terça-feira, 31 de julho de 2012

EUROPA: ENTRE A INFLAÇÃO E O DEFAULT

A marca da crise européia é a absoluta vontade do eleitorado de não abrir mão de seu padrão de vida. Os Estados-Nação responde muito mais a seus eleitores do que a lógica de equilíbrio de grupo.

Por conta disso o Banco Central Europeu assumiu a lógica do dinheiro fácil do QE, quatitative easing, de inspiração americano-obamista, digamos.

Basicamente trata-se de criar mais dívida pública para...poder dever mais. Afinal a crise bancária tem origem na incapacidade dos Estado-Nação garantirem as suas dívidas públicas.

Evidentemente em algum ponto do futuro a estratégia de liberalidade fiscal vai virar inflação ou trambique dos governos, default se acharem mais educado. Ou ambos. 

A atual situação para nós envolve todo interesse. Com o aparente esgotamento da estratégia de crescer via expansão do crédito pessoal somada a uma aparente ineficiência dos instrumentos fiscais de gasto e renúncia voltamos a atenção para a nossa porta de entrada do processo que envolve a relação de trocas com o exterior.

O fluxo de riquezas ainda continua a nosso favor. Contudo agora se adiciona um elemento perverso do processo. Da mesma forma que o menor preço relativo dos manufaturados nos fortalece na diferença de trocas com as commodities nas exportações, o menor preço relativo é um arrastro a carregar nas exportações e vem afetando fortemente as indústrias. Por não ser exatamente uma questão de concorrência, mas de queda da demanda universal, as medidas protecionistas não conseguem obter muitos resultados. Para começar a funcionar seriam necessárias mudanças profundas e elas não estão no radar do governo.

Certo. O problema na porta de entrada é que a demanda por commodities é resultado da demanda mundial, incluindo a demanda européia. Se lá na frente se aponta uma nuvem negra pairando sobre a Europa e se a expansão do mercado interno tem restrições, então de onde virá a retomada prevista para o segundo semestre?

Demetrio Carneiro

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A BOA ECONOMIA DOS RESULTADOS INVERTIDOS


A pesquisa semanal do BC coloca o PIB 2012 abaixo de 2%: 1,95%, o que já vem das outras semana. O PIB 2013 sofreu uma revisão para baixo: 4,05 para 4,10.  Já a inflação anual, que 4 semanas atrás tinha uma expectativa de 4,93%, sobe para 4,98%. É a terceira correção para cima em sequência.

Na Europa descobriram a pólvora: Governo de país do Centro não precisa se preocupar com ajuste fiscal. Isto é coisa para os Outros. Então, tome grana. Uma hora a festa acaba, mas não precisa ser agora, né?

Governo brasileiro continua insistindo na “recuperação” do segundo semestre e para isso não vai poupar esforços. Em Londres Dilma falou em “corte de impostos”. Essa lógica parece dar muito mais resultados em segurar a inflação via redução do preço final, do que propriamente para estimular o crescimento. Típico caso de atirar no que se vê e acertar no que não se vê. Para desespero do governo que parece não entender o que está acontecendo com as milagrosas receitas keynesianas e ainda não se deu conta que a economia aplicada à políticas públicas não está toda nos manuais que ele lêem. De qualquer forma os sucessivos recordes de arrecadação dão margem para alguns cortes seletivos e dirigidos como o que se fez com o IPI.

Demetrio Carneiro

A ONU E SEUS ATALHOS: NÃO ESTAMOS SOZINHOS

Preocupações de gerar resultados midiáticos são as piores nas políticas públicas. Muitos gestores não conseguem escapar desta armadilha e acabam adotando atalhos na intenção de alcançar números espetaculares que confirmem suas ações em prol do bem de todos. Já conhecemos essa forma de gestão aqui no Brasil. Pelo visto não é uma marca exclusiva nossa.

Matéria publicada no Yale Environment 360,On Safe Drink Water, Skepticism Over UN Claim, de autoria de Fred Pearce[1], relata a estratégia da ONU para divulgar ao mundo que a submeta do milênio,  sobre a qualidade das águas, vinculada a meta de número sete, Garantir a Sustentabilidade Ambiental, fosse alcançada alguns anos antes.

Originalmente se calculava em 1.999, ano da Assembléia que instaurou as Metas do Milênio, que cerca de 24% da população mundial não tinha acesso a água potável. Contudo em 6 de maio desse ano corrente o Secretário Geral Ban Kim-moom anunciou que essa número havia caído para 11% no fim de 2010. Portanto havíamos alcançado cinco anos antes, era 2015, um valor melhor que a meta que era de reduzir em 50% a população que não tem acesso à água potável.

Todas as razões para festejar. Afinal o consumo de água potável tem ligação direta com a saúde pública e a qualidade de vida das pessoas. Contudo, e infelizmente, o que o artigo de Pearce mostra é que a mágica não estava na adesão de governo e populações ao projeto da ONU, mas sim numa simples mudança de parâmetro.

Muitos países desenvolvidos controlam a qualidade geral de suas águas. Contudo tanto a OMS quanto a UNESCO consideraram como um custo inaceitável para nações da periferia do sistema esse monitoramento. A decisão foi por usar um conceito de proxy denominado águas melhoradas(improved water). Fontes de água melhorada seriam a água encanada, poços perfurados, cursos de água protegidos de esgotos, água entregue etc. Enfim, desde que a população local tenha acesso, mesmo que suposto[2], a algum desses meios ela tem acesso à água potável, por consequência. 

Certo? Não errado. Um relatório de consultoria conjunta das próprias agências, do ano de 2011, feito em cinco dos países que rapidamente alcançaram as suas metas, mostra que mais da metade das amostras de poços artesanais estava contaminada. As amostras de poços artesianos e água encanada estavam contaminadas em um terço. 

Nas palavras de David Zetland, economista especializado em águas, atualmente lecionando na Universidade de Wageningen, Holanda: "A meta original de proteger vidas transformou-se num alvo burocrático que não envolve a qualidade da água que as pessoas bebem atualmente".

Demetrio Carneiro

[1] Autor freelancer  e jornalista residente no Reino Unido. Consultor ambiental da revista New Scientist e autor de inúmeros livros, incluindo The Rivers Run Dry e With Speed and Violence.

[2] Pearce cita exemplo da Índia onde o acesso aos poços é regulado pelas castas ou aldeias na África onde é necessário caminhar por quilômetros para chegar a essas fontes.

ROL DE ENTREVISTAS DO ADOLFO SACHSIDA


Até aqui o Adolfo acumula 16 entrevistas que buscam formar um mapa sobre as avaliações de diferentes pensadores acadêmicos da economia brasileira à volta do mesmo tema: as escolhas feitas pelo estilo petista de governo.

São três perguntas básicas feitas aos entrevistados, facilitando cotejar os diferentes pontos de vista:

1 – Se não se repete, em 2012, as mesmas políticas da década de 1970?;
2 -  O risco externo e a sua capacidade de atravessar o samba;
3 -  O uso da redução dos tributos para retirar o impacto da inflação.

Evidentemente não são perguntas “neutras” e estão orientadas pelo próprio pensamento crítico do Adolfo, mas capturam momentos fundamentais do atual processo. 

Importante que o Adolfo não pare agora e possa tirar outros instantâneos no futuro. Se for assim teremos um excelente material de estudo comparativo e um potente balanço do pensamento econômico sobre o Brasil e seus caminhos.

Leia a íntegra das entrevistas: Adolfo Sachsida - Opiniões

Demetrio Carneiro

sábado, 28 de julho de 2012

PARA O GOVERNO O ESTADO PODE TUDO. MAS PODE MESMO?

Do alto do estádio inglês Dilma manda seu recado: se demitirem não tem mais regalias...Tem sentido, afinal o ponto principal desse governo é manter empregos a qualquer custo. Foi com esta finalidade que se fizeram as mudanças econômicas mais marcantes no primeiro ano de governo.

As regalias, já sabemos, destinaram-se a a compensar a perda de competividade das filiais brasileiras componentes das cadeias produtivas com origem no Centro. As ações feitas em nome da indústria nacional parecem ter perdido a percepção sobre onde se dá o lucro, quem controla o conhecimento, nessas cadeias globais. Enfim, embora os empregos quantitativamente sejam gerados em suas maior parte no setor de serviços, supõe-se que a indústria de veículos é um polo dinâmico etc...Gera o que o governo quer: empregos. Talvez o setor não seja exatamente um driver no assunto, mas dá mídia.

Enfim a perda de competividade se daria pelo real apreciado. Agora que o real parece estar até sobre-apreciado, ainda assim o discurso permanece e as regalias continuam. O lado irônico é que absolutamente não há perda de competividade.  Ou melhor competividade perderam todas as manufaturas do planeta. Globalmente, entre 2007 e 2011, os manufaturados foram corrigidos em 14%. As commodities em 35%. Vistas as exportações brasileiras o que se percebe é que estão alinhadas com um fenômeno internacional dado pela combinação entre crise no Centro e crescimento das economia da Semi-Periferia. O preço dos produtos manufaturados caiu e o preço das commodities subiu. 

É bom Lembrar que esse fenômeno é o principal responsável por uma profunda e histórica inversão no fluxo de renda entre Centro e Semi-Periferia. Essa mudança do fluxo é a responsável por todo um processo de sustentação do crescimento da Era Lula e do período de governo de Dilma. Agora o que veio para o nosso bem é visto como o nosso mal. A queda do preço relativo das manufaturados vira desculpa para dar as regalias.

Quando Dilma deu a ordem unida sua esperança certamente é que o setor da indústria automobilística faça o que a economia parece teimar em não fazer: manter os empregos. Será que o Estado pode tudo mesmo?

Demetrio Carneiro

quinta-feira, 26 de julho de 2012

EMISSÕES PER CAPITA DE CO2 DA CHINA CHEGAM AO NÍVEL EUROPEU

Já é bastante debatido o efeito do aumento de emissões dos gases do efeito estufa em termos das mudanças climáticas e do aquecimento global. Muitos tendem a ignorar, por diversos interesses até mesmo de emprego, muitos tendem a contestar os dados, mas minimamente (prudencialmente nas palavras de Jorgen Randers no 2052) precisamos acompanhar a evolução dos dados. E ela é dramaticamente rápida, para pior.

Pouco antes da Rio+20 Eli da Veiga publicou um texto onde mostra que embora as emissões mundiais per capita de CO2 venham apresentando queda, as emissões totais sobem e muito, apontando para a ultrapassagem do limite teórico da capacidade de absorção dos gazes do efeito estufa pelos ecossistemas planetários, sejam as florestas ou sejam os mares. Evidentemente o que sobra vira aquecimento e gera mudanças climáticas.

Agora o Aldeia Comum trás um texto informando que as emissões per capita da China chegaram ao nível europeu. Já se havia comentado a respeito do fato da emissão per capita nos países emergentes estar em alta, mas o fato da China chegar em padrões europeus já agora mostra o grau de problemas que se acumularão por conta da insistência de permanecermos vinculados e subsidiários, planetariamente, de um estilo de crescimento/desenvolvimento fundado numa impossibilidade concreta de sustentabilidade frente às restrições de ordem ambiental.

Minimamente deveria servir de alerta para aqueles que se propõe a entender o fazer política como algo mais que se preocupar com a própria sobrevivência eleitoral. Mas principalmente deveria servir de alerta para quem está do lado de cá do balcão eleitoral e dá, pelo voto, poder a esses representantes. Isso que o voto circunscrito ao Estado-Nação é apenas o primeiro passo de uma ação que precisa ir além das fronteiras nacionais já que lidamos com danos ambientais em escala global. As lógicas precisam mudar. Enquanto há tempo...

Demetrio Carneiro

A CARACTERÍSTICA DA CRISE

Tendo esgotado seu repertório no plano federal, e possivelmente já de olho nas eleições de 2014, o governo agora se prepara para o que se chama de Agenda do Desenvolvimento Regional, aplicável em 2013. Parece que o governo central considera que os governos estaduais não têm projetos interessantes o suficiente e resolver dar uma ajudinha.

Como sempre o BNDES será o canal da mágica desenvolvimentista. Como sempre o banco irá receber recursos liberados por uma MP autorizando que o Tesouro emita dívida pública. Certamente dirão que a queda da taxa básica da economia, comandada por Dilma, abriu espaço para mais dívida sem sacrificar o custo total. Claro que isso está ligado a previsão de um cenário otimista de recuperação da economia e numa visão de que a taxa não voltará mais a patamares mais elevados.

Como sempre o controle do pacote, a sua execução, fica nas mãos gentis e bem intencionadas do governo central. Não é muito difícil imaginar que, disfarçado de justiça regionalista, o foco vai estar endereçado à base eleitoral da coalizão e que as propostas vão girar entorno do feijão-com-arroz federal. 

É assumir, como sempre, que o desenvolvimento é factível e viável como uma única vontade do Estado que tudo pode e que o agente político faz cálculos perfeitos e interessados apenas no bem comum...

Não deveria haver nada de errado neste súbito interesse. Não era para haver, não fosse a repetição dos mesmos elementos que não nos levam a ver o futuro com tanto otimismo: O imediatismo eleitoral. Essa é um pouco a característica da crise atual também. Emparedado numa eterna busca de votos de confirmação do poder, entre ciclos de dois anos, o governo é incapaz de atitudes mais compromissadas com mudanças institucionais de longo prazo essas sim capazes de semear o futuro. 

Jogado assim o jogo não é de duvidar que nosso crescimento futuro venha a ser medíocre.

Demetrio Carneiro

quarta-feira, 25 de julho de 2012

A CUT E O RECORDE BRASILEIRO

No ano de 2010 a renda per capita anual do brasileiro pela primeira vez ultrapassou a barreira dos U$ 10 mil. Deixamos de ser pobres para sermos remediados, mas ainda muito longe da renda dos desenvolvidos que é quatro vezes maior, pelo menos.

Apesar disso somos surpreendidos com a informação de que o Brasil gasta com pensões por morte 2,8% do seu PIB. Leia e se escandalize, mas também pense duas vezes ao votar na próxima vez.

Essa situação esdrúxula nos coloca como recordistas mundiais no pagamento de pensões. Nossa renda per capita anual transformada em mensal e em reais dá R$ 1,4 mil. Então como explicar que sejamos recordistas mundiais?

Talvez não seja difícil de entender se nos dermos conta que há desembargadores que ganham R$ 200 mil mensais e que certamente ao morrer deixarão para as suas proles o mesmo valor como pensão vitalícia.

É ai que entra a campanha da CUT que critica a lei que obriga a declaração dos salários de todos os funcionários públicos. O mote da campanha é "transparência sim x exposição não". Realmente dá para concordar que os tais desembargadores devem estar temerosos. Afinal uma renda dessas deve atrair a atenção até de criminosos internacionais. Com certeza o objeto da campanha não é o servidor que é professor e ganha até menos que a renda média mensal de R$1,4 mil...

Vamos admitir que a CUT esteja protegendo os trabalhadores do setor público, mesmo que seja a elite mais bem remunerada, mas não pegaria bem melhor que essa "nova" CUT, a que vai protestar contra a punição dos mensaleiros, gastasse seus fartos caraminguás por exemplo numa campanha CONTRA os salários absurdos que são pagos a uma minoria de servidores? Fazer parte da estrutura de poder real está virando a cabeça dos sindicalistas.

Já o governo por seu lado quer mudar a regra das pensões por morte. Claro que quem vai pagar a conta serão os sem-advogados milionários que conhecem todas as brechas legais e todos os juízes. Não seria melhor aplicar a lei e obrigar que os salários dos servidores sejam no máximo iguais ao salário do presidente?

Demetrio Carneiro

O PROJETO POLÍTICO-ECONÔMICO DE DILMA E A REDUÇÃO DO EMPREGO NOS SERVIÇOS

Logo que assumiu o governo Dilma deixou claro uma mudança de pensamento econômico. A implementação da relativização das metas de inflação era um sonho antigo em todos os segmentos do nacional-desenvimentismo. 


Da oposição à situação a linguagem comum sempre foi de crítica ao jogo do controle da inflação num campo mínimo de variação entorno do centro da meta e do uso da taxa básica da economia como um restritor do crescimento da inflação além do ponto central. Nisso a relativização foi uma solução, pois ao mirar as proximidades do teto e com a inflação se comportando dentro do intervalo de 2% acima da meta ou um pouco além desse teto, abriu-se espaço para a queda da taxa básica. De alguma forma a desaceleração da economia, retirando a pressão sobre o limite do produto potencial, acabou se alinhando com a expectativa de baixa da taxa. Feitas as contas a taxa básica baixou significativamente e contribui para a redução do custo da dívida. Nesse sentido o argumento nacional-desenvolvimentista funcionou. Pelo menos até agora.


Onde o argumento não está funcionando é no motivo para relativizar a meta de inflação. A outra mudança na linha de pensamento foi o foco no emprego da economia. É da teoria política a ideia de que há um ciclo político onde o agente político aceita sacrificar a taxa de inflação para gerar emprego via estímulos públicos diretos e indiretos. Era isso que Mantega vinha querendo em todos os anos do governo Lula e essa foi a razão de seus choques com Palocci. Agora se abria à equipe econômica no Ministério de Fazenda a chande de ter mais liberdade na política fiscal. Antes atrelada às restrições ortodoxas da política monetária. A heterodoxia se confirmou.


Sem dúvida a geração de emprego tem forte conexão com a zona de conforto do eleitor. O Estado gasta para estimular a economia privada a manter seu ritmo de emprego viabilizando empregabilidade para o mercado de trabalho. Se considerarmos que a massa salarial ainda vem tendo reajustes em valores reais bem acima do PIB, num mundo de lógicas planas tinha tudo para dar certo. Mas o que fazer quando dar liquidez à economia não resolve tudo? Quando a expectativa dos agentes passa a ser mais importante que seu espírito animal? Esse é o novo desafio da equipe econômica. Aparentemente a zona de conforto da própria equipe não foi afetada, até agora, visto que o governo, e o FMI,  joga todas as suas fichas numa recuperação no segundo semestre deste ano.


Vamos aguardar e ver. Por enquanto dos dados medidos na sua base primária, como o CAGED, não dão margem para muito otimismo.


Junho 2012 comparativamente a junho 2011 gerou 44% menos empregos líquidos. Se olharmos para o maior empregador brasileiro que é o setor de serviços, 49 % de todos os empregos líquidos brasileiros estão ai, os números também não são tão animadores.


Junho de 2012 - 30.141 empregos líquido.
Junho de 2011 - 45.961 empregos líquidos.
Maio de 2012 -  44.507 empregos líquidos.


Desagregando para o sub-setor de comércio, administração de imóveis e serviços técnico-profissionais, que geram 15% de todos os empregos líquidos nacionais...


maio de 2011 - 20.506 empregos líquidos
maio de 2012 -   8.968 empregos líquidos


junho de 2011 - 12.468 empregos líquidos
junho de 2012 -   4.140 empregos líquidos


O que estamos presenciando é o centro do projeto político-econômico de Dilma balançar.


Demetrio Carneiro



sexta-feira, 20 de julho de 2012

A EXPORTAÇÃO DE EMPREGOS AMERICANOS E A POLÍTICA

Hoje o ativíssimo blog americano Think Progress vai para cima dos senadores republicanos acusando-os de bloquearem a tramitação de uma lei que impediria a exportação de empregos, promovida por vantagens fiscais. O candidato republicano também é enquadrado na bronca.


De certa forma nos interessa na medida em que parte desses empregos chegam aqui via a cadeia produtiva mundial. Embora, trabalhador a trabalhador, não pareça um assunto que emocione as Centrais Sindicais de qualquer tendência.


Veja abaixo o clima...


Demetrio Carneiro 


Por que você está pagando para mandar empregos para outros países? 

19 de julho de 2012

Por War Room ThinkProgress
PIB americano cai pela metade em favor da terceirização, contra os trabalhadores americanos...

Você sabia que na verdade você está pagando para enviar empregos americanos para o exterior? É chocante, mas é verdade. Graças a um código fiscal deformado, que é manipulado em favor de poucos privilegiados, as empresas obtém um benefício fiscal quanto as operações de cadeia produtiva - e de remesa de empregos norte-americanos - em outros países. Eles recebem uma dedução e o resto de nós paga a conta.

Pedindo aos trabalhadores de classe média para pagar para enviar os seus próprios postos de trabalho ao exterior? Isso é uma loucura.

Mais loucura ainda? Hoje, os republicanos no Senado votaram, quase por unanimidade, para proteger esses favorecimentos ultrajantes para as empresas que vendem os empregos americanos no exterior. O projeto tinha uma maioria de 56 votos, mas os republicanos usaram uma obstrução para matá-lo. Aprovar o Bring Jobs Home Act – “ Lei Trazer os empregos de volta para casa” faria duas coisas:

• Abolir incentivos fiscais para empresas que vendem os empregos americanos no exterior

• Criar novos incentivos fiscais para recompensar empresas que tragam empregos para a América

Além de estar aparentemente a favor de gratificar empresas para o envio de empregos norte-americanos para o exterior, por que os republicanos fazer isso?

Duas palavras: Grover Norquist. Quase todo republicanos no Senado, prometeu a esta lobista de Washington que eles nunca, nunca aumentariam os impostos ou prejudicariam esses interesses especiais. E não apenas Mitt Romney assinou este compromisso com lobistas, como ele quer ainda dar a essas empresas mais incentivos para criar empregos em outros países e não na América.

A votação de hoje mostra o quão longe os republicanos irão para proteger favorecimentos de tributação para os ricos e os interesses especiais. Mostra também por isso que precisamos mudar nosso código fiscal de modo a construir uma economia que funcione para todos, não apenas a uns poucos privilegiados e seus lobistas.

Em uma frase: Hoje, os republicanos, mais uma vez escolheram estar lado à lado com as empresas que vendem trabalhos no exterior, em vez de estar com os trabalhadores e empresas americanas que trazem trabalhos para a América.

PRÉ-SAL: O ELIXIR MILAGROSO DO DR. LULA

Lula vendeu Brasil à fora seu elixir milagroso. Era a fonte de nosso orgulho e a garantia de nosso futuro. Bem, ao menos foi a garantia do futuro do projeto petista e deu uma boa força para a eleição de Dilma. 

Fartamente usado em 2009, a pré-campanha de 2010, serviu para mostrar que se havia um crise, fatalmente mais à frente ela desapareceria pela mágica do Elixir. Com mil e uma funções ele poderia, inclusive, prover o investimento que o Estado não consegue fazer, ocupado que está em empregar e gastar no dia a dia, construindo ai um projeto de poder. Como também não interessa ao governo a trabalheira de criar mecanismos institucionais de promoção de poupança das famílias, já que a ordem é gastar até o que não pode, como a segurança institucional para as empresas investirem não entra nas contas, o Elixir teve e tem ai também seu papel. 

De solução universal e explicação para tudo o mundo real vai transformando o Elixir em estelionato. Mas isto não é novidade. O Elixir milagroso do Dr. Lula nunca seria diferente dos outros elixires vendidos pelo mundo à fora por outros tantos impostores. Elixir milagroso compra quem quer e o incauto eleitor despolitizado comprou por que quis acreditar nas promessas de um futuro fantástico onde o Brasil se alinharia com as maiores potências do planeta, mas diferentemente delas seria uma potência justa com todas e todos. Não faríamos como outros países que ou entregaram sua riqueza e seus ganhos à grandes empresas ou outros ainda em que as Elites se apropriaram de todos os resultados. Convenhamos que o discurso era muito bonito, mas também sabemos que os doutores charlatões são muito bons de lábia.

A coisa pegou até agentes políticos mais esclarecidos e pudemos presenciar uma verdadeira guerra entre estados e municípios por um ganho virtual, posto lá no futuro, como se fossa algo que existisse hoje. 

O esquema começou a expor suas fragilidades com o desabar do valor das ações de Eike, amigo do Rei, Batista, devido à baixa produtividade do poço explorado. Logo foi para os relatórios técnicos da Petrobras onde fica dito que tem mais água no Elixir do que o esperado, explicando a baixa produtividade dos poços da estatal.
Agora uma matéria do Financial Times "A euforia do petróleo brasileiro passou", faz uma análise bem pessimista obre o futuro do setor no Brasil e critica a falta de viabilidade econômica das reservas petrolíferas locais. A crítica fica centrada na excessiva ingerência do governo, somente quem fez parceria com a Petrobras se deu bem, e numa reação ao problema com a Chevron. Nitidamente é uma encomenda feita com a finalidade de defender os negócios da empresa, mas nem por isso deixa de tocar num ponto sensível que é a confiança dos agentes econômicos do exterior, que realmente não parecem tão ansiosos como se esperava anteriormente. Claro que essa queda da ansiedade tem raízes na permanência da crise , mas é bom não descartar que, mais uma vez, questões institucionais interferem também. Atitudes de estilo bolivariano têm seus impactos nas referências estratégicas de grupos que precisam investir milhões de dólares ao longo de muito anos seguidos. Diferentemente do automóvel, suas cadeias produtivas são sócias permanentes do Capitalismo de Estado brasileiro, o petróleo sempre foi um tema politicamente sensível e aqui o Estatuto da Propriedade pode ser bem fluído. 

A célere entrada da Venezuela para o Mercosul tem como uma boa explicação o desmonte do Estatuto da Propriedade naquele país gerando um intenso processo de desindustrialização pela via da desconfiança dos agentes econômicos. 

Enfim e por tudo parece que o governo tão poderá mais contar com seu Elixir milagroso para arrebanhar corações e mentes, mesmo que Dilma continue lançando navios e plataformas ao mar.

Convém ainda um último registro: Interessante observar que muitos poucos, durante os momentos de euforia pré-sal se preocuparam com a qualidade da proposta que em si mesma é um aprofundamento do modelo de alto consumo de carbono, justamente na contramão de todo o debate ambiental atual. 

Demetrio Carneiro

quinta-feira, 19 de julho de 2012

ENTREVISTA, RESUMO, DO NOVO CHEFE DE GOVERNO DA LÍBIA

A entrevista abaixo, repercutida por César Maia, é muito interessante, especialmente por falar na constituição de um Estado Religioso. A reparar que o presidente não fala em imposição, mas assunção de uma cultura presente na população, embora e infelizmente ele não acredite que possa haver minorias “não-religiosas”. 


Outro aspecto também interessante está nesse trecho: 
“Nossos temas devem ser soberania, unidade territorial, inclusão social e política, desenvolvimento regional e descentralização do governo. Não precisamos de muitos ministérios. Teremos o básico: Economia e Petróleo, Relações Exteriores, Defesa, Interior. Os demais, todos os que tiverem relação com serviços públicos, devem estar associados aos municípios. As pessoas sentirão que estarão controlando suas vidas. Quando falamos na Constituição, precisamos ter claro que as pessoas precisam se reconhecer nela. Nossa identidade de muçulmanos e moderados deve estar nela, como sempre esteve em nossa sociedade.” 


Este Estado recém nascido segue por caminhos federativos, descentralização da estrutura de poder, que não tivemos qualquer condição de trilhar, embora ainda estejamos na obrigação de fazê-lo, se pretendermos ter um dia instituições mais democráticas que as atuais... 

Demetrio Carneiro 

TRECHOS DA POSITIVA E SURPREENDENTE ENTREVISTA DO NOVO CHEFE DE GOVERNO DA LÍBIA AO ESTADO DE SP (15)!

Mahmoud Jibril. Doutor em ciências políticas pela Universidade de Pittsburgh, nos EUA, ele foi presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT) durante o levante contra Kadafi. Nessa função, encontrou-se com os principais líderes mundiais e conseguiu apoio político e militar para a revolta armada que tomou Trípoli há quase 11 meses. Jibril é hoje líder da Aliança de Forças Nacionais, vitoriosa nas eleições, e tornou-se o homem mais poderoso da nascente democracia líbia.

1. A Líbia era um país que saía de uma revolução, com uma grande lacuna em sua cultura democrática causada por um regime autoritário de 42 anos. Os líbios não conheciam o comportamento democrático. O que vimos, porém, foi o povo em massa nas ruas, fazendo fila nos locais de votação e celebrando nas ruas um processo democrático totalmente transparente. Como? Ninguém pode explicar o que aconteceu com o país. Eu não esperava que a eleição fosse ser tão transparente. A organização foi quase perfeita. Foi como se estivéssemos realizando eleições em Paris, Roma ou Washington.

2. Ao longo da história, eleições só ocorriam quando existia um Estado organizado, com Forças Armadas preparadas, com polícia presente, com uma Justiça ativa e forte, que regulasse os eventuais excessos. Esse é o guarda-chuva que sempre garantiu eleições corretas. Na Líbia, fizemos eleições em condições totalmente adversas, sem um Estado organizado e com uma população armada. Deveria ser muito perigoso, muito sensível, mas não foi. A única explicação que tenho é que a sociedade decidiu participar sem armas, com um comportamento cidadão.

3. A maior parte da população da Líbia pertence a uma mesma corrente moderada do Islã, com exceção de nossos irmãos berberes, que pertencem a outra corrente, também moderada. Seguimos essa orientação desde a chegada do islamismo ao país. Até aqui, se discutia que tipo de Islã queríamos. Creio que os líbios se deram conta de que são uma população muçulmana homogênea desde sempre. Talvez sejamos a única sociedade no norte da África 100% muçulmana. Por que deveríamos colocar esse tema no centro de nossas discussões, se todos estamos de acordo sobre que tipo de religião queremos? Alguns grupos islâmicos quiseram impor essa agenda de discussões, tentando criar uma fratura entre quem seria ou não realmente muçulmano. Mas a população rejeitou esse discurso.

4. O regime de Kadafi criticou muito fortemente o islamismo político durante os 42 anos. A população soube reconhecer, na campanha eleitoral, que havia um islamismo político. Mas não acho que a Líbia possa ser comparada com Tunísia ou Egito, onde a Irmandade Muçulmana atua desde 1938. Na Líbia, eles não tiveram a oportunidade de amadurecer sua organização nem de lhe dar experiência política. No Egito, a Irmandade Muçulmana tinha um papel econômico e oferecia atendimento de saúde e educação quase de graça. Eram serviços à população que, de certa forma, criavam um vínculo de dependência social e econômica e lhes dava um papel quase inevitável na vida de cada cidadão. Isso não ocorreu na Líbia, mesmo que tivéssemos serviços públicos calamitosos.

5. Esses rótulos não são saudáveis. Não temos nada a ver com ideologia. Essa coalizão não fala de ideologias. Quem é liberal vai às ruas e diz que é liberal. Há alguns partidos liberais, que na campanha se apresentaram como liberais. Mas esse não é o nosso caso. Não somos liberais. Por que as pessoas tentam nos rotular assim? Respeitamos todas as ideologias, mas essa não é a nossa. No liberalismo, fala-se de liberdade, igualdade. Mas, muitos séculos antes da Revolução Francesa, o Islã já falava desses princípios universais. Todos nós buscamos a liberdade.

6. O Islã afirma que não há autoridade além da de Deus. Todas as autoridades que criamos como intermediárias não têm o mesmo valor para nós. O que falamos é da liberdade mais absoluta. As outras ideologias pregam o respeito aos intermediários: a lei, a Constituição. No Islã, aprendemos a temer apenas a Deus. Essa é nossa principal liberdade. O rótulo liberal não é útil. Precisamos de todas as forças políticas para construir o país. Temos de construir um Estado, uma Justiça, uma polícia eficiente, Forças Armadas dignas. Quando tivermos um Estado, discutiremos tendências políticas. Agora, precisamos trabalhar juntos. Por isso, falamos em coalizão, não em competição.

7. Nossos temas devem ser soberania, unidade territorial, inclusão social e política, desenvolvimento regional e descentralização do governo. Não precisamos de muitos ministérios. Teremos o básico: Economia e Petróleo, Relações Exteriores, Defesa, Interior. Os demais, todos os que tiverem relação com serviços públicos, devem estar associados aos municípios. As pessoas sentirão que estarão controlando suas vidas. Quando falamos na Constituição, precisamos ter claro que as pessoas precisam se reconhecer nela. Nossa identidade de muçulmanos e moderados deve estar nela, como sempre esteve em nossa sociedade.

8. A sharia (lei islâmica) tornou-se parte de nossa identidade. Tudo o que contrariar nossa visão comum do Islã não deve ser incluído na Constituição. Por outro lado, ninguém deve impor sua própria visão da sharia à Constituição. O que os líbios escolherem será o correto, porque eles são o sujeito da Constituição. Bares, álcool, prostituição e coisas do tipo devem ser rejeitadas, porque não são aceitas pelas pessoas nas ruas. É nesse sentido que digo: uma parte da sharia está internalizada em nossa consciência. É uma questão de comportamento. Há pessoas que não rezam na Líbia. No entanto, quando chega o Ramadã, eles aderem, porque a sociedade inteira adere. É constrangedor não aderir. Por isso, nossa concepção do Islã e da sharia já faz parte de nossa sociedade. Rejeitar na Constituição os princípios da sharia, que são aceitos por todos, seria artificial e contraproducente.

DAS OBRIGAÇÕES DOS DICIONÁRIOS

Cruzando por acaso com uma notícia de fevereiro passado: MPF quer tirar de circulação dicionário de Houaiss.

A história começa quando ciganos ou seus descendentes protestam junto ao MPF pelo fato do dicionário definir cigano como sinônimo de trapaceiro, velhaco etc. É no mínimo curioso que um promotor imagine que está defendendo a sociedade ao exigir que se retire de um dicionário um termo de domínio público.

Na leitura da autoridade "Trata-se de um dicionário. Ninguém duvida da veracidade do que ali encontra. Sequer questiona. Aquele sentido, extremamente pejorativo, será internalizado, levando à formação de uma postura interna pré-concebida em relação a uma etnia que deveria, por força de lei, ser respeitada", acrescentou o procurador.".

Como Houaiss já faleceu talvez ele pretenda que os herdeiros anexem, quem sabe, um vídeo pedagógico, uma aula de Moral e Cívica, quem sabe?, explicando que o termo é empregado em todo o Brasil como sinônimo dessas coisas etc., mas que não é politicamente correto etc. Ou talvez fosse melhor mesmo suprimir termo, quem seba assim as pessoas não "esqueceriam" e na outra ponta surgisse nos próximos anos a correta conceituação?

Não sei como terminou o assunto, mas certamente é um bom exemplo do quanto o Estado não deve intervir em certas questões. Um dicionário apenas reflete os fatos e fatos são fatos. A comunidade cigana brasileira tem todo o direito de protestar. O MP pode ajudar pressionando o governo para campanhas de esclarecimento sobre esta minoria. Contudo suprimir os fatos não muda nada, mas ajuda muito a consolidar uma falsa leitura de que o Estado é mágico e ele não é...

Demetrio Carneiro

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A QUEM SERVE UM CONGRESSO SUBSERVIENTE?


O Congresso Nacional escapou de boa ontem ao recusar que a LDO 2013 trouxesse agrande novidade de não haver mais necessidade de uma lei orçamentáriaautorizativa para os investimentos do governo federal. Seria a maravilha das maravilhas, pois o executivo federal não precisaria mais explicar de onde viriam os recursos, para onde iriam e como seriam gastos. A inocente ideia-base era a da “aceleração” dos projetos e obras do PAC, como se por um acaso o problema do PAC não fosse de gerência e sim o legislativo. Felizmente souberam reagir e não compraram a proposta abertamente inconstitucional.


Deveria haver um Guiness Book para as MPs do governo brasileiro. Se houvesse certamente esta MP, uma MP!, estaria figurando nos primeiro lugares. A MP altera 8 diferentes leis e revoga parcialmente outras 5. Mas tem mais...

Cria um Fundo de Garantia à Exportação, com um aporte de R$ 14 bi, gerados por emissão de dívida pública, dados à União para ser dele cotista. Cria um outro Fundo Garantidor, dessa vez para as obras do PAC e PPPs, com a participação da União como cotista e aporte de R$ 11 bi, sem que se diga de onde virá o recurso. Para fechar com chave de ouro cria a Agência Brasileira Gestora de Fundos e Garantias – de teve seu nome mudado para Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias – que na realidade é uma agência de resseguros dos fundos garantidores ao mesmo tempo de seguradora direta de diversos riscos como o imobiliário, riscos de exportação, infraestrutura/PAC, micro-pequenas-médias empresas, riscos na agricultura, aquacultura e florestas. Para finalizar a agência fica autorizada a patrocinar entidade fechada de previdência complementar, certamente para todos os muitos empregos a serem criados por toda a estrutura governamental de seguradoras de risco. Só não explicam, mais uma vez, de onde virão os recursos necessários para manter toda essa máquina em andamento.

Longe de mim querer considerar que o seguro de riscos não é necessário, principalmente quando era uma justa reclamação na questão das PPPs e seu Fundo Garantir. Sabemos todos que o governo federal simplesmente não tem ma menor condição de triplicar ou quadruplicar as necessidades de investimento na Infraestrutura, como de fato é necessário, e que é preciso atrair a iniciativa privada brasileira e de outros países e que isso só funciona se houver mecanismos institucionais eficientes.

Não se trata disso, mas novamente da discussão sobre o papel da casa dos representantes do povo nessa república presidencialista centralizada no poder executivo.

A pergunta que fica é: a quem interessa um Congresso submisso? Certamente vaiinteressar aos 191- mais de um terço da casa, se não erro - parlamentares querespondem a inquéritos ou ações penais do STF. Essas damas e cavaleiros não estão lá passeando e gozando do bom clima de Brasília. Precisam manter muito bem azeitadas as suas máquinas de reeleição de forma a garantirem a impunidade eterna ou ao menos até que seus crimes prescrevam.Sem dúvida interessa aos outros fisiológicos que mesmo não correndo o risco de punição estão de corpo e alma no neopatrimonialismo dominante. Interessa ao governo que passa praticamente tudo o que quer e tão acostumado está que nem se preocupa mais em avaliar a legalidade das medidas que envia. Finalmente, interessa a toda uma coalizão de governo que permeia a sociedade civil, está na iniciativa privada, e vive às custas da sombra do Poder.

Há muito se discute uma forma de limitar as MP, mas falta convicção à maioria do Congresso. Parece que a eles não interessa. Interessa a nós eleitores.

Abaixo a explicação da ementa, conforme está no site da Câmara. Para quem quiser ler eu facilitei separando os 17 blocos de diferentes assuntos.

Demetrio Carneiro

1) Altera a Lei nº 12.096/2009 para autorizar a União a conceder subvenção econômica, sob a modalidade de equalização de taxas de juros, nas operações de financiamento contratadas até 31 de dezembro de 2013: I - ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES destinadas à aquisição e produção de bens de capital, incluídos componentes e serviços tecnológicos relacionados à produção de bens de consumo para exportação, ao setor de energia elétrica, a estruturas para exportação de granéis líquidos, a projetos de engenharia, à inovação tecnológica e a projetos de investimento destinados à constituição de capacidade tecnológica e produtiva em setores de alta intensidade de conhecimento e engenharia. O valor total dos financiamentos subvencionados pela União é limitado ao montante de até R$ 227.000.000.000,00 (duzentos e vinte e sete bilhões de reais). Ato do Poder Executivo disporá sobre composição e competências de conselho interministerial responsável pela aprovação da elegibilidade dos projetos de investimento destinados à constituição de capacidade tecnológica e produtiva em setores de alta intensidade de conhecimento e engenharia, para fins de concessão da subvenção econômica.
2) Altera a Lei no 12.453/2011, para autorizar a União a conceder crédito ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, no montante de até R$ 100.000.000,000,00 (cem bilhões de reais), em condições financeiras e contratuais a serem definidos pelo Ministro de Estado da Fazenda.
3) Altera a Lei no 9.529/1997 para definir exportação indireta, para fins de acesso a linhas externas de crédito comercial, a venda de insumos que integrem o processo produtivo, o de montagem e o de embalagem de mercadorias destinadas à exportação, desde que a empresa exportadora final, adquirente declare que os insumos serão utilizados em qualquer dos processos referidos neste artigo. Considera-se exportação indireta, também, a venda a empresas comerciais exportadoras de bens destinados a exportação.
4) Altera a Lei nº 11.529/2007 para autorizar a União a conceder subvenção econômica, sob as modalidades de equalização de taxas de juros e de concessão de bônus de adimplência sobre os juros, nas operações de financiamento destinadas às empresas dos setores de: frutas in natura e processadas; pedras ornamentais; fabricação de produtos têxteis; confecção de artigos do vestuário e acessórios; preparação de couros e fabricação de artefatos de couro e artigos para viagem de couro; fabricação de calçados; fabricação de produtos de madeira; fabricação de artefatos de madeira, palha, cortiça, vime e material trançado; fertilizantes e defensivos agrícolas; fabricação de produtos cerâmicos; fabricação de bens de capital, exceto veículos automotores para transporte de cargas e passageiros, embarcações, aeronaves, vagões e locomotivas ferroviários e metroviários, tratores, colheitadeiras e máquinas rodoviárias; fabricação de material eletrônico e de comunicações; fabricação de equipamentos de informática e periféricos; fabricação de peças e acessórios para veículos automotores; ajudas técnicas e tecnologias assistivas às pessoas com deficiência; fabricação de móveis; fabricação de brinquedos e jogos recreativos; fabricação de instrumentos e materiais para uso médico e odontológico e de artigos ópticos; atividades dos serviços de tecnologia da informação, inclusive software; e transformados plásticos.
5) Altera a Medida Provisória no 2.157-5/2001 que “cria a Agência de Desenvolvimento do Nordeste - ADENE, extingue a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE, e dá outras providências” para dispor que o montante de recursos resultante do produto do retorno das operações de financiamentos concedidos será destinado anualmente o percentual de um inteiro e cinco décimos por cento, para custeio de atividades em pesquisa, desenvolvimento e tecnologia de interesse do desenvolvimento regional, a ser aplicado na forma definida pelo Conselho Deliberativo.
6) Altera a Lei nº 7.972/1989 para dispor que nos contratos de empréstimos relativos a operações de crédito com recursos orçamentários e de fundos e programas de fomento sob a administração do Ministério da Fazenda, os instrumentos da contratação serão submetidos ao exame prévio da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional que poderá, inclusive, analisar instrumentos de contratação padrão, relativos a operações de crédito da mesma espécie.
7) Altera a Lei nº 10.260/2001, que dispõe sobre o Fundo de Financiamento ao estudante do Ensino Superior, para dispor que as instituições de ensino participarão do risco do financiamento, na condição de devedores solidários, nos seguintes limites percentuais: VI – b) trinta por cento por operação contratada, sobre parcela não garantida por fundos instituídos para as instituições de ensino inadimplentes com as obrigações tributárias federais; c) quinze por cento por operação contratada, sobre parcela não garantida por fundos instituídos para as instituições de ensino adimplentes com as obrigações tributárias federais.
8) Dispõe que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE terá prazo até 30 de junho de 2013 para assumir o papel de agente operador dos contratos de financiamento formalizados no âmbito do FIES até o dia 14 de janeiro de 2010, cabendo à Caixa Econômica Federal, durante esse prazo, dar continuidade ao desempenho das atribuições decorrentes do encargo.
9) Altera a Lei nº 12.087/2009 para criar o Conselho de Participação em fundos garantidores de risco de crédito para micro, pequenas e médias empresas e em operações de crédito educativo, órgão colegiado, que terá sua composição e competência estabelecida em ato do Poder Executivo.
10) Autoriza a União, por meio de ato do Poder Executivo e observada a equivalência econômica da operação, a emitir títulos da dívida pública mobiliária federal, sob a forma de colocação direta, em substituição a ações de sociedades de economia mista federais de tidas pelo Fundo de Garantia à Exportação - FGE. Autoriza a União a participar, na qualidade de cotista, no limite total de R$ 14.000.000.000,00 (quatorze bilhões de reais), de fundos que, atendidos os requisitos fixados nesta Medida Provisória, tenham por finalidade garantir: I - o risco comercial em operações de crédito ao comércio exterior com prazo total superior a dois anos; II - o risco político e extraordinário em operações de crédito ao comércio exterior de qualquer prazo; e III - o risco de descumprimento de obrigações contratuais referentes a operações de exportação de bens ou serviços sob as formas de garantias previstas em Estatuto. A integralização de cotas pela União será autorizada por decreto e se realizará, a critério do Ministro de Estado da Fazenda. Dispõe que tais fundos terão natureza privada e patrimônio próprio separado do patrimônio dos cotistas e da administradora, serão sujeitos a direitos e obrigações próprias, não contarão com qualquer tipo de garantia ou aval por parte do poder público e responderão por suas obrigações até o limite dos bens e direitos integrantes do seu patrimônio. Estabelece que a administradora e os cotistas não responderão por qualquer obrigação dos fundos dedicados a operações de comércio exterior, salvo, no caso dos cotistas, pela integralização das cotas que subscreverem. Os fundos não poderão pagar rendimentos a seus cotistas, assegurando-se a qualquer deles o direito de requerer o resgate total ou parcial de suas respectivas cotas, fazendo-se a liquidação com base na situação patrimonial dos fundos, vedado o resgate de cotas em valor superior ao montante de recursos financeiros disponíveis ainda não vinculados às garantias já contratadas, nos termos dos respectivos estatutos. Dispõe que a dissolução dos fundos fica condicionada à prévia quitação da totalidade dos débitos garantidos ou à liberação das garantias pelos beneficiários e pelas instituições ou entidades concedentes do crédito. Dissolvidos os fundos, o seu patrimônio será distribuído entre os cotistas, na proporção de suas cotas, com base na situação patrimonial na data da dissolução. Cria o Conselho de Participação em Fundos Garantidores de Operações de Comércio Exterior, órgão colegiado integrante da estrutura básica do Ministério da Fazenda, que terá sua composição e competência estabelecidas em ato do Poder Executivo. A participação da União em fundos depende do prévio exame dos respectivos estatutos por esse Conselho.
11) Autoriza a União a participar, na qualidade de cotista, no limite total de R$ 11.000.000.000,00 (onze bilhões de reais), do fundo garantidor para cobertura de riscos relacionados às operações de: I - projetos de infra-estrutura de grande vulto constantes do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC ou de programas estratégicos definidos em ato do Poder Executivo; II - projetos de financiamento à construção naval; III - operações de crédito para o setor de aviação civil; IV - projetos resultantes de parcerias público-privadas na forma da Lei no11.079, de 30 de dezembro de 2004; e V - outros programas estratégicos ligados a operações de infraestrutura definidos por ato do Poder Executivo. Cria o Conselho de Participação de Fundos Garantidores para Cobertura de Riscos em Operações de Projetos de Infraestrutura de Grande Vulto, órgão colegiado integrante da estrutura básica do Ministério da Fazenda, que terá sua composição e competência estabelecidas em ato do Poder Executivo.
12) Autoriza o Poder Executivo autorizado a criar empresa pública, sob a forma de sociedade anônima, denominada Agência Brasileira Gestora de Fundos e Garantias S.A. - ABGF, vinculada ao Ministério da Fazenda, com prazo de duração indeterminado. A ABGF terá sede e foro em Brasília. A ABGF terá por objeto: I - a concessão de garantias contra riscos: a) de morte e invalidez permanente - MIP do mutuário, em operações de crédito habitacional no âmbito de programas ou instituições oficiais; b) de danos físicos ao imóvel - DFI, em operações de crédito habitacional no âmbito de programas ou instituições oficiais; c) de crédito, em operações de crédito habitacional, no âmbito de programas ou instituições oficiais; d) comerciais, em operações de crédito ao comércio exterior com prazo superior a dois anos; e) políticos e extraordinários, em operações de crédito ao comércio exterior de qualquer prazo; f) de descumprimento de obrigações contratuais referentes a operações de exportação de bens ou serviços, conforme garantias previstas em Estatuto; g) de crédito, em operações de aquisição de máquinas e implementos agrícolas, no âmbito de programas ou instituições oficiais; h) de crédito, em operações a microempreendedores individuais, autônomos, micro, pequenas e médias empresas; e i) de crédito educativo no âmbito de programas ou instituições oficiais. II - a constituição, administração, gestão e representação de fundos garantidores; e III - a constituição, administração, gestão e representação de fundos que tenham por único objetivo a cobertura suplementar dos riscos de seguro rural nas modalidades agrícola, pecuária, aquícola e florestal, desde que autorizada pela legislação aplicável aos seguros privados, observadas as disposições estabelecidas pelo órgão regulador de seguros. A ABGF será constituída pela Assembleia Geral de Acionistas, a ser convocada pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. A ABGF será dirigida por um Conselho de Administração e uma Diretoria Executiva. Os membros da Diretoria Executiva serão escolhidos dentre pessoas de ilibada reputação e de notória competência, eleitos e destituíveis pelo Conselho de Administração. . Fica a ABGF autorizada a patrocinar entidade fechada de previdência complementar, na forma da legislação vigente. Aplica-se à ABGF, observadas as peculiaridades técnicas, contratuais e operacionais de suas atividades, bem como a viabillização do cumprimento do seu objeto, a legislação aplicável às sociedades seguradoras, inclusive no que se refere ao regime disciplinar, intervenção, liquidação, mandato e responsabilidade de administradores, observadas as disposições do órgão regulador de seguros.
13) Revoga o § 8º do art. 29 da Lei nº 10.637/2002 (que dispõe que a incidência do IPI ficará suspensa no caso de venda de matérias-primas, produtos intermediários e materiais de embalagem destinados a pessoa jurídica preponderantemente exportadora).
14) Revoga o § 10 do art. 40 da Lei nº 10.865/2004 (que dispõe que a incidência da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS ficará suspensa no caso de venda de matérias-primas, produtos intermediários e materiais de embalagem destinados a pessoa jurídica preponderantemente exportadora.).
15) Revoga o § 2º do art. 2º e § 5º do art. 13, da Lei nº 11.196/2005 (Art. 2º - É beneficiária do Repes a pessoa jurídica que exerça preponderantemente as atividades de desenvolvimento de software ou de prestação de serviços de tecnologia da informação, e que, por ocasião da sua opção pelo Repes, assuma compromisso de exportação igual ou superior a 60% (sessenta por cento) de sua receita bruta anual decorrente da venda dos bens e serviços de que trata este artigo. § 2º - O Poder Executivo poderá reduzir para até 50% (cinqüenta por cento) o percentual de que trata o caput deste artigo.) (Art. 13 - É beneficiária do Recap a pessoa jurídica preponderantemente exportadora, assim considerada aquela cuja receita bruta decorrente de exportação para o exterior, no ano-calendário imediatamente anterior à adesão ao Recap, houver sido igual ou superior a 70% (setenta por cento) de sua receita bruta total de venda de bens e serviços no período e que assuma compromisso de manter esse percentual de exportação durante o período de 2 (dois) anos-calendário. § 5º - O Poder Executivo poderá reduzir para até 60% (sessenta por cento) os percentuais de que tratam o caput e o § 2o deste artigo.).
16) Revoga o art. 9º da Lei nº 12.545/2011 (Fica a União autorizada a conceder subvenção econômica, sob as modalidades de equalização de taxas de juros e de concessão de bônus de adimplência sobre os juros, nas operações de financiamento destinadas especificamente: I - às empresas dos setores de pedras ornamentais, beneficiamento de madeira, beneficiamento de couro, calçados e artefatos de couro, têxtil, de confecção, inclusive linha lar, móveis de madeira, fertilizantes e defensivos agrícolas, frutas in natura e processadas, cerâmicas, software e prestação de serviços de tecnologia da informação, ajudas técnicas e tecnologias assistivas às pessoas com deficiência, autopeças e bens de capital, exceto veículos automotores para transporte de cargas e passageiros, embarcações, aeronaves, vagões e locomotivas ferroviários e metroviários, tratores, colheitadeiras e máquinas rodoviárias;).
17) Revoga o parágrafo único do art. 6º e o parágrafo único do art. 7º da Medida Provisória nº 2.156-5, de 2011 (Art. 6o O Fundo de Desenvolvimento do Nordeste terá o Banco do Nordeste do Brasil S.A. como agente operador com as seguintes competências:... Parágrafo único. O Conselho Deliberativo disporá sobre a remuneração do agente operador, inclusive sobre as condições de assunção dos riscos de cada projeto de investimento.) (Art. 7º A participação do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste nos projetos de investimento será realizada conforme dispuser o regulamento a ser aprovado pelo Conselho Deliberativo. Parágrafo único. A participação referida no caput será representada por debêntures conversíveis em ações, cujo exercício pela ADENE fica limitado a cinqüenta por cento da participação.).

terça-feira, 17 de julho de 2012

LDO 2013: EMASCULAÇÃO DO CONGRESSO NACIONAL?

É evidente que as leis orçamentárias são complexas e bastante técnicas, assim como é evidente que o Poder Executivo usa brechas legais no seu próprio interesse discricionário, mas a nossa Constituição Federal é bem objetiva ao garantir a necessária transparência dos atos orçamentários, assim como sua subordinação ao escrutínio legislativo. 

A decisão expressa no Parecer Final da Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional assumindo a proposta do Poder Executivo e permitindo a execução das obras do PAC, mesmo sem a existência de uma Lei Orçamentária que autorize as despesas, é INCONSTITUCIONAL. 

É isso que a Lei Orçamentária deve fazer, entre outras coisas: autorizar o gasto. Não é uma mera burocracia. É a Constituição Brasileira que garante esse direito ao povo por meio de seus representantes. Estamos frente a um evidente desrespeito à Constituição Federal e a mais uma auto-emasculação do Congresso brasileiro, que se transforma em criatura dócil do centralismo executivo. 

É histórica, mesmo após 1988, a intervenção do Poder Executivo no sentido de afastar do Congresso Nacional sua prerrogativa de controlador do processo orçamentário em nome da população brasileira. Mais e mais parlamentares aceitam e forçam negociações de oportunidade entorno de emendas para as suas bases de votos e menos e menos discutem as qualidades e finalidades da intenção orçamentária e, inclusive, seus vínculos com a atividade de planejamento público. A visão é que o processo de adoçar a boca dos parlamentares mata na fonte qualquer tendência mais crítica e permite passar pelo legislativo o que o Executivo preferir ou pretender. 

Aconteceu ao remeterem uma LDO 2013 sem Anexo de Metas, transformando o PAC no anexo. O que já é uma ilegalidade, demonstrada pela Nota Técnica Conjunta nº02/2012 das Consultorias de Orçamento da Câmara e do Senado. Agora completa-se a coisa ao retirar do processo orçamentário a execução do PAC. É bom observar que antes já fizeram do PPA 2012-2015 um resumão do PAC. E antes disso ainda os valores gastos nas obras do PAC passaram a poder ser abatidos do valor de Superávit Primário previsto. Há uma lógica aqui que precisa ser percebida. 

O singelo argumento é de que estar na lei autorizatória orçamentária prejudica a velocidade das obras. Estamos falando de cerca de R$ 55 bilhões que o governo já tenta “liberar” das amarras do processo licitatório. Agora também quer não ter que ter autorização legislativa para gastar. Quantas outras Deltas mais teremos em nosso futuro? 

Quem acompanha minimamente as notícias sabe bem do projeto midiático por trás da proposta do PAC, carro chefe da eleição de Dilma e das seguidas provas de incompetência gerencial. Percebe o interesse executivo em transformar a gestão pública num grande show pirotécnico com finalidades eleitorais. 

Os parlamentares brasileiros precisam entender os sinais e serem capazes de perceber que se não se portam como defensores das instituições logo não haverá instituição para defender. As ações do Executivo precisam ser controladas pelo bem da República e do povo brasileiro. 

Demetrio Carneiro

quarta-feira, 11 de julho de 2012

AS FALAS OPOSTAS SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL

Um dos debates mais intensos na questão ambiental tem sido entre os diversos grupos pró e contra os argumentos do aquecimento global. Não muito comum entre nós, nos EUA a coisa pega fogo e envolve, inclusive, a participação de empresas, pois a questão da reestruturação da economia dentro da perspectiva da sustentabilidade envolve interesses econômicos e valores astronômicos. 

Já havíamos relatado, no Alternativa Brasil, a partir de um comentário no Economist’s View, sobre o Painel da reunião Lindau para laureados do prêmio Nobel na área de física e sobre as falas – pró e contra - dos dois professores mencionados. 

Agora as falas opostas repercutem em outro artigo no Jornal da Ciência e no Portal do Ecodebate.

Demetrio Carneiro 

 Prêmio Nobel diz que é preciso ‘esperar alguns anos’ para colher resultados da Rio+20 

Conselheiro para temas de Ciência e Tecnologia do presidente Barack Obama, o cientista mexicano Mario Molina critica o físico Ivar Giaever, conhecido por negar que as mudanças climáticas possam ser causadas por ações humanas. 

“A Rio+20 não foi exatamente um bom exemplo de progresso nas discussões. Acho que poderemos fazer alguns acordos internacionais, mas não agora, temos que esperar uns anos mais”. Assim o cientista mexicano Mario Molina, Prêmio Nobel de Química em 1995, resumiu a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20, que ocorreu no mês passado, no Rio de Janeiro. Ele participou de diversas discussões relacionadas a temas de meio ambiente durante o 62º Lindau Nobel Laureate Meeting, evento que reuniu 27 ganhadores do Prêmio Nobel e 592 jovens cientistas em Lindau, no sul da Alemanha, de 1º a 6 de julho. 

Químico de formação, Molina tornou-se célebre por descobrir que os clorofluorcarbonetos (CFC) são nocivos à camada de ozônio. Em 1995, ele dividiu o Prêmio Nobel com Paul Crutzen e Sherwood Rowland “por seu trabalho na química atmosférica, em especial a que estuda a formação e decomposição da camada de ozônio”. Para Molina, a Rio+20 foi prejudicada pela conjuntura atual na economia mundial, afetada pela crise, mas funcionou como uma “chamada para despertar” a consciência das pessoas. 

“A mensagem mais forte é que se não nos preocuparmos com o meio ambiente, o custo será muito maior, será mais difícil realizar o desenvolvimento econômico”, ressalta, lembrando que é importante estimular o trabalho conjunto de cientistas e economistas. “Precisamos nos comunicar mais entre nós e com a sociedade para repassar que precisamos fazer mais sacrifícios para resolver o problema”, pontua. 

Conselheiro do Governo do presidente Barack Obama para temas de Ciência e Tecnologia (Molina construiu uma sólida carreira nos Estados Unidos), ele aponta a política interna dos EUA como um dos principais entraves para acordos internacionais, especialmente as forças dentro do Partido Republicano. Porém, afirma que dentro dessa ilha conservadora há representantes “com ideias mais racionais que as linhas de seu partido” e lembra que cerca de metade da população americana “está pronta para aceitar mudanças” nos padrões de comportamento. “Isso me faz mais otimista”, conta. 

Polêmica – Ele acredita na teoria que relaciona as atuais tragédias provocadas por enchentes, furacões e outros fenômenos naturais a atividade humana e crê que esse tipo de acontecimento “vai empurrar a sociedade a reagir”. Perguntado sobre o que acha das opiniões de físico Ivar Giaever, que, em sua conferência em Lindau classificou como uma “nova religião” a questão do aquecimento global, Molina não pensou duas vezes em criticar o cientista norueguês. 

“Infelizmente, o doutor Giaever ganhou um Prêmio Nobel em um campo da Física que não tem nada a ver com mudanças climáticas. Ele mostrou em sua palestra que não sabe nada de mudanças climáticas, cometeu erros enormes, então, é uma pena”, opina. Premiado com o Nobel de Física em 1973 por suas experiências com semi e supercondutores, Giaever hoje virou uma referência entre os cientistas que negam a influência das ações humanas nas mudanças climáticas. 

Giaever trata como “casos isolados” tragédias como o furacão Katrina em Nova Orleans. “Eu gostaria de sentar e conversar com ele, introduzir um pouco de consciência para que ele pesquise mais. Não basta entrar na internet e buscar uns dados por alguns minutos, você deve explorar a literatura científica. Acho que foi muito embaraçoso ter um Prêmio Nobel prestando esse papel ridículo”, dispara Molina. 

Hidrelétricas – O cientista mexicano opinou também sobre outro tema controverso, a construção de hidrelétricas, em especial as que envolvem deslocamentos de população e uso de áreas produtivas. “Todas as mudanças têm algum impacto e a expectativa é que os positivos se sobressaiam. A energia hidrelétrica tem o lado bom de não contaminar o meio ambiente, mas é preciso fazer isso de forma adequada”, opina. 

Molina conta que a “tendência moderna” nesse campo é construir mini-hidrelétricas, para justamente minimizar essas consequências. “Em nosso continente [América Latina] não exploramos o potencial de mini-hidrelétricas. No entanto, o que realmente precisamos priorizar é a não utilização de combustíveis fósseis. Ainda que seja um custo adicional no momento, ele é muito menor que o dano que vai causar”, reforça. Ele acredita que a América Latina precisa “parar de importar porcarias” e padrões de tecnologia que muitas vezes funcionam apenas nos países mais desenvolvidos. “O continente precisa estar pronto para, por exemplo, ser um piloto de desenvolvimento de energia solar. A Alemanha a usa em larga escala e não tem tanto sol quanto zonas tropicais”, ilustra, ressaltando também a importância de capacitar pessoas, promover incentivos, cooperar com países em desenvolvimento, educar o público a respeito das ameaças ao meio ambiente e remover subsídios aos combustíveis fósseis. 

Matéria de Clarissa Vasconcellos, no Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4536, publicada pelo EcoDebate, 11/07/2012

segunda-feira, 2 de julho de 2012

RANDERS: A QUESTÃO DA PRUDÊNCIA VERSUS A QUESTÃO DA NEGLIGÊNCIA QUANDO O ASSUNTO É O FUTURO E AS GERAÇÕES FUTURAS



Publicado em junho o livro 2052: A GLOBAL FORECAST FOR THE NEXT FORTY YEARS é um trabalho coletivo, coordenado pelo professor Jorgen Randers da Bl Norwegian Bussiness School, especialista em questões climáticas e planejamento de cenários e pode ser visto como um novo relatório do Clube de Roma.

O professor esteve no Brasil no início de maio deste ano, depois de lançar o livro, para depoimento no Congresso Nacional referente a preparação para a Rio + 20.

Trata-se de um estudo feito por 30 pensadores nos mais variados campos e tem o objetivo de atualizar o famoso estudo do Clube de Roma de quarenta anos atrás intitulado "Os limites do crescimento", que já questionava o modelo de crescimento permanente.

Desta vez, o diagnóstico é conclusivo: a Humanidade vem se excedendo no uso dos recursos da Terra. A maneira atual de vida não pode ser mantida para as futuras gerações, e está a exigir modificações significativas para evitar colapsos locais antes de 2052.

O estudo admite que o processo de adaptação da Humanidade às limitações do planeta já começou, mas a resposta talvez seja lenta demais. A China é considerada um exemplo de país que sabe agir na direção certa, e por isso chegará a 2052 bem preparada.

O estudo alerta que continuamos a emitir todos os anos duas vezes mais gases do efeito estufa do que os oceanos e florestas podem absorver. Em consequência, as concentrações de CO2 na atmosfera continuarão aumentando, fazendo com que a temperatura aumente em dois graus até 2052.

Se esse processo não for controlado, em 2080 as temperaturas terão aumentado em 2,8 graus centígrados - nível suficiente para iniciar um aquecimento global autossustentado e, talvez, irreverssível.

Segundo o texto, a principal causa da incapacidade de resolver hoje problemas futuros é o modelo imediatista, com foco político e econômico no curto prazo.

Randers defende um sistema de governança de mais longo prazo. No entanto, é pessimista quanto aos resultados, pois não acredita que os governos adotem uma regulamentação que obrigue os mercados a investir em soluções climaticamente corretas, e, segundo ele, não devemos acreditar que os mercados trabalharão em benefício da Humanidade.

As previsões do documento do Clube de Roma sobre a economia global também não são nada animadoras. As atuais economias dominantes, especialmente os Estados Unidos, entrarão em estagnação, e países como os que formam os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) terão progressos, mas o PIB mundial crescerá muito mais lentamente, devido à redução do crescimento da produtividade em economias mais maduras. Em 2052, ainda haverá 3 bilhões de pobres no mundo.

Ao fim de tudo o texto pode ser visto como um recado: As predições podem não estar 100% certas, mas a prudência em respeito às gerações futuras recomenda atenção ao assunto e a busca de soluções.

Abaixo a tradução livre do prefácio de 2052. O livro, em inglês, pode ser facilmente adquirido, para kindle, na Amazon.com, por um preço muito acessível.

Demetrio Carneiro

2052: UMA PREVISÃO GLOBAL PARA OS PRÓXIMOS 40 ANOS

Sub título: Um informe para as comemorações dos quarenta anos do “Limites do crescimento” do Clube de Roma.
Prefácio
O QUE O FUTURO TRARÁ?
O presidente Vlaclav Ravel, da República Tcheca, frente a jornalistas antes de presidir uma importante reunião para evitar guerra na antiga Iugoslávia:
Sua excelência, o sr. é um otimista?
Longa pausa.
Não, eu não sou um otimista no sentido de que tudo irá bem. Mas também não sou um pessimista no sentido de que tudo irá dar errado. Eu tenho esperança. Sem esperança não há progresso. A esperança é tão importante quanto a vida.

Quarenta anos atrás meus colegas e eu gastamos dois anos trabalhando ativamente em nossos escritórios no MIT. Foi uma longa e difícil reflexão sobre o futuro – sob a liderança de Dennis L. Meadows, com a coparticipação de Donnale H. Meadows – voltada para a produção daquilo que se tornou um pequeno e defamado livro: Os limites do crescimento.
Esse livro era uma análise de cenários por meio da qual tentávamos responder a questão: “O que irá ocorrer nos próximos 130 anos, caso a humanidade decida seguir certas orientações?”. Por exemplo, “o que irá acontecer se a sociedade global continuar a perseguir o crescimento econômico sem uma ênfase especial no controle populacional?”. Ou “o que irá acontecer se a humanidade resolver focar seus imensos recursos tecnológicos (e algum dinheiro) desenvolvendo uma agricultura ambientalmente benigna em escala global?”. Produzimos diferentes desenhos do futuro. Alguns descreviam futuros onde as coisas estavam erradas; outros descreviam futuros onde a situação estaria bem melhor para os seres humanos.
Mas não produzimos um prognóstico. Não tentamos dizer, de forma atualizada, o que viria a ocorrer no século que viria. A razão é que não acreditávamos que isso poderia ser feito de forma científica. Muitas coisas poderiam ocorrem no longo século entre 1970 e 2100, de forma que não tínhamos como escolher um possível futuro em detrimentos de outros possíveis futuros.
Contudo fizemos uma análise de cenários. Tentamos dizer alguma coisa sobre os resultados esperados de vários conjuntos de políticas. Tentamos descrever os efeitos prováveis do uso de recursos da sociedade para acelerar soluções tecnológicas para os óbvios problemas daquele tempo: crescimento populacional, desabastecimento de alimentos, escassez de recursos e a emergência dos danos ambientais. Usamos modelos computacionais para nos auxiliarem dando uma ideia do que poderia ocorrer se a humanidade decidisse ultrapassar um limite máximo possível no consumo per capita ou no número de crianças nascidas por mulher.
Tentamos fazer esses vários cenários – novos quadros do futuro- internamente consistentes. Tentamos garantir que o desenvolvimento populacional fosse logicamente consistente com o tamanho desejado de família e que esse tamanho fosse consistente com a educação e a saúde possíveis de serem ofertados. Tentamos que as soluções técnicas que assumimos não ocorressem espontaneamente nos cenários traçados, mas que se dessem somente após décadas de pesquisas, desenvolvimento e testes-piloto. Para evitar conflito entre as diversas previsões transferimos todas para o modelo no computador. Esse mesmo modelo nos ajudou a eliminar as inferências ilógicas do conjunto completo de previsões.
A conclusão mais importante de nosso exercício nos anos 1970 era a de que  sem grandes mudanças  a humanidade estaria condenada a um crescimento perigosamente para além dos limites físicos do planeta. Essa conclusão foi baseada na observação (auto-evidente para nós, mas não para todos) de que levaria um tempo para a humanidade resolver as prementes questões originadas na finitude (óbvia para nós, mas não para todos) do planeta. Levaria um tempo para identificar, um tempo para aceitar que isso fosse real, um tempo para resolver isso e um tempo para implementar a nova solução. A primeira parte – o intervalo entre a observação e a aceitação – tornava provável (para nós e não para todos) que a humanidade acabasse crescendo em tamanho e impacto físico além da capacidade sustentável de carregamento do ecossistema global. Esse longo intervalo de tempo poderia eventualmente levar a, e estimular, o que chamamos de overshoot(1). Especialmente se  humanidade estiver crescendo rapidamente na direção dos limites planetários. Falando praticamente é possível que a humanidade possa reverter o overshoot em algumas situações (no caso, por exemplo, do excesso de pesca), mas ele não pode ser revertido se os fundamentos forem destruídos (se, por exemplo, não houver mais peixes).
 [1] Nota da tradução - overshoot é uma situação na qual o uso excessivo de um recurso natural pode esgotar a sua capacidade de reposição, recuperação.
O MUNDO ENTRARÁ EM COLAPSO?
Uma vez que tenhamos chegado ao estado de overshoot só há duas possibilidades de retornar ao território sustentável: a redução gerenciada[2] [managed decline em inglês – nota de tradução] introduzindo de forma ordenada uma nova solução (peixes criados em fazendas de peixes) ou o colapso (você para de comer peixe por que eles não existem mais – o fim da atividade de pesca, como ocorreu em Newfoundland em 1992). O overshoot não se sustenta. Se você insiste em persegui-lo problemas intransponíveis irão aparecer, no curto prazo. Certamente esses problemas irão gerar forte motivação para que se identifique e coloque em ação novas soluções. Entretanto uma nova solução não ocorre da noite para o dia, mas apenas após “um intervalo entre a solução e sua implementação”, que facilmente pode significar uma década. Então, quando você inicia um processo semelhante, às vésperas do esgotamento, corre o risco de se alimentar com os últimos peixes existentes antes de aparecer uma nova solução. Esta é a mensagem real de Os Limites do crescimento em 1972.
Nas décadas seguintes a sua publicação a lenta resposta humana aos problemas do clima nos ofereceram uma ilustração privilegiada no que se refira ao contexto abordado por aquela mensagem. O problema foi primeiramente identificado nos anos 1960, o Painel Intergovernamental da Mudança Climática foi organizado em 1988 para fornecer uma visão científica e o Protocolo de Kioto foi criando em 1997. Contudo – e depois de 40 anos – ainda não constatamos a redução, em valores anuais, dos gases do efeito estufa. A humanidade permanece num sólido caminho de overshoot (emitindo o dobro de CO2 do que pode ser absorvido pelos oceanos e florestas) e podemos discernir claros sinais da gradual destruição dos ecossistemas, que nos fornecem um conjunto de serviços dos quais a humanidade depende para sobreviver. A redução gerenciada é discutida conferência após conferência, mas com poucos efeitos práticos sobre as emissões.
Nos cenários de Os Limites do Crescimento o overshoot e o colapso eram um futuro possível que meus colegas e eu considerávamos passível de ser evitado por meio de uma nova, ampla, política progressista. Dado que os perigos potencias do crescimento sem fim e os lapsos na solução fossem compreendidos, uma rápida  ação poderia ser iniciada. De forma racional, baseados nos dados mais acurados disponíveis, pensávamos ser possível, aumentando o grau de conscientização das pessoas, reduzir os intervalos e mudar a obscura avaliação do futuro.
Infelizmente não está tão óbvio que os últimos quarenta anos tenham dado suporte ao nosso otimismo juvenil. Mas de qualquer forma Os Limites do Crescimento definiu instrumentos conceituais para um esclarecedor debate – embora ele jamais tenha se realizado.
[2] Nota da tradução - managed decline em inglês
UMA CONJECTURA CONSISTENTE[3]
Neste livro farei algo totalmente diferente. Com grande ajuda de meus novos amigos (“novos” no sentido de que os que contribuíram para este livro não estavam no grupo original de 1972, à excessão de William W. Behrens) irei tentar fazer uma previsão do que irá ocorrer nos próximos quarenta anos. Parcialmente para satisfazer minha própria curiosidade. Parcialmente no intuito de provocar a ação da sociedade. Produzir uma previsão é uma tarefa difícil e pode não se realizar com muita precisão. Inúmeras coisas podem ocorrer entre agora e 2052, cujo resultado não pode ser previsível no sentido científico – isto é sem que haja um grau de incerteza entorno da afirmação feita. Existem numerosos futuros possíveis. Muito são prováveis, outros são improváveis.
Então não posso produzir uma previsão científica – no sentido de que isso se dará na forma autoritária de minha escolha, pois é o que eu imagino que tem mais probabilidade de ocorrer. Contudo e afortunadamente é possível fazer uma conjectura. Melhor ainda uma conjectura consistente, que, minimamente, possa estar fundada em fatos existentes e que seja internamente consistente. Ou seja não contraditória em si mesma.
Este livro contém minha conjectura consistente. Não é uma verdade científica. Esse tipo de verdade não existe no campo do futuro. É um julgamento refinado, um julgamento bem informado. Pessoalmente estou convicto de estar certo, embora não tenha como provar. Mas também não se poderá provar que estou errado até que estejamos realmente em meio ao caminho que nos leva a 2052.
[3] Nota de tradução o termo que o autor usa é educated gess, mas o sentido é que embora não seja uma verdade científica se cerca dos melhores elementos para traçar uma predição.