quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O REVANCHISMO DOS DERROTADOS

Esclareço que participei da luta contra a ditadura militar do primeiro ao último dia, portanto me sinto inteiramente à vontade para o comentário que vem abaixo:

Quando, em um Congresso em plena clandestinidade, os militantes do Partido Comunista Brasileiro reafirmaram, num processo que começou em agosto de 1954, que abdicavam do conjunto de conceitos que envolvem o conceito maior de Ditadura do Proletariado e consideraram que a tomada violenta do poder não seria uma opção de luta política, os anos mais duros da repressão ainda não haviam chegado. Mais à frente militantes e dirigentes seriam presos, torturados e assassinados. Contudo, nem isto tirou o PCB de sua rota na luta democrática. Para todos nós a democracia já havia deixado de ser apenas um meio de fazer o jogo político. Ela era a própria finalidade do jogo político. Ali estávamos, todos que fizemos parte deste processo, reafirmando a esquerda democrática brasileira.
Naqueles momentos negros de nossa história os grupos que ainda se mantinham presos ao projeto da Ditadura do Proletariado e da tomada violenta do poder, definiam a esquerda democrática como revisionista, direitista, aliada da ditadura, entreguista e mais outras dezenas de rotulações fáceis.
O PCB permaneceu firme em seus intentos, articulou alianças e participou ativamente do processo de recondução de nossa nação à democracia. A esquerda radical partiu para a luta armada E FOI DERROTADA em seu projeto principal.
O afastamento de parcelas significativas da esquerda democrática do governo Lula teve como reflexo negativo a ocupação de espaços pelos oriundos da luta armada.
Derrotados nos campos de batalha a maioria dos ativistas da luta armada jamais fez uma verdadeira auto-crítica de sua aventura “revolucionária”, jamais reconheceram o erro que os levou a sacrificar dezenas de vidas. Na realidade se pretendem heróis de seu fracasso. Não são. Não falam em nome de povo brasileiro, jamais falaram.
São estes derrotados de ontem que agora querem ganhar no tapetão, ou melhor na pseudo ignorância presidencial, e desestabilizar um acordo consensual, QUE FOI AMPLAMENTE RESPALDADO PELA SOCIEDADE BRASILEIRA, a Lei de Anistia.
Utilizam a cumplicidade de Lula e a artimanha do Decreto por saberem que uma lei como está não passa no Congresso Nacional.
Desestabilizar com qual intenção?
O que pretendem de fato?
Quais as verdadeiras intenções deste grupo?
O Sr. Vannuchi se levasse a sério seu trabalho deveria é se preocupar com a absurda, orientada e interessada assimetria entre os benefícios concedidos por conta de Lei de Anistia.
Demetrio Carneiro

A CORRUPÇÃO COMO UM MAL DIRETO...E INDIRETO




“Escusado será dizer, um estado tão corrupto como a Rússia está longe de ser forte, é disfuncional e fraco. A corrupção é uma ameaça sistêmica para a qualidade da educação, saúde, bem como a estabilidade do estado como um todo. A incapacidade do governo para realizar projetos de infra-estrutura é um bom exemplo de sua fraqueza fundamental. O país sofre uma escassez de mão de obra qualificada, porque muito do sistema de ensino tem sido corroído pela corrupção e o governo não fez qualquer tentativa de limpá-lo.
Ironicamente, a maior esperança de que nada será feito contra a corrupção vem dos amigos, ex-KGB, do alto escalão de Putin, que agora estão prendendo uns aos outros, e as suas ligações mafiosas com a corrupção. Como livrar-se dos concorrentes é o caminho mais seguro para o poder político, esta pode vir a ser uma das armas mais eficazes para combater a corrupção.”



O texto acima é a parte final de um artigo intitulado “There Is Nothing Normal About Corruption”, publicado no site do Peterson Institute for International Economics. Obviamente fala da Rússia de Putim (23 de abril de 2008). Mas também nos passa alguma coisa de importante.
Não me refiro ao método de extermínio de corruptos via a emulação entre eles. Se bem que não seria nada mal aplicá-lo aqui em nossos tristes trópicos.
Trata-se do primeiro parágrafo.
É uma lógica bem elementar e pouco percebida se ficamos apenas no lado moral do discurso contra a corrupção: A ineficiência da ação pública.
“A corrupção é uma ameaça sistêmica para a qualidade da educação, saúde, bem como a estabilidade do estado como um todo.”


O custo mensurável da corrupção


A corrupção não tem seu custo apenas no que há de mensurável, que é o custo direto. Por exemplo, os 10% colocados como sobre preço de um bem ou serviço e que será destinado ao agente público em forma de agrado.
Com base nestas contas poderíamos chegar a um dado valor de PIB.
Ou por meio de informações cruzadas poderíamos montar um índice de percepção de corrupção, que aliás existe, de países mais ou menos emaranhados na corrupção. Lembrando que este índice é derivado da percepção da população local quanto à corrupção que parece existir no país, a posição do Brasil é a 75ª, para 2008, numa lista de 180 nações. Com todos os traumas as populações da Croácia, Montenegro e Ghana, por exemplo, acham seus governos menos corruptos. Alguns diriam que esta foi a grande contribuição do PT à história brasileira: Todos são corruptos quando se trata da relação com o Estado. Certamente tem uma mensagem de cinismo, mas a de baixa auto-estima é maior.
Ou talvez façamos como o Banco Mundial que chegou a quantificar uma relação entre investimentos públicos e desvio de recursos. Segundo estudo feito na década de 80 ou 90 do século passado, confesso que não me lembro da data, de cada dólar empregado em investimentos apenas trinta centavos chegavam de fato na ponta final, em certos países da África. O resto ficava pelo meio do caminho, nas mãos dos diversos agentes públicos. De fato, a súbita riqueza de políticos profissionais, incluindo seus entornos, sejam amantes ou assessores, ou de funcionários públicos, é um elemento de presença constante. O Brasil tem uma enorme lista de milionários que ganharam na loteria do Estado.
Enfim, se se tratasse de quantificar nosso problema estaria resolvido.


O custo não mensurável da corrupção


Nossa questão é que a corrupção gera um efeito indireto e este pouco quantificável. O corruptor do agente público compra, no mesmo pacote, o direito à ineficiência.
É uma lógica semelhante às famosas operações “tapa-buraco” muito comuns em nosso país. Não se trata de construir estradas que durem. Construir estradas que não durem é muito mais interessante, pois tapar buracos é muito mais lucrativo para as empreiteiras. O agente público, interessado no ganho, vai sempre optar pelo quebra galho.
Existe, então, um custo adicional para corromper o agente, mas haverá um custo muito maior que se refletirá na baixa qualidade das estradas. A baixa qualidade refletirá no custo dos transportes que refletirá no custo de venda dos produtos afetando o poder de compra de famílias e empresas e tornando menos competitiva nossa exportação.
É uma longa cadeia de reflexos que começam lá na primeira ponta quando o funcionário público embolsa o seu tico-tico. No fim do dia o tico-tico é a menor parte do prejuízo nacional.
O irônico é que a corrupção gerando ineficiência aumenta os custos e aumentando o preço final aumenta a arrecadação de tributos.


Perdedores e ganhadores


Só há um verdadeiro grupo de perdedores: As famílias e empresas. Como diz o ditado “quem não chora não mama”.
Se famílias e empresas não se movimentam não haverá mecanismo imaginável que elimine a corrupção no setor público.


O burocracia e a corrupção


Claro que poderemos buscar medidas práticas. Um estudo sobre corrupção no Brasil chamava atenção para o problema de que a corrupção não seria uma questão do quanto ganha o agente público, lembrem que um argumento para o agente público ganhar mais é justamente dificultar sua corrupção, mas sim o grau de dificuldade criado pelas normas burocráticas para empresas e famílias chegarem a alguma solução quando de uma pendência com o governo. Enfim, quanto mais difícil for eu obter o que quero, mas evidente estará meu interesse em pedir ao agente para quebrar um galho e lhe dar um por fora.
Um Estado cartorial e de viés burocrático como o brasileiro é um excelente local para o estímulo à práticas de corrupção. Qualquer um que já tenha lidado com a nossa burocracia governamental sabe disto. O exemplo mais recente está na legislação sobre as Reservas Legais de Propriedade nas Áreas de Proteção Ambiental, item da Lei das Florestas. Desafio qualquer cidadão brasileiro a tentar obter nos institutos de proteção ambiental estaduais a certificação, obrigatória na lei, por conta própria. O detalhe é que a compra e venda de imóveis com áreas de preservação permanente está bloqueada até que se averbe o documento, estando os donos de imóveis rurais nesta situação sujeitos a multas. Outro detalhe, pelo menos aqui no DF, é que o jogo foi zerado. Mesmo quem já tenha feito todo o trabalho de agrimensura anteriormente terá que refazê-lo, pois os somente os agrimensores registrados no TJDF(?) serão reconhecidos. Como o registro é novo...
Na época da ditadura houve uma preocupação em desburocratizar o Estado, muita coisa foi feita, mas é como o reconhecimento de assinatura em cartório. O Brasil é um dos poucos países no mundo onde isto é necessário. Já houve tempo que havia sido abolido o reconhecimento, mas é evidente que uma estrutura que garante ganhos milionários não pode ficar de fora. Todo o debate sobre a PEC dos Cartórios e o embate entre “concursados” e herdeiros do direito parece ser um debate sobre a CF, mas é mais um debate sobre quem vai meter a mão na grana do otário que é obrigado a “reconhecer” uma firma que já está posta em um documento de fé pública, as carteiras de identidade obrigatórias no Brasil, na suposição de que os agentes de cartório são “especialistas” em diferenciar assinaturas.
Talvez a discussão sobre corrupção devesse recomeçar onde parou na ditadura, embora também devamos registrar o trabalho feito e não concluído durante o governo FHC: O desmonte da imensa estrutura burocrática e cartorial do Estado.


A distorção republicana e federativa


Uma revisão das relações de poder dentro do pacto republicano e federativo não seria má idéia.
A concentração da capacidade arrecadatória no poder central executivo dá a atual métrica das relações republicanas e federativas.
O desastre do governo Collor mostrou que a formação de maiorias absolutas estáveis é uma meta de gestão, mesmo que alcançar esta meta signifique negociações que envolvam cargos e recursos públicos. Comprar posições no poder legislativo passou a ser uma estratégia. Não custa lembrar que o legislativo deve ser visto como o espaço da negociação e não da feira. Estas compra de posições legitimada, conhecida e pública não difere tanto do ato tradicional de corrupção. De certa forma é o gestor público se apropriando de recursos públicos com uma finalidade que é privada: A manutenção de sua estrutura pessoal de poder. Há uma intenção hegemonizante aqui e, portanto, nada democrática.
A corrente de transmissão entre governo central, estaduais e municípios tem uma extrema importância nas relações de dominação e subordinação dentro da federação. Praticamente não existe prefeito que tenha coragem de agir como oposição à situação no plano do governo estadual ou do poder central. Ajuda muito o fato que de as transferências voluntárias federais exercem um importante papel dentro do orçamento municipal. De outro lado prefeituras acabam parceiras e sócias nos programas federais que já chegam aos municípios “resolvidos”. A política de emendas parlamentares acaba gerando um link com a questão das maiorias estáveis no legislativo. Novamente a necessidade de hegemonização se faz presente, novamente o mecanismo não difere tanto da corrupção e novamente é uma solução nada democrática.
Se há uma “solução” por este lado será numa rediscussão sobre a competência arrecadatória e o papel dos municípios na construção de políticas públicas de viés local e não regional ou federal.


Passos a se dar


A muitos passos possíveis no combate à corrupção, mas boa parte deles passa por uma funda revisão do Estado, do governo e da gestão pública. Estes espaços de poder envolvem interesses múltiplos e tem funda reação com o poder real.
Difícil imaginar uma agenda de transformações profundas se ela não passar por ai.


Demetrio Carneiro

2010


2010 está ai.
É um ano de muitas expectativas.
Para alguns mudar tudo. Para outros mudar nada.
Certo que Deus ajuda, mas a gente tem que dar uma mãozinha.
Demetrio Carneiro

Amanhã

Quando vem o amanhã incerto
E a certeza me faz ver o inverso
Já não tenho o mesmo medo de me repetir
A verdade disso tudo é o que me faz seguir
Não vou mudar em vão
Pra que mentir
Se os dias vem e vão...








quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

NOVAMENTE O SPREAD BANCÁRIO



No meio do debate sobre o tamanho do spread bancário o Banco Central do Brasil divulgou informações que, basicamente, assinalam a sua queda, acentuada para as pessoas físicas, e a redução da taxa de inadimplência. A mesma fala projeta, ainda, para 2010, a retração da participação dos bancos públicos no mercado de crédito, a ampliação da participação do setor privado e principalmente, uma fortíssima expansão da participação dos bancos do resto do mundo.


A notícia repercutiu na mídia e foi destaque dos principais jornais brasileiros.


É conveniente observar que estas quedas pontuais do spread são exatamente isto: Quedas pontuais.


Com a economia recuperando seu ritmo é natural que haja recuo nos spreads, na taxa de inadimplência e na relação entre crédito público, privado e de bancos estrangeiros. Estes dados podem servir, no máximo, como indicadores da recuperação econômica.


A forte queda dos spreads do crédito ao consumidor, com recuo aos níveis do século passado não quer dizer que os níveis do século passado eram, pelo menos, razoáveis.


Os problemas do spread na economia brasileira são estruturais e só serão resolvidos com o aumento da competição entre bancos. Todos são unânimes em reconhecer a altíssima liquidez do sistema de crédito internacional. Ela não se reflete em nosso país pela simples existência de um oligopólio bancário, autorizado e estimulado pelo governo brasileiro como parte de sua estratégia de consolidação deste modelo econômico.


Para 2010 ser “o ano do investimento” conforme disse Lula recentemente ainda falta muita coisa. À parte da concorrência desleal da expansão extrema da política de gasto público que, na equação macroeconômica, retira espaço para o investimento privado, num contexto onde o investimento público tem direcionamento eleitoral, a questão da formação do oligopólio bancário deve ser vista de forma objetiva. Investimento se faz com recursos próprios ou antecipação de ingresso futuro via tomada de crédito junto aos agentes financeiros. Tomar crédito de agentes financeiros implica em computar esses custos. Simples: Altos custos de crédito podem comprometer o ganho futuro. Projetos assim não decolam.


Demetrio Carneiro

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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

REINALDO AZEVEDO: PT PRIVATIZOU A CEF!

Assistia a um filme com as minhas filhas (Dona Reinalda preferiu um livro),  que foi interrompido por uma propaganda da Caixa Econômica Federal  - uma das incontáveis intervenções  de estatais ou do próprio governo . O país permite esta sem-vergonhice, que é a propaganda oficial. Governos, nas três esferas, deveriam “se comunicar” com a população para anunciar serviços ou dar instruções a respeito deles. Nada mais. Mas não faremos a coisa certa nisso também. Se falta o devido apuro ético para acabar com essa bandalheira, ele não excederia na propaganda propriamente dita, não é mesmo?
E lá foi ao ar a mensagem da Caixa, exaltando as “conquistas” do pré-sal e a Olimpíada de 2016. E então me indagou a mais velha, indagação já com uma ponta de escárnio, com aquela inclinação, felizmente, para o maldizer: “O que é que o pré-sal e a Olimpíada têm a ver com a Caixa? Isso não é campanha eleitoral, Reinaldo Azevedo? Deveria ser proibido fazer propaganda para não anunciar nada”.
Ela me chama de “pai”, claro. O “Reinaldo Azevedo” de sua fala era parte da ironia; ela faz assim quando brinca de convocar, em família, o meu lado, digamos, “profissional”. E eu: “Sim, senhora M…C…, trata-se da mais descarada, óbvia e indecente campanha eleitoral. Até porque, se você reparar, daqui a pouco, entra a propaganda de uma mineradora e depois a de um banco privado. E todos eles exaltando, em consonância com a patriotada oficial, os valores do povo.  Parece que nem o banco nem a CEF vendem produtos bancários; parece que a mineradora não tira ferro da terra; até parece que todos eles estão ocupados unicamente em dar lições de moral, civismo, nacionalismo - e, obviamente governismo”.
Mas, aos 15 anos, os espíritos são realmente inquietos: “Isso não é ilegal, não?” E eu respondi que sim. “Entendi. Então vai ver eles fazem por isso. Se fosse legal, acho que eles não fariam”. Eu juro! As coisas aconteceram assim mesmo. Essa é a minha filha cética. Já contei aqui. Leu Hamlet para a escola e achou Polônio um bobalhão. “Mas M… C…, você não reparou que ele era um cara racional, um negociador, em meio a um monte de gente atormentada?”, perguntei, um tanto orgulhoso do meu papel de instrutor de uma jovem fazendo suas descobertas políticas. A resposta, confesso, me deixou mudo por alguns instantes: “Ah, pai, dava pra sacar que, com Hamlet, não iria adiantar, né? Era perda de tempo.” Era perda de tempo.
Aprendi, assim, que, com efeito, não adianta mobilizar os idiotas para a causa da razão. Como não adianta convocar um exército de injustos para a causa da justiça. Mas isso fica para outra hora. Volto para a questão da propaganda. Depois da CEF, da Vale, do Bradesco, do Banco do Brasil, da Ford, da Brahma, entre outras, a exaltar o Brasil grande, único, sem par, que parece ter sido fundado ontem, veio a inserção sobre Lula, O Filho do Brasil, que estréia no dia 1º. É aquela fita que dispensou incentivos da Lei Rouanet porque as empresas que amam o Brasil, muitas delas pertencentes a setores altamente regulados, faziam fila para dar a sua contribuição à arte.  Ainda não vi. Mas até amigos de esquerda ficaram com vergonha.
Não quero me desviar do principal. As empresas privadas - ou quase - façam o que quiserem do seu dinheiro. Indecente é que empresas publicas levem ao ar uma propaganda que repete a linguagem - incluindo as palavras de ordem - da propaganda oficial e do próprio PT em suas inserções na televisão. Trata-se, obviamente, de um abuso.
Aí os petralhas tentam zombar, com aquele senso de humor que lhes brota entre o casco e a ferradura “Mas você não se cansa de denunciar abusos?” Não!  Não enquanto “eles” não se cansarem de praticá-los. Imaginem se o Ministério Público já não teria gritado “Fogo, fogo na floresta!” se os petistas estivessem na oposição.
Nunca antes nestepaiz o estado e as empresas estatais foram tão instrumentalizadas a serviço dos poderosos da hora. E nunca é “nunca” mesmo - incluindo as ditaduras do Estado Novo e militar. Quando não fala a propaganda oficial, fala o próprio dirigente de uma estatal, a exemplo  daquela “entrevista” concedida por Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, ao Estadão.
Qual a utilidade de escrever textos como este? Dizer a verdade e deixar o registro histórico!!! Para um jornalista, é o bastante. Os homens de estado e os políticos que se encarreguem de tomar as providências legais.

Clarisse Lispector: Direto ao ponto!

ESCREVO PELA INCAPACIDADE DE ENTENDER, SEM SER ATRAVÉS DO PROCESSO DE ESCREVER.
A descoberta do mundo

ELEIÇÕES DE 2010 E O MERCADO MUNDIAL DE CARBONO



No último dia 22 o Marginal Revolution lançou uma pequena nota comentando a rápida queda (8,3%) das Licenças da União Européia para a emissão de carbono, logo no primeiro dia de negociações da European Climate Exchange após o encerramento da Conferência de Copenhague, dia 19 de dezembro.
A nota abre em clara crítica à fala ufanista de Obama que designou o acordo feito como um passo sem precedentes para diminuir o aquecimento global. A forma como o mercado precificou para baixo o valor das licenças mostrou que a atitude do presidente não encontrava respaldo na realidade.
Um dos comentários ao post do MR, por sua vez, criticava o “mercado” ironizando que ele nunca erra, exceto no caso das hipotecas...

Nos dias posteriores ficou claro que a precificação foi feita na direção correta. Notícias na mídia já apontam que a conferência trouxe resultados incertos para os participantes do Mercado de Mundial de Carbono.

O mercado de carbono apareceu quando alguns países de economia desenvolvida da Europa decidiram levar a sério a questão do aquecimento global.
O chamado “cap-and-trade” na realidade é um processo regulatório onde o Estado vende licenças para emissão de carbono ou outra atividade poluidora. Estas licenças são posteriormente negociadas no mercado. De um lado as licenças podem gerar renda adicional para políticas públicas ambientalmente mais eficientes. De outro as licenças viabilizam um sistema de trocas de autorizações onde o objetivo é a redução global da emissão de dióxido de carbono.
No caso os países se auto-atribuíram limites para a produção de dióxido de carbono e atribuíram às principais empresas poluidoras limites conexos. Portugal, por exemplo, definiu pouco mais de 200 empresas neste rol. Os limites envolvem uma meta cujo alvo é um nível de emissão futura inferior, forçando para baixo a emissão de gazes.

Muito bem. Uma empresa que não tenha meios de alterar sua planta industrial com a velocidade necessária para redução das emissões pode comprar no mercado licenças de  outra empresa que tenha obtido êxito na alteração de sua planta. A empresa que teve condições e produzir abaixo do limite imposto realiza um crédito comercializável e seu ganho vai estar na diferença entre o que terá pagado ao governo pela emissão da licença e o valor de venda para a empresa que não conseguiu ficar abaixo do limite.
Evidentemente isto indica que localmente poderá haver ainda níveis de emissão acima do estipulado como meta. Contudo a média nacional e global deverá se manter abaixo da meta.
É um sistema flexível e, na realidade, além de fornecer recurso ao governo, viabiliza um tempo para que as empresas possam ir alterando suas plantas que, evidentemente, não se alteram num curto espaço de tempo.

Lateralmente existe outra possibilidade. Atividades de captura de emissões realizadas nos países em desenvolvimento podem gerar certificações negociáveis. Como exemplo as entidades brasileiras que congregam plantadores comerciais de bambu – o bambu tem eficiência comprovada na captura de dióxido de carbono - têm estimulado seus membros a buscarem a certificação. No caso uma empresa espanhola que não tenha meios de alcançar sua meta máxima para não ter que pagar as pesadas multas ambientais pode comprar créditos de um plantador de bambu no Brasil via o mercado institucional para negociação destas licenças.

A precaução fica por conta a extensão do sistema para além das emissões de dióxido. No caso de empresas que empregam mercúrio pode ser um exemplo. Os danos ambientais causados pelo mercúrio não autorizam soluções do gênero cap-and-trade como as mais eficientes.

Há exemplos, contudo, de emprego eficiente em outros casos envolvendo produção e poluição ambiental.  
Segundo relato do Portal Economii :

Um exemplo bem sucedido Cap and Trade
Em 1995, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos tomou conhecimento ocorrências elevadas de chuva ácida no Centro-Oeste e Nordeste. Em resposta, a EPA criou o Programa da Chuva Ácida e desenvolveu o primeiro mercado baseado no sistema cap-and-trade no país.
A ocorrência de chuva ácida foi atribuída aos altos níveis de dióxido de enxofre (SO2), emitido a partir, principalmente, da queima de carvão nas usinas elétricas em todo o Centro-Oeste. Com um alvo em 2000 as fontes emissoras foram limitadas a 9,5 milhões de toneladas de SO2 (em comparação com 1980 níveis de emissão de 17,3 milhões de toneladas) e as plantas foram tornadas responsáveis por reduzir os seus níveis a esse limite a de 1995 até 2000. O EPA emitiu então para cada planta um determinado número de créditos ou licenças equivalentes, cada, a uma tonelada de emissões de SO2 . No final de cada ano, cada usina teria de informar à EPA se tinha ou não créditos suficientes para as suas emissões (ou seja, uma planta que emitiu 6.000 toneladas de SO2 teria que ter 6.000 créditos). Aqueles que estavam abaixo da meta poderiam salvar os seus créditos em excesso para o futuro ou vendê-los para outras plantas que poderiam   ir além de seu limite.
Este aspecto comercial deu as produtoras de energia incentivos financeiros para reduzir as suas emissões, porque cada crédito realizava um valor monetário no mercado livre. Se uma planta ultrapassava o seu limite e foi incapaz de comprar créditos de outras teria que pagar uma multa à EPA para cada tonelada adicional de SO2 emitidos para.
O programa da chuva ácida tem sido um sucesso incrível até hoje e teve uma grande influência na redução anual das emissões de SO2  de 17,3 milhões toneladas em 1980 para uma estimativa de 8,95 milhões de toneladas em 2010.

Na verdade do cap-and-trade é uma das propostas de solução.
O governo Obama parece mais interessado em criar um imposto direto a ser aplicado sobre as empresas poluidoras.
Este é outro formato de proposta e é evidente que há um debate de fundo ai entre “modelos” de política econômica que envolvam usar a regulação ou a intervenção direta do Estado via tributação.

Em algum momento este debate terá que chegar ao Brasil e poderá ser uma importante referência para as eleições de 2010, no que se refira a proposições e não a especulações.
Demetrio Carneiro

domingo, 27 de dezembro de 2009

SPREAD BANCÁRIO: DEBATE PELA MÍDIA



Dois dos nossos pesos pesados, FIESP e FEBRABAN, decidiram debater o spread bancário pela mídia. Nada mal...

Segunda o FIESP, utilizando a mesma metodologia do Banco Central do Brasil para a determinação do nível de spread bancário e aplicando-a a outros 39 países o Brasil está em primeiro lugar, com o custo mais caro para captação de financiamento. O estudo da FIESP afirma ainda que, mantida a média mundial para spread bancário, o nosso cairia mais de um terço.

A FEBRABAN por seu lado questiona é a informação e vê no estudo da FIESP um viés sensacionalista destinado a impactar a opinião pública favoravelmente à demanda por um custo de financiamento menor. Contudo o economista-chefe da FEBRABAN, Sardenberg, admite que o que ele chama de “spread bruto” é alto. Na lógica do economista seria um spread bancário “normal” alterado para mais por uma alta tributação e uma taxa elevada de inadimplência. “Ineficiências” da economia brasileira.   
Mais à frente o economista reconhece que os movimentos de spread comparado entre famílias e empresas é inverso. Ao passo que o spread para as famílias caiu o spread para as empresas subiu. Para este último fato desenvolve toda uma racionalidade tipo: As empresas tomadoras de empréstimos no mercado interno são as pequenas e médias que têm um custo maior etc.

Realmente o custo adicional de tributação, os índices de inadimplência reais, e não os divulgados pelo governo impactam, para mais, o spread. No final da matéria menciona o fato das empresas maiores estarem voltando ao mercado internacional de crédito. Só não explica que voltam por conta de haver fartura e custo baixo. Enfim, as pequenas e médias empresas nacionais que não têm acesso ao abundante crédito externo pagam spreads por qualquer conceito, FIESP,  FEBRABAN ou governo, alto.

Quanto ao terceiro ator desta história, o governo, outra matéria comenta uma reunião entre FHC e Malan sobre a questão do spread da época, 27,2% e compara com o spread de outubro de 2009, 26%. Dez anos e muitas bravatas depois.

A grande questão, que nenhum dos atores parece disposto a comentar, é que a competitividade não é boa apenas para as empresas, é boa também para os bancos e o nosso setor bancário não tem apenas a maior taxa de lucro do sistema bancário mundial, também tem uma das maiores taxas de concentração. Será que não tem mesmo uma relação entre formação autorizada e estimulada de oligopólios e spread bancário? Será que não tem mesmo uma relação entre spread bancário e taxa de lucro?

Estamos numa época de feriados longos. Um bom momento para refletir sobre estes assuntos.
Demetrio Carneiro

Para saber da opinião da FIESP: leia
Para saber da opinião da FEBRABAN: leia
Para saber da opinião do governo: leia

domingo, 6 de dezembro de 2009

BOLIVARISMO E SEGURANÇA CONTINENTAL



Hugo Chávez agora decidiu organizar o Serviço Bolivariano de Inteligência.
Já temos aqui entre nós a Alternativa Bolivariana-ALBA, Círculos Bolivarianos Leonel Brizola, Comitê Bolivariano etc...
Desde o início Chávez busca apresentar o bolivarismo como uma ação internacionalista e basicamente anticapitalista, não mercantil. Fala-se insistentemente de alguma coisa chamada socialismo bolivariano. É um tipo de socialismo “moreno”, baseado num Estado vertical, centralizante e poderoso, conduzido pelo “líder máximo” conceito mais parecido com a forma fascista e que tem muito pouco a haver com o socialismo moderno que busca suas bases no conjunto das forças vivas da sociedade. Procura-se um “inimigo”, encarnado nas forças do mal. Normalmente são os norte-americanos, mas nada impede que possam ser os brasileiros em algum tempo no futuro. Bastará para isso que o próximo presidente não seja do grupo.
Neste contexto a presença do Irã no continente é motivo de preocupação.
As pretensões venezuelanas e iranianas devem ser olhadas com extrema cautela.
Todo presidente acha que sua eleição é um cheque em branco. Nem sempre.
Demetrio Carneiro

A TECNOLOGIA SOCIAL DA CORRUPÇÃO


Segundo a Folha de São Paulo de ontem, 5, o homem do dinheiro na cueca, Alcyr Collaço, teria vindo de São Paulo no primeiro ano do governo Lula, 2003, com a intenção de organizar uma rede de jornais “populares” que fizesse contraponto à imprensa da época. 
A queda do esquema do mensalão petista desfez os planos e levou Alcyr a se aproximar de Roriz. 
Mais tarde aproximou-se de Arruda e, desta vez, acabou preso nas investigações do segundo mensalão.
Parece que existe uma Tecnologia Social da corrupção que vai se propagando entre os grupos, quadrilhas?, ligados aos esquemas de apropriação privada dos recursos públicos.
Demetrio Carneiro

TEORIA AMBIENTALISTA DE LULA

A OPOSIÇÃO PERDEU O DISCURSO DA ÉTICA?



O recente escândalo envolvendo os democratas e a decisão da justiça de abrir processo contra dirigente do PSDB parecem estar sinalizando que a oposição perdeu o discurso da ética.
Não podemos mais falar da situação, pois agregamos as mesmas práticas.
Seria, então, a hora de assumir o discurso de Lula no qual todos os gatos são pardos. Algum tipo de concordância de que não se faz política sem se quebrar os ovos? Estes ovos?

Não acho.
Olhando para a gestão pública a luta pela ética não é apenas uma coisa abstrata, conceitual, moral. Tem uma razão muito objetiva no como a corrupção se reflete na carga tributária e por via dela chega ao bolso dos contribuintes.
E não se trata apenas do custo direto, resultado da aplicação no preço do bem ou serviço do que se paga aos corrompidos ou do que se gasta em estadias, viagens, presentes, festas e sexo para as atividades de lobby.
Existe um outro custo, nem sempre tão fácil de visualizar: A empresa que compra seu direito ao serviço ou à venda do produto realiza seu lucro não pela via da eficiência, mas sim pela negociação. Ou seja, não é necessário ou obrigatório, que o serviço, mais que o produto, seja eficiente. A compra pressupõe a falta de controle.
Enfim, a corrupção gera uma dupla perda. Perde-se pelo valor agregado, mas também perde-se pela ineficiência embutida no processo.

Muitos defendem que gastamos relativamente pouco, ainda, com o combate à desigualdade. Sabemos todos que nossa carga tributária é extremamente alta. Em quanto será que ela cairia se a luta contra a corrupção fôsse, ela própria, mais eficiente?

Assumindo que a famosa desculpa do “caixa dois” de campanha oculta é a formação de riqueza pessoal de indivíduos, simples apropriação privada de recursos públicos, na realidade a corrupção é mais um mecanismo de concentração de renda. Desta vez patrocinado pelo próprio Estado.
Tem outra perversão curiosa. Boa parte do caixa dois de campanha destina-se à contratação das miríades de cabos eleitorais em comunidades mais pobres. A contrapartida do ingresso de amplos segmentos na democracia política via voto foi resolvida pelo populismo pela contratação de batalhões de cabos eleitorais profissionais que atuam nos meses anteriores às eleições. Os corruptos e corrompidos conhecem bem a teoria das redes sociais. Os cabos eleitorais recebem algo perto de um salário. Como mais da metade da renda de pessoas mais pobres é apropriada pela tributação o recurso desviado volta em sua maior parte para o Estado...para ser novamente desviado.

A luta contra a corrupção não acabou. Uma Reforma Política em profundidade deveria ser nossa bandeira principal, mas talvez esteja na hora de olhar para outro lado, também. Sair do discurso meramente moral e moralista, aprofundar a ação militante de cidadania. Entidades como a Transparência Brasil, as chamadas Entidades Privadas de Controle Social, devem ser multiplicadas. Esta é a luta. Esta sempre foi a luta.

No fundo nem mesmo se trata de ser oposição ou situação, mas de ser cidadão numa questão que deveria transcender a estrutura dos partidos.

Demetrio Carneiro

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

A CRISE NO DF


A derrocada do governo Arruda é a crise de um estilo de fazer política por apropriação privada dos recursos públicos.


Basicamente a desculpa tem sido o financiamento de campanhas. Supostamente para se eleger um deputado federal custa tantos milhões, um estadual tantos etc...O mesmo para eleger um governador, um prefeito etc...O esquema milionário de PC Farias nada mais era que criar um “caixa” para sustentar o projeto eleitoral do grupo Collor. O mensalão do PT e aliados tinha o mesmo objetivo. No governo Arruda o que estamos vendo é a mesma coisa.

Obviamente a única forma de utilizar recursos públicos para financiar a reeleição de grupos no poder é a corrupção. Na outra ponta é necessário que haja empresários dispostos a ratear seus lucros. Também é necessário que o custo de bens e serviços oferecidos ao setor público sejam onerados para comportar este rateio. Ganham empresários e políticos. Perde o contribuinte que é quem financia todo o esquema no fim do dia.

Uma enorme colaboração vem da inexistência de mecanismos mais eficientes de controle da sociedade. Os tradicionais mecanismos de controle social vão funcionando, nem que seja à custa de esposas traídas, funcionários decepcionados, interesses de adversários ou delação premiada, mas funcionariam bem melhor com a presença mais atenta da cidadania.

Seja como for o recado as sociedade é claro e direto. Fora do círculo dos favorecidos, gestores, candidatos, equipes de apoio, cabos eleitorais, enfim, ganhadores diretos ou indiretos do processo, não há ninguém que aceite isto. Sucessivos governos têm deixado de lado as reformas que todos sabemos necessária e, principalmente, a mais importante delas, a Reforma política.

Às vésperas de uma eleição federal em 2010, está na hora dos partidos políticos priorizarem propostas consistentes e factíveis para hoje e não para o próximo século.

Demetrio Carneiro

OS RUMOS DA ATUAL POLÍTICA FISCAL BRASILEIRA

Reproduzo abaixo post de Miriam Leitão sobre trabalho feito pelo eficiente Padovani para o banco alemão West LB. Por coincidência estive conversando com ele esta semana, em São Paulo e desta conversa combinamos uma entrevista que publicaremos brevemene.
Demetrio Carneiro

 
Governo rompe política fiscal no curto prazo

O governo segue na trajetória de rompimento da política fiscal do país no curto prazo, alerta o banco WestLB Brasil em relatório semanal. O superávit primário deverá encerrar os próximos três anos abaixo da média registrada nos últimos anos: 1,3% (2009), 2,2% (2010) e 3% (2011) do PIB.

Historicamente, o Brasil registra superávits ao redor de 3,5% do PIB. O superávit ficará abaixo dessa média apesar do forte aumento do ritmo da arrecadação, prevista em 17,2% em 2010 e 13,5% em 2011.

"Mas como o governo está criando uma série de novas metas, os investidores provavelmente vão focar mais no cumprimento dessas metas do que na figura em si. Por isso, a situação fiscal deverá ficar sob controle", avalia Roberto Padovani, estrategista-sênior do banco.

Em período de crise é natural que os governos aumentem seus gastos para incentivar a economia. O problema, como temos dito aqui, é que o governo brasileiro aumentou gastos de custeio e não de investimento.




NÓS A COP 15


O texto abaixo é de autoria de Martin Wolf, editor e comentarista do jornal Financial Times. Em português foi publicado originalmente no Valor Econômico e, hoje, 03, no portal Ecodebate .


São inúmeras apreciações. As mais importantes:

a) Não se trata de não acreditar nas previsões, pois o risco maior para as gerações futuras é não fazer nada;

b) As previsões indicam que os países emergentes, inclusive o Brasil serão os maiores responsáveis pela expansão futura da emissão da gás carbono, com a China e Índia sozinhas responsáveis por mais de 70%. Quer dizer, os emergentes fazem parte da solução;

c) Se for verdadeiro afirmar “b”, também é verdadeiro assumir que a produção dos emergentes não só tem como destino os países desenvolvidos, como é o estilo de consumo deles e o próprio passado que nos trouxeram até o presente ponto. As indústrias que lá estavam e lá principiaram e que foram transferidas dos países desenvolvidos para a periferia e que gerarem o fenômeno dos emergentes são parte do problema também;

d) Então emergentes e desenvolvidos ou trabalham na mesma direção – uns pelos problemas futuros e outros pelos atuais e presentes – buscando um consenso ou teremos que torcer para que as previsões estejam erradas...

e) Fazem parte desta busca de soluções tentar um consenso, mas também fazem parte uma mudança radical no perfil de produção e consumo. Diversos paradigmas deverão ser quebrados e uma nova base tecnológica deverá ser implementada.

Muito bem, há um desenho claro sobre o papel do Estado e do mercado, tanto num olhar para o passado, como num olhar para o futuro. Tem uma interessante discussão sobre a eficiência da tributação versus a eficiência de um sistema de trocas etc...

Há uma forte leitura sobre o papel do Estado no processo e ela sustenta um lado do debate que aponta a necessidade de reforçar a presença do Estado na economia e na sociedade em geral. Dentro do panorama latino-americano tudo muito sincronizado com a crescente onda não apenas de Estados fortes, mas de executivos fortes, que se encaixam em projetos de democracia direta e direito de maiorias que acabam na, no seu limite conceitual, em projetos populistas de corte fascista.

Se houver espaço para mais Estado esta expansão tem que se dar primeiramente pela discussão da qualidade das políticas públicas aplicadas hoje, tendo em vista o peso da carga tributária. Enfim, as escolhas feitas e as estratégias que as constroem precisarão ser rediscutidas. Mas não será o suficiente. Sem uma presença efetiva da cidadania, seja na co-gestão da organização de proposições, planejamento ou controle e avaliação de execução, não há qualquer garantia de que a gestão pública por si só seja capaz e eficiente para romper os antigos paradigmas frente à frente as demandas dos grupos de poder real.

Forte exemplo da questão é a pressão feita por setores da indústria nacional buscando um novo estilo de protecionismo estatal via controle do câmbio, quando deveriam estar buscando fontes e elementos de financiamento que criassem novas capacidades competitivas. Claro, é mais simples e mais lucrativo, buscar o guarda-chuva governamental e o apoio dos segmentos de sempre: Os nossos queridos e eternos defensores do +Estado/+gastos. Na teoria da física quântica num subnível bem elementar é possível que partículas ocupando espaço diferentes “se falem”. Existe um nível ótimo de comunicação entre estes segmentos da economia privada nacional que desde sempre acumularam seus ganhos protegidos pela ação pública e um grupo muito específico de pensadores econômicos nacionais radicalmente anti-capitalistas, aparentemente tão distantes no mundo real.

Demetrio Carneiro

Cop 15: Copennhague será o fim do começo
Não podemos depender de um armagedon econômico para reduzir emissões. Combater a ameaça das mudanças climáticas é o desafio coletivo mais complexo que a humanidade já enfrentou

O encontro em Copenhague sobre as mudanças climáticas ficará aquém das expectativas. Isso importa? Sim e não: sim, porque os argumentos a favor de agir de forma decisiva são fortes; não, porque o acordo provável será inadequado. Combater as mudanças climáticas será complicado. É crucial que atinjamos o objetivo de forma efetiva e eficiente. Os prováveis novos atrasos deveriam ser aproveitados para atingir exatamente isso.

Minha visão de que ações decisivas são justificadas é contenciosa. Os céticos oferecem dois contra-argumentos: primeiro, o de que a ciência fundamentando as mudanças climáticas é duvidosa; segundo, o de que os custos superam os benefícios.

Não é suficiente, porém, argumentar que a base científica é duvidosa. Tendo em vista os riscos, temos de estar muito seguros de que a ciência está errada antes de seguir os céticos. Se esperarmos até ter certeza de que não está, será tarde demais para agir efetivamente. Com apenas um planeta, não há como repetir experimentos.

Felizmente, as evidências sugerem que os custos para agir não devem ser proibitivos. O mais recente Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial, do Banco Mundial, argumenta que o custo de aplicar restrições mais duras sobre as emissões seria modesto. Entre os incentivos, eu ressaltaria a importância de evitar o perigo de uma catástrofe climática. Não temos o direito de assumir tais riscos.

Mesmo assim, os céticos desempenham um serviço inestimável. Eles nos lembram de continuar monitorando os desenvolvimentos climáticos. Eles nos mostram, também, que agir tem seus custos e alguns custos – deixar bilhões de pessoas na pobreza – seriam intoleráveis. Por sorte, como o Banco Mundial destaca, as pessoas pobres pouco emitem. As reduções nas emissões que seriam asseguradas por trocar a frota dos EUA de utilitários-esportivos por carros com os padrões de economia de combustível da União Europeia cobririam as emissões equivalentes ao fornecimento de eletricidade para 1,6 bilhão de pessoas atualmente sem acesso.

Embora a ação seja justificada e provavelmente não proibitivamente cara, o desafio será imenso. Como a Agência Internacional de Energia (AIE) mencionou em seu Panorama da Energia Mundial, precisaríamos “descarbonizar” o crescimento para limitar as concentrações atmosféricas de “equivalentes de CO2″ a 450 partes por milhão, o nível considerado consistente com um aumento médio de temperatura mundial em torno a 2° C. Precisaríamos fazer tudo – reduzir a demanda, expandir fontes renováveis, investir em energia nuclear, desenvolver a captura e armazenagem de carbono, trocar o carvão pelo gás e proteger as florestas – para atingir isso.

Como estamos nos saindo? Em uma palavra, horrivelmente. Apesar de todas as conversas, não apenas o estoque de emissões, mas também o fluxo, vem subindo. A recessão ajudou. Mas não podemos – e, é autoevidente, não devemos – depender de um armagedon econômico. Como ressalta a AIE, as emissões de CO2 relacionadas a fontes de energia aumentaram de 20,9 gigatoneladas (Gt), em 1990, para 28,8 Gt, em 2007. A AIE, em seu “cenário de referência”, prevê que as emissões de CO2 chegarão a 34,5 Gt, em 2020, e a 40,2 Gt, em 2030 – uma taxa média de expansão de 1,5% por ano no período. De forma crucial, os países emergentes e em desenvolvimento “representam todo o crescimento projetado nas emissões relacionadas a fontes de energia até 2030″, com 55% do aumento vindo da China e 18% da Índia.

Os argumentos para agir rapidamente para mudar essas tendências é que, de outra forma, os custos para limitar grandes aumentos de temperatura se tornariam extremamente altos ou, na pior hipótese, proibitivos. A AIE argumenta que se o objetivo é limitar as concentrações de gases causadores do efeito estufa a 450 partes por milhão, cada ano de atraso em conseguir avançar na trajetória necessária traz custos adicionais de US$ 500 bilhões a um custo mundial estimado em US$ 10,5 trilhões. Esses custos resultam da vida extraordinariamente longa dos bens de capital usados na geração de energia e na vida ainda maior do CO2 na atmosfera.

O cenário alternativo é bastante diferente: em vez de 40,2 Gt de emissões relacionadas a fontes de energia em 2030, deveríamos ter apenas 26,4 Gt. A diferença é imensa. Um estudo da European Climate Foundation mostra que os compromissos feitos antecipadamente a Copenhague não cobrirão essa diferença*. Mesmo na visão mais otimista, as propostas atuais ficam aquém em mais de 30% das reduções necessárias até 2020 na trilha para se chegar à meta de 450 partes por milhão de equivalentes de CO2.

Copenhague, então, será apenas o começo. Provavelmente, nem isso, já que o governo dos EUA não tem capacidade para fazer compromissos obrigatórios e os países em desenvolvimento não estão dispostos a fazê-los. Copenhague parece ser o fim do começo. Há algo próximo a um consenso de que o mundo deve agir. Há, igualmente, consenso de que, apesar da retórica, pouco de útil foi alcançado até agora. O momento para agir é agora – se não em Copenhague, então, pouco tempo depois.

Infelizmente, isso não significa que teremos o tipo adequado de acordo. As políticas que empregamos precisam ser tão efetivas e eficientes quanto possível. O que isso significa? Eu enfatizaria três critérios.

Primeiro, precisamos de preços para o carbono que se apliquem sobre horizontes de planejamento relevantes. Esse preço não pode ser fixado para sempre, precisa mudar de acordo com os acontecimentos. Mas precisa ser bem mais estável do que o mercado da União Europeia permite. Por esse motivo, para mim, um imposto parece ser mais atraente do que sistema de comércio de créditos.

Segundo, o local onde ocorram as reduções precisa ser descolado de quem vai pagar por isso. As reduções precisam ocorrer onde são mais eficientes. É por isso que as emissões nos países em desenvolvimento precisam ser incluídas. Mas o custo deve recair sobre os mais afluentes. Isso tanto porque eles podem arcar, como porque eles produziram a maior parte das emissões passadas.

Por fim, precisamos desenvolver e aplicar inovações em todas as tecnologias relevantes. Um relatório do instituto de estudos Bruegel sustenta, de forma persuasiva, que simplesmente elevar os preços sobre as emissões de carbono reforçaria a posição das tecnologias estabelecidas. Precisamos, da mesma forma, de subsídios em grande escala para a inovação**.

Combater a ameaça das mudanças climáticas é o desafio coletivo mais complexo que a humanidade já enfrentou. O êxito requer ações custosas e coordenadas entre vários países para lidar com uma ameaça distante, em nome das pessoas que ainda não nasceram, sob um manto de inevitáveis incertezas sobre os custos de não agir. Chegamos ao ponto, entretanto, em que há um consenso geral da natureza da ameaça e dos tipos de políticas que precisamos seguir para lidar com isso. Pode ser que não cheguemos a um acordo em Copenhague. Mas o momento de tomar uma decisão chegou. Ou agimos logo ou descobriremos se os céticos estavam certos. Se deixarmos de agir, espero que estejam. Mas tenho grandes dúvidas quanto a isso.

“Taking stock” ( “Contando estoques, em inglês) 17 de novembro de 2009, www.project-catalyst.info
“No green growth without innovation” (”Sem inovação, não há crescimento verde”), www.bruegel.org



domingo, 29 de novembro de 2009

O MUNDO COMO ELE É.


A China não terá como manter seu frenético ritmo de crescimento se for depender apenas do consumo americano ou europeu. Daí a pressão anunciada pelo Vice-Ministro do Comércio chinês, conforme o Estadão, hoje, 29.


Basicamente o Vice-Ministro solicita o fim das barreiras e salvaguardas. O argumento é muito eficiente: Se querem exportar para a China, devem importar dela.

Quando este tipo de conselho vem do nosso mais pesado parceiro comercial é conveniente começar a pensar no assunto.

Nosso problema é o mesmo das últimas décadas. Enquanto exportamos commodities para lá, importamos manufaturados. Mostrando a face generosa dos chineses o Vice-Ministro informa que poderemos importar também produtos agrícolas.

Normalmente faríamos uma passeata. Será que dá para aproveitar os velhos slogans?

Go home China. Abaixo o imperialismo chinês.

Que tal queimar a bandeira da China em praça pública?

Pois é. Parece que não é o imperialismo. É a gente.

Demetrio Carneiro

E AGORA BRASIL?


Encerradas as eleições em Honduras. O processo transcorreu com tranquilidade. Não há números disponíveis sobre a presença dos eleitores, mas parece que a campanha bolivariana do voto nulo não deu certo.



Lula informou que não há nada para revisar na posição brasileira e que Zelaya permanecerá na embaixada brasileira o tempo que achar melhor, pois corre risco de vida. Deve ser do tipo que o Battisti corre se voltar para a Itália. Por isto Zelaya continua em nossa embaixada e Battisti ficará no Brasil.


Então tá. Somos um país de almas piedosas.

Demetrio Carneiro

A QUALIDADE DO CRESCIMENTO CHINÊS

Abaixo uma tradução livre de trecho de um post publicado hoje no Marginal Revolution. É uma dura crítica ao atual crescimento chinês e parece apontar para sua falta de sustentação. É prudente dar uma olhada.

Demetrio Carneiro

Minha coluna no NYT sobre a teoria Austro-chinesa do ciclo de negócios

...um trecho dela é este:

China usa o poder de compra dos americanos para ampliar seu setor privado, enquanto os Estados Unidos usa o poder de financiamento dos chineses para expandir o seu setor público.
 
Um longo trecho é este:
 
A China tem construído fábricas e capacidade de produção em praticamente todos os setores da sua economia, mas não é evidente que a última rodada de investimentos será rentável em algum tempo no futuro. Automóveis, aço, semicondutores, cimento, alumínio e imóveis, todos os sinais de muita capacidade. Em Xangai, o distrito comercial central parece ter altas taxas de desocupação, mas a construção continua.

As autoridades chinesas já falam da necessidade de restringir o investimento em setores que estão repletos de produtos não vendidos. O mercado global já tem algum tempo não é forte e a demanda doméstica jamais esteve em primeiro lugar.

Autoridades regionais têm um incentivo para apoiar as empresas locais e as estatísticas de produção, mesmo que isso signifique o apoio a projetos ou práticas contábeis que não são sustentáveis. Para uma empresa individual, a forma padrão para obter mais recursos de capital é apresentar um plano de crescimento. Como alguns setores estão maduros e o crescimento tem sido tão difundido, todos podem fazer promessas de serem rentáveis no futuro.

Acima de tudo, há uma falta de transparência. As estatísticas da China para seu PIB se baseiam mais na atividade de produção registrada do que no que é realmente vendido. As políticas fiscal e de crédito na China são orientadas para o emprego e a estabilidade política e, portanto, as autoridades evitam revelar quais projetos são mais problemáticos ou devem ser cancelados.

Coloque tudo isso junto e há uma possibilidade muito real de problemas.