sábado, 24 de setembro de 2011

DILEMAS DA INSDUSTRIALIZAÇÃO DEPENDENTE: QUEM ESTARÁ DISPOSTO A SAIR DE SUA ZONA DE CONFORTO?

      Quando o governo brasileiro decidiu tomar uma lado na disputa mundial entre montadoras do Centro desenvolvido e da Semi-periferia emergente, especificamente da China parecem ter esquecido a viagem de Dilma à China e as diversas declarações sobre a instalação de uma montadora chinesa no Brasil. A resposta não demorou muito e chineses já formalizam haver desistido de instalar aqui a sua montadora.

     Dilema complexo entre garantir empregos para perder empregos., já que todo o argumento para proteger as “nacionais” eram os empregos.

     No final são dilemas e discursos de um modelo de industrialização dependente e, pior, decadente. As autoridades brasileiras ainda insistem em fazer de conta que esses processos são sustentáveis no longo prazo e benéficos para o país.

      De qualquer forma perder tempo e esforços para tomar um lado na disputa das montadoras pode ser transvestido de legítima defesa de interesses nacionais e dar argumentos para tranqüilizar Centrais Sindicais, aliados na FIESP e CNI, e parlamentares cujas bases estão ou nos sindicatos ou nas corporações patronais. Vamos admitir que essa busca de resultados imediatos e palpáveis por parte do governo e seus apoiadores faz parte de um jogo de sobrevivência política. O problema é que esse olhar oportunista, abaixo da linha do horizonte, desvia o foco da questão principal que é como produzir um processo de industrialização sustentável no longo prazo, mas que ao mesmo tempo seja elemento de indução de desenvolvimento e não apenas crescimento.

      É disso que se trata. Estamos, no final do dia, trocando crescimento econômico por desenvolvimento. Talvez não apenas por que processos de desenvolvimento sejam muito mais complexos e demorados do que processos de indução de crescimento, já que exigem transformações institucionais profundas ao ponto de gerar mudanças estruturais e organizacionais. Talvez também seja por que intuitivamente a Elite, seus associados e cooptados, é bom colocar no pacote as Centrais Sindicais, saibam que processos de desenvolvimento podem terminar em novas configurações de poder, nem sempre favoráveis aos atuais detentores.

      Com efeito inovações que gerem conhecimento capaz de transformações de qualidade – nota: não estamos falando desse “empreendedorismo” no estilo Sebrae, mas no conceito schumpeteriano - , agregação de qualidade ao capital social via transformações no próprio conceito e estrutura do ensino e oferta de outras oportunidades, estruturas de financiamento de longo prazo num mercado livre do controle oligopolístico , projetos que encarem de frente os dilemas gerados pela necessidade de novos paradigmas sobre o que é a industrialização e como ela pode se dar num mundo onde a questão ambiental não pode mais ser ignorada, são todos elementos de um processo que só é viável com mudanças de fundo no próprio Estado e nas suas relações com o mercado e a sociedade civil, no sentido de uma completa democratização de todo o aparelho.

      Não é sempre que detentores do poder estão dispostos a correr riscos que vão muito além do discurso formal do populismo, colocando em risco suas hegemonias, complicando suas zonas de conforto.

      Enfim essa última questão acaba sendo a chave de todo o debate atual: Quem realmente estará disposto a sair de sua zona de conforto e correr riscos? As Elites dominantes dificilmente farão esse movimento a não ser que sintam, como sentiram na transição entre a ditadura e a redemocratização, que é melhor perder anéis que dedos. Então elas são demandadas e não realizam movimentos que não são estritamente necessários. Os amplos setores da política e do sindicalismo que acabaram cooptados e compõem esse novíssimo, historicamente falando e nos termos do Brasil, desenho de Elite dominante, dificilmente colocarão em risco suas situações atuais. Até porque são incapazes de olhar além do horizonte. A não ser claro, quando se trata de justificar a quebra das políticas de Estabilidade. As “oposições” em parte assumem uma concordância discreta e envergonhada com o que vem ocorrendo, devido ao fundo ideológico comum e parecem bem satisfeitas com seu “naco” de poder, não estando muito dispostas a buscar o realmente novo e correr riscos que possam mudar as relações de poder nas estruturas partidárias.

     Gostaríamos muito que esse romper com zonas de conforto pudesse ser algo que viesse das redes, como a Primavera Árabe, mas infelizmente quando falamos de desenvolvimento a primeira questão é como romper com 70 anos de cultura desenvolvimentista. São diversas gerações de pensamento que foram se entrelaçando e se seqüenciando sem se darem conta de que o século mudou e acabam buscando glórias, “plena” autonomia nacional, por exemplo, que jamais obterão por não saberem distinguir o mero discurso da prática transformadora concreta ou até mesmo se existe essa “plena” autonomia nacional, não devido à globalização, mas devido ao fato de que o Sistema-Mundo desse capitalismo dominante é antes de tudo um sistema onde as peças se integram perfeitamente, gostemos ou não.



Demetrio Carneiro

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

É UMA “NOVA” ECONOMIA POLÍTICA DO DESENVOLVIMENTO O QUE DESABROCHA NO GOVERNO DILMA?

      O jornalista Cristiano Romero escreve extenso artigo, abaixo, hoje, no Valor Econômico, defendendo que houve uma mudança de política econômica. Estaríamos agora sob a égide de uma nova política econômica, diferente, bem diferente, das outras.

      Eu não discordo e vinha em outros posts, até antes das eleições, chamando a atenção para isso. Contudo ouso achra que há muito mais aqui, pois, da forma como percebo, não se trata de uma “nova” política econômica, mas apenas a confirmação de uma linha de pensamento nacional-desenvolvimentista, finalmente consagrada na instalação de uma Economia Política do Desenvolvimento. É assim, Economias Políticas quando no poder, pedem Políticas Econômicas específicas de dêem curso franco às suas propostas.

A importância da aliança com as Elites

    De alguma forma a base política que forçou a reestruturação do poder com o fim do autoritarismo civil-militar iniciado em 1964 foi ampla o suficiente para forçar um recuo do pensamento nacional-desenvolvimentista em sua forma de intervencionismo estatal mais básica. Instalou-se no período uma forte aversão aos papéis do Estado na política e na economia enquanto único decisor, único executor e única instituição capaz de produzir um estilo de crescimento voltado para o bem comum e não para grupos. A consciência não apenas do papel da sociedade civil, mas também da iniciativa privada, vulgarmente “o mercado” no processo de desenvolvimento começa a tomar forma e a se transmutar em instituições como o Orçamento Participativo ou as Oscips ou os diversos Conselhos. É o início do ciclo pejorativamente denominado de “neo-liberal”, mas na realidade é o início de uma grande ciclo de negociações entre a Elite e os segmentos emergentes na política, estruturados e testados durante a repressão.

      O novo sindicalismo, construídos sobre os escombros do sindicalismo comunista destruído pela repressão e desorientado pela devastação ideológica, deu à luz ao novo partido. Novo mesmo e diametralmente oposto aos partidos tradicionais de esquerda que existiam naquele momento. É o pragmatismo da Elite sindicalista somado aos remanescentes da luta armada, vindos de uma experiência traumática de tentativa de chegar ao poder pela violência, e lastreados por diversos outsiders da política tradicional de esquerda, que consideravam finalmente haver encontrado seu lugar no fazer política institucional, que vai dar uma poderosa liga capaz de pavimentar o caminho para a Presidência. Nossas características históricas jogam na presidência de república o centro do poder no Estado. Entre nós nenhum projeto de poder institucional se consolidada sem o acesso à presidência.

      Posteriormente muitos desses outsiders iriam se dar conta do uso manipulatório e refazer as suas avaliações, mas o fato é que o pragmatismo uniu sindicalistas e ex-militantes da luta armada na visão de que era preciso chegar ao poder, mesmo que passasse por pactuações com as antigas Elites que sustentaram a repressão. Com efeito 64 foi o auge do nosso conflito distributivo e a Elite posicionou-se claramente pelo golpe como forma de interromper o processo e evitar a partilha do poder. Os anos de repressão e seu insucesso mostraram para essas Elites que a repressão só iria piorar a disputa pelo poder e colocar em risco seu espaço. Sendo assim, vão-se os anéis e fiquem os dedos. 

     O casamento da elite sindical com a Elite política foi cimentado pelas práticas neo-patriminialistas, disfarçadas de “ampliação da base de votos”. Processo extremamente facilitado pelo Presidencialismo brasileiro de raízes verticalizantes e hegemonista, traços bastante consolidados em nossa cultura política.

    Essa casamento também foi viabilizado pelo forte movimento de baixo para cima, com base em todo um elenco de esperanças de retomada da questão distributiva que culminou no formato da Constituição de 88 e que acabou colocando o PT no poder. Uma vez lá o pragmatismo mostrou os caminhos de negociação e hoje, mesmo em um ambiente instável nos termos dos embates internos da Coalizão, há uma consolidação concreta.

Surge uma nova Economia Política

      Enfim, é agora ou nunca a hora de terminar o ciclo neo-liberal e consolidar a visão nacional-desenvolvimentista. Não são poucos os textos de autores mais à esquerda ligados à Coalizão Vencedora nessa linha de raciocínio. Essa consolidação vai se dar por meio de uma Economia Política completamente diferente da mistura contraditória que formou e conformou a Política Econômica da Estabilidade. Agora, se sentem fortes o suficiente para assumir as conseqüências de aplicar uma cultura presente em nosso pensamento econômico nos últimos 70 anos. E é bom anotar que é esta raiz ancestral e comum que confunde o jogo e é capaz de colocar no mesmo projeto Dilma e Serra, como vimos recentemente na questão da imposição, muito mal disfarçada e com direito à “manifestação popular” e recepção no Palácio, de corte da taxa Selic ao BC.

    A economia política do pensamento nacional-desenvolvimentista coloca no centro a questão distributivista. Não é acaso o discurso feito por Dilma na abertura da Assembléia Geral da ONU onde coloca como centro do projeto de desenvolvimento o combate à pobreza e como centro da política de direitos humanos o fim da desigualdade.

     O pensamento nacional-desenvolvimentista tem tipicidades bem definidas:

- É um pensamento do século 20, portanto a resolução das questões está na economia e não na política. A política é o espaço para chegar ao poder. Uma vez lá a execução do projeto é econômica. Não é diferente da lógica do socialismo Real;

- A sociedade civil existe para franquear o acesso ao poder. A economia privada para gerar os recursos necessários ao projeto do Estado. É o Estado a única instituição capaz de gerar o desenvolvimento e é o agente público a criatura perfeita para garantir o bem comum dos mais pobres;

- A sociedade é composta apenas pelas Elites e o povo. O povo basicamente é composto pelos mais pobres. A sociedade entre as Elites e os mais pobres tem a mesma dívida moral que as Elites e deve igualmente para essa dívida. Mesmo que isso implique numa carga de tributação desproporcional ao resultado das política públicas.

A relação entre a política econômica e a economia política

    Nesse sentido a política econômica que satisfaz a Economia Política do nacional-desenvolvimentismo tem regras bem definidas:

      A política monetária existe para atender a política fiscal. Como instituição o Banco Central não pode ser um espaço de diálogo entre o Mercado e o Estado, mas sim um espaço de restrições do Estado sobre o mercado.

      A política fiscal é de soma. Jamais de subtrações. Um bom exemplo é a fala de Dilma num evento da ONU sobre saúde ao propor uma “flexibilização” das patentes na área de saúde. Fala logo interpretada como ruptura de acordo de patentes, o que obrigou os nossos diplomatas a inúmeros desmentidos. A se notar que em momento algum falou-se em algo bem mais simples e viável: Reduzir tributos. Nessa economia política o gasto é um poderoso instrumento de garantia de permanência no poder e sobrevivência.

A meta de crescimento

      É evidente que as leis econômicas e os princípios de finanças públicas não mudam apenas pela vontade, mesmo que Mantega tenha âncias de controlar a Selic por decreto executivo.

      Faz parte do projeto de poder colher louros dos resultados do recente crescimento da economia brasileira, traduzido não apenas em emprego, mas também em maior capacidade de gasto estatal em políticas sociais de redução da pobreza. Todo o problema de engenharia agora é saber como manter essas dezenas de milhares de família que subiram ao longo da estratificação de renda.

      É bastante óbvio, e não é necessário muita pesquisa, que há uma fragilidade básica na conjugação de renda pública e facilidades de acesso ao crédito pessoal. Empilhar famílias em estratos mai elevados de renda e consumo não dá a elas a condição de lá permanecer se não houver crescimento. Nada menos leal do que o eleitor que perde acesso ao consumo ou perde renda. Isso quando o FMI reduz a expectativa de crescimento da economia brasileira para algo abaixo de 3,8% esse ano.

     Sendo assim tem todo o sentido fixar uma meta de crescimento e transformar os objetivos da política econômica. Nessa leitura um Estado poupador ou um Estado focado na estabilidade dos preços não serve. É isso e por isso que a política econômica precisa mudar.

A inflação

      Enfim quem se assusta com a inflação?

      Segundo Mantega a variação da banda é justamente para variar. Se encosta no teto da banda ou fica um pouco acima de forma consistente durante um bom período os ares do futuro informam que logo irá baixar. Então, o governo não se assusta e aposta que logo as coisas voltam ao normal, quer dizer lá para 2013 a inflação retorna ao centro da meta. Daqui até lá alguma inflação é tolerável como um resíduo. Já que o governo continuará consistentemente a aplicar suas políticas de combate à pobreza etc. Certo, que Deus escute esse cidadão...

      Esses segmentos mais pobres estão amparados pela indexação do salário mínimo. Os sindicatos se sentem fortes o suficiente para arrancar do patronato, inclusive os governos nos três níveis federativos, compensações pela inflação desobediente.

      Do ponto de vista das Elites a inflação só assusta quando leva no caminho da crise ou de conflitos sociais mais fortes. Fora isso a inflação acaba sendo benéfica para as Elites, pois historicamente sabemos que há tendência ao aumento da concentração de renda e elevação nos ganhos das Elites.
Na medida em que as empresas ainda tenham “gorduras” para queimar na remuneração dos trabalhadores e o Estado recursos para manter seus gastos, a inflação não é exatamente um problema. Contudo a equação só fecha se houve um crescimento em níveis mais elevados. Daí o Delfin ter saído na frente e, muitos meses atrás, ter falando em 4% ou até 3,5%.

       Quem pode não ficar muito confortável é a classe média urbana que não está empregada no governo ou em empresas consorciadas ao governo. Mas ele precisa se contentar em pagar sua dívida histórica com o “povo”.

A grande maldade

      Até aqui maravilha, mas a grande maldade dessa defesa estatal dos mais pobres é a carga tributária brasileira violentamente regressiva. De cada real pago pelo governo aos mais pobres cerca de cinqüenta centavos volta na forma de carga tributária. Enfim, o ganho líquido das famílias é de R$ 0, 50 por real recebido. Relativamente são os maiores contribuintes do país.

      Falta agora o PT cumprir seu programa e fazer como o Obama: Cobrar que os mais ricos paguem a sua dívida. Ai resta saber o que é que a Elite, confortavelmente instalada na Coalizão Vencedora irá achar.


Demetrio Carneiro

Uma nova política econômica

Por Cristiano Romero
O governo Dilma Rousseff opera, sem fazer alarde, mudanças no tripé de política econômica que vigora no Brasil desde 1999. Dois aspectos do tripé - o regime de metas para inflação e o câmbio flutuante - estão sendo flexibilizados. O terceiro pilar, a política fiscal, não mudou muito, mas o cumprimento da meta de superávit primário em 2012 e nos anos seguintes ainda é uma promessa.
Desde meados do ano passado, o Banco Central (BC) não consegue coordenar as expectativas de inflação dos agentes econômicos. Esses perceberam que a economia estava crescendo acima do potencial e gerando pressão inflacionária, agravada pelo aumento dos preços das commodities no mercado internacional. O BC, por razões político-eleitorais, adotou o discurso monocórdico de que a inflação, em algum momento, cederia. Não cedeu.
Em 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,5% e a inflação foi a 5,9%. Uma olhadela na série histórica recente de PIB e IPCA confirma um fato inegável: toda vez que o primeiro cresce acima de um determinado patamar, o segundo fica acima da meta inflacionária. Os números mostram que, quando a economia avança num ritmo superior a 4% ou 4,5% ao ano, o IPCA supera a meta oficial (de 4,5%).
Metas e câmbio flutuante estão sendo flexibilizados
Há de se considerar ainda que a inflação brasileira exibe uma persistência que desafia os teóricos. Mesmo em ano de recessão, como foi o de 2009 (PIB negativo de 0,64%), o IPCA se revelou saliente - 4,31%.
No regime de metas, quando as expectativas apontam inflação acima do alvo oficial, a autoridade monetária não consegue efetivamente levar o IPCA para o alvo. No início deste ano, as expectativas voltaram a piorar, o Banco Central elevou a taxa de juros, adotou medidas de contenção do crédito, mas optou por não derrubar o crescimento da economia a um nível que lhe permitisse conter a inflação. Ao agir dessa forma, assim como já havia feito em 2010, adiou para o ano seguinte a busca da meta.
No movimento mais recente, o BC inovou. Mesmo com a deterioração das expectativas, reduziu a taxa de juros, baseado na aposta de que a confusão lá fora atingirá o Brasil a ponto de cumprir o papel - de desaquecer a economia -, antes reservado à taxa de juros. As expectativas voltaram a piorar e, agora, apontam para o não cumprimento da meta, não apenas em 2011 e 2012, mas também em 2013, 2014 e 2015.
Dados do BC mostram que, na média, os agentes econômicos esperam inflação de 5,51% em 2012, 5,02% em 2013, 4,85% em 2014 e 4,73% em 2015. Quando se considera a mediana, os resultados melhoram um pouco, mas ainda são preocupantes - respectivamente, 5,50%, 4,80%, 4,50% e 4,50%. Se o cenário externo devastador não se confirmar, não demorará muito e o BC virá a público sinalizar que a perseguição à meta ficou para 2013.
Há uma novidade desagradável no momento atual do regime de metas. Pela primeira vez, desde 1999, o BC não se compromete com uma política efetiva de busca da meta de inflação. Isso pode ser dito de outra forma: pela primeira vez, os agentes não estão acreditando que o BC vá conseguir derrubar o IPCA.
Nos quase 12 anos do regime, o país enfrentou cinco momentos de pressão inflacionária. Em 1999, por causa da maxidesvalorização do real; em 2001, pelo inesperado apagão de energia; em 2002/2003, pela crise de confiança que se abateu sobre o Brasil; em 2008 e 2010/2011, pela aceleração do crescimento.
Em todos esses momentos, com exceção de 2010, o BC adotou política que convenceu os agentes que a inflação cairia nos meses e anos seguintes. Em apenas uma oportunidade, recorreu à prerrogativa de adoção da meta ajustada, mais alta que a original para os anos de 2003 e 2004. Não há mal algum no recurso a esse instrumento. Na prática, ele ajuda a suavizar os movimentos de juros em direção à meta e, o melhor, permite que o BC fique em sintonia com as expectativas.
O regime de câmbio flutuante também foi atenuado. Preocupado com o forte fluxo de capitais que ingressa no país, o governo adotou inúmeras medidas para taxar a entrada de "hot money" (recursos de curto prazo). Por causa dessas intervenções, o câmbio parou de flutuar - agora, sofre desvalorização mais acentuada que a de outras moedas, em grande medida por causa do aumento da aversão dos investidores a risco, mas também motivada pela surpresa da política monetária.
Na área fiscal, o governo ainda não disse como vai cumprir a meta cheia de superávit (3,1% do PIB) no próximo ano. Sinais contraditórios emitidos recentemente, como a decisão de contratar quase 55 mil funcionários públicos em 2012, tornam nebuloso o cenário fiscal, apontado pelo próprio governo como suporte fundamental para que o BC reduza a taxa de juros.
Especula-se nas ruas que Brasília caminha para a adoção de um modelo econômico mais parecido com o da Turquia ou o da Argentina, dois países que apresentam taxas elevadas de crescimento e inflação. Talvez, seja cedo para fazer essa afirmação, mas é certo que a política dos últimos anos mudou.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

ENTÃO, MANTEGA, VAMOS RESGATAR A EUROPA?

      Dois textos publicados hoje no Financial Times merecem destaque. O primeiro é de autoria de Yau Yang, diretor e professor do Centro para Pesquisa Econômica da China na Universidade de Pequim. O segundo é uma resposta direta ao primeiro e de autoria de Kerry Brown, ligado a um programa de pesquisas das relações Europa-China, da Comunidade Européia.

      Evidentemente ambos entendem do que estão falando. No primeiro plano um diálogo sobre o futuro papel da China. Enquanto Yang dá todos os sinais da tradicional prudência chinesa e sinaliza de forma muito clara que não se sentem preparados e que não irão assumir as dores - $$$$ - do mundo, principalmente quando o problema europeu é muito mais político do que econômico, embora tenham todo o interesse estratégico em proteger o Euro, proteger seus mercados consumidores e se proteger de medidas “defensivas” com relaçao a seus produtos. Contudo frente a uma falta de garantias efetiva da Alemanha e da França, não se aventuram. Brown afirma que esse é o momento.de uma “oportunidade de ouro” e que resgatar, esse é o termo: resgate, o Euro seria um movimento de grande potência. Enfim, uma ótima jogada de marqueting estratégico e confirmação de poder real.

      Segundo Yang a CE já torrou na Grécia €120 bi, o FMI outros €110 bi. Então se pergunta se a China deveria mesmo torrar todo esse dinheiro para ser do primeiro mundo? Daí a abertura do artigo:

“A expectativa de que a China pode ir fundo e resgatar o euro, na sua hora de maior necessidade é muito alta. O Premier Wen Jiabao disse na semana passada, numa reunião do Fórum Econômico Mundial, que 'a China está disposta a dar uma mão amiga, e vamos continuar a investir lá.' Mas aqueles que esperam que a China ofereça algo mais do que uma assistência simbólica em breve serão desapontados.”

      Mas é em sua finalização que a lógica se completa:

“O resultado mais provável, portanto, é que a China corra um pequeno risco de com suas vastas reservas estrangeiras para resgatar o Euro. Poderá comprar a pequenas quantidade simbólicas del obrigações da Europa do sul, como um ensaio de compromisso com o futuro da UE. Mas, no final, a China é um outsider. Ele sabe que a América está se retirando dos assuntos europeus, mas ainda não está pronto para tomar seu lugar. Como se vê a partir de Pequim, o Euro é um assunto europeu. E os europeus terão de acertar entre si seus próprios erros.”. Enfim, um dia ainda seremos hegemônicos, mas não estamos com pressa.

      O canto da sereia, segundo Yang, envolve até mesmo promessas para o cargo principal do FMI. Cargo que ele prontamente aponta como não eficiente enquanto o RMB não for completamente conversível. Pronto, um forte argumento que liquida os sonhos de Mantega estar chefiando algum órgão multilateral algum dia no futuro, antes da plena conversibilidade do Real. Aliás é à luz de todo esse debate que a recente fala do ministro sobre a “ajuda” a europa deve ser avaliada: Apenas uma outra jogada de mídia e auto-promoção.


Demetrio Carneiro

domingo, 18 de setembro de 2011

N ÓS, OS PATOS, O NACIONALISMO E DESENVOLVIMENTO: O BRASIL NEM TÃO MAIOR

      Ser “nacionalista” num mundo globalizado é uma tarefa complexa. Daí ser bem mais fácil manter as aparências e usar o discurso nacionalista, de forma populista, para manter seu projeto de poder.

      Em se tratando de desenvolvimento e interesses nacionais ser nacionalista não seria bem o discurso midiático, a satisfação para a mídia, mas sim uma política consistente de industrialização, por exemplo. Não foi o que vimos na recente decisão sobre o IPI, com relação à propalada defesa da suposta indústria nacional de automóveis. Em nome de um projeto regional, MERCOSUL, que abriga as montadoras tradicionais do Centro desenvolvido – EUA, França, Alemanha, Japão e Itália – o governo brasileiro barrou o ingresso de veículos das montadoras da China, da Coréia e certamente os projetos da Índia.

     Enfim, para supostamente para manter empregos nos posicionamos num embate entre montadoras do Centro e da Semi-Periferia. Incapaz de pensar nos termos de reduzir impostos internos para aumentar a competividade das “nossas” regionais no hoje suculento mercado interno brasileiro a brilhante lógica governamental foi de aumentar os impostos do inimigo. Certamente o governo irá ganhar mais, muito mais do que o consumidor brasileiro que irá perder. Historicamente toda defesa de mercado interno acaba é no bolso do consumidor.

        Aliás já há um estudo mostrando, com muita competência, que nem mesmo o setor de auto-peças é completamente nacional. Atualmente a maior parte do segmento já está no controle de empresas de outros países.

      Aquilo que parece meio ilógico tem uma enorme coerência em escala global. Do ponto de vista do capital faz todo sentido produzir aqui o que será consumido aqui. A parte do leão, o que realmente dá o lucro em escala, a tecnologia é remunerada na venda do produto e esse lucro segue para as matrizes do Centro. A política de transferência das cadeias produtivas do automóvel primeiro buscou proximidade das fontes de matéria-prima e a mão de obra barata da Periferia para ganhar os melhor dos dois mundos e vender, com mais lucro, esses veículos no Centro. Eram carros montados, com peças produzidas na periferia, vendidos aos consumidores do Centro. A crise trouxe uma nova dimensão e o mercado interno brasileiro é a bola da vez, frente ao mercado interno problemáticos dos países do Centro. A produção de automóveis no Brasil e na Argentina, para venda no mercado interno brasileiro passa a ser relevante para o capital.

     Todos os discursos governamentais são apenas discursos que ocultam o fato de uma política de industrialização subordinada. Não haver real preocupação com um projeto de implementação de ciência e tecnologia nacionais, não haver preocupação com propostas de financiamento de longo prazo que não sejam as estatais, portanto controladas, não é mera coincidência. Tem fortes correspondências com os laços de relacionamento e poder de nosso Capitalismo de Estado.

      Quem mostrou esses laços por meio não de teorias ou discursos abstratos fundados em lógicas de mais de cem anos atrás, foi Sérgio Lazzarini – leia a entrevista dele antes de ler o que se segue – no livro Capitalismo de Laços. Há um tipo específico de capitalismo brasileiro e essas relações condicionam políticas públicas de uma forma muito clara.

     O recém promovido Leilão no quesito de energias alternativas, 12º Leilão de Energia Nova/A-3 , pode ser um belo exemplo de como esses laços condicionam as coisas.
Na Energia Eólica de 44 projetos disputados 47% foi ganhos pela Eletro-Sul e 20% pela Renova. Muito bem. A Eletro-Sul é uma subsidiária da estatal Eletrobras. A Renova por sua vez acaba de incorporar a participação da Ligth, que é subsidiária da Cemig. De qualquer forma embora tenha participação do banco espanhol Santander, os outros participantes da Renova são o Fundo Infra-Brasil e o FIP Caixa. O Fundo Infra-Brasil, por sua vez, lançado por Dilma em 2006, na FIESP, tem cerca de R$ 1 bi. Desse valor a maior parte, R$ 613 mi vem do Funcef e da Petros. R$ 287 mi são do BNDES. A gestão do fundo é do, Hong Kong, ABN-AMRO. Queiram anotar que os Fundos de Pensão são controlados pelos mesmos sindicatos que aplaudiram a medida de aumentar o IPI na "defesa dos empregos brasileiros".

     Contudo, nem a Eletro-Sul, nem a Renova são fabricantes dos equipamentos. Ambas irã instalar o equipamento e organizar a conexação com o sistema nacional. Quem fabrica os geradores eólicos, a parte do leão, são a alemã Siemens, a americana GM e a “argentina” Impsa. Evidentemente são indústrias “nacionais”, já que Siemens e GM fabricam aqui no país e a Impsa está protegida pelos acordos do MERCOSUL.  Aliás a três já reclamaram da concorrência de outros equipamentos "estrangeiros" e já disseram que estão no seu menor preço possível. é de se imaginar que vá aparecer um outro ato de aumento de IPI contra os invasores.

     Enfim, uma perfeita divisão de trabalho entre o capital público, via fundos de pensão e BNDES e o capital internacional. Evidentemente não se trata de recuperar os anacrônicos discursos usados de forma enganosa por esse governo ou por segmentos totalmente alienados e superados historicamente da esquerda mais radical.

      O Brasil é país de Semi-Periferia e como tal tem seu papel na divisão internacional de trabalho. Há uma forte correspondência entre o fato de sermos exportadores de commodities, consumidores de tecnologia do Centro e a estrutura de poder tanto na Coalizão Vencedora, na política, como os laços que ligam o Poder Real. Não se trata do imperialismo diabólico, mas de uma lógica de integração entre o poder local brasileiro e o poder em escala mundial.

      Do ponto de vista estritamente brasileiro falta ainda uma clara percepção prática sobre o papel do capital social e da produção de ciência e tecnologia nacionais. Não se trata de um nacionalismo retórico, como o governamental. Trata-se de perceber que desenvolvimento tem conexão com a produção de inovações e que as inovações têm conecção com a produção de ciência e tecnologia próprias e que nada disso funciona se não houver fortes investimentos do Estado, das empresas, que vão fazendo a sua parte, e da sociedade em capital humano.

      O grande problema com a atual política industrial é que ela só mira no emprego e na renda do emprego. Nesse sentido é claro que mesmo essa aliança é melhor do que coisa alguma., mas mirar em emprego e renda nesse formato é mirar no crescimento dependente. Dependente por que a tecnologia não é nacional. Ela está submetida aos interesses produzidos fora do país. Não é por isso que mantivemos e ainda mantemos as nossas “carroças”? Nossas carroças não estavam ligadas ao interesse de usar aqui as tecnologias vencidas pela concorrência no centro?

    Muito ao contrário do que imagina o nacional-desenvolvimentismo dominante nos seus delírios sobre a política econômica não vai haver despesa de governo ou corte de juros que traga o desenvolvimento se o modelo não mudar.

     É o pato somos todos nós, mas principalmente são aqueles que imaginam estar fazendo ou defendendo uma coisa e estão fazendo e defendendo justamente o contrário.

Demetrio Carneiro

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

BRASIL: POLÍTICA INDUSTRIAL DE PROTEÇÃO, AOS OUTROS

      Tudo bem. Janelas de oportunidade que gerem emprego interno são importantes. Mesmo que signifique sermos receptores de cadeias produtivas alheias. Remetidas para cá por conta da vantagem de produzir aqui o que aqui se vende. Mesmo que se trate de revalorizar esse projeto sem futuro do carro individual, concentrando energias nele e relegando a segunda mão o transporte coletivo. Mesmo que acabemos no meio de uma briga entre tecnologias automotivas estabelecidas – americana, italiana, alemã, francesa e japonesa – e tecnologias automotivas emergentes – coreana, chinesa, hindu . Vamos proteger “nossa” indústria “regional”, isto é Brasil +Argentina. Enfim, o importante é gerar emprego. Agora. O futuro o futuro resolve.

      Nessas coisas de resolver o hoje, sem se preocupar com o amanhã o poderoso do dia, Mantega, é especialista. A queda de Palocci foi um ato de sorte? Então ficamos assim: Veículos com um mínimo de nacionalização, isto é: com fabricação das peças no Brasil ou na Argentina estão “protegidos” pelo governo contra veículos com menos que esse mínimo. Esses incômodos invasores serão taxados com +IPI e, provavelmente recorrerão à Organização Mundial do Comércio.

       Lula querendo vender nossas commodities para a China e assim obter parte do financiamento do nosso crescimento recente, deu garantias de lá haver um “regime de mercado” e patrocinou o ingresso dos chineses na OMC. Agora os chineses deverão usar a OMC para quebrar as barreiras protecionistas. Numa só relação o melhor, quando compra, e o pior dos mundos, quando nos vende. Nada que já não tenhamos vivido nos últimos 500 anos.

      Pois é, esse ai é o Brasil “Maior”, projeto, 100% midiático e para brasileiro ver, voltado para a nossa política industrial. Como se diz, acredita quem quiser e tem fé...Na dúvida sempre poderemos e rezar e torcer para a Dilma estar certa, embora ela demonstre diariamente que não é muito boa de previsões. O PAC que o diga.



Demetrio Carneiro

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

CIÊNCIA, TECNOLOGIA & INOVAÇÕES E O FAZER POLÍTICA

       A Sociedade Brasileira Para a Ciência e a Academia Brasileira de Ciências, em movimento conjunto lançaram um abaixo-assinado pelo uso dos recursos do Pré-Sal na questão de C,T & I e na educação. Talvez seja, um pouco, colocar o carro na frente dos burros, já que estamos a uma crise internacional de contornos não muito claros e alguns anos de colher os resultados concretos e $onantes de nossa riqueza submersa . Mas quando até as prefeituras, bem distantes do oceano, lá na fronteira leste, já pensam no quanto irão faturar, até que não é tão descabido e, pelo menos, chama a atenção para um assunto substancial.

    Substancial o papel da C,T & I no processo de desenvolvimento. Não custa alinhar argumentos:

- Historicamente falando processos que alavancam crescimento ao ponto de gerar mudanças de qualidade, desenvolvimento, são processos típicos de inovações . Não necessariamente por meio de um bem ou um processo na indústria, mas também no setor de serviços, as inovações cumprem um forte papel criando ondas que se propagam e irradiando por todo o sistrema efeitos multiplicadores;

- Inovações são fortemente relacionadas com pesquisas de base na ciência, mas também com pesquisas tecnológicas. Podem ser verdadeiramente criativas ou propostas pré-existentes transformadas e adaptadas criativamente às condições interesses locais, como no caso da China;

- Não há como produzir pesquisas de base ou de tecnologia sem qualificação o capital humano ou seja Educação,  Qualificação Técnica Contínua,  Capacitação e Recapacitação. Para quem imagina que apenas a "educação" resolve é melhor olhar mais de perto as estatísticas de desemprego nos EUA. Daí o capital humano entrar como parte significativa da equação do desenvolvimento nas sinergias entre capital físico, capital natural e capital social;

- Em países em desenvolvimento tanto o financiamento de pesquisas de base, como de pesquisas em tecnologia, só é viável pela participação do Estado, mas em qualquer país ambos os processos, C&T, só são viáveis se houver instituições e arranjos institucionais dedicados, composto de cadeias de vão dda produção e reprodução do conhecimento à produção de bens e serviços;

- Construir instituições e arranjos institucionais na questão de C,T & I depende de “plano” e “vontade política”.

     Nosso percurso nos trouxe ao Plano, Planejamento e à vontade política, intenção dos agentes políticos em planejar um processo.

      Infelizmente vivemos um ambiente onde a sobrevivência dos agentes políticos e seus partidos está sempre em primeiro plano. Pensar o longo prazo implica em um conjunto de coerências e tem o custo de deixar escapar as oportunidades de curto prazo. Isso indica que estarão sempre olhando para essas oportunidades que gerarão resultados mais imediatos e garantirão o dia de amanhã. O dia depois do dia de amanhã é para ser vivido amanhã. 

    Processos que privilegiem instituições e arranjos institucionais em C,T & I são processos de longa maturação e acabam escapando dessa Agenda Política. A partir disso o Poder Constituído navega livre de críticas e impávido e já que ele mesmo também pratica lógicas de sobrevivência imediata, cria planos-para-não-se-cumprir ou arranjos-para-não-funcionar, coisa que os Desafiantes adoram, pois abre mais espaço para a Crítica, ela mesma a única Agenda Real, mesmo que eles também não tenham nada para dizer, já que não-têm-tempo-para-pensar-nesses-assuntos-relevantes-mas-tão-fora-das-pesquisas-de-intenção-de-voto.

Demetrio Carneiro

CUSTO DA DÍVIDA PÚBLICA BRASILEIRA E A DÍVIDA NA ZONA DO EURO


      Tem aqueles que ainda insistem, tanto tempo após a queda do muro e da desarticulação do discurso tradicional de esquerda, que os altos juros pagos pela Dívida Pública brasileira são resultado da ganância dos banqueiros e de seu conluio com os agentes de governo.

     Não se dão conta de que comprar Dívida Pública de qualquer governo é questão de oportunidade e risco.

      É evidente que o dinheiro que compra a dívida é resultante de um excedente pode estar sendo aplicado especulativamente, como parte da economia financeira, ou pode estar aplicado ali com a finalidade de cumprir tempo de amadurecimento de projetos de investimento na parte real da economia.

     Também pode ser evidenciado que o capital internacional, olhando para o Sistema-Mundo capitalista, tem uma dupla função buscando oportunidades de ganho nos mercados internos os Estados-Nação e ao mesmo tempo financiando as Dívidas Públicas dos Estados-Nação. Quer dizer, ao mesmo tempo que se beneficia dos mercados locais o capital, enquanto entidade global, também financia os Estados-Nação para que eles possam interagir com as economias locais, o que obviamente se dá também em favor das oportunidades de investimento do capital. É isso que explica os movimento tão comemorados da China, e sue Capitalismo de Estado nada socialista, por exemplo, ao comprar títulos dos governos europeus ou, antes, americano: Estão apenas ajudando os governos locais a se manterem estáveis pra que possam permanecer como oportunidades de investimento sadias...

      Seja como for não é o capitalismo predador que captura governos. São governos que politicamente decidem ir muito além de suas capacidades tributárias e precisam de recursos para isso. São decisões de política que fundamentam a criação de dívida pública e todas estão ligadas à necessidades de financiamento do Estado. Simples e direto. Todo o resto da história é ideologia e desculpas bastante frágeis.

     A excessão americana apenas confirma a regra. O investidor global olha para seu portfólio e para o lucro médio do portfólio. Sua tendência será distribuir investimentos em dívidas estatais a partir dos componentes de muito lucro e nenhum risco. Então, recursos podem ser aplicados com nenhum lucro, mas nenhum risco e com muito risco relativo, mas muito lucro. Ou podem ser aplicados por decisões estratégicas, como no caso da compra de títulos americanos pela China ou da compra de títulos das economias periféricas da Zona do Euro, feitas pelos bancos franceses e alemães. Aliás essa compras estratégicas são a razão do pesadelo dos governos da Alemanha e França.

     Ao contrário do mercado controlado pelo Estado os mercados financeiros são mercados livres e as taxas variam conforme as necessidades dos tomadores. Se vc precisa de muito dinheiro e sempre e não estiver na lista estratégica de alguém, muito provavelmente pagará juros bem altos.

      Os gráficos, acima, que estão no artigo de Martin Wolf no Financial Times de hoje, 14, são bem elucidativos até para quem não entenda muito de gráficos. Mostram de forma mito clara como os juros pretendidos pelos tomadores da dívida pública vão crescendo à medida que aumenta o clima de insegurança. Claro, a nossa Dívida Pública não é tão “insegura” quanto a grega ou a italiana, agora. Mas certamente as nossas necessidades de muito dinheiro são permanentes. Quem tiver alguma dúvida dê uma olhada no Orçamento Geral da União e veja lá quanto é o total de “rolagem anual” da DP. Vá ao Orçamento Fiscal e veja quanto se para anualmente de juros. É óbvio que o que se paga de juros está vinculado ao valor da rolagem. Depois de olhar o OGU podemos concluir que rolamos de dívida muito mais do que arrecadamos.

      A rolagem da DP brasileira tem problemas estruturais elementares. O principal é o curto prazo.Tomamos recursos externos para emergências é claro. Mas basicamente tomamos recursos externos para financiar projetos de médio e longo prazo. Como no caso do BNDES e seus R$ 230 bi. Agora, nossa pressão por recursos é tão forte que os tomadores da nossa dívida podem oferecer prazos menores e nós temos que aceitar. Que tomador não prefere oferecer prazos menores que facilitem novas e permanentes repactuações? Enfim, tomamos recursos de curto prazo para financiar projetos de médio e longo prazo. Há uma incoerência básica ai.

      Muito bem. Voltando ao início. Nossa DP custa caro, mas muito caro mesmo, pela simples razão de que precisamos muito desses recursos, pois não temos capacidade própria de arrecadação e nossos gastos reais vão muito além dessa capacidade. A proposta de políticas de superávit, bem longe de ser uma proposta “neo-liberal” está ligada não tanto à liquidação da DP, embora, pelo menos, ajude a pagar parte dos juros, cujo valor é maior, mas ao fato de pelo menos evitar mais dívidas. Mas evitar mais dívidas não porque não possamos dever mais. De fato podemos, a participação da DP sobre o PIB é considerada pequena. O problema de contratar novas dívidas está ligado é à contratação de dívidas feita de forma completamente desfavorável tantos pelo prazo quanto pelo custo. Antes de pensar em dever mais deveríamos pensar em gastar menos e buscar meios de reduzir nossas desvantagens.

      Questionamento da dívida, auditorias, não pagamento, são estratégias políticas fundadas num passado de lutas anti-imperialistas, nacionalistas, independentizantes etc. Mas são principalmente estratégias que apenas tapam o sol com a peneira. Nenhuma dessas atitudes muda a realidade concreta. As necessidades de financiamento do Estado são imperiosas e determinantes. São elas que deveriam estar sendo debatidas. Fosse esse um debate mais sério.

Demetrio Carneiro

terça-feira, 13 de setembro de 2011

ECONOMIA COMO UM SISTEMA E O RISCO INFLACIONÁRIO

      Num movimento lateral, em decorrência tanto da crise, como da decisão de reduzir politicamente a taxa Selic, o dólar apresenta sinais de apreciação e previsões já há de que o novo piso é R$ 1,70, com expectativas de chegar a R$ 1,75 em 2012 e R$ 1,80 em 2013.

      Para o governo Dilma reter a apreciação do real e mesmo reverter a apreciação é um forte ganho político, frente ao setor industrial, exportador - a se conferir o ganho nas exportações - ou não – a se conferir os ganhos na redução das importações -, e também frente aos setores mais críticos das políticas econômicas, tanto na oposição, como no grupo de pensadores e apoiadores da atual gestão. Com efeito, em paralelo à crítica da alta taxa Selic a outra grande crítica vinha da apreciação do real.

      Olhando assim não faltou senso de oportunidade e ousadia em cortar exatamente agora a Selic e foi um movimento bem sucedido politicamente. Que o diga o silêncio da oposição, agora frente a mais um dilema no jogo sucessório de 2014.

     O que o atual modelo de planejamento estratégico governamental, já está bem claro que é outro modelo de pensamento diferente do de Lula, não controla é a inflação. Da mesma forma que a apreciação cambial trouxe ganhos políticos ela também trará conseqüências ao neutralizar ganhos da queda de preços das commodities. Nesse sentido a queda do preço das commodities, que poderia ser um componente de redução da pressão inflacionária mundial, internamente não gera resultados, pois é compensado pela apreciação do dólar. Mudou a equação.

      Todo o risco do atual planejamento é a inflação e num país que á teve nessa área experiências traumáticas. Desde o impacto do sucesso do Real no controle da alta/altíssima inflação, os sucessivos presidentes, aparentemente, sempre escolheram perspectivas mais conservadoras, onde o gasto público sempre em expansão, basta acompanhar o aumento real, em valores monetários, da arrecadação tributária nos últimos anos, precisava ser mediado pela taxa Selic de formas a controlar o aumento da inflação. O atual governo pensa diferente e colocou suas cartas na mesa. O jogo está feito e tem seus ganhos e perdas. Ainda é muito cedo para maiores avaliações e o debate ainda está mais no campo da teoria.

     O que é certo é que na economia do setor público normalmente há ganhos associados a perdas. O melhor dos mundos da política pública estaria no espaço onde ninguém perde, mas não parece ser esse o caso se o processo inflacionário se mantiver consistentemente alto. Certamente faz parte do plano de governo a consideração de que o forte aumento do salário mínimo, associado à confirmação dos gastos sociais, que escaparam dos cortes, de alguma forma irá compensar um aumento do ritmo inflacionário, já que são fortemente indexados na prática. 

      Todo o problema com esse estilo de pensamento é a questão das expectativas dos agentes. Na sua lógica keinesiana imaginam que o preponderante será o espírito animal e que o clima geral de sucesso irá impactar positivamente a economia, mesmo com um ritmo de inflação mais ampliado. Para nós o problema vai estar na racionalidade dos agentes econômicos que percebendo a forte indexação de componentes importantes do gasto públicos diretamente ligados à formação de renda, já cientes da indexação dos preços públicos com base na inflação passada, talvez decidam também indexar seus preços. Esta é uma variável exógena ao modelo governamental e sobre ela o governo não tem qualquer controle.

    Algumas lições ainda não foram completamente absorvidas. Quando a crise começou, em 2008, os economistas e pensadores ligados à corrente keinesiana festejaram o “fim” do controle neo-liberal da economia e o sinal verde do gasto foi aceso. Algumas dezenas de trilhões de dólares depois o mundo continua com problemas, pois gastar e gastar não resolveu a problema da expectativa dos agentes. Para a lógica do gasto dar certo seria necessário que os agentes econômicos fossem como os peixinhos de aquário: Uma vez posta a ração eles se atiram a comê-la. Se fosse sempre exatamente assim seria uma maravilha para o Estado como diretor, driver, das economias nacionais. Apenas não é, e o próprio Keynes alertou sobre isso.

      Todo o problema desse modelo é que ele é pensado sem a consideração de que os agentes econômicos podem estar suficientemente informados sobre a aposta na inflação e podem reagir indexando seus preços e ai os custos talvez venham a ser mais altos que os benefícios. Muito em breve isso poderá deixar de ser um problema apenas teórico.

Demetrio Carneiro

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

GOVERNO DILMA, MUDANDO O FOCO DA TAXA SELIC PARA A TAXA DE CRESCIMENTO: A ORTODOXIA DA HETERODOXIA

      Há uma enorme facilidade para escrever sobre divisões entre heterodoxia e ortodoxia, facilita e simplifica a leitura do mundo criar dicotomias. Se é para ir por ai achamos que o grande problema é estabelecer o quanto ortodoxos os heterodoxos poderão ser, na insistência de que o problema central é crescer a qualquer custo....Quer dizer, há uma forte ortodoxia nessa heterodoxia governamental e ela é fundada numa “necessidade” de sobrevivência do projeto político deles e não em lógicas de pensamento econômico.

      O Professor Cardim, na matéria abaixo, fala de um excesso de cautela em querer manter as políticas de Estabilidade e o que a gente vê agora é um excesso de cautela não correr riscos políticos desacelerando a economia.

      Talvez até tenha sentido, pois eles sabem que todo o processo de promoção social que gerou esse movimento para cima ao longo das faixas de renda tem sustentabilidade muito discutível. Há discursos governamentais que deixam bem claro essa questão nas entrelinhas, principalmente aqueles ligados ao Brasil Sem Miséria.

      A pressa em promover esses indivíduos e buscar obter retornos eleitorais acabou eliminando qualquer debate sobre a “porta de saída” do Fome Zero, por exemplo, e essas portas se fundamentam em políticas públicas voltadas para a sustentabilidade de longo prazo. Algo muito parecido quando foram sendo incorporados ao sistema previdenciário segmentos como idosos, trabalhadores rurais, domésticas apenas como manobra para retirar esse custo do Orçamento Fiscal. Havia a pressa em incorporar renda, mas nenhuma preocupação com as conseqüências dessa decisão.

     Nesse quadro não crescer tem fortes implicações, pois pode significar para o governo não apenas o fim dos mecanismos de renda extra, livre de contingências, viabilizados pela subestimação das receitas, mas uma forte quebra no padrão de consumo das classe C, já que o governo não conseguirá manter o ritmo de consumo apenas com transferência de rendas.

    Talvez esse receio de uma redução no ritmo de crescimento explique tanto o programa acessório Brasil Sem Miséria, são mais alguns bilhões públicos injetados na economia e diretamente na base eleitoral, e a necessidade de mais um tributo como a ex-CPMF.

     Enfim, incapaz de oferecer um projeto sustentável de promoção social e de olho na sobrevivência política, de refém da Selic o governo passa a ser refém da taxa de crescimento.

      Na realidade não é tão complexo lidar com um regime de Metas de Crescimento, desde que se produzam os competentes e suficientes arranjos institucionais e se perceba que antes de tudo trata-se de administrar um processo que tem fluxos e refluxos, mas o governo não pode admitir refluxos: É a ortodoxia da heterodoxia...

Demetrio Carneiro

Crise global volta a testar capacidade de reação do BC

Fonte: Folha de São Paulo, por Érica Fraga

Críticos atacam estratégia do Banco Central por razões opostas às de 2008
Economistas de perfil ortodoxo acham que instituição põe em risco a estabilidade ao defender crescimento

A capacidade do Banco Central de proteger a economia brasileira contra choques externos voltou a ser posta à prova, três anos depois da quebra do banco americano Lehman Brothers e do início da crise econômica prolongada em que o mundo mergulhou em setembro de 2008.

Ainda não há sinais fortes de contágio no país, mas ninguém duvida de que o Brasil será afetado de alguma maneira pelos problemas nas economias mais avançadas.

Como há três anos, o BC tem sido criticado por economistas que discordam da sua estratégia para lidar com a crise. Mas a forma como a autoridade monetária reagiu aos riscos oferecidos pelo cenário externo atual contrasta com o que ela fez em 2008.
Depois da falência do Lehman, em 15 de setembro de 2008, o choque chegou ao Brasil com alta velocidade. A Bolsa despencou e a cotação do dólar disparou.

O BC elevou os juros pouco antes da quebra do Lehman, quando parecia claro que o mundo caminhava para uma crise. Mas preferiu mantê-los estáveis até janeiro de 2009, quando os sinais de que o país estava perto da recessão estavam evidentes.
O BC estava preocupado com a inflação, que estava muito alta, e foi criticado principalmente por economistas da chamada corrente desenvolvimentista, para quem o BC sacrificou o crescimento do país para preservar a estabilidade de preços.
"O BC errou em 2008", diz o economista Fernando Cardim, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). "Estava claro que a economia doméstica seria afetada e o excesso de cautela tirou flexibilidade da política econômica depois", analisa.
Os países desenvolvidos até hoje não se recuperaram completamente do choque de 2008 e nos últimos meses a crise ganhou novos contorno, com as dificuldades que os EUA e vários países da Europa encontram para corrigir seus desequilíbrios fiscais.
A economia brasileira continua em expansão, mas devagar, ao contrário do que se via em setembro de 2008, quando o país crescia com vigor. Como naquela época, a inflação está alta.
Mas desta vez o Banco Central decidiu se prevenir contra a possibilidade de um agravamento da crise externa e na semana passada cortou a taxa básica de juros da economia de 12,5% para 12%.
Foi alvo de nova saraivada de críticas, agora da corrente de economistas ortodoxos. Para eles, o BC pôs em risco a estabilidade da economia.

"O papel de um banco central é agir com base em fatos concretos e não tomar decisões com base em cenários possíveis", afirma o economista Tony Volpon, da corretora japonesa Nomura.

sábado, 10 de setembro de 2011

ESTRAGOS DA CONCORRÊNCIA CHINESA, NOS EUA...

        Então é assim, basta investir em novas tecnologias, “economia verde”, por exemplo, e estará tudo resolvido.

      Não é verdade. Conforme a matéria abaixo, do Valor, não é suficiente, pois a China entra agressivamente em algumas áreas importantes como a fabricação de placas voltaicas. Alemães que eram os maiores fabricantes do ramo já haviam acusado o golpe. Agora são três empresas americanas indo à falência.

     Bom ressaltar que tem mito pouco a haver com a “destruição criadora” de Schumpeter e muito a haver com concorrência predatória. O ocidente caiu em sua própria armadilha liberal. Pretendendo ampliar o comércio internacional e assim facilitar também a alocação planetária de recursos o sistema confiava em aumentar a sua eficiência. Entre si os países do centro tinham um certo equilíbrio de custos internos, fazendo com que a concorrência fosse mais equilibrada. Dos países do centro para os países da periferia o que passava eram produtos de alta tecnologia com os quais a periferia não tinha condições de concorrer dadas as suas incapacidades na produção de conhecimento. Da periferia para o centro seguiam ou commodities, baratas, ou produtos manufaturados cujo ganho de tecnologia permanecia no Centro, mas cuja manufatura buscava melhores custos de mão de obra, justamente na periferia. Sem dúvida esse era o melhor dos mundos para o Centro e seu projeto de hiper-consumo turbinado pelas sucessivas bolhas especulativas. Esqueceram de combinar com os chineses.

      A China ainda tem que resolver o que fazer com 700 milhões de pessoas que estão nos campos em situações potencialmente explosivas de subconsumo qualidade de vida. Nada mais natural que tenham se infiltrado pelas brechas do sistema e utilizado elas a seu favor. A postura do governo brasileiro foi típica. Empolgado com a capacidade de compra chinesa Lula foi um forte estimulador da entrada da China na OMC, criando facilidades para a comercialização de produtos chineses e incluindo-os nas lógicas de proteção da entidade. Bem, de certa forma, de um lado, tivemos nossos ganhos, pois nunca jamais em tempo algum as commodities brasileiras valeram tanto, durante tanto tempo. Esse fato é um dos mais fortes elementos de sustentação do atual modelo de desenvolvimento brasileiro. Não é pouco. Infelizmente o mundo não é perfeito e é esse mesmo parceiro de compras quem vende barato, muito barato, ao ponto de assustar a CNI e justificar algumas toneladas de papel em textos sobre a desindustrialização, medidas de proteção industrial e todos os gastos com a tentativa de segurar o câmbio.

      Claro que nesse momento a questão emergencial não são os custos da ineficiência institucional brasileira gerando outros custos adicionais etc. Na realidade o Custo-Brasil embora dê boas manchetes e imensos relatórios não foi internalizado por ninguém, pois dependeria de outro modelo de desenvolvimento, o que não está no horizonte de ninguém. Emergencial tanto para americanos, como para brasileiros, seriam barreiras que compesassem o simples fato da mão de obra chinesa ser quase escrava. Onde anda a OIT? Mas como impor barreiras, se barreiras são propostas não-liberais? Como o Tony Volpon já havia dito a crise é a crise do sucesso do modelo chinês.

     Se a produção de conhecimento é a saída, como fica agora com a China empregando as mesmas lógicas de produção a produtos de alta tecnologia? A China vai virar a fábrica do mundo? Como o Brasil irá lidar com esses fatos? Vamos criar contenciosos com o nosso maior comprador? Vamos engolir em seco e seguir em frente? Há caminho em exigir da China que respeite direitos trabalhistas etc. e assim alinhe, mesmo que parcialmente, custos? Mas se a China não é uma democracia, lá para eles custos trabalhistas, proteção estatal, sindicalização etc. terão mesmo algum sentido? Aliás esse é um ponto muito curioso: Um alinhamento dos custos da China com o resto do mundo depende de haver lá uma democracia e não uma ditadura.

      Há um grande, e difícil, debate pela frente...

Demetrio Carneiro


Autor(es): Por Daniela Chiaretti | De São Paulo
Valor Econômico - 09/09/2011


A energia solar recebeu um golpe duro nos Estados Unidos nos últimos dias com o anúncio sucessivo de três fabricantes de painéis fotovoltaicos pedindo concordata. A crise econômica global e a forte agressividade chinesa estão por trás da insolvência. Contudo, longe de ser um sinal pessimista, analistas garantem que o mercado americano continua robusto, que o setor segue crescendo no mundo e que, mais do que nunca, o Brasil deveria investir em energia solar.
De 2009 até hoje, os preços dos painéis solares no mundo caíram 40%, puxados pelo vertiginoso aumento na capacidade de produção da China, diz o americano Christopher Flavin, especialista em energias renováveis. Empresas emergentes de alta tecnologia, mas pouco capitalizadas como a Evergreen Solar, a SpectraWatt e a Solyndra não aguentaram a pressão. "Elas planejavam baixar seus preços, mas não nesta escala, onde não conseguiriam competir", diz Flavin, presidente emérito do Worldwatch Institute, instituto internacional de pesquisa em energia sediado em Washington.
A primeira a anunciar a insolvência, no meio de agosto, foi a Evergreen Solar, empresa de Massachusetts de início promissor e 130 funcionários. Segundo noticiou na ocasião a agência Bloomberg, a empresa culpou, de um lado, a concorrência chinesa, formada por uma indústria alimentada por fortes subsídios governamentais, e do outro, a falta de políticas que estimulem a adoção de energias limpas nos Estados Unidos. A empresa anunciou, porém, que a unidade em Wuhan, na China, continuará funcionando. "No meu entendimento, eles estão mexendo a operação e se mudando para a China", arrisca Ralph Cavanagh, co-diretor do programa de energia da Natural Resources Defense Council (NRDC), uma das maiores ONGs dos Estados Unidos.
No fim de agosto foi a vez da SpectraWatt, de Nova York, a jogar a toalha. De novo o mesmo filme: "Os fabricantes nos EUA estão sob forte pressão provocada pelas empresas emergentes chinesas, que recebem considerável apoio financeiro do governo", disse o porta-voz da SpectraWatt. "Este apoio, acoplado aos baixos custos de produção chineses criaram uma vantagem competitiva que os tornou líderes em preço."
Há poucos dias foi a Solyndra, da Califórnia, com receita de US$ 140 milhões em 2010, a assumir as dificuldades e demitir 1.100 funcionários. Foi um susto não só para o mercado. Há um ano, a empresa recebeu US$ 535 milhões em empréstimos garantidos pelo Departamento de Energia do governo federal. Em maio de 2010 o presidente Barack Obama visitou instalações da Solyndra, um dos ícones do movimento de investir em tecnologias verdes e gerar empregos. Os republicanos aproveitaram a deixa e criticaram o governo, acusando-o de emprestar recursos a empresas pouco eficientes.
Cavanagh diz que as críticas são injustas, que o episódio ganhou peso político e que a Solyndra quebrou porque fez uma aposta errada: criou uma tecnologia para painéis solares não baseada em placas de silício acreditando que os preços do silício continuariam altos. "Mas os preços caíram em função da demanda global e o produto deles ficou pouco atraente", diz. Ele lembra que turbulências no setor são recorrentes porque os subsídios expiram e as políticas de governo são voláteis. O impacto desta quebradeira, opina, tem sido usado politicamente contra Obama.
O maior empréstimo dado pelo Departamento de Energia a empresas de tecnologia verde foi de US$ 1,9 bilhão. "As críticas não procedem. A empresa respondia por parte muito pequena do portfólio de empréstimos", disse ao Valor. Para Cavanagh, o mercado dos EUA é "robusto e está expandindo rápido". Sua previsão é que, em 2013, a indústria de painéis solares no mundo tenha capacidade instalada de 100 mil megawatts (MW), mais do que a capacidade de energia nuclear dos EUA. Em 2010, diz, o mundo tinha capacidade para produzir 40 mil MW de energia solar e os EUA tinham cerca de 3 mil MW. Em 2011 a cifra global deverá ser de 60 mil MW.
Pelos dados de Flavin, o mercado de energia solar dobrou em 2010, nos EUA, mas ainda é tímido, representando 5% do mercado mundial. O mercado global, na mesma ocasião, registrou um crescimento de 132%. "O pequeno mercado dos EUA é resultado de uma política relativamente fraca", diz ele, lembrando que vários outros países têm o mesmo problema. O mercado é dominado por poucos países com fortes políticas para o setor, como a Alemanha, a Itália e República Tcheca. "O mercado europeu continua crescendo, mas em ritmo menor em função da crise", explica. Em sua opinião, os EUA não precisariam dar ajuda direta à indústria, mas deveriam estimular mais o mercado. "As forças de mercado podem ser cruéis e destruir grandes companhias."
Mas se a queda de preços é ruim para os fabricantes, é boa para os consumidores, lembra Cavanagh. Ele diz que o Brasil pode se beneficiar da baixa de preços e investir no setor, já que é um país solar. Flavin concorda. "Esta é uma tremenda oportunidade para o Brasil ampliar sua matriz energética solar", recomenda. "A boa performance da economia brasileira está atraindo empresas chinesas e europeias que querem investir no Brasil."
A indústria mundial "olha com atenção para novos mercados como o brasileiro, pois precisa escoar sua capacidade de produção crescente frente a margens de retorno decrescentes", diz Ricardo Rüther, professor da Universidade Federal de Santa Catarina. "Ao mesmo tempo, no Brasil, o custo da energia convencional continua em tendência de alta e já se vislumbra a viabilidade econômica da geração fotovoltaica em diversas regiões do país", continua Rüther, também diretor técnico do IDEAL, instituto que trabalha no desenvolvimento de renováveis na América Latina. Este é o momento, sugere, para que o Brasil formule "políticas públicas bem pensadas, para incorporar esta tecnologia de forma progressiva e sustentável na matriz energética nacional."

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

INFRAESTRUTURA:PONTO FRACO DE DILMA É O QUE DEVERIA SER O PONTO FORTE

      Todo o esforço de Lula, e custou caro, foi transformar Dilma, uma política totalmente inexperiente, como a gerentona da infraestrutura brasileira. Se colou ou não é outra questão. O fato é que o esforço concentrado gerou votos e elegeu Dilma.

       Infelizmente para a presidente as coisas não andam uma maravilha.

     Agora é o World Economic Forum, Fórum Econômico Mundial, que lança o seu Global Competiviness Report 2011-2012 , Relatório de Competividade Global para o período 2011-2012. Fundamentalmente o relatório é o resultado de uma pesquisa global, em caráter continuado, feita com 14 mil líderes empresariais em 142 países e envolve avaliações sobre itens como: instituições, infra-estrutura, ambiente macroeconômico, saúde e educação primária, educação superior e capacitação, eficiência no mercado de bens, eficiência no mercado de trabalho, desenvolvimento do mercado financeiro, prontidão tecnológica, tamanho de mercado, sofisticação de negócios e inovação, num total de 110 quesitos abordados.

      A boa notícia é que o Brasil, entre 142 países passou do 58º para o 53º lugar! A má, para Dilma, mas também para todos nós e o desenvolvmento brasileiro, é que um dos pontos mais fracos de nossa avaliação está justamente na infraestrutura.

      Não é tanto um caso de estelionato eleitoral, embora possa ser entendido assim, mas seria bom que a presidente explicasse como sendo gerentona de Lula todos esse anos pudemos ter esse avaliação.

       Claro, que logo as redes “espontâneas” do petismo chapa-branca vão acusar a conspiração capitalista de empresários contra o governo do povo. Mas esse já é outro assunto...

Demetrio Carneiro