Nakano escreveu um interessante artigo sobre a questão da apreciação cambial. Mas, o ponto de interesse não está na análise feita. Está na falta de proposição. Na solução.
Curiosamente o autor nos leva ao limiar da solução, mas não a aponta.
Talvez não a aponte, pois a sua solução, por dedução do que lá está, é a mesma do governo: Taxação de capitais externos.
Certamente não ficaria bem para um economista “do lado de cá” apontar soluções usadas “do lado de lá”. Ele prefere, então, deixar implícito.
Outros como o Oreiro, que transita muito bem entre oposição e situação, não têm essa preocupação.
Outros, ainda, realmente estão do lado do governo e não têm qualquer problema em defender a medida.
Certamente o debate vai muito além da taxação, geração da caixa para o governo ou do tiro no pé.
Existe implícita uma premissa nacionalista e protecionista, clássica, do clássico desenvolvimentismo keynesiano gestado no Brasil.
A ação protecionista sempre foi um dos pontos mais fortes dessa proposta. Por seu profundo suporte nacionalista a ação protecionista do Estado sempre foi bem avaliada e tem sido a contrapartida obrigatória dos argumentos contra o movimento de globalização da economia.
Evidentemente cabe todo um debate sobre o quanto o protecionismo apenas favorece grupos e o anel de poder que se estabelece à volta do poder real e o quanto o Estado deveria, em parceria de fato com famílias e empresas, estimular a competitividade e a produtividade da economia privada nacional.
Nossa história econômica está ai para mostrar o quanto o protecionismo alimentou uma burguesia industrial e o quanto esse foi um dos processos de nos colocou no atual patamar de concentração de renda ao quebrar as regras de competitividade, inibindo a ampliação do mercado.
Um dos elos que une os economistas do desenvolvimentismo keynesiano brasileiro é essa visão do Estado e de seu papel como “condotiere” principal e solitário do crescimento econômico.
Importante ressaltar que não é uma visão keynesiana, no conceito da Teoria Geral, mas uma derivada local articulada de forma ideológica para sustentar as posições de uma determinada burguesia também local, com fundos vínculos com o Estado e dele dependente para realização de seu lucro melhorado. Disfarçados de economistas do desenvolvimento e defensores da nação não são mais que arautos de outros interesses bem diferentes.
Desde o início desse blog, já estamos com mais de um ano, sempre lutamos pela politização da economia.
Nosso ponto sempre tem sido que os economistas devem sair da estrita área econômica e olhar para os resultados de suas propostas.
Mas também defendemos que na avaliação desses resultados os economistas verifiquem quem são os ganhadores e quem são os perdedores. Nem sempre o mundo é tão linear quanto parece.
O desenvolvimentismo keynesiano brasileiro trás claramente uma visão inversa.
Sua proposta insistente tem sido a economização da política a partir de suas próprias premissas.
É esse o principal ponto que une os discursos de economistas que estão em campos políticos diametralmente diferentes.
Para esses economistas a questão da política é irrelevante, pois o principal está no projeto desenvolvimentista que os une a todos. Não há qualquer contradição entre estar ou não no governo, desde que o projeto seja o mesmo: Estado forte, a solução única.
A esse grupo não interessa o custo social desse aparato.
Essa questão é resolvida pela premissa da atenção aos pobres a qualquer que seja o custo.
Nessa linha, se existe ou não eficiência no próprio processo de eliminação da pobreza trata-se apenas de dar mais eficiência à máquina, contratar mais etc...
Não se olha, por trás dos que aparentemente ganham, quem são os reais ganhadores.
Na lógica deles a leitura nesse formato unificante do mundo é tão óbvia que isso talvez explique a extrema irritação de alguns no debate. Algo do tipo: Vocês não percebem o que é tão evidente...?
2010 será um pouco o confronto dessas duas formas de olhar o mundo e a relação entre a economia e a política.
Demetrio Carneiro