O protecionismo e o dólar apreciado criaram um reinado de ineficiências em parte bancado por recursos públicos e em parte financiado pela anterior posição do Brasil na divisão internacional do trabalho.
( tradução livre do texto publicado em 20 de maio passado). Evidentemente trás inúmeras outras questões – como, por exemplo o problema do déficit em conta corrente - mas por agora o essencial é que fica extremamente evidente que são outros tempos e que os agora superados discursos já não alcançam a complexidade que está exposta de forma evidente.
Em uma interessante matéria publicada ontem no Correio Braziliense, Brasil S/A, o articulista Antonio Machado mostra de forma muito tranquíla que esse novo formato de participação brasileira na divisão internacional do trabalho, o termo é meu e não dele, tem uma elevadíssima dose de risco de naufragar frente a todas deficiências acumuladas por décadas de uma visão errada sobre o papel do Estado na economia e no desenvolvimento que resultou em numa logística deficiente, num institucionalismo eminentemente cartorial e nocivo aos negócios, fortíssimas deficiências na formação de poupança e investimentos de longo prazo etc. Esse pontos de fato nevrálgicos e que necessitam ser abordados de forma realista e objetiva.
Falta no mundo da política quem queira dizer isso de forma explícita e direta. Incapaz de se movimentar nessas questões o governo só sabe repetir ao infinito a questão da igualdade como um mantra eleitoral e a oposição não consegue dar um passo além do jogo parlamentar mais imediato.
Demetrio Carneiro
Fluxos financeiros: As commodities são centrais para definir a relação
Quando a Repsol vendeu uma participação de 40 por cento em seu braço brasileiro para a chinesa Sinopec, no ano passado, o produtor de azeite espanhol, disse que o negócio criaria uma das maiores empresas de energia da América Latina. O negócio era um sinal das coisas por vir, com o Brasil começando a exploração do petróleo descoberto recentemente e o gás nas bacias de sua costa sudeste.
No alto mar o Brasil tem uma das maiores reservas de petróleo e gás do mundo disse a Repsol naquela hora. "O acordo destaca a enorme interesse internacional neste momento histórico para o Brasil."
A Repsol poderia ter apenas trocado facilmente a expressão "interesse internacional" para “interesse chinês”
Todos os países do mundo querem investir nos recursos naturais do Brasil e na industria agrícola, poucos são mais necessitados do que a China, carente de energia e com fome de alimentos.
Este interesse levou a China a se tornar o maior do investidor direto estrangeiro do Brasil no ano passado, uma posição que só se espera que cresça. Mas, assim como outros aspectos da relação Brasil-China, os dois países terão de concordar sobre a forma que essa nova parceria terá- em especial, o quão longe o Brasil vai estar disposto a deixar a China investir em seus recursos estratégicos e terras agriculturáveis.
"Há um grande interesse entre os executivos chineses em investir mais no Brasil. Tem que haver um ambiente favorável ao investimento estrangeiro. Dessa forma, podemos criar mais empregos no Brasil ", disse Chen Deming, ministro do comércio chinês, durante uma visita à maior economia da América Latina em maio.
A China respondeu por cerca de U $ 17 bi de investimentos diretos estrangeiros no Brasil num total de U$ 48.46 bi em 2010, ante cerca de U$ 300 milhões em 2009, de acordo com a análise da Sobeet, um grupo de analistas brasileiros.
Fusões e aquisições contribuíram com U$ 12.53 bi desse total. Disse a Dealogic, a empresa de dados. Além das oferta à Repsol, estes incluíram um investimento de U$ 3.07 bi pela Sinochem, um grupo estatal chinês, em ativos de petróleo e gás no Campo de Peregrino, no Brasil.
Outro grupo chinês, a China Oriental Escritório de Exploração Mineral e Desenvolvimento, investiu U$ 1.22bi na Itaminas Comércio de Minerais, uma empresa de mineração, enquanto o State Grid Corp of China gastou U$ 1 bi em um acordo de rede de eletricidade.
Os investimentos de empresas chinesas nos anos anteriores incluem U$ 362 mi investimento- âncora da Wuhan Iron & Steel na MMX Mineração e Metálicos, a mineradora brasileira.
Para o Brasil, esses investimentos primeiro foram bem-vindos. Mas crescentemente, eles se tornaram uma fonte de preocupação para os dirigentes políticos. Quando surgiram rumores no ano passado que empresas chinesas apoiadas por seu governo estavam se voltando para compra de glebas de terras agriculturáveis brasileiras, o governo saiu da linha.Reinterpretando a uma lei existente que introduziu restrições aos investimentos diretos estrangeiros nas explorações agrícolas.Essa lei não era ostensivamente dirigida a China. O Brasil já estava preocupado antes com a compra de terras por parte de fundos soberanos e empresas levou em consideração que fundos soberanos e empresas apoiadas por seus governos. De qualquer forma o alvo acabou sendo a China.
“Não sou o ministro das Relações Exteriores. Eu não quero criar um incidente ", disse o ministro da Agricultura, Wagner Rossi ao FT, em entrevista no início deste ano. "Alguns desses países são grandes parceiros em outras áreas, mas tê-los comprando terras no Brasil cria algum tipo de risco soberano para nós. Isso não faz parte do nossos planos e nós não vamos permitir isso. "
Nos últimos meses, a China indicou que está disposta a diversificar seus investimentos no Brasil em outras áreas além dos recursos naturais e da agricultura. Durante uma visita à China da presidente Dilma Rousseff, em abril, a Foxconn, uma empresa de Taiwan, com amplas operações na China continental, prometeu investir U$ 12 bi no Brasil na produção de artigos da Apple.
Delegação de Chen procurou reforçar essa impressão com promessas de que a Geely, uma fabricante chinês de automóveis pequenos, poderia construir uma fábrica no Brasil. Mas ele ressaltou que o Brasil deve manter a sua parte do negócio, tanto reduzindo o custo de fazer negócios para o país, como pela racionalização dos seus portos notoriamente lentos e pela melhoria de sua logística.(grifo nosso DC)
Embora o Brasil possa suspeitar dos investimentos chineses, ele precisa de fluxos adicionais de financiamento de longo prazo para ajudar a financiar seu crescente déficit em conta corrente. Com cerca de 2,3 por cento do produto interno bruto, este ainda não é alarmante. Mas se os preços das commodities caírem o déficit em conta corrente poderia deteriorar-se rapidamente, deixando o Brasil à beira de uma crise da dívida.(grifo nosso)
Muitos acreditam que por esse motivo, as relações financeiras entre o Brasil e a China só podem se reforçar.
Uma parte essencial dessa aproximação poderia ser conseguida através do aumento do uso da moeda da china continental no comércio com economias latino-americanas. Poderia ser feito através da substituição do dólar por uma cesta de moedas que a incluiria.
Fernando Pimentel, o Ministro da Indústria e Comércio do Brasil, afirmou, após reunião, o Sr. Chen: "Nós mencionado ao ministro a importância de começar uma discussão nos fóruns internacionais sobre a necessidade de mudar o padrão monetário internacional."
Muitos analistas acreditam que cedo o Brasil concluirá que seu melhor destino financeiro está ligado a China. Quando o Brasil começar a produzir petróleo a partir do seu "pré-sal" nos campos de alto mar, sua moeda se tornará ainda mais ligada às commodities e aos preços da energia.
China será um dos principais compradores desses produtos, o que significa que vai fazer sentido para as empresas brasileiras e chinesas transacionarem em renminbi e, eventualmente, poupar em renminbi.
Brasil vai se tornar parte de um "bloco renminbi" de países que utilizam a moeda chinesa para o comércio.
Tony Volpon, chefe de pesquisa da América Latina da Nomura, diz: "o petróleo do pré-sal é a grande coisa que vai acontecer no Brasil nos próximos anos e vai dobrar a aposta na China:
"Se você acha que o real é uma moeda de commodities, hoje, espere um par de anos - isso vai ser muito mais evidente."((grifo nosso)