por Demetrio Carneiro
Willian R. Keech em seu livro The Costs of Democracy¹ discorre sobre a relação entre inflação, crescimento e emprego nas democracias. Segundo autor gestores públicos, os políticos eleitos, na intenção de permanecer no poder, são propensos a admitir a inflação como resultado de políticas públicas de estímulo ao crescimento e a geração de empregos. Da mesma forma eleitores também estariam dispostos a manter no poder políticos que mantivessem políticas públicas inflacionárias, mas que proporcionassem crescimento e geração de empregos.
Sendo crescimento e geração de empregos fortes elementos de garantia de votos a escolha natural de políticos é pela inflação. Não é difícil lembrar das falas de Delfin Neto ainda durante a ditadura onde o ex-ministro insistia que “um pouco” de inflação é benéfico à economia.
Nesse momento que está face ao dilema é Dilma e tem se manifestado claramente favorável a “um pouco” de inflação, também. Lula, por conta a boa situação internacional na maior parte de seu mandato não teve que fazer escolhas deste tipo a não ser já no último ano de mandato, por conta das eleições de 2010 quando claramente esposou a tese do ciclo político eleitoral forçando o gasto público para eleger Dilma.
Dilma assume em 2011, com a proposta da “visão longa”, já num quadro em que o ano estava perdido para a meta e os números apontavam para o teto da meta. Ao longo do ano já fica evidente que 2012 não será diferente e agora os olhares se voltam para 2013.
A pergunta a se fazer é sobre o risco de escolher mais inflação.
Algumas questões potencialmente críticas estão na linha de interesse daqui para 2012:
Combustível. Torna-se evidente de que não será possível segurar por muito mais tempo o prço da gasolina, sabidamente criador de expectativas inflacionárias. A combinação entre a necessidade política de manter o mercado aquecido e a falta de planejamento melhor tanto na questão do álcool combustível quanto na produção de gasolina mostrou sua face fatal. Compelido a escolher entre aumentar preços de combustível ou cortar impostos não parece muito provável que o governo decida pela racionalidade. Muito provavelmente apenas se aguarda a confirmação de um ritmo menor na inflação para o anúncio dos aumentos.
Reajuste salarial. Há efetivamente uma forte onda por reajustes salariais. Ai também não apenas os generosíssimos aumentos auto-concedidos pelos poderes, mas também confirmação da permanência da política de forte reajustes no mínimo geraram na classe trabalhadora expectativas que irão se afirmando ao longo do ano.
Mercado. O governo tem sido nitidamente leniente em “segurar” o mercado e também vem sofrendo forte pressões para ser mais pró-ativo na “defesa” da indústria nacional. Agregue-se um ambiciosíssimo programa de estímulo a investimentos tipo Pré-Sal, Copa e Olimpíadas, investimentos na área social como o novo programa de combate á miséria e outros eu não são exatamente situações de mercado “morno”.
Para 2012 novas expectativas.
Eleições de 2012. Até aqui na impede de se imaginar que 2012 repetirá o mesmo desempenho de ciclo eleitoral de 2010. Principalmente tendo em vista a disputa que se apresenta entre PT e PPMDB no que se refira às prefeituras municipais. Base de apoio fundamental para as eleições de 2014. Natural que se criem expectativas de gasto público.
O reajuste previsto para o salário mínimo certamente criará novas expectativas de pressão salarial das outras categorias e de aumento geral de preços.
Do lado dos riscos duas questões:
Formação de expectativas. Nada mais eficiente para gerar inflação do que expectativas de que haverá inflação. Seria a retomada a mentalidade indexadora eu havia sido derrubada pelo Plano Real.
Falha de governo. Uma das falhas de governo reconhecidamente evidentes é a falta de controle sobre os resultados. O governo é capaz de implementar políticas, mas não é capaz de ter certo que a política implementada alcance os resultados esperados. Ele não controla o resultado. Isto com políticas públicas correntes. Quando se trata de jogar com a inflação num ambiente de incertezas tão fortes quanto o atual nada garante que o governo possa, por exemplo, parar de brincar quando quiser. A excessiva generosidade das políticas fiscais neutraliza a política monetária e a partir de um dado ponto a política monetária, que tem sido ainda a única linha de “stop” do “stop and go” - na realidade muito mais go do que stop - da política atual pode deixar de ser eficiente.
Há claros riscos. Ninguém, nem mesmo Mantega, é capaz de não percebê-los. Contudo, estar no Poder e se manter nele parece ser o ponto principal e a referência das escolhas.
A única predição possível é que as incertezas, inclusive na arena internacional, são fortes. A única predição provável é que há acúmulo de tensões e elas não apontam certamente para o pretendido “pouso suave” de Dilma, mas para o fio da navalha.
1) The costs of democracy – W.R.Reech – Cambridge University Press – 1995