sábado, 10 de outubro de 2009

MERCADO INTERNO E CRESCIMENTO




Não há muitos especialistas em avaliação de política monetária brasileira com credibilidade no mercado internacional. O Tony Volpon é um deles. Essa avaliação de conjunto que ele está fazendo, nas três entrevistas publicadas aqui no blog, logo abaixo, mostra uma defasagem de política monetária que poderá haver entre o Brasil e os outros países referenciais importantes, caso vença a lógica política de manter a Selic artificialmente baixa.

Na questão de formação de mercado interno, que é a bola da vez no papo do pós-crise, reparem, está na entrevista ao Estado de São Paulo, a relação crédito/PIB dos outros membros do grupo dos BRIC. A Rússia tem oferta quatro vezes maior que a nossa!!! Na ponta tem algumas coisas que se ligam: 


1) O gasto público de estímulo de demanda agregada pode facilmente virar estímulo à inflação, para isso basta a economia começar a se aproximar de seu nível potencial.

No Brasil, devido a inexistência de uma política sistemática de estímulo ao investimento em infraestrutura - o tal do custo-Brasil -, mais questões de ordem institucional que limitam os investimentos privados, a capacidade instalada potencial da indústria e, por consequência dos serviços - pois as expectativas dos agentes são iguais - acabam sendo "baixas". Esse teto baixo dá muito pouca flexibilidade à política monetária, pois logo existe pressão de demanda sobre a oferta que gera expectativas inflacionárias. Era esse problema que vinha ocorrendo no Brasil logo antes da crise; 


2) Se o gasto público é inflacionário, mas se por razões de estrutura de poder ele deve permanecer, então ou você convive com maiores taxas de inflação e assume que "dever é bom" e aumenta a participação da dívida pública no PIB ou você aumenta a Selic. Nove entre dez "progressistas" brasileiros não vêem nada demais numa inflação um pouco maior ou em dever um pouco mais. Talvez esquecidos daquele ditado: trair e coçar é só começar. Também esquecem que as classes de menor poder aquisitivo são as vítimas principais de ciclos inflacionários e que são elas que arcam com maior carga tributária relativa à renda. esquecem que só se resolve dívida com mais tributo.
Mas, enfim, se o surto de "relativização da LRF" passar e se Lula for o pragmático que alguns querem enxergar, o mais provável é que a Selic cumpra um novo ciclo de altas como se prevê.

3) Havendo o ciclo de alta aparece a perversão do processo de má formação de crédito e o que explica boa parte do fato de nosso crédito oferecido ser bem menor que o dos outros BRICs. Gastos, além do necessário,   levam à inflação ou à dívida.
A forma clássica de controlar a inflação é vender papel. A expectativa dos agentes econômicos é que os papeis tenham que remunerar melhor, pois há o componente de risco embutido. Ai o BC aumenta a taxa Selic para poder vender os papeis que necessita para ou enxugar a liquidez do mercado e controlar a inflação ou arranjar grana para garantir despesas compromissadas, como fez recentemente vendendo papeis para repassar ao BNDES R$ 30 bi.
A perversão se concretiza no fato do agente econômico preferir depositar seus recursos no cofre da viúva, que tem um componente de risco menor que o componente de risco do crédito, seja para as famílias, seja para as empresas.
No caso dos EUA e Canadá a expansão saiu, inicialmente por fora desse esquema, pois a expansão se deu via colateral da família, as residências, criando uma outra forma de crédito.

Claro que o oligopólio bancário ajuda muito, mas isso não parece preocupar nossos "progressistas" internos ou externos a ressaltar o lado perverso do efeito. 



Enfim, uma boa discussão para quem acha que o mercado interno é importante para o nosso crescimento.


Demetrio Carneiro