Equador, Bolívia, Uruguai e Venezuela. 

Não por acaso marcou o evento justamente no dia em que a Argentina joga com a Holanda...O que pode emprestar ao evento um ar simbólico do embate entre "pobres" e "ricos". De mídia eles entendem.

Os bolivarianos ainda se movimentam nos anos 1950 e olham para o conflito Sul/Norte como a razão de ser de seus projetos geoestratégicos. Infelizmente a política externa brasileira flerta com esta lógica e só resta esperar que Dilma evite estar na Argentina dia 9.

Para combater os chamados fundos abutres a presidente americana acha que resolve no grito, já que, relapsa, deixou o problema ir sendo levado pela justiça norte americana como se isto não fosse um assunto grave. Os argentinos tiveram mais de uma década para buscar saídas, mas preferiam deixar chegar o último minuto do segundo tempo. 

A Argentina não tem como pagar os fundos abutres, mas mesmo que tivesse não deveria, pois ao pagá-los invalida os outros acordos que reduziram a dívida a cerca de um terço e teria que pagar tudo integralmente.



Assim como Dilma colocou a economia num beco sem saída por questões ideológicas, Kirchner coloca a dívida externa argentina num beco sem saída pelas mesmas questões ideológica.

A se ver  oque virá...

http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,cristina-exibe-apoios-contra-credores,1523810

sábado, 5 de julho de 2014

PLANO DE GOVERNO DE AÉCIO TAMBÉM NÃO CONSEGUE DIALOGAR COM A CLASSE MÉDIA EMERGENTE



Acho que Aécio comete os mesmo equívocos de Campos ao lidar com a classe média emergente.

Um dos pontos fortes do discurso de Jango no famoso comício da Central do Brasil foi a proposta de uma reforma imobiliária urbana. A lei punia severamente imóveis fechados e chegava até a desapropriação por interesse social. Lembro de matérias da Última Hora da época que havia apurado na cidade do Rio de Janeiro um grande grupo de proprietários de imóveis que chegavam a ter até mais de mil apartamentos individualmente.

A concentração, a desorganização da expansão dos espaços urbanos e o uso especulativo da terra  geraram um enorme déficit habitacional no Brasil. Os generais da ditadura civil-militar perceberam o drama e encaixaram eficientemente o fim da estabilidade, o FGTS, com uma política habitacional para a baixa classe média, o BNH. Ao longo dos anos a proposta acabou contaminada tanto pelo patrimonialismo, quanto pela especulação urbana até seu melancólico fim.



No DF o execrado Roriz só se mantém no topo das preferências de voto por ter sabido aproveitar a confusa estrutura de propriedade da terra no território do DF em favor de seu grupo. Gerou uma potente caixa dois, mas também gerou centenas de milhares de beneficiários por sua reforma agrária urbana informal.

O Minha Casa Minha Vida teve a sacada de quem entendeu que um dos dramas mais fortes das famílias mais pobres que vivem nos centros urbanos é a questão do aluguel e sua instabilidade. Para os proprietários a situação ainda é uma maravilha. Especialmente para aqueles que usam os imóveis sequer para alugar, mas apenas como investimento. Famílias muito pobres vivem situações mais dramáticas amontoadas em cabeças de porco, sem qualquer segurança jurídica e em situações insalubres.

O problema com o MCMV é que a sacação foi apenas midiática e o plano acabou seguindo a mesma lógica que levou ao corner o projeto do BNH: acordos patrimonialistas e especulação urbana.

O grande desafio não é “finalizar obras iniciadas e que forem importantes”. O grande desafio é manter a proposta de construção de casas populares até, não vou dizer eliminar, mas reduzir de forma significativa o atual déficit.

A proposta da casa popular num espaço urbano 100% especulado traz desafios de gestão poderosos, mas é preciso perceber que se trata de oferecer qualidade de vida e ela começa por haver um lar seguro.

A arquitetura de planos grandiosos é bem simpática e impressiona, mas, como se diz, o diabo pode estar nos detalhes...

http://coturnonoturno.blogspot.com.br/2014/07/plano-de-governo-de-aecio-promete-cinco.html




quinta-feira, 3 de julho de 2014

GEOESTRATÉGIA E DEBATE DOS OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - ODS



Embora a maioria não perceba estamos um intenso processo de revisão dos Objetivos do Milênio comandado pelas Nações Unidas e com repercussão nos governos nacionais¹. 

O primeiro foco, o original dos ODM, foi buscar estabelecer metas que pudessem orientar as políticas públicas nacionais no sentido de promover ações visando a eliminação da miséria e a superação da pobreza, sem deixar de lado questões como gênero, educação etc. Hoje já é possível conhecer o andamento destas metas, inclusive nos municípios brasileiros². Infelizmente o uso das metas do ODM municipal está longe de ser encarado como um instrumento de planejamento local³. 

Em 2015 esgota a prazo para o cumprimento das metas originais traçadas no ano de 2.000. Buscando reavaliar o processo de metas a comunidade internacional pretende dar mais um passo a adiante e busca agregar metas de sustentabilidade. Estamos falando nos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – Agenda pós-2015) ⁴.

Em termos comparativos os oito objetivos originais do ODM, que vigoram entre 2.000 e 2.015 são: 

1. Acabar com a Fome e a Miséria 

2. Educação Básica de Qualidade para todos 

3. Igualdade entre Sexos e Valorização da Mulher 

4. Reduzir a Mortalidade Infantil 

5. Melhorar a Saúde das Gestantes 

6. Combater a Aids, a Malária e outras doenças 

7. Qualidade de Vida e Respeito ao Meio Ambiente 

8. Todo Mundo trabalhando pelo Desenvolvimento



Os atuais 17 objetivos propostos para o ODS, para vigora a partir de 2016, são:

1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas em todos os lugares.

2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e nutrição adequada para todos, e promover a agricultura sustentável.

3. Alcançar saúde para todos em todas as idades.

4. Fornecer educação equitativa, inclusiva e de qualidade e oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.

5. Atingir a igualdade de gênero e a autonomia para mulheres e meninas em todos os lugares.

6. Garantir água limpa e saneamento para todos.

7. Garantir serviços de energia modernos, confiáveis, sustentáveis e a preços acessíveis para todos.

8. Promover o crescimento econômico forte, sustentável e inclusivo e trabalho digno para todos.

9. Promover a industrialização sustentável.

10. Reduzir as desigualdades dentro dos países e entre eles.

11. Construir cidades e assentamentos humanos inclusivos, seguros e sustentáveis.

12. Promover padrões de produção e consumo sustentáveis.

13. Promover ações em todos os níveis para combater as mudanças climáticas.

14. Alcançar a conservação e o uso sustentável dos recursos marinhos.

15. Proteger e restaurar os ecossistemas terrestres e interromper toda a perda de biodiversidade.

16. Alcançar sociedades pacíficas e inclusivas, o Estado de direito, e instituições eficazes e capazes.

17. Fortalecer e melhorar os meios de implementação [desses objetivos] e a parceria global para o desenvolvimento sustentável.

Neste momento a posição do governo brasileiro é contra a inclusão dos itens ligados à governança, paz e justiça, que seria o 16º item⁵.

O debate da sustentabilidade tem uma forte conexão com as equidades geracionais e intergeracionais. Acaba envolvendo uma inevitável discussão sobre estilos de governança, uma vez que más governanças inviabilizam um projeto de longo prazo no conceito atual do que seja sustentabilidade. A inclusão da questão da governança é uma das quais nosso governo se coloca de forma desfavorável.

Segundo a BBC Brasil: “o Itamaraty explicou que a adoção de "objetivos independentes sobre governança poderia tirar o foco dos esforços centrais que os ODS devem promover - em particular, a erradicação da pobreza”.

Neste quesito a posição brasileira é respaldada pela Rússia, China e Índia, numa aparente coalizão de países emergentes que parecem temerosos em ter que debater metas que podem envolver delicados assuntos conectados com a democratização interna, segurança pública ou conflitos geoestratégicos potenciais em suas periferias (especialmente Rússia e China). Por sua liderança a postura brasileira é crítica e pode implicar na exclusão da 16ª meta.

Outro questionamento do governo brasileiro tem a haver com a questão da sustentabilidade. Ainda segundo a BBC Brasil, na mesma matéria: “Por um lado, o país quer fortalecer o documento da Rio + 20, que é considerado "um filho" do Brasil. Por outro lado, quer valorizar mais os tópicos em que tem mais poder de influência — o que aumenta seu papel de liderança nos processos de implementação dos ODS”.

A atual política externa brasileira caminha em um sentido de alinhamento em blocos, olhando para conflitos no estilo norte/sul, sem considerar as fortes diferenças entre os países emergentes. Nem sempre a ação de manada é a melhor solução.



1-http://www.dialogosfederativos.gov.br/?p=3499

2- http://www.relatoriosdinamicos.com.br/portalodm/

3- http://www.portalodm.com.br/video/75/a-importancia-do-projeto-odm-para-a-promocao-e-implementacao-de-politicas-publicas

4- http://www.onu.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-em-acao/a-onu-e-o-desenvolvimento/pos2015/

5- http://noticias.r7.com/internacional/brasil-lidera-racha-polemico-sobre-novos-objetivos-do-milenio-da-onu-27062014