Segundo está na mídia, veja abaixo post do Josias de Souza, um ex-ministro de Dilma, do rol dos "indicados" por Lula, será indiciado na PF como "líder de quadrilha". Não é impossível que outros acabem recebendo a mesma qualificação.
A acusação tem todo o sentido a partir do conceito de responsabilização do principal. No ministério o principal é o ministro. Boa parte da estratégia de defesa desses grupos patrimonialistas tem sido procurar com que ou a acusação caia no esquecimento ou que se acusem pessoas menos relevantes e não o agente público responsável. É pela lógica da responsabilização do principal que Lula deveria ter sido indiciado a muito tempo como principal responsável pelo mensalão e é por isso mesmo que ele procura todo o tempo desqualificar as acusações contra seus colegas. Para que não cheguem nele. A recente descoberta do câncer, mesmo sendo um drama humano, não pode relevar esse fato, quando estamos às vésperas, esperamos, de finalmente ver o mensalão em julgamento.
Seja como for a corrupção, como desvio de recursos públicos e parte de um esquema patrimonialista muito mais amplo, especialmente nos governos petistas, têm se mostrado como uma política de construção de alianças. Uma forma de garantir amplas fidelidades num esquema cuja finalidade é dar estabilidade aos governantes. O que os fatos vão mostrando é que esta estratégia se apoderou da estrutura de governo contaminando extensas áreas da administração pública ao ponto de se tornar válido o questionamento sobre a finalidade de parte da pesada carga tributária. Os números que são anunciados como resultado desse esquema de apropriação são bem significativos e se considerarmos o conjunto das ações patrimonialistas pode ter valor muito maior.
Aparentemente essa característica patrimonialista tornou necessário um duplo governo:
Existe um "blindado", embora por lá já tenham passado Dirceu, Erenice Guerra e Palocci: A Presidência da República. Uma estrutura bastante complexa,transversal, ampla e supostamente técnica de governança envolvendo a maioria das áreas críticas e todas as estratégicas da função pública e reunindo diversos formatos de conselhos e grupos executivos de trabalho e que muito provavelmente é um núcleo de gestão real do poder executivo para o efeito do planejamento e da tomada de decisões .
Outro "aberto", os ministérios. Destinados ao uso e abuso dos integrantes da Coalizão Vencedora. É o tamanho da base aliada que explica o número de ministérios. Neste estilo de governo provavelmente o papel dos ministros não é planejar ou tomar decisões, atributos que parecem ser da estrutura interna da presidência e sim administrar seu grupo e aliados.
A partir do comando de ministérios há diversas possibilidades do uso manipulatório do patrimônio e das políticas públicas e muitas não são diretamente atos de corrupção. Por meio do mecanismo de cargos de livre provimento é possível nomear cabos eleitorais e aliados. Parentes podem ser nomeados pela via da troca de favores cruzando empregos em ministérios. É possível direcionar e favorecer prefeituras e governos estaduais do campo de interesse do ministro e aliados no caso das despesas de livre uso. É possível usar a produção de bens e serviços públicos para projeção local e nacional de eventos de mídia. É possível criar esquemas de favorecimento por meio de brechas e ausência de controles na lei de licitação ou diretamente na execução de convênios. A lista é longa e muito provavelmente o enriquecimento ilícito, que é o que dá realmente mídia, é uma parte menor de um processo muito mais amplo. Por isso faz mais sentido falar em rede neo-patrimonialista, pois o ministério é o topo da cadeia alimentar que chega nas bases municipais.
Algumas questões, então, são substanciais:
a) A separação em dois governos não é uma decisão administrativa, mas uma estratégia de aliança dentro da Coalizão Vencedora;
b) A transformação de bens e serviços públicos em benefício privado é muito mais do que a parte mais visível do enriquecimento ilícito. Há diversas práticas vistas como "normais" pela mídia e pela população, adotadas por todo o mundo político, que fazem parte do mesmo processo patrimonialista;
c) O patrimonialismo e não apenas a corrupção é a instituição de viabiliza a realização do resultado das recompensas pela fidelidade dentro da Coalizão e está diretamente vinculado ao balcão de negócios em que a atividade política se transformou. O que os partidos políticos, de todos os matizes, fizeram foi adaptar-se a esta realidade. Este tipo de mundo da política prescinde de ideologias ou proposta e depende de fidelidade canina no voto. O esquema de recompensas é pavloviano;
d) Contudo é melhor perceber que no topo do processo o pensamento dominante é ideológico, conforme a própria mudança de eixo da política econômica vai demonstrando e o patrimonialismo é una estratégia de dominância. Uma patologia a ser estirpada como forma de termos uma República Democrática e não apenas um vício a ser julgado moralmente e apenas imputável ao Outro.
Demetrio Carneiro
PF: Rossi atuou como ‘líder de organização criminosa’
Sérgio Lima/FolhaApeado do Ministério da Agricultura sob denúncias de corrupção, Wagner Rossi será indiciado pela Polícia Federal nesta semana.
Acionada para investigar denúncia de que o lobista Júlio César Fróes Fialho fraudava licitações na Agricultura, a PF confirmou a trambicagem.
O repórter Fausto Macedo manuseou o relatório que descreve os ilícitos detectados no curso do inquérito.
O documento tem 40 folhas. Assina-o o delegado federal Leo Garrido de Salles Meira.
Anota que havia uma "verdadeira organização criminosa enraizada no seio do Ministério da Agricultura".
Apadrinhado do vice-presidente Michel Temer, o pemedebê Rossi é qualificado no texto da PF como "líder da organização criminosa."
Quarto ministro a deixar o cargo na gestão Dilma Rousseff, Rossi sera indiciado sob acusação de ter praticado três crimes.
São eles: formação de quadrilha, peculato e fraude à Lei de Licitações. Além de Rossi, a PF indiciará mais oito pessoas.
A lista inclui o lobista Júlio Fróes e Milton Elias Ortolan, amigo e ex-chefe de gabinete de Wagner Rossi.
De acordo com o relatório do delegado Leo Garrido, confirmaram-se as suspeitas de fraude num programa criado para capacitar servidores públicos.
Chama-se Paec (Programa Anual de Educação Continuada). A “quadrilha” agiu para desviar R$ 2,72 milhões.
Rossi caiu em agosto, depois que escalou as manchetes, graças a uma notícia veiculada por ‘Veja’, a contratação fraudulenta da Fundação São Paulo.
Mantenedora da PUC-SP, a fundação beliscou o contrato com a pasta da Agricultura mercê da intermediação do lobista.
Embora não fosse funcionário público, Júlio Fróes dispunha de sala com secretária, telefone e computador na pasta da Agricultura.
"Toda a trama inicia-se com a associação do lobista com a cúpula do Ministério da Agricultura", anota o relatório da PF.
"O plano consistiria em direcionar a execução do programa de capacitação de servidores para determinada instituição de ensino…”
Em troca do direcionamento da licitação, exigia-se da fundação “vultosa quantia": 28% do valor total do contrato, segundo o delegado.
A PF sustenta que, para atingir os objetivos da “trama delituosa”, Rossi, seu Ortolan e o lobista Fróes “associaram-se a dois professores da PUC." Escreve o delegado:
"A organização criminosa, quando se viu compelida pela consultoria jurídica a efetivar uma pesquisa de preço para dar respaldo à contratação da PUC-SP por dispensa de licitação, passou a forjar diversos documentos."
Na bica de migrar da condição de acusados para a de indiciados, os envolvidos negam o cometimento dos crimes.
Enviados ao Ministério Público Federal, os achados da PF devem ser convertidos numa denúncia à Justiça Federal.
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Escrito por Josias de Souza às 23h11