sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A GUERRA CAMBIAL SERÁ A PANACEIA PARA TODOS OS MALES

Certamente não foi por caso que Mantega ontem mencionou que a guerra cambial continua. O que mais ele poderia usar como argumento, depois de usar todo tipo de instrumento de sua maleta de soluções pré-elaboradas, quando tudo o que se consegue é mais inflação e não mais crescimento?

Se o PIB, segundo o IBGE, do segundo trimestre cresceu apenas 0,4% sobre o primeiro trimestre, quando a expectativa geral era de 0,5%. Se ele cresceu 0,5% comparado com o segundo trimestre de 2011, quando es esperava que crescesse 0,7%, de quem pode ser a culpa?

De quem será a culpa se as políticas públicas não caminham na direção prevista? Do destino?

Demetrio Carneiro

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

O SOCIALISMO EMPRESARIAL DO GOVERNO DILMA

Nenhuma dúvida de que Dilma está no centro do núcleo duro de governo voltado para a visão de que o Estado e apenas o Estado é capaz de comandar o desenvolvimento brasileiro. Este é o pano de fundo desse verdadeiro Socialismo Empresarial que florece por meio de MPs que nosso Congresso Nacional, posto de joelhos frente à desesperada necessidade de garantir a sobrevivência da extensa rede de interesses abaixo de deputados federais e senadores e assim garantir sucessivas reeleições, aprova alegremente, transformando-as em Leis. Que tudo isso seja moeda de troca não parece preocupar os parlamentares e mesmo os eleitores. Embora o Mensalão seja uma variante dessa verdade.

Mas voltando ao Socialismo Empresarial. Essa lógica faz parte do preceito do inferno cheio de boas intenções. O melhor e mais recente exemplo é o BNDES transformado, graças ao bolso do contribuinte que acaba tendo menos bens e serviços públicos, em empresário do ramo de papel e celulose, colaborando ativamente para a fortuna pessoal das famílias muito mais ricas que o restante das outras famílias brasileira.

Agora Dilma, fã de carteirinha do Socialismo Empresarial, por meio de MP, sancionada alegremente pelo Congresso Nacional, emocionado com a adesão do governo federal às PPPs e aos prometidos R$133 bi, vai partir para criar uma EMPRESA na área de seguros. Acredito que vamos provar que o Estado também é melhor do que as empresas privadas no ramo de seguros.

Bom observar um detalhe: O governo faria parceria com as empresas privadas para segurar as chamadas grandes obras e obras de interesse social. Qual seria a lógica disso? As empresas privadas não dispõe de capital suficiente ou elas não estão dispostas a correr riscos muito além do prudente. Será que a empresa estatal vai entrar no jogo para correr riscos avaliados politicamente? 

Haja capitalismo para tanto anti-capitalismo...

Demetrio Carneiro


Congresso cria empresa estatal de seguros


Folha de São Paulo, 25 de agosto

Para cercar os riscos que podem envolver o pacote de infraestrutura da gestão Dilma, o governo conseguiu aprovar, sem fazer alarde, a criação de uma estatal de seguros, conhecida como Segurobras.

A medida provisória já foi aprovada no Congresso e deve ser sancionada por Dilma Rousseff na próxima semana.

O objetivo principal da estatal, cujo nome oficial é Agência Brasileira Gestora de Fundos e Garantias, será viabilizar as apólices e as garantias de obras de infraestrutura, mas a empresa poderá competir com as seguradoras privadas em ramos como habitação, crédito estudantil, exportação e até o de veículos, o maior do país.

A estatal também poderá comprar participações em seguradoras já existentes, como a SCBE (Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação), voltada a exportações.

Em jogo, está um mercado estratégico, que cresce em média 20% ao ano desde 2007. No ano passado, as seguradoras brasileiras faturaram R$ 105 bilhões, volume 16,6% superior ao de 2010.



O texto abaixo é mais antigo, mas trás informações relevantes(DC): 



A EMPRESA BRASILEIRA DE SEGUROS - NECESSIDADE?


Ilan Goldberg[1]

Até que ponto seria oportuno e juridicamente adequado criar uma estatal de seguros?

A imprensa vem reiteradamente noticiando o interesse do Governo Lula pela criação de sua 12a estatal, desta vez dedicada ao oferecimento de seguros.

O Ministério da Fazenda afirma que a nova estatal seria essencial para corrigir distorções criadas pelo mercado privado de seguros, o qual seria ineficiente para reter todos os riscos decorrentes do acentuado desenvolvimento da economia nacional. Nas palavras do Ministro da Fazenda, Guido Mantega :

“Estamos suprindo uma deficiência do setor de seguros no Brasil. Falta esclarecimento, até porque, do jeito que está, o setor de seguros não dá conta de suprir as necessidades de investimentos que o Governo tem feito. Vamos corrigir estas distorções”. 

Considerando haver urgência e relevância à questão, o Governo, originalmente, pretendeu criar a referida empresa por meio de Medida Provisória. Neste particular, é pertinente a seguinte indagação: até que ponto seria oportuno e juridicamente adequado criar uma estatal de seguros por Medida Provisória? 

Pouco tempo após a divulgação do inusitado projeto do Estado, empresários do setor mobilizaram-se e, pontualmente, criticaram a proposta, ainda mais sob as vestes de Medida Provisória. Rapidamente, a referida iniciativa cedeu espaço à criação da novíssima estatal por intermédio de Projeto de Lei encaminhado ao Congresso Nacional. 

Logo depois da divulgação desse fato, o mercado brasileiro de seguros, representado pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização – CNSeg – manifestou-se de maneira contrária à criação da nova estatal, com argumentos opostos aos sustentados pelo Governo.

Segundo informações técnicas colhidas pela CNSeg , o mercado brasileiro, em hipótese alguma, careceria de uma nova seguradora a fim de subscrever os riscos do comentado Programa de Aceleração de Crescimento – PAC – ou as obras de infraestrutura inerentes à realização no país da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Vejam-se os argumentos de Jorge Hilário Gouvêa Vieira, presidente da CNSeg:

“A CNSeg e seus associados não aceitam, portanto, os supostos argumentos relativos ao seguro garantia em que o Governo alega que o setor privado não tem capacidade para fazer frente à grande demanda por seguros das obras do PAC e dos eventos esportivos de 2014 e 2016.
E uma prova inconteste desta capacidade são os números do setor que demonstram o grande potencial desta indústria que movimentou, em 2009, R$ 109,2 bilhões em prêmios, representando 3,56% do PIB. Suas reservas técnicas acumuladas são da ordem de R$ 237,1 bilhões – fundamentais para garantir o segundo grande papel das seguradoras que é atuar como investidor institucional –, além de um patrimônio líquido consolidado de R$ 68,8 bilhões e investimentos de R$ 310 bilhões, montante equivalente a 9,7% do PIB. O setor também pagou R$ 8,34 bilhões em impostos. Este ano deverá crescer de 10% a 15%. Não bastasse essa solidez, ainda garante cerca de 70 mil empregos diretos no país.
"O mercado tem plena capacidade para fazer o que o Governo quer. A criação da uma estatal é um retrocesso em ações do próprio Governo, que quebrou o monopólio do setor de resseguros acerca de dois anos e meio”, 
O mercado segurador tem total capacidade para oferecer proteção financeira a todos os grandes projetos em execução ou em fase de licitação na área de infraestrutura. O seguro-garantia, especificamente, é um dos segmentos de maior crescimento no país. A América Latina movimentou US$ 725 milhões em prêmios e o Brasil respondeu por 31% deste montante (o equivalente a R$ 696 milhões), atrás apenas do México com 41%. No primeiro trimestre de 2010 o país assumiu a primeira posição, com 36% do volume de US$ 189 milhões. Vamos corrigir estas distorções”. 

Revezaram-se nos noticiários argumentos contra e a favor da criação dessa estatal. 

O mercado também trouxe como argumento contrário à EBS a recente flexibilização do monopólio do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), ocorrida no início de 2007 com a sanção da Lei Complementar nº 126, cuja disciplina legal foi levada a cabo pela Susep e pelo CNSP ao longo daquele ano por meio de diversos atos normativos. 

Apenas para ilustrar o desenvolvimento do mercado ressegurador após o término do regime monopolista, atualmente o Brasil tem em atividade 90 resseguradores, dos quais seis são locais, 24 são admitidos e sessenta (60) são eventuais, além de diversos pedidos de habilitação por parte de novos resseguradores cuja análise será brevemente realizada pela Susep. 

Sob essa ótica, não há dúvida alguma de que o mercado brasileiro primário de seguros, após o término do monopólio, tem condições para acessar os mercados internacionais por meio dos agentes estabelecidos no país de maneira direta, livre das amarras características ao regime monopolista.

Postos lado a lado os argumentos favoráveis e desfavoráveis, torna-se importante pensar essa questão sob a perspectiva constitucional e, para isso, retroagir um pouco no tempo, mais precisamente aos motivos que conduziram o próprio Governo a eliminar o antiquíssimo monopólio do IRB – Brasil Resseguros S.A. 

A Secretaria de Política Econômica do Governo Lula, ao estimular e conduzir o processo que culminou com o término do monopólio do IRB, taxativamente afirmou que aquele regime produzia ineficiências, prejudicava a concorrência, impossibilitava a entrada de inovações no mercado segurador. Apenas visando a ilustrar o panorama à época que, diga-se de passagem, data do ano de 2007, sendo, portanto, bastante recente, convém examinar os trechos a seguir, extraídos do estudo publicado pela referida Secretaria: 

3.1.3 Aperfeiçoamento do Marco Regulatório do Setor de Seguros [...] Por essas razões, o Governo inseriu em sua agenda 2004-2005 a revisão do marco regulatório do setor de seguros e resseguros, favorecido pela alteração do artigo nº 192 da Constituição Federal, através da Emenda Constitucional nº. 40, de 29/05/2003, que permitiu que o Sistema Financeiro Nacional fosse regulado por mais de uma lei complementar. Colocando a proteção ao consumidor como objetivo central da ação do Estado, a política para o setor de seguros será baseada em três pontos principais: i) o aperfeiçoamento institucional; ii) o aperfeiçoamento fiscalizatório; e iii) o aperfeiçoamento das garantias ao consumidor. O objetivo dessa política é retirar os entraves hoje existentes ao surgimento de novos produtos e serviços, promovendo aumento da competitividade no setor, melhoria das normas prudenciais e aperfeiçoamento da atuação do órgão regulador e fiscalizador. Hoje, o Instituto de Resseguros do Brasil possui tanto a atribuição de regular o mercado quanto o monopólio das operações de resseguro. Porém, sua composição acionária possui não apenas o Governo, mas também as próprias empresas fiscalizadas. Historicamente, sua importância residiu na própria criação e desenvolvimento do mercado nacional de seguros. Contudo, o monopólio do resseguro, do qual o Brasil é hoje umas das raras exceções, ao lado de Cuba e Costa Rica, traz consigo atualmente alguns entraves econômicos à continuidade do desenvolvimento setorial: a) cria ineficiências no mercado de seguros, por inibir que o ressegurador único recuse atuar com seguradoras com deficiências operacionais ou de subscrição, gerando maiores custos em última medida ao próprio segurado; b) não estimula a competitividade entre seguradoras; c) inibe a entrada de novas seguradoras no mercado (nacionais e estrangeiras); e d) inibe o desenvolvimento de novos produtos, principalmente aqueles não padronizados. [...]. (Grifou-se)

Examinando o entendimento do próprio Estado, que culminou com o fim do monopólio do resseguro por meio da Lei Complementar nº 126, de 15 de janeiro de 2007, pergunta-se: o que teria mudado de modo a sugerir a criação de uma nova estatal, agora dedicada ao mercado de seguros? 

Os argumentos do mesmo Governo e, para ser ainda mais específico, da mesma Secretaria, são completamente contraditórios. 

É preciso lembrar, sempre, que a Constituição Federal de 1988 eliminou a possibilidade de que o Governo crie novos monopólios, o que divergiu substancialmente dos textos de Constituições anteriores, sobretudo daquelas que foram promulgadas por ocasião dos regimes ditatoriais que comandaram o país por tantos anos.

É preciso pensar no referido projeto do Governo norteando-se pelos princípios da livre iniciativa e da livre concorrência, previstos no art. 1o, inc. IV e 170, inc. IV, da Constituição Federal, que figuram como verdadeiros pilares da ordem econômica nacional.

Considerando o seguro como atividade econômica e não como serviço público, dada a desnecessidade de que o Estado se faça presente na qualidade de provedor , por que se cogitar da criação de uma estatal para atividade tão especial e complexa, como é o seguro? 

Por mais que se tenha afirmado que a EBS poderá atuar em todos os ramos dos seguros, o discurso pró-Estado foi centrado nas necessidades de coberturas para grandes projetos de infraestrutura (seguro garantia) e vultosas obras – riscos de engenharia –, o que demonstra, ainda mais, quão técnicas e complexas são essas modalidades de garantia. 

Com efeito, não se trata de, por exemplo, oferecer mais apólices de vida, acidentes pessoais ou automóveis para ampliar a fatia da população que regularmente contrata o seguro. Definitivamente, esta não é a pretensão do Governo. Quer-se, em verdade, oferecer garantias complexas sob o ponto de vista operacional sem as necessárias exigências praticadas pelo mercado segurador privado, impostas pelo próprio Estado, por seu agente fiscalizador – a Susep.

Ao examinar a questão sob a ótica do resseguro, anteriormente à sanção da Lei Complementar nº 126, posicionamo-nos pela necessidade de que o Estado deixasse de exercer funções na qualidade de protagonista, assim como se procedeu em diversos outros segmentos da economia nacional (petróleo e gás, telecomunicações, energia elétrica, navegação de cabotagem, entre tantos outros). 

Foi-se o tempo em que o país experimentou a necessidade de proteger as suas divisas explorando atividades econômicas. As Constituições da República de 1934 e de 1937, expressamente, dispunham em seus títulos relativos à ordem econômica e social que caberia à lei providenciar a nacionalização das empresas de seguros em todas as suas modalidades, devendo constituir-se em sociedades brasileiras as estrangeiras que à época estivessem em operação. Assim também era que as sociedades em atuação no Brasil não poderiam dispor de acionistas estrangeiros em seus quadros.

O programa de nacionalização do seguro alinhava-se, perfeitamente, às características do Estado empresário, desenvolvimentista, sendo certo que a exploração monopolista do resseguro vinha ao encontro daquele panorama. Pedro Alvim , ao comentar a respeito do programa de nacionalização do seguro, observa que a criação do IRB se tratou da maior conquista deste programa:

“Pretendeu, então, o Governo impor determinadas condições para restringir esse fluxo de dinheiro para o exterior em prejuízo da nossa balança de pagamentos. Houve resistência das companhias estrangeiras, que tudo fizeram para dificultar a aplicação das normas regulamentares dos sucessivos diplomas legais publicados [...]. A demorada resistência das companhias estrangeiras à submissão das normas regulamentares gerou um movimento no Congresso Nacional, visando à nacionalização do seguro no país. Pretendia-se transformar em nacionais as agências das seguradoras estrangeiras e, ao mesmo tempo, criar condições para o fortalecimento das nossas seguradoras. [...] O movimento nacionalista teve, porém, o mérito de ensejar a criação do Instituto de Resseguros do Brasil (Decreto-Lei nº 1.805, de 27.11.39). Seria o instrumento da política nacionalista. Sua instalação, no ano seguinte, marcou o início de uma etapa muito importante para o progresso do seguro nacional”.

Como consequência da aplicação da livre iniciativa e da livre concorrência ao setor de resseguros, enfim, após mais de 70 anos de monopólio, este foi eliminado, cedendo espaço à concorrência saudável entre os agentes de mercado. 

Nesses termos, por mais que o discurso governamental negue a existência de interferência estatal por força da criação da EBS, não há como deixar de associar a presença do Estado à respectiva interferência e, consequentemente, restrições à livre concorrência, frise-se, constitucionalmente protegida.

Apenas para ilustrar a lógica dessa reflexão, imagine-se que o Governo queira contratar garantias para a construção da tão comentada usina hidrelétrica de Belo Monte. 

Após a criação da EBS, o mercado privado teria alguma chance de concorrer com a estatal? 

Se o Governo puder contratar as garantias para os seus próprios projetos com o próprio Governo (perdoando, aqui, o irresistível pleonasmo), naturalmente o mercado privado será preterido. 

Considerando que o mercado, por si, é capaz de oferecer as garantias necessárias ao desenvolvimento da economia nacional e, além disto, enfatizando que o Estado não deve imiscuir-se com atividade econômica tão específica, a fim de concentrar seus esforços naquilo que realmente for básico e essencial à população – segurança pública, saúde, educação, saneamento e tantos outros serviços –, responde-se à pergunta formulada no título deste breve ensaio ratificando a desnecessidade e a impertinência de que seja criada a nova estatal de seguros.

[1]
Mestre em Regulação e Concorrência pela Universidade Cândido Mendes e sócio do escritório Chalfin, Goldberg & Vainboim Advogados Associados








terça-feira, 28 de agosto de 2012

José Roberto Afonso: a arrecadação não tem surpresa, mas curiosidades


Ainda ontem eu divagava sobre a reação que o governo terá frente a uma retração da arrecadação. Hoje o JRA vem com uma matéria na Folha de São Paulo lidando com o assunto, com a expertise de sempre, de forma bem atenta e ressalta alguns detalhes interessantes.

Demetrio Carneiro

 

Resultado da arrecadação não tem surpresa, mas curiosidades


É natural que o desempenho da arrecadação tributária federal perca fôlego, pois segue a reboque da desaceleração da economia e das desonerações para animá-la.

A comparação anual foi afetada por receitas atípicas recolhidas em meados de 2011, da ordem de R$ 12 bilhões, segundo a Receita. Se descontadas, a variação até julho das receitas administradas sobe de 1,3% para 3,4%.

Não é à toa que, ao olhar para trás, a carga tributária ainda está a bater recordes: os principais tributos federais e estaduais (90% da carga global) arrecadaram 30,1% do PIB até julho, contra 29,2% há um ano e 27,8% há dois anos, sempre tomando o recolhido nos últimos 12 meses.

Curiosidades, entretanto, compensam a falta de surpresa, mas costumam ser ignoradas. Vejamos algumas ao comparar o acumulado até julho de 2012 contra o de 2011:

- o desempenho só não foi pior por causa das importações, paradoxalmente o que trouxe a ameaça de desindustrialização e motivou desonerações. Enquanto o IPI de automóveis e outras indústrias caiu R$ 2,8 bilhões, o agregado do imposto de importações, mais o IPI, a Cofins e o PIS cresceu R$ 5,1 bilhões;

- os tributos federais compartilhados com outras esferas de governo (IR, IPI, Cide e ITR) recolheram a menos R$ 1,1 bilhões (-0,6%) neste ano. Porém, as demais receitas arrecadaram a mais R$ 8,3 bilhões (+2,2%), de modo que o maior impacto sobre as finanças foi transferido para Estados e prefeituras;

- micro e médias empresas aumentaram seus recolhimentos muito mais que as maiores empresas do país, pois os recolhimentos do SuperSimples cresceram 3,1% e do IRPJ sobre lucro presumido, 7,1%, contra incremento do IRPJ sobre lucro real de apenas 1,2%;

- a receita previdenciária continuou com desempenho muito melhor que a tradicional, porém, o que mais cresceu não veio da folha salarial clássica (+12,8% das empresas em geral), mas de outras fontes, como repasses de órgãos públicos (+14,2%, muito sobre gratificações por cargos), aquisição de serviços (+17,2% retidos na fonte) e faturamento bruto (+20,3% do Simples).

Enfim, se não há surpresa no fato de a arrecadação desacelerar junto com a economia, sobram curiosidades em meio às estatísticas, que talvez não mereçam o devido conhecimento e a adequada análise sobre o peculiar padrão de tributação do Brasil.

JOSÉ ROBERTO AFONSO é economista, doutor pela Unicamp.

LIÇÕES DE ECONOMIA: AS DIVERSAS ESCOLHAS NA FORMA DE USAR ECONOMICAMENTE DUAS VACAS

O autor eu não sei quem é. Recebi de minha irmã que recolheu no Canadá. O original era em inglês e fiz algumas pequenas adaptações. É uma aula de economia comparada.

Demetrio Carneiro

SOCIALISMO
Você tem 2 vacas.
Você dá uma a seu vizinho.
O governo vem e cobra um imposto sobre doações.

COMUNISMO
Você tem 2 vacas.
O Estado se apropria das duas e lhe dá um pouco de leite.

FASCISMO
Você tem 2 vacas.
O Estado se apropria das duas e lhe vende o leite.

NAZISMO
Você tem 2 vacas.
O Estado se apropria das duas e te fuzila.

BUROCRATISMO
Você tem 2 vacas.
O Estado se apropria das duas, mata uma, ordenha a outra e, em seguida, joga o leite fora por ter estragado.

CAPITALISMO TRADICIONAL
Você tem duas vacas.
Você vende uma e compra um touro.
O rebanho se multiplica e a economia cresce.
Você vende e se aposenta com o rendimento.

CAPITALISMO ESTILO GOLDMAN SACHS (OPERAÇÃO DE VENTURE)
Você tem duas vacas.
Você vende três à sua empresa cotada na bolsa, usando as letras emitidas por conta do crédito aberto pelo seu cunhado no banco. Em seguida, executa a dívida / equity por meio de um swap com uma empresa associada de modo que você obtém todas as quatro vacas de volta, com direito a uma isenção fiscal para cinco vacas. Os direitos do leite das seis vacas são transferidos secretamente através de um intermediário para uma empresa das Ilhas Cayman, de propriedade do acionista majoritário, que é um agricultor do Semi-Árido e teu laranja, que vende os direitos de todas as sete vacas de volta para sua empresa. O relatório anual diz que a empresa possui oito vacas, com opção de mais uma. Você vende uma vaca para ajudar a eleger um novo presidente, o que deixa você com nove vacas, no balanço apresentado no lançamento da nova oferta, que é um touro. O público então corre para comprar seu touro.

UMA EMPRESA AMERICANA
Você tem duas vacas.
Você vende uma e força a outra a produzir o leite de quatro vacas.
Mais tarde, você contrata um consultor para analisar por que a vaca caiu morta.

A CORPORAÇÃO GREGA
Você tem duas vacas. Você pede montanhas de euros para a construção de celeiros, galpões de ordenha, lojas, galpões de feno para alimentação animal, lacticínios, entrepostos, frigoríficos de abate, unidade de produção de queijo e galpões de embalagem.
Você continua com duas vacas.

A EMPRESA FRANCESA
Você tem duas vacas.
Você entra em greve, organiza um motim e bloqueia as estradas, afinal você quer ter três vacas.

A EMPRESA JAPONESA
Você tem duas vacas.
Você redesenha elas para que tenham um décimo do tamanho de uma vaca normal e produzam vinte vezes mais leite.
Você, então, cria um desenho animado inteligente imitando uma vaca chamado de Cowkimona e o comercializa por todo o mundo.

UMA EMPRESA ITALIANA
Você tem duas vacas, mas você não sabe onde eles estão.
Você decide sair para almoçar.

CAPITALISMO SUÍÇO
Você tem 5000 vacas. Nenhuma deles pertence a você.
Você cobra dos proprietários para guardá-las.

EMPRESA CHINESA
Você tem duas vacas.
Você tem 300 pessoas tirando leite delas.
Você afirma que aquilo é o Pleno Emprego e há enorme alta na produtividade bovina.
Você prende o jornalista que denunciou a situação real.

UMA EMPRESA DA ÍNDIA
Você tem duas vacas.
Você as adora...

CAPITALISMO BRITÂNICO
Você tem duas vacas.
Ambas estão loucas.

UMA EMPRESA AUSTRALIANA
Você tem duas vacas.
O negócio parece muito bom.
Você fecha o escritório e  vai tomar umas cervejas para comemorar

A CORPORAÇÃO NEO-ZENLANDEZA
Você tem duas vacas.
a da esquerda parece bastante atraente para um churrasco .......

A EMPRESA BRASILEIRA
Você tem duas vacas.
Pega um bi no BNDES dando as vacas como garantia, constrói um prédio de 20 andares, aluga para a Petrobras, mata as vacas e dá um churrasco para a companheirada.

O DICIONÁRIO DO BAIXO CARBONO

Há questões fundamentais para uma Economia da Transição, supondo que se concorde com ela. Podemos falar na necessidade de qualificação do capital humano, reconhecimento dos limites ambientais e muitas outras, numa lista que pode ser longa. 

Nesta lista certamente constará a questão da coesão social e haverá de estar entre as mais relevantes. Coesão social fala da necessidade de convergência e coordenação entre os diversos atores do processo social: agentes públicos, agentes políticos, agentes privados e o conjunto da sociedade civil. É premissa fundamental que a transição da economia atual para uma economia voltada para a sustentabilidade passa por esta coesão entre os diversos atores ou não terá o sucesso necessário. Ou estamos todos juntos ou não chegaremos lá. Realmente é a primeira vez na história da humanidade que lidamos não com uma transformação que seja fruto natural de um processo civilizatório, mas de uma compreensão de qual rumo deverá ter este processo e mais, da compreensão - muito diferente do conceito de revolução - de que não há imposição de hegemonias, mas a necessidade de diálogo entre todas e todos. A democracia é o nosso instrumento para um mundo melhor, inclusive para as gerações futuras.

Nesta linha de raciocínio o Guia Sustentabilidade Meio Ambiente do Instituto Amanhã é um bom exemplo de uma leitura de coesão social. O guia tem patrocínio da Natura, da GM, da Vivo, da Foz do Brasil e apoio da KM Papel e da Tetra Pak. Trás de interessante diversas matérias, mas em especial uma é relevante. É um Dicionário do Baixo Carbono, com 80 verbetes. O dicionário pode servir como uma boa introdução para quem dá seus primeiros passos nessa questão da sustentabilidade. Cada verbete tem explicação clara e vem acompanhado de uma lista de livros relacionados e sites que podem ser consultados. 

Demetrio Carneiro

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

COMO O GOVERNO LIDARÁ COM A RETRAÇÃO DA RECEITA?

A não ser que estejamos mesmo a dobrar o Cabo da Boa Esperança os próximos meses nos apresentarão uma interessante questão de finanças públicas: Como o governo lidará com o fim dos recordes de arrecadação tributária?

Estamos no segundo mês seguido em que a arrecadação apresenta queda. O aumento real entre janeiro e julho foi de 1,8%. Bem longe dos valores anteriores. O excesso de arrecadação sempre deu ao governo uma grande folga discricionária nos gastos, já que corre por forma dos valores orçamentários autorizados.

Na abundancia souberam gastar e muito. Vamos ver se saberão gastar na escassez. Atribuem a queda às renúncias seguidas, mas a queda da atividade econômica vai acabar impactando a receita e em algum momento a receita inverterá seu desempenho histórico e acabará funcionando como restrição e não estímulo.

É aguardar e constatar.

Demetrio Carneiro

NEO-PATRIMONIALISMO E DESENVOLVIMENTO NO BRASIL

Neo-patrimonialismo de desenvolvimento no Brasil é um desses projetos que a gente, quando pensa o Brasil, acaba sentindo necessidade de fazer. Nosso processo histórico tem muitas pontas soltas, muitas questões ficam em aberto a espera de uma melhor definição. 

Uma dessas questões é a apropriação dos recursos públicos onde normalmente se coloca a corrupção. Nosso problema é que nem sempre as apropriações são pela via da corrupção, há vias bem mais sutis, e nem sempre terminar a corrupção é apenas uma questão de punir pessoas, como vem ocorrendo agora com o julgamento do mensalão. Estão iludidos aqueles que acham que a apropriação privado dos recursos públicos vai se extinguir pela prisão de A ou B. A rede neo-patrimonialista não existe pela necessidade das pessoas. ela existe pela necessidade do sistema e de suas relações de poder. Dai a necessidade que senti em tentar compreender melhor um fenômeno que na fundação da República de 1988 imaginávamos enterrado em nosso passado, nos idos da República Velha.

O que está ai é apenas o rascunho de um projeto, mas acho que mesmo assim vale socializá-lo
quando menos para chamar a atenção para a complexidade do assunto.

Demetrio Carneiro
PROJETO DE PESQUISA: NEO-PATRIMONIALISMO E DESENVOLVIMENTO NO BRASIL

ONDE FALHA O MODELO ATUAL

O texto abaixo foi publicado na Revista Politica Democrática, nº 33, de julho de 2012.
Demetrio Carneiro

ONDE FALHA O MODELO ATUAL

O PAPEL DO ESTADO COMO INVESTIDOR PRIVADO

Entre 2009 e 2011 foram emitidos mais de R$ 315 bi em títulos públicos para financiar os empréstimos do BNDES. O custo anual líquido dessas emissões, a serem pagos pelo contribuinte no contexto da Dívida Pública Brasileira, são na ordem de R$ 15 bi. Recentemente o Congresso Nacional autorizou, via MP 564/2012, mais R$ 45 bi em novas emissões. Custo líquido de R$1,35 bi. No total já são mais de R$ 16 bi anuais pagos pelo contribuinte e não pelos empresários beneficiários desses recursos.

Apenas para servir como referência, entre 1.995 e 2010 as despesas totais do governo federal com a educação oscilaram, em valores constantes de 2010, entre um mínimo de R$ 20,6 bi (2004)  e um máximo de R$ 45,1 bi (1.998). A média foi de R$ 29,4 bi. Quer dizer, os R$ 16 bi e poucos do subsídio do BNDES às industriais, apenas tendo em vista as emissões entre 2009 e 2012, representam 54% gasto médio anual do governo federal em educação!!! E não estamos considerando os subsídios embutidos nos custos diretos do empréstimos...

Hoje uma matéria do Valor Econômico, BNDES guia setor de papel e celulose, coloca o banco de investimentos como o maior investidor no setor de papel e celulose: "Não seria surpresa se, em cinco anos, o BNDES promovesse a consolidação [da indústria de celulose]", avalia o analista Felipe Reis, do Santander. "Costumo brincar que, na verdade, o BNDES é o maior produtor de celulose de eucalipto do mundo.", conforme está na matéria.

Deveria haver uma razão muito forte para o governo federal propor e o Congresso Nacional concordar na emissão de títulos públicos para gerar uma caixa que o BNDES não tem. 

Cega por suas necessidades de sobrevivência política a base de governo vai aprovando tudo que é posto á sua frente. Cabe, então, ao eleitor perguntar-se se realmente é o Estado quem tem que subsidiar os investimentos do setor privado e dar sua resposta em votos.

Demetrio Carneiro

sábado, 25 de agosto de 2012

CORRAM TODAS E TODOS ÀS AGÊNCIAS! VAMOS SALVAR A ECONOMIA COMPRANDO CARROS NOVOS...


Deve ser mal humor matinal, acordei tarde, mas estou muito inclinado a ver um nonsense crescente nessa insistência de ir pelo caminho errado na solução da queda da atividade econômica.


O governo está dizendo?

a) Comprem mais carros e entupam mais as ruas;
b) Nem pensar em transporte coletivo?
c) Nem pensar em transporte alternativo individual?
d) As famílias precisam dever mais ainda. Devem muito pouco?
e) O cadeia produtiva automobilística é a melhor forma de investimento público?
f) Só dá para renunciar o tributo que o poder executivo central divide com estados e municípios?
g) O modelo de economia de transporte individual e de alta produção de carbono é o melhor?
h) A gente precisa sustentar a Petrobrás?

Confesso que fico confuso...




Demetrio Carneiro

OS RISCOS DA REPÚBLICA BRASILEIRA


Não dá para os ministros fazerem de conta que não sabiam dos riscos. Talvez não imaginassem a profunda repercussão. Talvez pensassem que a população brasileira estivesse tão alienada que não daria bola.  Em parte a imagem da Praça dos Três Poderes vazia pode dar essa ilusão, mas é a lógica da manifestação política que saiu das ruas e foi para as redes.

Erraram e agora vão ter que correr atrás do prejuízo, pois o preço a pagar será excessivamente alto para o país: A completa desmoralização da mais alta corte.

Como vai, com festivais explícitos de personalismo e sede de mídia, caminhamos rapidamente para um desastre republicano. Essa corte que ai está é um pouco o resultado de dois mandatos de Lula, que nunca foi exatamente uma figura republicana.

Vamos ver como suas Excelências pretendem sair do imbróglio sem comprometer suas biografias e principalmente a democracia brasileira. 

Nossa jovem democracia caminha para sua consolidação?


Demetrio Carneiro

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

GREVE NO FUNCIONALISMO: QUAIS OS LIMITES?

Desde a constituinte os sucessivos governos, por questão de conforto político, vêm colocando de lado a regulamentação da greve no setor público. 

A greve na ANVISA, responsável pela fiscalização de produtos farmacêuticos, inclusiva a importação de matérias-primas, começa a gerar reflexos, com escassez de medicamentos. 

Obviamente não é intenção dos grevistas colocar a vida dos contribuintes em risco, como também os diversos outros incômodos gerados pela paralisação dos serviços públicos também não são. Contudo o fato é que colocam em risco a vida de terceiros e incomodam justamente quem paga a conta.

Enquanto o governo não toma coragem para fazer o seu trabalho quem sabe os grevistas não são mais criativos e incomodam que deveria ser incomodado?

Demetrio Carneiro

AS AMARRAS DO PATRIMONIALISMO

Bem e serviços públicos são oriundos de uma pactuação social mediante a qual brasileiras e brasileiros cedem uma parte substancial do fruto de seu trabalho ao Estado.

Deveria ser evidente o como o patrimonialismo, é uma prática que apropria os bens e serviços públicos em favor privado para grupos associados no projeto de garantir sua sobrevivência política e permanência no poder.

Estamos ai acompanhando o julgamento do mensalão, a abertura do ministro relator é clara no sentido da denúncia da operação patrimonialista. Quase que diariamente recebemos notícias do envolvimento de agentes públicos, agentes políticos, empresas e empresários do setor privado. Uma questão é como isto impacta o voto e se isso é capaz de mudar as lógicas atuais. Mas há outra e envolve o papel do patrimonialismo como amarra do crescimento econômico e do desenvolvimento.

Fazemos um bom debate sobre o atual modelo econômico e vão ficando mais evidentes suas limitações, assim como vai ficando mais evidente a necessidade de propor à nação um novo, outro, modelo não apenas de crescimento econômico, mas de desenvolvimento.

O debate econômico é substancial. Dentro dele é natural que muitos de nós citemos, por exemplo, as restrições ambientais, os limites ecológicos, como restritores ao crescimento indiscriminado da economia, tanto na produção, como no consumo. O que certamente tem suas implicações no Estilo de Crescimento. 

Contudo não é tão comum a percepção do patrimonialismo como um forte restritor ao crescimento econômico mais acelerado, dado o seu papel na concentração de renda. Bens e serviços públicos apropriados privadamente são elementos de ampliação da concentração de renda, criando amarras ao desenvolvimento.

Enquanto restritor o patrimonialismo é um debate da Economia Política e da Política e não apenas um debate da economia ou da justiça.

O debate do crime e de sua punição é importante, mas a tomada de consciência da sociedade quanto ao patrimonialismo como uma restrição ao crescimento e ao desenvolvimento é fundamental para que se torne mais claro que a punição de pessoas não elimina a estrutura patrimonialista. É neste terreno que a política precisa avançar.

Demetrio Carneiro

PRESENTE E FUTURO: A PREDIÇÃO

A predição em geral não é uma atividade das mais fáceis. Intervêm fatores fora do controle e da capacidade de avaliação do observador. Na realidade o próprio observador acaba contaminando a predição com suas próprias expectativas.

Há predições nada sérias, por exemplo aquelas destinadas à mídia, normalmente voltadas para criar um clima, essas são as governamentais e de alguns órgãos corporativos interessados. Do lado da crítica ao governo também existem as pouco sérias e mais voltadas para criar um clima de insatisfação.

Tudo isto por conta dessa natural dificuldade de olhar para os dados de curto prazo e tentar tirar deles algumas conclusão.

Em sequência o Índice da Atividade Econômica do Banco Central, IBC Br, estima uma melhora da atividade econômica, registrando uma alta de 0,75% ( junho sobre maio). Nessa linha o segundo semestre(abril,maio,junho) foi superior em 38% em relação ao primeiro. As vendas no varejo, também junho sobre maio, cresceram 1,5%, quando a expectativa era de queda. Números positivo da atividade ocorrida sessenta dias atrás, mas divulgados quase que simultaneamente ao anúncio do pacote da infraestrutura, formando um quadro básico de leitura otimista do governo.

A leitura dos mais de 124 mil empregos de saldo líquido de empregos do Caged no mês de julho (com significativa alta no setor de transformação - junho - 9968 e julho - 24.718, núcleo do modelo econômico, e serviços- junho - 30.141 e julho - 39.060, carro chefe da geração nacional de empregos -gerou 59% dos empregos entre maio de 2011 e julho de 2012.) foi na mesma direção otimista. Muito embora a curva dos empregos gerados não dê margem a tanto otimismo.



Outro dado apresentado foi o da desocupação (IBGE, com base na Pesquisa Mensal de Emprego em SP, RJ, Recife, BH, Salvador e Porto Alegre). A informação foi prejudicada pela greve dos funcionários e não trouxe dados completos. De modo geral mostra que a taxa manteve-se abaixo de 6%, refletindo a queda histórica. 

Contudo, confrontando os números dos empregos líquido do Caged para dezembro de 2011 (o menor saldo líquido, na verdade negativo, de empregos entre maio de 2011 e julho de 2012: -418 mil) com as taxas de desocupação do IBGE para o mesmo mês (as mais baixas no período que vai de maio de 2011 a julho de 2012) dá para ficar claro o desalinhamento das informações. O que seria de esperar já que o Caged envolve a estatística oficial de empregos formais em todo o pais e a taxa de desocupação a informação prestada pelo pesquisado em algumas capitais e soma emprego formal e informal.

Saiu agora Índice de Confiança do Consumidor da FGV, mostrando uma queda, maio sobre junho, de 121,6 para 120,4. É a quarta queda seguida do índice. O índice é de uso recente e ainda precisa acumular mais consistência, mas está ai. 


Outra informação relevante, e com impacto na avaliação dos resultados das medidas econômicas contra-cíclicas do governo, vem do Brasil Econômico: Exportações não respondem à desvalorização do real". 

"Nos primeiros sete meses do ano, o setor de manufatura exportou 0,7% menos que no mesmo período de 2011. Até julho, a valorização da moeda americana foi de 16,6%.No sentido oposto do comércio internacional, as importações de manufatura aumentaram 6% relação ao mesmo período do ano passado. O resultado incrementou o déficit do setor em 50%."


O processo de desvalorização do real envolve a compra de dólares e a sua manutenção em caixa. Há um custo para manter esses dólares em caixa, como também há um custo para a emissão de títulos públicos cuja venda gera recursos para comprar estes dólares. Toda a alegação do governo é que a desvalorização do real é instrumento substancial para manter o ritmo de exportação dos manufaturados brasileiros. O que não deixa de ser uma boa forma de passar por fora do Custo-Brasil, da baixíssima competividade dos manufaturados brasileiros, de manter uma economia fechada etc. Certamente agora o governo dirá que se não houvesse desvalorizado seria pior...

A predição não é um jogo de azar. Independentemente dos resultados imediatos o que fica muito claro é a insuficiência das medidas governamentais e que não se trata de vontade de acertar, mas principalmente de coragem política e esta falta a este governo. Todas as mudanças necessárias ainda estão ai para serem feitas. Este é o desafio mais importante.

Demetrio Carneiro


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O desastre de sempre: Ideb 2011, artigo de Paulo Nathanael Pereira de Souza

Paulo Nathanael Pereira de Souza é doutor em Educação. Artigo publicado no Correio Braziliense de hoje (23) e repercutido no jornal da Ciência da SBPC.

É inegável que o Brasil cultiva, hoje, duas aspirações nacionais prioritárias: o fortalecimento da democracia e o desenvolvimento socioeconômico. Em ambos os casos, a educação do povo se torna indispensável pré-requisito.

E, quando se fala em educação popular, fala-se necessariamente na conclusão de um ensino básico de qualidade, com diploma dos cursos fundamental e médio (12 anos de escolaridade). O que, aliás, tem sido um sonho. Além de haver aproximadamente um milhão e meio de jovens fora da escola, estando eles em plena idade escolar, os que conseguem matrícula são, em grande parte, vítimas da reprovação e da evasão.

No ensino fundamental, o problema é menos grave, embora as taxas brasileiras sejam as mais altas da América Latina. No ensino médio, as causas se complicam porque apenas 1/3 dos concluintes do fundamental nele se matriculam e muitos dos que o fazem abandonam o curso no meio do caminho por achá-lo maçante, antiquado e discursivo.

No que estão carregados de razão. Afinal, vivemos a era da informação e temos novas gerações vidradas no saber ilustrado e digitalizado, de pouco texto e muita imagem, menos teoria e mais aplicabilidade das lições da sala de aula, sendo que, por essas e outras razões, nossas escolas funcionam ainda no passo lento dos carros de boi.

A pedagogia da integração dos saberes com a tecnologia avançada da comunicação (TV, DVD, computadores, tablet, telefone digital etc. etc.), que justificaria algum avanço no didatismo docente, está a anos luz do que se pratica nas salas de aula.

E que dizer do despreparo dos professores? São heróis do insucesso. Na sua (in) capacitação profissional, intoxicaram-se de teorias clássicas algumas, experimentais outras sem aprender, na prática, a aplicabilidade delas todas no dia a dia das aulas, pois os estágios duram uma parcela mínima da carga horária total do curso (de 10% a 20%).

O fracasso docente, medido por todas as avaliações, sejam internacionais, como as da Unesco e da OCDE, sejam nacionais, como o Saeb e o Ideb, mostra que o alunado da educação básica no Brasil se diploma, seja na 9ª série do fundamental, seja na 3ª do médio, sem saber ler e escrever com correção e clareza, ou fazer cálculos que ultrapassem as quatro operações aritméticas.

Como, pois, diante de um quadro desses, pretender que o Brasil alcance o status de nação do Primeiro Mundo (é bom lembrar que, se no PIB estamos entre os 10 países mais bem dotados, no IDH, que é o que conta hoje, nosso lugar é o 84º), e venha a ser uma democracia plena, em que o povo educado assume o protagonismo consciente da cidadania e gere com responsabilidade o seu destino?

Senhores governantes, a infraestrutura deste país é importante nos seus aspectos materiais de estradas, aeroportos etc. etc., mas depende essencialmente, para o sucesso final, da educação qualificada de todo o povo, mesmo os sem-teto e os moradores dos grotões da pátria conditio sine qua non de todo o resto.

Que os dados estarrecedores divulgados pela mídia no dia 15 do corrente mês referentes ao Ideb 2012 tenham o mérito de inquietar os brasileiros quanto ao futuro do País nos próximos anos e de inspirar os governos para a necessidade de ações de emergência capazes de tirar nossa educação do atoleiro em que se encontra. Como tenho assinalado em meus escritos: O Brasil, que sempre soube educar suas elites, jamais aprendeu a educar o povo. Vamos mudar?

IPEA DEVE REVISAR A PREVISÃO DO PIB 2012

Embora o governo insista em garantir que já atravessamos o Cabo da Boa Esperança, para não dizer que chegamos ao fundo do poço, conforme noticiado na mídia, parece que os técnicos do IPEA se deram conta que a antiga previsão de 3% já não é mais viável nessa altura do campeonato. "A medida de crescimento de 3% já está comprometida", segundo declaração do técnico entrevistado. 

Obviamente veremos ainda desdobramentos do fraco crescimento de 2012 sobre a previsão do PIB 2013. Não esquecendo que estaremos em ano pré-eleitoral. 

Apesar de tudo na apresentação do Projeto de Lei Orçamentária para 2013 há um clima de otimismo. Com base em dados do jornal The Economist a Ministra do Planejamento reconhece 2012 como um ano de baixa, com uma queda de 16% do PIB mundial (3,7% para 3,1%), mas estima que de 2012 para 2013 o PIB mundial dever´crescer cerca de 25% (3,1% para 3,9%) . Ainda afirma que o PIB brasileiro de 2012 será um dos poucos no planeta que será maior que o ano anterior. Ou seja, tendo crescido 2,7% em 2011, cresceremos mais em 2012. Talvez esteja na hora da ministra procurar conversar com os técnicos do IPEA...
A apresentação não deixa por menos: Em 2013 cresceremos 5,5%, fazendo com que a média de crescimento 2011-2014 seja de fantásticos 4,7%. Maior que a média do primeiro governo Lula, 3,75 e a média do segundo governo Lula, 4,6%.

Depois, quando chamam o Orçamento Público Federal de peça de ficção tem gente que fica ofendida...

Demetrio Carneiro 

INOVAÇÃO NO BRASIL

É evidente que um processo de desenvolvimento sustentável no longo prazo, capaz de retornar riquezas aos brasileiros, rompendo inclusive padrões de concentração de renda, está intimamente ligado à produção de conhecimento soberano. Ou seja, estar ligado às cadeias produtivas mundiais dá emprego e aumenta o produto, claro, mas com toda certeza a parte do leão fica em mãos dos detentores das patentes que estão nos países do Centro e não aqui.

Dentro desta lógica de produção de conhecimento soberano os agentes públicos, e os agentes políticos, deveriam ler, ou reler, a obra de Schumpeter. Se estiverem com preguiça leiam pelo menos "O Profeta da Inovação", de Thomas K. MacCraw, da Record. 

Schumpeter faz uma clara distinção entre o inovador e o capitalista. Para ele essas coisas não estão necessariamente vinculadas. Inovador é o criador. Capitalista é quem corre o risco econômico e financeiro da levar a nova proposta ao mercado. Neste sentido não se trata do Estado investir na criação de empresas inovadoras, até por que o termo é uma falácia. Inovações deixam de ser inovações no exato momento que deixam de ser monopólio e caem no domínio da concorrência. Uma economia regular não é feita de milhares de facebooks, mas de milhares de investimentos que dão certo uma parte do tempo e não necessariamente todo o tempo. As empresas que permanecerão são aquelas que tiverem meios de estabelecer nichos próprios. São os ciclos de destruição criativa. 

O que os agentes públicos deveriam mirar, e os agentes políticos perceber, é que cabe ao Estado é viabilizar espaços onde a inovação possa prosperar. Estamos falando não de estruturas, mas de ambientes e instituições. A inovação está vinculada à produção de conhecimento e a produção de conhecimento em boa parte está ligada a um ambiente de ensino formal e a mecanismos facilitadores da aplicação da ideia no mundo real, ai sim as empresas e instituições facilitadoras e não complicadoras como no caso dos processos de estabelecimento de patentes.

Não será com um ensino público fundamental com esta qualidade que temos, com professores pessimamente remunerados que chegaremos lá. As Escolas Técnicas ou Universidades, supondo que sejam de fato eficientes, não podem fazer magica. Da mesma forma as facilidades públicas não precisam ser apenas de financiamento para de empresas, mas deveriam olhar para o destravamento na criação e operação de empresas e seus custos. Inclusive o trabalhista. Questões onde o Estado que acha que ajuda só atrapalha.

Demetrio Carneiro

GABINETE DE APOIO AO SOBREENDIVIDADO




Quais são os sinais de Sobre-endividamento
Quando as contas se complicam – O que posso fazer?
Quando as contas se complicam – O que não devo fazer?
Quando estou em incumprimento
Processo em tribunal

A insistir o governo brasileiro que a prosperidade econômica é fruto não da renda gerada pela ampliação e qualificação do emprego, mas do sobreendividamento das famílias brasileiras, não seria uma proposta muito enviesada Dilma emitir uma MP criando um nova estatal a SOBREDIVIDOBRAS, gerando, quem sabe uns mil novos empregos para a companheirada. 

Na lateral poderíamos emitir alguns bilhões (o Congresso já liberou R$ 45 bi para uso discricionário do governo) em títulos para dar ao BNDES, para financiar (com recursos subsidiados) as financeiras que financiam as famílias. A MP poderia também incluir as financeiras no Fundo Garantidor, resguardando seu patriótico trabalho de estimular a economia. 

Certamente a MP progrediria rapidamente no Congresso Nacional virando um criativo Projeto de Lei de Conversão, que poderia abarcar outros 1.195 assuntos altamente correlacionados, como impõe a boa lógica da produção legislativa, como o financiamento do controle da praga de grilos nas lavouras dos assentamentos da fronteira do Paraguai. 

Tudo com o apoio desinteressado da base aliada, no máximo alguma negociação para liberar emendas com vistas as eleições de 2014.

Não é bem parecido com o que a gente vê toda hora?

Demetrio Carneiro

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

INFLAÇÃO, POLÍTICA ECONÔMICA E ECONOMIA POLÍTICA

A questão da inflação é claramente um problema de Política Econômica, mas é evidente que as diversas escolhas possíveis envolvem diretamente a Economia Política e sua compreensão, pano de fundo para essas escolhas.

Um relevante grupo de economistas brasileiros considerar que as políticas de Estabilidade são mera desculpa para legitimar valores de taxa básica da economia que favoreçam os portadores da dívida pública. algumas contas apontam que 25 mil famílias são detentoras da Dívida Pública brasileira e que elas seriam as beneficiárias da política de Estabilidade, um instrumento de caráter neo-liberal.

A política econômica de Dilma caminha por ai e sua marca mais clara foi ter relativizado o regime de metas em detrimento de uma política de estímulos estatais ao produto da economia.

Por esse caminho o centro da meta deixou de ser importante e passou a ser importante o teto. Trocando em miúdos ou invés de olharmos para os 4% , olhamos para os 6%. O alinhamento da inflação com a crise. Quer dizer, expectativa de baixa do produto alinhada com a expectativa de pouca pressão da produção sobre os preços, de certa forma vinha colaborando com o projeto.

O problema com políticas de flexibilização das metas é que o governo não controla o mercado e a formação de preços. Vivemos uma forte expectativa de inflação no setor de alimentos em decorrência da seca nos EUA, fenômeno que terá fortes repercussões nos preços de commodities fundamentais como o milho, nos próximos meses e provavelmente no próximo ano. Outro segmento fora de controle é o de serviços. A inflação de serviços continua forte e é preciso ter em vista que ela não é influenciável pelo resto do mundo. Quer dizer, na área de produtos a importação é um meio de travar a alta de preços. Serviços não são "importáveis" de modo geral. 

Enfim, hoje saiu o IPCA-15, marcando 0,39 em agosto, contra 0,33 em julho. acumulando 5,37% nos últimos 12 meses.

Aqui a economia política se enrosca com a política econômica. Até qual momento a inflação deixa de ser uma problema pouco relevante? Ou por acaso o governo imagina mesmo que uma inflação de 6%, que é onde parece que chegaremos, a continuarem os reflexos da seca americana e da inflação de serviços, é um bom contributo para uma taxa de juros nominais capaz de alavancar a economia e produzir o tão esperado desenvolvimento?

Demetrio Carneiro

terça-feira, 21 de agosto de 2012

ECONOMIA BRASILEIRA: COPO MEIO CHEIO OU COPO MEIO VAZIO?

Na leitura da Veja sobre o estudo da CNI, Produção industrial brasileira avança em julho, diz CNI, o copo está meio cheio.

Já na leitura da própria CNI, Indústria cresce pouco e mantém estoques[1], o copo está meio vazio.

Lendo o título do Sondagem Industrial, que é o estudo, Indústria inicia o segundo semestre com baixa atividade, dá para entender o copo muito vazio.

Olhando o gráfico que está no estudo, Utilização da capacidade instalada efetiva em relação ao usual, da a clara noção que já precisa começar a pensar é esse copo é o copo certo...

Demetrio Carneiro

[1] O texto dá acesso ao estudo e ao gráfico citados.