sábado, 30 de abril de 2011

LUZ E TRIBUTAÇÃO

Quando você se perguntar sobre as razões pelas quais a economia brasileira não cresce nos níveis das outras economias emergentes principie por buscar as respostas em assuntos tão triviais como o custo da energia. Na matéria abaixo, do Contas Abertas, constatará que a energia residencial é das mais caras do mundo. A nossa ex-czarina da energia está focada na construção de Belo Monte e Jirau, a qualquer custo, por saber que sem energia não há crescimento, mas é bem claro que desenvolvimento na sua dimensão de qualidade de vida tem ligação com o uso de energia elétrica residencial. Evidentemente num país de renda média ainda baixa o custo de energia doméstica é um forte impedimento.

Alguns irão argumentar que o absurdo volume de tributos é pelo “bem” dos mais pobres. Antes de olhar por este lado é preciso que o Estado seja capaz, o que não é, de mostrar que faz uso eficiente destes tributos. Acessoriamente, como nosso perfil tributário por faixa de renda é violentamente regressivo e o “governo do povo” não mexe uma palha para alterá-lo, acaba virando uma piada de mau gosto. Aliás, a esquerdinha que adora argumentar sobre a importância de uma alta carga tributária também não faz é nada para mudar isto.

Demetrio Carneiro


Dyelle Menezes

A energia elétrica fornecida para as residências no Brasil é mais cara do que em diversos países ricos. O levantamento foi feito pelo professor de economia na Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite. Segundo o estudo, a conta de luz brasileira é mais cara que nos Estados Unidos, na França, Suíça, Reino Unido, Japão e Itália. Contudo, ainda é mais barata que na Alemanha e Áustria.

No Brasil, segundo Leite, o quilowatt-hora (kWh) custa US$ 0,254. Praticamente o dobro do preço nos EUA (US$ 0,133), o maior consumidor per capita desse serviço no mundo.
Para o coordenador do Movimento Brasil Eficiente (MBE), Paulo Rabello de Castro, a explicação dos elevados valores está ligada à carga tributária incidente sobre o setor elétrico nacional. “Os tributos e encargos representam 45% do valor da tarifa paga pelo consumidor residencial. Segundo a OCDE, trata-se da quinta maior carga tributária, atrás apenas da vigente em países do Norte da Europa”, especificou.

Se considerarmos o valor do kWh da pesquisa e uma família que consome 300 kWh mensalmente, o gasto anual com conta de luz ficaria cerca de R$ 1447,50. (Dotação do dólar considerada: R$ 1,583) Se desconsiderarmos os impostos, a mesma família pagaria, em Brasília (onde o kWh é 0,3632721), por exemplo, R$ 1307,78 anualmente. O que representaria uma economia de R$ 139,72 ao ano.

O economista ressalta que as classes mais baixas, “cujos gastos com serviços essenciais e alimentação representa parcela majoritária da renda”, são penalizadas com os preços.
Rabello afirma ainda que o setor da indústria é o mais prejudicado pelo alto custo energético. “Segmentos eletrointensivos, como os de alumínio, papel e celulose, petroquímicos e siderúrgicos, vêem parte de sua competitividade ser comprometida. Alguns não exportam o volume que desejariam, ao mesmo tempo em que enfrentam crescente concorrência com produtos importados”, explicou.

Tributos na conta de luz

O consumo de energia no Brasil sofre a adição de três tributos. O Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de competência estadual, com alíquotas que variam conforme o estado e que não integram o valor da tarifa. O Programa de Integração Social e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) cobrados pelo Governo Federal sobre a receita bruta das empresas. E, por fim, a Contribuição Social de Iluminação Pública (COSIP / CIP), amparado no art. 149-A da Constituição Federal, que criou a possibilidade de instituição da contribuição para custeio do serviço de iluminação pública dos Municípios e Distrito Federal.

*Nota sobre a pesquisa: O levantamento foi feito no site da Agencia Internacional de Energia (IEA) para os principais países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) e no site da Agencia Brasileira de Energia Elétrica (Annel) para o Brasil. Os preços utilizados foram da Eletropaulo, companhia energética da região de São Paulo e levaram em consideração os impostos pagos pelos brasileiros na conta de luz.
Com informações do Blog Radar Econômico (Estado de São Paulo)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

QUEM AVISA AMIGO É, COMO DIZ O DITADO

Vamos dizer que não será por falta de alertas que o governo deixará de fazer o que deve ser feito: Garantir a estabilidade da economia frente a um possível risco de alta inflacionária para além de um limite razoável, digamos assim. Mas poderá, infelizmente, deixar de agir por excesso de avaliações ideológicas pouco ou nada realistas. 

Ainda a história do gradualismo, desta feita abordado pelo Tony em matéria publicada na Folha de hoje.

Demetrio Carneiro


por Tony Volpon

Fonte: Folha de São Paulo

Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) temos a apoteose final da nova filosofia gradualista do Banco Central. Frente a um quadro inflacionário em franca deterioração, tanto em termos da inflação atual como nas próprias projeções para 2012, a maioria do comitê optou por diminuir o ritmo de ajuste da taxa Selic de 0,5 ponto percentual para 0,25 ponto percentual.

É verdade que o BC prometeu que o ajuste será "suficientemente prolongado" para que haja convergência da inflação à meta em 2012.

Mas tal estratégia de ajuste a conta-gotas, mesmo seguida à risca, deixa a economia exposta e vulnerável a choques externos ou inesperado vigor econômico doméstico.
Quais os riscos? Frente ao quadro atual, com a economia sofrendo os efeitos da aceleração da demanda do período pré-eleitoral e um choque de commodities internacional, tentar levar a inflação para a meta ainda neste ano cobraria terrível preço à atividade econômica.

Portanto um gradualismo nos resultados da política monetária é justificável. Mas não se pode confundir gradualismo de resultados com gradualismo na execução da política anti-inflacionária. O nível de ajuste atual será quase que certamente insuficiente se o quadro de alta dos preços das commodities e a queda do dólar continuarem.
E não há, até agora, nenhum movimento para responder de forma preventiva aos efeitos inflacionários do já grande aumento do salário mínimo programado para 2012. Tendo admitido que a inflação fique bem acima da meta pelo segundo ano consecutivo, o BC, por abandonar nesta reunião a regra de ouro do regime de metas- que é aumentar o nível de aperto se a projeção da inflação subir- coloca também a meta de 2012 em risco.

Frente ao ainda forte nível de indexação da economia brasileira, esse é um risco que deve ser dimensionado.



SUGESTÃO DE TROCA NOS MINISTÉRIOS

Mais ou menos assim na área de construção civil: Tem gente no governo cogitando importar mão-de-obra da China. Segundo se comenta os chineses chegaram a condicionar sua generosidade à importação de mão-de-obra. A CNI relata para quem quiser escutar que falta mão-de-obra, da mesma forma as empresas do setor. Contudo o IPEA garante que, ao contrário de faltar, sobra.

Solução:
a) Instalar um posto de recrutamento de trabalhadores na sede do IPEA;
b) Colocar o ministro do trabalho no IPEA e o presidente do IPEA no Ministério do Trabalho.

Do ponto de vista do IPEA não vai fazer a menor diferença. Dificilmente o Lupi poderá ser menos eficiente que o Pochmann. Do ponto de vista do Ministério será um ganho, pois qualquer um consegue ser mais eficiente que o Lupi.

Ai presidenta, pense com carinho no assunto.

Mãos com obra, mãos sem obra

Demetrio Carneiro

quinta-feira, 28 de abril de 2011

LIÇÕES MEXICANAS DO PADO

A lógica do Padovani, no post em seu blog O negócio é o seguinte reproduzido abaixo, é tão óbvia que pode surpreender alguns: Crescimento e inflação se relacionam diretamente.

Esta é a armadilha para o pensamento econômico do governo Dilma, cuja base é o conceito de crescer a qualquer custo. Nesse pensamento econômico não existe a percepção de que o crescimento é um processo dentro de um sistema extremamente complexo e que sua sustentabilidade de longo prazo é condicionada não pela vontade do Estado, mas por um contexto historicamente objetivo.

Enfim, uma boa estratégia de crescimento precisa perceber que não se trata de algo linear, tipo "sempre em frente". Pelo contrário uma boa estratégia vai perceber o contingenciamento imposto por realidades externas à vontade do gestor e pode realmente haver momento onde a estratégia mais eficiente é crescer menos, bem menos ou até nada, como forma de garantir a permanência de elementos importantes de economia como confiabilidade, expectativas, controle sobre processos desestruturantes, para que os anos futuros tragam mais crescimento, porém sustentável e sólido.

Há um enorme medo de repetir o crescimento mediocre de FHC, fruto da ironia e do desprezo petista durante todos esses anos.
Nada pior do que quando o véu ideológico perturba as escolhas de gestão.

Para finalizar é bom registrar ao distinto público leitor que o crescimento a qualquer custo também tem outro problema que é a incapacidade desse tipo de pensamento estreito captar um debate extremamente atual e que deveria ter servido de lição por conta da crise de 2008: Crescer QUAL crescimento?

Lições mexicanas

Roberto Padovani 

Já está claro para todos que a inflação hoje é um fenômeno mundial. A agressivamente frouxa política monetária norte-americana elevou a liquidez global e pressionou, como esperado e desejado, os preços dos ativos. Os preços das commodities, em particular, dispararam. O resultado tem sido a alta inflacionária em países emergentes e desenvolvidos. Nos países emergentes, que apresentam maior crescimento, a preocupação com inflação é claramente maior.

Mas há uma honrosa exceção. Diferentemente de grande parte dos países latino-americanos, a inflação no México se mostra controlada. A razão para isso é que o crescimento local tem estado abaixo do nível de longo prazo. A economia mexicana, amplamente dependente dos Estados Unidos, mostra taxas de desemprego elevadas em relação à média histórica. Este tem sido o fator principal para os modestos impactos inflacionários gerados pela alta dos preços de commodities.

A experiência mexicana explicita a clara relação entre crescimento local e inflação. Este desempenho sugere que a economia brasileira diante do atual choque de custos terá, necessariamente, que desacelerar. Para isso, o gasto público é fundamental. Não apenas porque a forte expansão fiscal em 2009 e 2010 tem sido um dos motores da expansão local - o gasto público teve um aumento de quase 3 pontos percentual do PIB – mas porque em um ambiente de elevada liquidez global vale usar outros instrumentos que não apenas a taxa de juros. Evita-se, deste modo, que a valorização da moeda reforce os já graves problemas de competitividade do País.

terça-feira, 26 de abril de 2011

NAVEGANDO PELAS BOLHAS

Muitos economistas imaginam que a economia contemporânea encontra uma saída para o excesso de liquidez por meio das bolhas especulativas. Antigamente os processos de destruição criativa, na leitura de Marx, por conta do excesso de liquidez, poderiam chegar mais rápido. O capitalismo tem se mostrado extremamente flexível e o processo de bolhas, embora muito mais arriscado, acaba cumprindo seu papel e absorvendo os excedentes que de outra forma acabariam gerando queda da taxa de lucro e, em algum momento, a quebradeira que já se conhece.
Neste sentido o termo bolha especulativa cabe tanto nos investimentos diretos estrangeiros como na questão das commodities. A razão do forte fluxo de IDE é a situação das economias centrais que não oferece atratividade num mundo onde o capital circula com a velocidade do ADSL. Desde as velhinhas européias, ligadas aos poderosos fundos previdenciários até os COs das grandes corporações, todos, têm seus ganhos e expectativas vinculados a flexibilidade desse processo.
O problema pode estar em duas pontas. Numa é o recrudescimento da crise no centro e a quebra do fluxo pela necessidade de retenção dos capitais. A segunda tem o mesmo efeito, mas está ligada basicamente ao inverso: A retomada dessas economias. Se correr o bicho pega, ficar o bicho come.
Nosso fantástico déficit na questão da poupança e do investimento pode ter o custo da perda de oportunidades.
A questão das commodities é bem clara. Praticamente todo o governo Lula e este início de governo Dilma colhem os benefícios do aumento dos preços das commodities. A questão é que essa bolha tem altos componentes de risco e pode, de fato, sofrer um implosão em algum momento. Deveria ser o caso de se imaginar não um processo eterno de bons preços, mas um processo de bons preços que deveria ser aproveitado ao máximo. Há uma enorme diferença entre os dois comportamentos.
No final estamos falando dos assuntos de sempre: Uma lógica nacional-desenvolvimentista estreita e limitada. Incapaz de compreender o desenvolvimento como um processo bem mais complexo que o crescimento.
Abaixo um texto repercutido pelo César Maia, que apesar de execrado – objeto de ódio - por muitos, tem uma lucidez consistente na economia e na política. Basicamente comenta o fato dessa questão das bolhas por onde navegamos já está se tornando assunto de preocupação de instituições internacionais.

ECONOMIAS DA AMÉRICA LATINA: BOLHA PODE ESTOURAR!
Trechos de artigo de Andrés Oppenheimer no La Nacion (19) e Miami Herald.
1. Estudos publicados durante as reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM) em Washington confirmam o que o bom senso deveria ter ensinado aos economistas há vários meses: existe um perigo real de que o atual ciclo de crescimento econômico da América Latina talvez não dure muito se medidas urgentes não forem tomadas.
2. O clima das reuniões na semana passada em Washington foi de nervosismo em relação ao futuro econômico da América Latina. Um documento interno do FMI intitulado "Gerenciamento de riqueza na América Latina para evitar a crise”, datado do dia 7 deste mês, começa com um diagnóstico sombrio: diz que a região está numa fase de "vento duplo favorável persistente, com risco de acabar abruptamente".
3. Explica que grande parte da atual prosperidade da região se baseia em duas circunstâncias externas extraordinárias – uma abundante liquidez global, que resulta em grandes fluxos de capital para a região, e um aumento nos preços mundiais das matérias-primas devido à demanda da China - que possivelmente não vão durar muito tempo. "A intensidade incomum dessas condições externas favoráveis podem dar lugar a uma acumulação de vulnerabilidades e um risco maior de uma súbita mudança” disse o estudo.
4. "As condições externas favoráveis podem ocultar vulnerabilidades subjacentes nas contas fiscais, financeiras e externas, assim como gerar uma possível complacência e exuberância''. Isso significa que muitos dos países da região estão gastando mais do que deveriam, tem moedas supervalorizadas e não estão se preparando para o futuro. O documento interno do FMI reflete a opinião de seus autores, mas seu autor principal é Nicolas Eyzaguirre, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do FMI.
5. Outro estudo, da Brookings Institution e publicado no início das reuniões do FMI e do Banco Mundial, também reflete temores sobre o futuro da região. O estudo de 80 páginas, intitulado "Perspectivas econômicas latino americanas", diz que "hoje, o reaquecimento e as pressões inflacionárias estão aumentando, e muitos reguladores financeiros estão se perguntando se o crédito interno já não está crescendo de maneira excessiva". Ele acrescenta que "uma área de especial interesse" no Brasil e em outros países da região, são os excessivos créditos bancários aos consumidores, que possivelmente nunca sejam pagos.
6. Mauricio Cardoso, coautor do estudo da Brookings, disse que há crescentes indícios de que os fatores externos que haviam beneficiado a América Latina podem desaparecer, além de tendências preocupantes dentro da região. A China, cuja aquisição de matérias-primas tornou-se o grande motor de crescimento da América do Sul, acaba de anunciar que vai reduzir sua meta de anual de crescimento. Além disso, é possível que os Estados Unidos aumentem em breve as taxas de juros, algo que diminuirá capital para América Latina, acrescentou.
7. "Há que se poupar na época das vacas gordas", disse Cárdenas. "Ainda temos tempo, pois é provável que vejamos uma mudança das condições externas já no próximo ano".

DEVAGAR NEM SEMPRE SE VAI LONGE

Dilma veste um modelito de micro-saia extremamente justo, mal dá para se movimentar. Basicamente o modelito é conhecido como gatilho de crescimento e já pudemos explanar aqui em outras ocasiões: O governo petista admite não crescer muito como forma de conter a economia e, por conseqüência, desaquecê-la, reduzindo a evolução geral dos preços.

Porém, o não crescer para aqueles que imaginam que a tarefa principal é o crescimento (por favor, diferente de desenvolvimento, certo?) significa que patamares FHC de crescimento são execráveis.

Enfim, a flexibilidade concessiva aos termos básicos da Estabilidade termina por ai. De forma muito visível entre inflação e crescimento o governo Dilma escolheu crescer, mesmo que com alguma inflação.

O problema é que apesar do blá-blá-blá da ministra, do ministro e da presidenta o dever da casa fiscal está muito longe de ser feito e o peso todo vai para a política monetária. Ai tem um problema. Não subir a Selic, além de promessa de campanha, virou compromisso moral. Percebido pelo setor nacional-desenvolvimentista de quem o IPEA foi a voz ao “denunciar” a pressão do mercado por maior aumento.

Talvez coordenação de políticas não seja exatamente isso: O resultado final é o BC, ao contrário de cumprir seu trabalho de afetar positivamente as expectativas, no sentido de indicar combate à inflação, afetando negativamente, se mostrando retraído.
Faltou coragem para um choque que indicasse claramente que não haveria tolerância. Tem hora que o discurso, mesmo da presidente, como de fato foi, não resolve nada e é a ação que importa.

Enfim, de vagar e querendo ir longe talvez não dê para ir muito longe. O governo caminha no fio da navalha, pois mesmo políticas monetárias mais pesadas podem falhar quando o processo inflacionário decola. Brasileiros têm uma farta experiência no pedaço. Que o diga o amigo, e conselheiro, do Rei, Delfin.

Devagar e sempre, BC espera conter a inflação

Eduardo Campos - Valor
26/04/2011

Sem grande surpresa e movimentação, o mercado de juros futuros colocou no preço a decisão e a sinalização dada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na sua reunião da semana passada.
A alta de 0,25 ponto percentual, que levou a Selic para 12% ao ano, colocou os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) curtos para baixo, mas estimulou uma alta no vencimentos mais longos.
A expectativa nas mesas recai sobre a ata, que sai na quinta-feira, e deve explicitar os motivos que levaram o Banco Central (BC) a reduzir o ritmo e optar pelo alongamento do ciclo de aperto monetário.
Seria salutar saber, também, o que argumentaram os dissidentes, já que dois dos sete diretores pediram nova alta de meio ponto.
Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, o colegiado tomou uma decisão salomônica, ou seja, tentou contentar duas correntes distintas.
A alta de um quarto de ponto percentual está alinhada com o discurso recente do próprio Copom e com o desenho da curva futura antes da decisão. Já o aceno de que o ajuste será alongado visa conter uma piora nas expectativas de inflação.
Juros futuros de longo prazo sobem após Copom
Ainda de acordo com Leal, um fato positivo é a melhora na comunicação da autoridade monetária.
Ao defender o 0,25 ponto, o Banco Central foi claro ao indicar que vale o que foi dito na comunicação oficial.
Objetivamente, diz Leal, os dados divulgados desde o Copom de março iam contra essa decisão, mas, para não ser atropelado pelos fatos, o colegiado manobrou com o comunicado, indicando que novas altas devem vir.
"Leia o que estou escrevendo e ouça o que estou falando, que o caminho é por aí. Esse foi o recado do BC. Em termos de comunicação o resultado é positivo", avalia Leal.
Pelo lado da estratégia, no entanto, o economista acredita que a decisão foi um tanto arriscada. O BC teria perdido a chance de dar um choque de credibilidade, colocando-se à frente do mercado.
O especialista lembra que o importante não é o tamanho do ciclo, mas sim por quanto tempo a taxa ficará acima daquela considerada neutra. Portanto, quanto antes a Selic atingir tal patamar, maior será o impacto das decisões de política monetária.
Outros questionamentos comuns nas mesas são se outra alta de 0,25 ponto está no programa, por que esperar mais 40 dias? E o que poderia acontecer para justificar uma mudança de postura até o encontro de 8 de junho? Quem sabe a ata responda essas dúvidas.
O sócio-gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi, aponta que o aumento de taxa nos vencimentos longos ilustra a incerteza do mercado com relação a essa estratégia gradualista adotada pelo Copom.
O especialista também vê como arriscada essa "aposta" do BC. O cenário usado pela autoridade monetária poderá levará alguns meses para se confirmar e, caso haja uma surpresa no preço das commodities ou no comportamento da inflação doméstica, o BC precisará responder com mais altas de juros no decorrer do ano.
Na visão do estrategista-chefe da CM Capital Markets, Luciano Rostagno, além da questão de controlar uma piora nas expectativas, a redução de passo com aceno de novas altas também mira a questão cambial.
Ao dividir o aperto, o BC segue no modo de alta de juros e dilui impacto disso para o mercado de câmbio. O comportamento do real e dos fluxos de recursos externos também está no radar do BC, lembrou Rostagno, que não descarta a adoção de novas medidas prudenciais.
O chefe de pesquisas para América Latina do Nomura Securities, Tony Volpon, nota que o BC busca "comprar tempo" com essa decisão para ver se as incertezas que cercam o ambiente externo e doméstico se dissipam.
Para Volpon, parece existir certa cautela do BC para não "apertar demais" os juros, por isso da opção pelo modo "conta-gotas".
Para o especialista, se os fatores externos, especificamente o preço das commodities, se estabilizarem é possível que a estratégia gradualista do BC funcione. Mas, considerando o quadro atual, essa é uma suposição forte para um período marcado pela fraqueza continuada do dólar e pela demanda ainda aquecida.
"O Banco Central também perdeu uma oportunidade de construir um seguro sobre a sua estratégia atual ao optar pela moderação do ritmo de ajuste. Agora, só o tempo dirá se essa decisão se mostrará correta", conclui Volpon.
Colocando as avaliações acima de outra forma, na linguagem dos traders de juros: "Deus proteja o vendido em DI".

Eduardo Campos é repórter

segunda-feira, 25 de abril de 2011

VAI FALTAR CLASSE MÉDIA PARA TODOS! OU NÃO?

O texto abaixo eu escreví no último dia 22 por conta do artigo repercutido no Blog do Noblat, mas publicado originalmente no Balaio do Koshno e que tem provocado um interessante debate:

Alisson isso provoca talvez o debate mais importante para 2012.

De modo geral os partidos, quase todos eles, perseguem o chamado eleitor médio.

O estudo do Neri não é casual. Ele é do Conselho de Desenvolvimento Econômico e social - CDES que é um núcleo de pensamento estratégico alocado na macro-estrutura da Presidência da República.

Olhando para a distribuição do eleitorado por perfil esperado é o "eleitor médio” que acumula mais votos. É tipo uma curva de distribuição normal onde os extremos do espectro atrai menos eleitores. Os partidos maiores disputam o ponto alto da curva e muitos dos menores buscam um eleitorado fiel no extremos. É o perfil de votação dos antigos partidos comunistas na Europa, por exemplo, que normalmente nunca iam ale de 5% do eleitorado. Eles haviam criado um nicho eleitoral que nunca baixava, mas tb. nunca crescia.

Quando o FHC falou na classe média eu acho que ele falou no sentido de que a classe social que teve uma perda relativa no processo iniciado em 1988 foi a classe média urbana, que perdeu segurança, não tem uma clara política habitacional dedicada, acabou, frente a queda de qualidade do ensino público, tendo que migrar seus filhos para a escola particular, tendo que migrar para os planos de saúde particular por conta da qualidade do serviço de saúde, que se enrola no trânsito caótico das cidades, por conta da inexistência de políticas públicas de transporte coletivo etc. Enfim, o custo da atenção às classes menos favorecidas foi a interesse do Estado voltado para elas. Não se trata de “valor”. Trata-se da luta que há pelo interesse do Estado. Bom dizer que é luta legítima quando feita pelo voto. O que se diz, então, é que é legítimo o interesse dessa classe média urbana. E ela tem voto. Vide a última eleição.

De fato o eleitor médio que crescimento econômico, estabilidade de preços e continuidade das políticas de equidade. Esse eleitor médio está abaixo, em termos de estratificação por renda, da classe média urbana. Não deixa de ser uma “classe média urbana”, mas por ser emergente não tem interesses consolidados. É o caso da família que não se importa, ainda, com a qualidade do ensino, mas sim com o fato de ter uma segunda ou terceira geração contínua freqüentando os bancos escolares. Esta continuidade é a face concreta do crescimento feito com equidade. Em algum momento esse eleitor médio vai perceber que para ir além desse piso de renda não basta estar na escola, é preciso que o ensino tenha qualidade. Ai, neste ponto, as demandas vão mudar. E isto a oposição ainda não se deu conta.

Na realidade quantidade tem custo. Inaugurar 10 mil escolas, por exemplo, tem um custo. Mas fornecer 10 mil ensinos com qualidade suficiente para resolverem a questão emprego x mercado, dando sustentabilidade e capacidade de ascensão social para além do ponto atual tem um custo muito maior, pois não envolve apenas tijolo e cimento. Nesse momento o Estado brasileiro não poderá ser o que é e nem as políticas sociais poderão apenas estar centradas no assistencialismo. Vai chegar uma hora na qual a qualidade do gasto vai ter que ser questionada ou teremos que ter mais tributação. Muito provavelmente não será esse governo, com essa lógica de gasto que será capaz de prover essa demanda. O consórcio de poder teria que alterar tanto as suas lógicas que, provavelmente, se desfaria.

Então ai parece que o FHC está errado. Tem sim um espaço para o discurso oposicionista junto ao eleitor médio: é mostrar que a continuidade das políticas públicas que geram o crescimento com equidade só se fará possível com uma forte mudança da lógica de governo e com o fim do uso do gasto público como forma de manter o poder, se vamos falar não em política econômica, mas em economia política.

Saudações

Demetrio Carneiro

sexta-feira, 22 de abril de 2011

FLEXIBILIZAR É O NOME DO GOVERNO DILMA

Depois dos tais 100 dias de Dilma uma coisa que começa a ficar bem clara é que essa administração tem como marca principal a flexibilização. Flexibiliza-se tudo, desde que se alcance os objetivos:
Flexibiliza-se o controle social através da LDO. Sob o olhar complacente dos senhores parlamentares, a famosa base de governo, e com raras manifestações de repúdio da oposição desorientada, o governo empurra por meio de uma lei de origem executiva uma diretiva nitidamente inconstitucional, já que fere o princípio da autonomia dos poderes, o que ele Executivo acha que o Legislativo, pela via do TCU, pode ou não controlar. Em nome da celeridade das obras eleitoreiras do PAC nosso Congresso assume sua desmoralização e assume que o sistema de pesos e contrapesos republicano é uma farsa. A culpa da lentidão do PAC que o governo não sabe fazer andar por não ter tem competência para administrar é jogada num sistema destinado a moralizar a gestão pública. Com qual finalidade só o futuro dirá.
Flexibiliza-se a legislação trabalhista. O que surpreendente o governo se dizer surpreso com o que aconteceu em Jirau ou Belo Monte ou outros locais onde há obras do PAC. Ao dar um passaporte para garantir a continuidade das obras mesmo que ao custo da inexistência de controles públicos o que é que as autoridades imaginavam que aconteceria? Para não ser pego de surpresa quem sabe nosso notável Ministro do Trabalho, essa reencarnação viva de Getúlio, não faz o dever de casa e simplesmente fiscaliza as obras? Ou a idéia é justamente não fiscalizar?
Agora a idéia é flexibilizar as Agências Reguladoras para “alinhá-las” às necessidades do governo, conforme está na mídia.
Aparentemente a gestão Lula destravou o sistema de limites do Poder Executivo. O governo de 20 anos do PT vai consolidando o Executivo Imperial como se fosse isso uma política de Estado, mas o que fica evidente e transparente é o quanto esse procedimento de consolidação no poder tem a haver não com o que deveria ser a finalidade do Estado e sim com o que é a finalidade do grupo de poder que se aninha entorno do Poder Executivo formando uma autentica ”coalização pelo ganho” e envolve agentes públicos, grandes grupos empresariais e sindicatos. É a leitura depravada das grandes propostas de desenvolvimento que falam da necessária coesão entre o primeiro e os segundo e terceiros setores da economia.
Essa flexibilização “adminstrativo-política” deveria ser tema de reflexão, pois está na base do projeto de poder petista e acabará por nos empurrar para um tipo de República que nada difere da Velha República. Marx já dizia que a história só se repete em farsa. É bom estarmos atentos.

Demetrio Carneiro

terça-feira, 19 de abril de 2011

TRILEMA DE DAN RODRIK NA PRÁTICA POLÍTICA DA EUROPA

Relembrando que o Trilema de Dan Rodrick, que na realidade é sobre a governança mundial e seus limites, fala da impossibilidade de alinhar Globalização Econômica, Estados-Nação e Democracia, tanto no sentido da comunidade das nações ser capaz de decidir, por maioria dos países, que outros países sigam uma certa rotina, quanto no sentido de a maioria da população local de um Estado-Nação ser submetida a esta decisão quando ela afeta para pior seu atual bem estar.

A postura do governo francês com as minorias, no caso da burca, e com os imigrantes, no caso do endurecimento com o ingresso de nossos imigrantes, a postura húngara modificando a sua constituição para uma leitura fortemente nacionalista e autoritária, a posição filandesa de possível negativa a apoiar os planos de resgate de membros da Comunidade Européia, vão indicando que o Trilema de Dan Rodrik vai se confirmando e que a solução se dá em favor da confirmação da autonomia do Estado-Nação, cumprindo o papel de defesa das populações locais quanto ao que elas imaginam ser seus legítimos direitos ao bem-estar, em detrimento da coordenação de esforços da comunidade de nações.

Na medida em que a saída real da crise precisa se dar no acerto consensual vamos lentamente nos movimentando na direção da instalação de um possível cenário de permanência prolongada da crise no palco europeu.

Crise e nacionalismo nunca costumaram ser bons companheiros da democracia e da paz. 

Demetrio Carneiro

segunda-feira, 18 de abril de 2011

FRENTE PARLAMENTAR DE DEFESA DA HEGEMONIA PETISTA NA MÍDIA OU O GATO DISFARÇADO POR LEBRE.

Logo o PT irá inaugurar a sua frente particular pelo controle autoritário da mídia.

Idéia falida no contexto do Plano Nacional de Direitos(??) Humanos, versão 3, face ao evidente repúdio da sociedade brasileira, volta agora disfarçada de ação de parlamentares bem intencionados na defesa dos direitos(!!) do “povo” frente ao controle da mídia pelas “classes dominantes”.

É bom estar atento à cara de pau dos ilustres parlamentares que tentarão passar por lei o que Lula e seus lulaboys não tiveram coragem de tentar passar por decreto executivo.

É a legitimação do chamada “direito das maiorias” no mais autêntico estilo fascista de ser.

Demetrio Carneiro

CRIANÇAS COM FUTURO NENHUM

Numa série de três pequenos posts o Blog do Noblat divulga um levantamento feito pelo jornal carioca "O Globo" relatando o uso de drogas pesadas como crack, merla e oxi por crianças de até 5 anos de idade ou pais que dão à bebês de colo leite com cocaína.

É um cenário de filme de terror. Só que acontece no mundo real, com crianças brasileiras.
Infelizmente não há debate sobre ensino em horário integral ou sobre as qualidades de Dilma que resolva o que já está acontecendo. Se não houver uma mobilização concreta da sociedade e se essa mobilização não for capaz de mudar essas realidades não será a ação isolada de Conselheiros Tutelares, médicos ou policiais que irá resolver.

O Estado não é suficiente e a omissão da sociedade não pode continuar sob pena de destruirmos, sermos nós todos cúmplices da destruição de toda uma geração.

A juventude deveria ser nossa esperança e não nosso desastre.




Demetrio Carneiro

domingo, 17 de abril de 2011

UMA OPINIÃO SOBRE O BRASIL, A POLÍTICA ECONÔMICA, O CRESCIMENTO E O DESENVOLVIMENTO

A apresentação abaixo foi feita sábado passado. Foi uma palestra organizada pela Fundação Astrojildo Pereira. Na palestra de alguma forma tentei sistematizar todo o meu pensamento sobre as diversas relações cruzadas entre o capitalismo como um sistema mundial e o desenvolvimento possível, entre desenvolvimento e crescimento, entre crescimento e política econômica, entre política econômica e estabilidade e, finalmente, entre o pensamento econômico e a prática política, especialmente sobre o papel das oposições nesse jogo.

Não acho que tenha "fechado" uma lógica de fio à pavio, mas consegui me convencer de que estou no caminho certo se me imaginar como um ser político que também é economista e tem, portanto, necessidade de racionalizar e sistematizar o seu pensamento. O resto eu deixo a avaliação de cada qual.

Demetrio Carneiro

Brasil: Política econômica, crescimento e desenvolvimento

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O APARELHAMENTO DO IPEA COMO UMA INVARIÁVEL

Quando Dilma assumiu o governo parecia haver uma certa esperança de que o IPEA fosse desaparelhado. Infelizmente não é o que ocorreu. 

A idéia original de criação do instituto seria criar um fórum e uma base acadêmica para o debate sobre o desenvolvimento. Geograficamente falando não será uma mera coincidência o instituto estar no mesmo prédio do BNDES, que seria o executor estatal do financiamento do desenvolvimento. Alguma coisa como: Um formula e o outro executa.

Infelizmente o IPEA foi capturado pela lógica nacional-desenvolvimentista e foi aparelhado para só pensar a partir da produção ideológica dessa proposta. 
De fórum o instituto passou a produtor das enganosas e artifiosamente acadêmicas peças de engenharia reversa onde, para efeitos de mídia, tenta-se fazer com que a produção acadêmica justifique o que é feito pelo governo. 

Agora, um passo atrás - um à frente e dois atrás...? -  na direção do aparelhamento final o instituto oficializa e leitura 100% ideológica: 
É o caso dessa afirmação que beira a acusação infantil - no sentido de Lênin sobre a doença infantil do comunismo - ao supor que a pressão do mercado, que no mínimo deveria ser vista como legítima, mas aqui é definida dramaticamente como "terrorismo", é capaz realmente de forçar a que se faça A ou B. 
Curioso que a "acusação" parta de pessoas que afirmam que o Estado pode e deve fazer tudo. Para eles o Estado é hegeliano e está acima de tudo e de todos, o agente público está acima do bem e do mal. 

Vista assim a denúncia de contaminação do Estado pelos agentes do mercado soa claramente como uma ação não acadêmica, mas intencionalmente política. 
O que não é pouco e coloca o IPEA como agente não de produção de propostas e análises de políticas públicas, mas de ação política e, certamente, partidária.

Enfim, não se avançou. Retrocedeu-se. Vamos ver ainda o quanto dá para retroceder nas questões de produção acadêmica.

Ipea admite pressão inflacionária, mas critica 'terrorismo' do mercado



Demetrio Carneiro

terça-feira, 12 de abril de 2011

ESTABILIDADE : CENÁRIO VAI FICANDO MAIS COMPLEXO

Aparentemente a equipe econômica não trabalha preocupada com a confiança e a expectativa dos agentes de mercado. Talvez por imaginar que questões mais objetivas como o ritmo de negócios sejam mais importantes. No caso, trazer no bolso grandes vitórias da China pode ser uma referência. Ou talvez por considerarem que é justificável ter mais inflação desde que o ritmo não caia muito.

De uma forma ou de outra as expectativas vão se deteriorando com alguma velocidade e os avisos vão se tornando mais volumosos, embora a equipe e Dilma façam de conta que não escutam.

O episódio da importação de alcóol combustível mostra uma falha estratégica que poderá ter reflexos extremamente negativos na inflação, pois minimamente reforça as expectativas de que os preços vão mesmo subir, independentemente de Dilma deixar ou não subir o preço da gasolina.
Outro componente são as demandas salariais.

O projeto petista de poder está sendo posto a teste e ter mais ou menos inflação pode rapidamente assumir um forte significado político com alinhamentos que podem ir muito além da questão econômica. O passado brasileiro está repleto de traumas inflacionários. Os custos podem ser altos.

Demetrio Carneiro

Economistas já preveem nova alta de juros no ano

Fonte: Folha de SP

Piora do cenário para a inflação põe em dúvida estratégia usada até agora

BC já acenou com um aumento da Selic na semana que vem, mas especialistas esperam nova elevação em 2011

A piora do cenário para a inflação já leva alguns economistas a apostar que o Banco Central terá de mudar de estratégia e adotar política mais agressiva no combate à alta de preços.
Nos últimos meses, o BC adotou medidas para conter o forte ritmo de expansão do crédito -que contribui para a alta da inflação- e elevou a taxa de juros duas vezes, de 10,75% para 11,75% no total.
Para analistas, a autoridade monetária indicou que voltará a subir os juros em até 0,5 ponto percentual em reunião na próxima semana, encerrando o aperto monetário.
Mas resultados da inflação piores do que o esperado nas últimas semanas e forte deterioração nas previsões do mercado têm levado a apostas que o BC será forçado a subir a taxa de juros novamente no segundo semestre.
Para Rafael Martello, analista da Tendências, em junho o BC terá a seu favor aumentos de preços menos intensos, o que é normal para essa época do ano. Mas ele espera novas pressões no fim de 2011. Principalmente, diz, após negociações salariais em setembro e outubro: "Em novembro, o BC deverá ter que elevar a taxa de juros em mais 0,50 ponto."
Em relatório divulgado na semana passada, o banco JP Morgan disse acreditar que o BC será forçado a estender o ciclo de alta de juros: "Pressões inflacionárias devem manter o ciclo de aperto monetário até o segundo semestre de 2011, levando a Selic a 12,5%", diz trecho do documento.
O ceticismo do mercado em relação à capacidade do governo de combater a inflação tem levado a uma forte deterioração das projeções.
A meta oficial do BC, medida pelo IPCA, é de 4,5%, podendo chegar a 6,5%. Mas já há quem espere que a inflação ultrapassará o teto admitido em 2011. A projeção mediana para a inflação das cinco instituições -que, segundo o próprio BC, mais acertam as previsões de um ano-atingiu 6,57% pela primeira vez na última semana. O resultado consta do Boletim semanal Focus, divulgado ontem.
Economistas mais pessimistas, segundo a pesquisa, preveem que a inflação fechará 2011 em 7,4%.
"Isso demonstra o nível de desconfiança que está sendo gerado por essa política gradualista do Banco Central", diz Tony Volpon, chefe de pesquisas para a América Latina do Nomura Securities. Esta foi a quinta pesquisa seguida de alta das projeções. Na média geral, as instituições esperam inflação de 6,26% no ano.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

CONGRESSO NACIONAL: OLIGARQUIAS DA VELHA REPÚBLICA RESSUSCITADAS

Levantamento do Congresso em Foco sobre relações de parentesco entre os parlamentares no Legislativo Federal leva a interessantes conclusões: "Para cientista político, o país está voltando aos padrões oligárquicos da República Velha, do início do século 20".

Alguns cientistas políticos negam que a política de formação de amplas bases de apoio ao governo esteja acabando por reviver a arcaica estrutura do coronelismo e não aceitam o termo neo-coronel imputado a políticos como Sarney ou mesmo à políticos desse novo PT que emerge na atual conjuntura como parceiro de fé do PMDB, mas ai estão alguns fatos conprovando que talvez realmente a formação da amplíssima base de governo está atrelada ao retorno de relações políticas arcaicas renovadas. Mais um problema sobre democracia representativa e seu papel na construção de um projeto democrático de longo prazo.

Demetrio Carneiro

Quase 300 deputados têm parente na política

Relações de família com outros políticos são a realidade de quase metade da Câmara. Para cientista político, o país está voltando aos padrões oligárquicos da República Velha, do início do século 20

Um negócio de família: de cada dois deputados federais, um tem outros parentes na política. Um quadro que revela o quanto ainda é oligárquico o poder no Brasil
Edson Sardinha e Renata Camargo

Tradição familiar não é sinônimo de sucesso na política. Mas é quase isso, a julgar pela atual composição da Câmara. Um em cada dois deputados da atual legislatura tem laços de parentesco com outras figuras da vida pública brasileira. Dos 564 deputados que assumiram mandato este ano, entre titulares, suplentes e licenciados, 271 (48%) são parentes de políticos. São filhos, netos, pais, irmãos, sobrinhos, tios, primos, cônjuges ou ex-cônjuges de quem tem ou já teve mandato, exerceu algum cargo de nomeação política ou participou de eleição.

Onze dos 22 partidos com assento na Câmara têm ao menos metade de sua representação formada por deputados com familiares políticos. O quadro é de amplo predomínio em algumas das principais legendas do país, como o PMDB, o DEM e o PP, campeões no número de parlamentares com parentes na política entre as cinco maiores bancadas da Casa. Os dados fazem parte de levantamento exclusivo feito pelo Congresso em Foco sobre as relações de parentesco entre os parlamentares no Legislativo federal.

domingo, 10 de abril de 2011

100 DIAS JÁ APONTAM PARA A MEDIOCRIDADE?

No post "As armadilhas" Miriam Leitão praticamente alinhava as razões para a demissão de Mantega e de, talvez, todo o resto da ekipekonômica. Nos anos Lula o ministro navegou com tranquílidade entre recordes de arrecadação e a bonança internacional. Quando posto a teste, em 2010 mostrou enorme leniência com as questões de poder. Entrou em 2011 deslumbrado e falando hoje o que desmentiria amanhã. Inaugurou o único sistema mundial de restrição fiscal sem restrição: O contra-corte do corte.

A questão agora está no emaranhado de contradições apontado por Miriam Leitão. Trata-se da velha interrogação de Lênin: O quê fazer? Dilma passeando pela China já deve estar pesando no assunto "quem vai fazer o quê há para ser feito?". O dúctil ministro parece que não dará conta do recado.

Ao tempo nossos nacional-desenvolvimentistas engrossam suas fileiras com o Bresser "anti-neoliberal" e comemoram a vitória do "desenvolvimento" na questão crescimentoxinflaçãoxgasto. Não se dão conta das fortes possibilidades de um PIB mais para 3,5% do que para 4% como sonha o governo. E Não apenas para 2011.

De uma forma ou de outra Dilma marca sua caminhada em direção à mediocridade. Talvez isso explique o relativo silêncio dos setores lulistas. Dilma poderia ter feito muito, mas aparentemente, preferiu fazer bem menos.

Demetrio Carneiro

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A GENALIDADE DOS GÊNIOS: INFLAÇÃO E CÂMBIO

A reação do câmbio mostra que as medidas que o governo possa adotar na área cambial não “resolvem” a apreciação do real. Emparedado pela nossa evidente incapacidade de formar poupança interna suficiente e tentado pela vasta e historicamente rara oferta de abundantes capitais internacionais o governo parece ir arquivando o discurso nacionalista de proteção da indústria nacional. Parece que a decisão é ir diretamente o ponto e discutir com os chineses o problema da “invasão oriental” em solo pátrio. As autoridades chinesas por sua vez vão dando sinal de compreender os insistentes recados da comunidade internacional. O que se entende, pois a gritaria é geral. O Brasil por sua vez é não é apenas consumidor de produtos chineses. É fornecedor da commodities estratégicas e talvez tenha posição de força para criar fatos que podem obrigar a China a ter um certo cuidado com as consequências de sua invasão.

Talvez, também fosse a hora do governo Dilma falar sério e apresentar propostas estruturantes na área de formação de poupança e institucionalização do financiamento de longo prazo à partir do jogo privado, por exemplo. O argumento do uso do BNDES para tudo que se trata de financiamento está vencido e é evidentemente inflacionário, sem contar o prejuízo no bolso do contribuinte em termos de custo tributário. Deve ser muito legal para o nacional-desenvolvimentismo ficar festejando o papel pró-ativo do Estado no crescimento brasileiro, mas está na hora de crescer e perceber que a feste tem um custo que vai na direção inversa da proposta final que seria o bem estar do povo brasileiro. Infelizmente a ideologia costuma deformar com muita eficiência a visão das pessoas, como diria o Althusser.

É por ai, mas não apenas, que estas coisas se ligam: Carência de recursos de investimento para um uma país que deles necessita desesperadamente para aproveitar uma dada janela de oportunidade. Na ponta do câmbio tem a apreciação e na ponta da inflação o gasto como instrumento de crescimento. Somando aqui a teoria do piso mínimo poderemos ter uma mistura explosiva. Mesmo que o governo esteja meio que deixando as coisas andarem no câmbio, talvez parte do governo não quisesse mesmo. A chamada de ontem tinham tons de anúncio sensacional, a leitura política de um piso poderá trazer novos problemas. O IPCA continua firme na sua trajetória de ruptura da banda superior e logo vai transformar em poeira o argumento da flutuação admissível dentro da banda. Para baixo e para cima segunda as esperanças de Mantega. Além do horizonte, em 2012 as coisas também não andam nada bem.

Como ressaltou Dilma, não existe inflação gerada pela pressão da demanda devido ao excesso de recursos disponibilizados. Como disse Mantega este papo de teto de produção é furado. A depender do governo a culpa da inflação está em outro lugar, fora do Brasil, por exemplo. Portanto que culpa eles têm se a natureza e o mundo conspiram contra o país?
Com tal quantidade de gênios espertos na economia estamos bem arranjados.

Demetrio Carneiro

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A SITUAPOSIÇÃO COMEÇA A INFLACIONAR, PALAVRA DA MODA

Bem, o Aécio tinha certeza que a área da situaposição era só dele. De uma hora para a outra o pedaço começou a ficar inflacionado, palavra da moda: Alckimin e agora a não menos que Senadora Kátia Abreu, já garantindo que o velhíssimo/novo Partido Social Democrata terá ao menos 40 deputados federais.

Foi o que bastou. Aécio agora é oposicionista, a situação vai ter que esperar.
Grande Brasil. Grande política.

Demetrio Carneiro

A GUERRA CAMBIAL E UMA PROPOSTA DE SOLUÇÃO

O texto abaixo foi publicado originalmente no número 29 da revista Política Democrática.
Basicamente é possível produzir uma política cambial sem sair taxando tudo e eliminando o câmbio flutuante, o que já tem muita gente achando que é a saída?
Neste pequeno trabalho, produzida a três mãos, pretendemos mostrar que há como manter o câmbio flexível e ainda assim conter a apreciação cambial.
Demetrio Carneiro

Guerra Cambial - Uma Nova Proposta - 84-88

A MP DO TREM-BALA E O ROLO COMPRESSOR DO PODER EXECUTIVO

Aprovação de algo tão ilógico quanto a MP do Trem-Bala mostra a total subserviência da base governamental aos caprichos midiáticos do Poder Executivo Central.
A discussão do Salário Mínimo já havia dado a métrica do que será a legislatura que se inicia.
Antes disso, ainda na legislatura passada, a aprovação pelo Congresso Nacional na LDO 2010, para os efeitos da LOA 2011, autorizando o Poder Executivo a ignorar as decisões do TCU quando se tratasse de obras do PAC, foi na direção de desmoralizar a instituição principal de controle do próprio Congresso.
Em seguida tivemos o verdadeiro “acordos entre amigos” que concedeu generoso aumento às suas excelências e aos cargos políticos do poder executivo. Cautelosamente deixou-se de lado o Poder Judiciário que vinha irritando sua excelência o Rei com impertinências incabíveis a um orgãozinho de segunda categoria frente o brilho e esplendor de sua majestade imperial.

Vamos deixar de lado considerações republicanas fundamentais do tipo o parlamento foi criado dentro de um sistema de pesos e contrapesos para garantir a permanência do regime democrático. Afinal já podemos convencionar que não vivemos mais sob uma república. O que temos hoje é um consentido regime imperial onde de tempos em tempos muda o Rei ou a Rainha. Talvez por isto Lula, que sempre se sentiu Rei, ficasse tão confortável no modelito.

A questão principal é que a República faliu por consentimento dos representantes eleitos da população agindo em interesse material próprio. Os escândalos, os envolvimentos, são aspectos fenomenais desta rendição à hegemonização de uma democracia de fachada.

Não há o que não possa ser decidido se o Executivo Imperial assim o quiser. Vão por terra quaisquer argumentos que obstaculizem as reformas sabidamente necessárias. Se não ocorrerem serão por culpa única e exclusiva da Rainha.

Demetrio Carneiro

segunda-feira, 4 de abril de 2011

MEDIDA PROVISÓRIA 511: COMO NÃO FAZER GESTÃO PÚBLICA

Está a ponto de ser votada a MP do Trem-Bala. Na primeira divulgação na mídia era dito que o trecho SP/RJ custaria R$20 bi. Nada mais falso. R$34 bi custará o trecho SP/Campinas. De Campinas ao Rio será infinitamente mais caro, pois terá que cruzar a Serra do Mar.
Anexada a MP a criação de uma, mais uma, Estatal. Segundo o relator governista será para “absorver a tecnologia”, como se nossas universidades e institutos tecnológicos fossem insuficientes ou incompetentes.

De concreto mais recursos do Tesouro Nacional para o BNDES via formação de Dívida Pública. Mais enganação num projeto que, como Belo Monte, deveria ser problema da iniciativa privada e vira um problema para o contribuinte.

Curioso o governo que se declara interessado em realinhar o setor público às nossas condições concretas e possíveis de crescimento, via corte de gastos, na intenção de não pressionar a inflação.
Bom não esquecer que a recente pesquisa CNI/Ibope coloca a inflação no topo das preocupações da população.

Num governo que muitos defendem a relativização do combate a inflação como uma questão menos importante do que o gasto até dá para entender...

Demetrio Carneiro

domingo, 3 de abril de 2011

DURVAL O CARA DAS RELAÇÕES ESTRANHAS

Continua sendo muito estranha a situação de Durval Barbosa. Eventualmente participa do tiro-ao-pato liberando material de não se sabe bem qual interesse político, mas que demonstra uma efetiva participação do MP e da PF em algum tipo de operação muito maior do que cumprir a lei. A total falta de clareza do processo não deixa claro quem manipula quem neste jogo a três entre o delator, o MP e a PF.

Agora, segundo informações num post do Blog do Noblat :
Como prestou os serviços de delação, revelando por meio de vídeos os que favoreceu com dinheiro sujo, foi dispensado das multas, devoluções e cadeia. Prestará serviços alternativos, tipo fornecer cestas básicas ou dar atendimento comunitário. Bingo!
Durval havia sido condenado, em primeira instância, a quatro anos e sete meses de cadeia, mais o pagamento de multas de R$ 441 mil e devolução dos R$ 9,8 milhões ao erário.”

Enfim, nosso ilustre “arrependido”, no melhor estilo das famiglias mafiosas da Itália, poderá curtir o resto de sua vida em algum quanto do mundo com outra identidade, mas com todos os caraminguás que juntou roubando descaradamente recursos públicos. O crime pode sim compensar.
Quem deu azar foi o PC Farias...

Demetrio Carneiro

sábado, 2 de abril de 2011

A OPOSIÇÃO E AS PERCEPÇÕES DO GOVERNO DILMA 1

Fora do espaço da política há um intenso debate sobre a percepção/avaliação do governo Dilma na condução da política econômica. Podemos mapear o debate em, pelo menos, três diferentes questões:

O quanto continua ou descontinua as propostas anteriores?
Debate do uso contínuo, e pouco flexível, do estímulo à demanda agregada.

Qual exatamente é a resposta que se dará ao fim da época de ouro do crescimento mundial?
Ai o debate do piso do PIB ou da noção mais liberal de variação dentro da banda em detrimento do foco no alvo.

Como se utilizarão as novas oportunidades nos termos do excedente de capital estrangeiro disponível?
O dilema da política cambial e o conceito de piso mínimo para a apreciação do real.

Em realidade a oposição formal dos partidos políticos é incapaz de reverberar estes temas.

Agora temos a divulgação da pesquisa CNI/Ibope trás o lado da percepção da população.

Pelo que se vê oposição continuará emparedada pelos altos índices de aceitação do governo, sem saber como lidar com isso.
Seja por absolutizarem o fato de que essa percepção se constrói sobre uma base objetiva que é a percepção geral de que "agora está melhor que antes", o que é verdade.
Seja devido a uma base subjetiva trabalhada pela massiva propaganda. É o tal governo midiático apoiado num esquema de militância. Estes últimos são os defensores avulsos do governo. Alguns interessados, mas outros realmente ideológicos.

A oposição "perde" na avaliação objetiva por que é incapaz de mostrar que "pode fazer melhor" e, certamente fazer melhor não é ser contra o aborto, por exemplo. Mas também perde na base subjetiva, pois não tem ponto de partida propositivo para a contra-propaganda e não tem capacidade de militância, seja interessada ou seja ideológica.

De concreto a oposição está sob o rolo compressor governamental e impossibilitada de maiores movimentos, o que, de alguma forma, é um processo de hegemonização da política. A confirmação do antigo projeto petista. Qual mal a ausência de diversidade trará ao nosso curto processo democrático ainda descobriremos no futuro.

Demetrio Carneiro

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O QUE COMPETE E O QUE NÃO COMPETE AO ESTADO

O nacional-desenvolvimentismo dominante tem toda uma lógica sobre o que cabe ou não ao Estado. Infelizmente esta lógica caminha pela perigosa trilha do oportunismo.

Certamente não compete, com certeza, é garantir que o principal controlador do Banco Pan Americano se dê bem apenas por ter “ajudado” a campanha de Dilma.

Também não compete interferir na gestão de uma empresa privada, como é o caso da Vale.


Demetrio Carneiro

CAMINHO PARA O GOVERNO MEDÍOCRE?

Já antes das eleições vínhamos comentando sobre a possibilidade de um governo medíocre e suas consequências na política.

De certa forma Dilma vai caminhando para isto. O quadro geral envolve a possibilidade de perda do controle da inflação, a insistente valorização cambial vista como um mal a ser combatido imediatamente e a queda do crescimento.

De fato há uma saia justa quando o compromisso de manter o crescimento envolve uma noção de piso mínimo incompatível com o momento da economia. Mantega costuma dizer que ninguém sabe qual é realmente o teto do produto potencial, para efeito do que pode gerar um processo inflacionário mais intenso. Certamente também não sabe onde e quando parar o estímulo à demanda para garantir o piso mínimo. Talvez dai a dificuldade de reconhecer a existência de um componente inflacionário na demanda.

No discurso oficial havia um gatilho implícito nos 4%. Pois bem, chegamos lá.Agora o dilema inflação versus crescimento ficará mais explícito.
O irônico disto tudo é que a política de piso de crescimento, e o consequênte sacrifício dos pressupostos da estabilidade, poderá levar a uma perda maior do crescimento. Quando estávamos num período de crescimento garantido o dilema era entre manter o superávit ou investir em políticas públicas. O próprio crescimento, mais alguma criatividade, acabou abrindo espaço para a permanência da proposta de superávit.

Agora contexto e propostas são diferentes. A mediocridade pode estar batendo nossas portas.

Para Dilma a oposição amorfa e voltada para seu próprio umbigo é o melhor dos mundos. Bom registrar que muitos oposicionistas participam solidários da solução dilmista no dilema central "crescimento versus inflação" e devem estar tão confusos quanto ela.

Demetrio Carneiro


Para Samuel Pessôa, da consultoria Tendências, BC está mais heterodoxo e governo subestima a inflação de demanda

01 de abril de 2011

Raquel Landim - O Estado de S.Paulo
O Banco Central (BC) está se tornando mais "heterodoxo" no combate à inflação e o governo Dilma Rousseff corre o risco de "meter os pés pelas mãos". A avaliação foi feita ontem por Samuel Pessôa, sócio da Tendências Consultoria e professor do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV), em encontro com investidores em São Paulo.

Ele afirmou que está menos otimista em relação à administração Dilma. O especialista afirmava que as indicações iniciais eram de que seria um governo "fácil" e de "continuidade" em relação ao mandato de Lula.

Na sua avaliação, a presidente deveria focar em três pontos: um ajuste fiscal forte e liberdade para o Banco Central elevar a taxa de juros e manter a inflação sob controle; aumento da carga tributária para financiar a política de reajuste do salário mínimo; e investimentos em infraestrutura para conseguir promover a Copa e a Olimpíada.

"Com essas medidas, o País cresceria menos, mas a sensação de bem-estar seria mantida. Dilma chegaria a 2014 com a popularidade em alta e com chances de ser imbatível nas próximas eleições", disse Pessôa. "Mas apareceram alguns sinais preocupantes nas últimas semanas."

O principal temor do mercado é com a condução da política monetária. Pessôa está receoso com a percepção do governo de que não existe inflação de demanda no Brasil, expressa pela própria presidente Dilma, em entrevista ao jornal Valor.

Para ele, a demanda segue muito forte, impulsionada pelo mercado de trabalho robusto e pelo crédito abundante. A avaliação do governo é que a alta da inflação, que deve superar a meta de 4,5% este ano, foi provocada pelo choque de preços das commodities.

Demanda. Pessôa afirma que o nível da atividade econômica não deve ser medido pelo comportamento da indústria da transformação, que sofre com a concorrência dos produtos importados. Ele disse que a demanda das famílias está crescendo em ritmo bem mais forte.

Heterodoxo. "Agora o Banco Central também começou a ter ideias heterodoxas próprias", disse Pessôa, referindo-se às mensagens da autoridade monetária no Relatório de Inflação, divulgado na quarta-feira.

Para o economista, o sinal mais grave do novo comportamento do Comitê de Política Monetária (Copom) foi o de que "o mercado tenta cooptar o BC, com estimativas mais altas para a inflação, para forçar a alta da taxa de juros".

"Essa é uma percepção de algumas pessoas, mas não corresponde à realidade", disse. Segundo Pessôa, a pesquisa Focus demonstra que o mercado costuma "subestimar" a inflação.

Pessôa também criticou a política de intervenção do governo no câmbio, para tentar manter o dólar acima de R$ 1,60. Ontem o Banco Central atuou pesadamente e garantiu que a moeda americana fechasse com leve alta de 0,06%, a R$ 1,63.

"Não temos mais um câmbio flutuante no Brasil", disse o especialista. "É um câmbio fixo, que o governo gostaria que ficasse acima de R$ 1,70, mas estão perdendo essa briga."

Outra preocupação de Pessôa é com a intervenção do governo na iniciativa privada. Ele diz que os dois casos mais emblemáticos são o rombo no Banco Panamericano e a sucessão na Vale.

No caso Panamericano, os bancos privados concordaram em salvar o banco de Silvio Santos após pressão do governo. Na Vale, auxiliares de Dilma estão pedindo a substituição do atual presidente, Roger Agnelli.

Caindo na real

SAMUEL PESSÔA
SÓCIO DA TENDÊNCIAS CONSULTORIA E PROFESSOR DO IBRE/FGV

"Não temos mais um câmbio flutuante no Brasil. É um câmbio fixo, que o governo gostaria que ficasse acima de R$ 1,70, mas estão perdendo essa briga."