terça-feira, 31 de maio de 2011

BRASIL, CHINA E A REPRIMARIZAÇÃO DO BRASIL!

O texto abaixo veio do mailling do César Maia e foi retirado do jornal O Clarin da Argentina.

Acho que dá um belo debate de economia enquanto política e pensamento estratégico, que saia das obviedades da "defesa da indústria nacional", de preferência por meio de subsídios, isenções e empréstimos privilegiados. Especial atenção ás últimas linhas.

Demetrio Carneiro

BRASIL, CHINA E A REPRIMARIZAÇÃO DO BRASIL!

Trechos da coluna de Jorge Castro no Clarín (29).

1. As exportações brasileiras para China totalizaram US$ 30,79 bilhões em 2010, trinta vezes mais do que dez anos antes; e nesse período, as importações da China cresceram vinte vezes (US$ 25,600 bilhões em 2010). Nos próximos 5/10 anos, o Brasil começa a exploração de jazidas petrolíferas do pré-sal. Durante este período, a China comprará mais de 40% da demanda mundial de petróleo e uma porcentagem semelhante da produção do pré-sal.

2. Ocorreu uma queda extraordinária das exportações industriais brasileiras. Eram 58% do total em 2000 e caíram para 38% em 2011. O déficit da balança industrial alcançou U$S 37 bilhões em 2010. Ao mesmo tempo, as exportações primárias (minério de ferro / soja), que eram 22% em 2000, aumentaram para 46% em 2010; e se somarmos celulose e pasta de papel, ultrapassam os 60% durante esse período. Elas dobraram em 10 anos.

3. Este processo coincide com uma extraordinária valorização de 119% do real, entre 2004 e 2011. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 45% das empresas industriais que concorrem com produtos chineses perderam participação no mercado nacional entre 2006 e 2010; e com 67% das empresas exportadoras aconteceu a mesma coisa. Os fatores por trás da perda de mercado são o alto custo de produção e a baixa produtividade / competitividade, agravada pela valorização do real.

4. Os custos de produção estão diretamente relacionados com o custo do capital, com uma taxa de juros de 12% ao ano, três vezes superior ao da China; e uma pressão impositiva que é de 37% do PIB, duas vezes e meia a da República Popular da China. E ainda há o "custo Brasil": modernização insuficiente da infraestrutura e do sistema público, baixa produtividade e altos custos de produção. O papel do Brasil no comércio internacional é essencialmente passivo; seu superávit depende do preço das commodities no mercado mundial (demanda chinesa) e não do próprio Brasil.

5. A "reprimarização" significa um retrocesso histórico; implicaria em retroceder no processo de acumulação lançado por Getúlio Vargas, consolidado por Juscelino Kubitschek e pelo regime militar O maior problema do Brasil não é a China, nem a valorização do real, mas a falta de uma visão estratégica de longo prazo, que defina prioridades e objetivos para um processo sistemático de reformas internas.

CHEGA DE HADDAD

Já passou da hora de Paulo Haddad receber as contas e desaparecer do cenário.

Por último, agora teve a ousadia, em audiência ública no Senado Federal, de chamar de "fascistas" todos os brasileiros que questionam legitimamente o direito do Ministério da Educação impigir a nossa juventude um conceito de líungua pátria completamente enviesado por uma falácia ideológica de luta da classes na língua.

O ministro da educação(?) como indivíduo pode achar o que bem entender o que ele não pode é como agente público ofender abertamnente brasileiros que lutam por manter nosso, de todos os brasileiros e brasileiras, patrimônio linguístico. O que ele não pode é usar o peso do Estado para nos obrigar a aceitar essas versões marotas da história brasileira, não pode nos obrigar a desistir de Monteiro Lobato, não pode obrigar as nossas crianças a aceitar a versão dele sobre o que é a luta contra o homofobismo e muito menos pode nos obrigar a desapreender o português sob pretextos falsos de um democratismo barato, de terceira.

Chega de farsa. O Brasil precisa de quem realmente se preocupe em vencer o nosso cada vez maior gap educacional frente até mesmo aos outros países emergentes. Precisa de uma pessoa com força e competência para implantar o ensino em horário integral. Ensino técnico de qualidade difundido em todo o teritório e não apenas nos maiores centros. Pagamento decente aos trabalhadores do ensino básico. O que o Brasil não precisa é de demagogos e aventureiros.

Dilma comprou o drama de Palocci e agora temos um ministro responsável por negociações políticas sigilosas e importantes para o jogo político desmoralizado. Da mesma forma vem cobrindo as sucessivas falhas de Haddad. 

É a gerência pela inércia. Lamentável e verdadeiro. Um governo íntimo da corrupção e apologista da destruição de nosso mais forte símbolo de unidade nacional: a língua nacional. Parece que já se desenha no início do governo o legado que realmente ficará.

Demetrio Carneiro


VOLPON: CHOQUE NOS TERMOS DE TROCA E A DEMANDA AGREGADA

Matéria publicada no Valor, em 26 de maio passado. Envolve uma boa reflexão sobre a influência dos termos de troca (ganhos de exportação versus custos de importação) no comportamento da nossa economia. O que ainda é um debate meio desfocado entre nós.

Demetrio Carneiro

CHOQUE NOS TERMOS DE TROCA E A DEMANDA AGREGADA

Qual o verdadeiro peso dos fatores externos para explicar o comportamento da economia brasileira? Olhando para o período pós-crise, por exemplo, se convencionou explicar a forte recuperação como fruto das políticas anticíclicas executadas pelo governo. Outra avaliação comum é atribuir a demanda interna como verdadeiro motor da economia. Enquanto todos entendem que fatores externos têm sido importantes, o fato de que a corrente de comércio se encontre abaixo de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) parece ser prova de que é no mercado interno que encontramos os fatores dinâmicos da nossa economia.
Essa visão da economia brasileira, defendida com igual ênfase tanto pelos ortodoxos como desenvolvimentistas, está errada. Apesar dos acalorados debates entre essas correntes, ambas mantêm igual crença no mito de que a força da economia brasileira surge do mercado interno. Tanto o discurso ortodoxo, que vê nos excessos fiscais e monetários a causa principal dos problemas inflacionários, como o discurso desenvolvimentista, que vê nesses mesmos fatores a razão pelo alto crescimento, erram em não entender que são os fatores externos que explicam o que temos de bom (maior demanda e crescimento) e de ruim (maior inflação e câmbio apreciado) na economia brasileira.
A melhor métrica do impacto de fatores externos sobre a economia hoje é a tendência dos termos de troca, e como esses afetam tanto a demanda como a oferta agregada por uma variedade de canais. A alta dos preços de commodities foi desde 2003 importante para melhorar a posição externa do país. Apesar de alguma melhora nos termos de troca desde 2003, foi somente em 2007 que os preços das exportações começaram a subir de maneira mais consistente que os preços das nossas importações, movimento que acelerou depois da crise. De fato, a diferença entre os preços das exportações e os preços das importações se encontra hoje mais de 25 vezes maior que a média dessa diferença desde 2000.
Tal movimento representa um fortíssimo incremento de riqueza para o Brasil que se irradia pela economia. O maior preço das nossas exportações eleva tanto a renda atual das empresas como o preço das ações.
Só se optarmos por poupar e investir vamos ter no mercado interno uma duradoura fonte de desenvolvimento
O índice Bovespa, por exemplo, subiu mais de 350% desde 2006 em dólar americano. Essa grande alta na riqueza nacional gera vários efeitos. Do lado do consumo, sabemos que este sobe com o aumento da percepção de riqueza, ou "renda permanente". Do lado dos investimentos, temos na alta dos preços das exportações o principal fator que levou os níveis do investimento estrangeiro direto (IED) subir de US$ 18 bilhões em 2006 para US$ 48,4 bilhões em 2010; e os fluxos de carteiras de US$ 9 bilhões para US$ 63 bilhões no mesmo período.
Tal fluxo, para uma economia com baixa taxa de poupança (média de 17,3% do PIB desde 2006) tem sido vital para sustentar crescentes níveis de importações sem pressionar o balanço de pagamentos: o "quantum", ou quantidade, importada desde 2006 subiu 94% enquanto o quantum de exportações aumentou somente 4,4%, o que ajudou a diminuir o efeito inflacionário da expansão da demanda agregada durante esse período. Importação de bens de capital é hoje a maior categoria dessa pauta, representando 22,6% do total.
A queda relativa dos preços desses bens em relação às commodities tem permitido um maior incremento da capacidade instalada neste período de forte crescimento. Tudo isso explica a economia consegue crescer nos níveis atuais sem romper a restrição externa (financiamento do déficit em conta corrente) ou interna (aumento descontrolado da inflação).
Há outros efeitos que não devem ser menosprezados. A melhora da nossa posição externa nesses anos, representada, por exemplo, pela alta das reservas do Banco Central de US$ 54 bilhões em 2006 para US$ 330 bilhões hoje, permite a queda de volatilidade na economia que gera forte redução nos prêmios de risco, permitindo a expansão do mercado de crédito. E, finalmente, o governo na sua função fiscal é um sócio privilegiado de todo esse processo, com suas receitas subindo de R$ 555 bilhões em 2006 para R$ 853 bilhões em 2010, permitindo um proporcional aumento dos seus gastos.
Enquanto o efeito do aumento dos termos de troca tem reconhecido papel na valorização do real, seu lugar na determinação da demanda e, portanto, no nível de juros merece igual atenção. Em recente estudo mostramos como se pode, com resultados estatísticos similares, substituir o hiato do produto em uma função de Taylor com o "hiato dos termos de troca" para explicar o nível da Selic desde 2006. De fato mostramos como um aumento de 1% no "hiato" da relação de trocas leva a Selic a subir 0,17%. Esse resultado mostra como o choque externo tem sido o fator determinante para a economia.
Essa demonstração tem, em nossa opinião, varias consequências para a política econômica. Primeiro, se a mudança nos termos de troca é a causa exógena do aumento da demanda agregada, o subsequente aumento no nível de juros e câmbio são necessários ajustes de equilíbrio. Qualquer tentativa de impedir esses ajustes via, por exemplo, intervenções no mercado de câmbio, terá efeito temporário e resultado infrutífero, causando inevitável efeito compensatório no equilíbrio geral via aumento da inflação.
De fato, a única forma de impedir uma maior pressão sobre o câmbio e a taxa de juros seria diminuir a pressão sobre a demanda por outros meios, como um menor nível de gastos fiscais e exuberância do crédito. A preocupante perda de competitividade do setor de manufaturados deve ser compensada via medidas microeconômicas, como a maior tributação do excedente de renda dos setores de commodities. Também temos que estar cientes que todos os mecanismos descritos acima que nos levaram à atual abundância podem se reverter. Somente se optarmos por não consumir, mas poupar e investir que vamos poder realmente criar as condições para que haja no mercado interno uma duradoura fonte de desenvolvimento econômico.
Tony Volpon é diretor do Nomura Securities International, Inc.

domingo, 29 de maio de 2011

A META DE CRESCIMENTO É UM OBJETIVO VÁLIDO DE POLÍTICA ECONÔMICA?

Embora no texto abaixo, do Estado de São Paulo, o articulista encontre "semelhanças" entre a possível política atual do BCB e o FED, com relação à meta de crescimento,  na realidade são muito diferentes. A começar pelo fato de que o FED não fica subordinado a um comando externo. Outra questão a considerar é que "meta de crescimento" por lá é fundamentalmente nível de emprego, de olho no produto potencial, que Mantega não acredita que exista, uma lógica de longuíssima tradição que remonta desde o Act of Employment de 1948.

É interessante. Na esteira do debate lançado por Serra, nas eleições de 2010, sobre a coordenação das políticas econômicas nossa crítica era de que Serra pretendia era "coordenar" a política monetária a partir da política fiscal. O que criticávamos era que mais que coordenação era uma proposta de que a política monetária não causasse obstáculos à política fiscal. O foco de Serra também era o crescimento. No fim do dia Serra derrotado, venceu. O que o governo Dilma vem fazendo é exatamente condicionar o BC à métrica do projeto de crescimento econômico de seu governo. Dai o conceito de flexibilização do foco do BC do centro para o limite superior da banda para 2011 e, talvez agora, para 2012.

Quanto a meta de crescimento o governo a fixou em 4% e parece disposto a tolerar até mesmo a ruptura do teto, desde que os 4% sejam garantidos. Já Delfin, prudencialmente, previu uma meta mínima de 3,5%.

Em dezembro de 2009 Tony e eu tivemos um texto publicado pela revista Política Democrática, posteriormente discutimos, separadamente ou não, em diversos outros textos, principalmente durante as eleições, onde propunhamos um modelo de política econômica com base em um sistema de meta de crescimento. A diferença é que buscamos oferecer um local institucional, o Conselho Monetário Nacional, propusemos uma ampliação em sua representação e o debate aberto e transparente, com o estabelecimento de critérios para definir "meta de crescimento" e sua monitoração. Além disso propusemos uma sistema que tivesse em conta um papel ativo para o superátivit. Flexibilizando o uso do superávit entendido por nós como uma poupança gasta nos tempos de bonança para suavizar a dívida, mas utilizada nos tempos ruins para sustentar investimentos. Um leitura diferente da proposta implícita da LRF, que não admite essa flexibilização.

Outra questão é que na proposta de que fazemos esta questão da coordenação é apenas um dos elementos de um processo maior que passa também por ter em vista questões institucionais fundamentais como a formação de poupança interna e políticas de estímulo ao investimento privado de longo prazo, qualificação para o trabalho via um sistema educacional eficiente, correção das fortíssimas falhas de infra-estrutura etc.

Para ser uma política substancial faltaria o pelo menos o governo agir com clareza e discutir publicamente de onde retirou esses números de meta. Por exemplo, por qual razão 4% ou outro número qualquer e explicar como esse comando se realiza dentro da estrutura da gestão da economia. 
Faltaria também conectar com um projeto mais amplo que trate da sustentabilidade do crescimento no longo prazo. Faltaria discutir isto com a sociedade.   

Mais um questão é com o conceito

De momento o que parece estar por trás da leitura de "metas de crescimento" não é bem uma estratégia diferente e nova, mas argumentos que justifiquem a velha continuidade do uso dos gastos públicos como instrumento de manutenção de um nível mínimo, decidido pelo governo também de forma solitária, de demanda agregada. 
Sabedores que somos do uso político do gasto dentro da lógica de poder governista, não fica difícil estabelecer uma ponte sobre o que ocorre agora nas decisões econômicas e o que ocorre no mundo da política e da luta pela permanência no poder. Acabamos de sair de um ciclo eleitoral e entraremos em outro no próximo ano. 

Ainda iremos ver se em 2012 o governo será capaz de se conter em termos de gasto frente a inflação ou se, mais uma vez, o trade-off será na direção de afrouxar os controles. O que vem ocorrendo no mundo da política, as debilidades de Dilma e os embates com o PMDB parecem indicar que teremos mais inflação no próximo ano.

Sob Dilma, BC muda e tenta estimular crescimento, além de vigiar a inflação


Demetrio Carneiro 

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O BIPARTIDARISMO BRASILEIRO E O RISCO DAS ATUAIS OPOSIÇÕES VIRAREM PÓ

Em um relatório de uma consultoria política que li hoje vem uma constatação bem interessante: O PMDB não entraria na briga da Lei das Florestas se não tivesse convicção da fragilidade de Dilma...

Eu acho que uma das razões mais fortes para o Lula entrar na briga foi esta ai: Segurar o avanço do PMDB. Acho que ele vai ter muita dificuldade em fazer isto, pois a arquitetura de aliança que ele montou colocou o PT em minoria e ele, goste ou não, não está no governo, por mais que tenha força. PMDB e PSB sabem muito bem que Lula em Brasília elimina qualquer chance de ambições dos dois partidos para 2014. Daí eu acho que vai haver uma antecipação do inevitável: Um choque dentro da base de governo que vai repercutir em 2012.
O detalhe é que esta briga de gigantes deixa os partidos de oposição totalmente ao largo do processo principal de luta pelo poder.

É muito interessante e é fundamental entender o que está acontecendo: Estamos consolidando um regime bipartidarista real, talvez com o PSB se aproximando taticamente do PMDB, dentro da atual coalizão de poder.

A oposição clássica tipo Dem, PSDB ou PPS não tem qualquer papel nesse processo, pois ele não sustenta uma “terceira via”. Se essa oposição não se pensar rapidamente, agora mesmo em 2012, já vai virar poeira. Talvez essa seja a pragmática do partido do Kassab que está se movimento para entrar na coalizão de poder e deve ser reposicionar lá dentro.

Demetrio Carneiro

BASTIDORES DA DEFESA DE PALOCCI E AS INTIMIDADES DO DE PODER NA PR

A matéria abaixo do Contas Abertas e focada na estrutura da Presidência da República, dá conta de uma questão interessante da intimidade do poder:

O quanto a incapacidade gerencial de um órgão de dentro da estrutura da Presidência da República, Secretaria de Relações Institucionais, e que supostamente seria “coordenado” por Palocci acabou gerando um dos primeiros pontos de desgaste da estratégia de defesa do Ministro ao cometerem a imprudência de divulgar informações enviesadas. No caso colocarem no mesmo balaio Palocci e pessoas ligadas ao governo FHC. Algo do tipo “se eles podem, eu também posso”.

A operação, como a do Francenildo ou aquela dos dossiês durante as eleições e até agora não inteiramente esclarecida, mostram um certo grau de primarismo político o que não deixa de ser muito curioso em se tratando do núcleo “duro” de poder.

Demetrio Carneiro


Walter Guimarães

Do Contas Abertas

Pelo visto o ex-subchefe de Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República (SRI), Luiz Azevedo, não se enganou apenas ao enviar a mensagem que justificava o patrimônio do ministro Antônio Palocci para o Sistema de Informação Parlamentar (Supar). Parece que ele não entendeu muito bem o “convite irrecusável” que teria recebido para o novo emprego.

Na sua carta de demissão, Azevedo afirma que assumiria o cargo de superintendente da Finep, em Brasília. Em todo caso, em documento que o Contas Abertas teve acesso nesta quinta-feira, o presidente do órgão, Glauco Arbix, nega qualquer intenção de contratá-lo. O documento, direcionado aos funcionários da Finep, deixa claro o desencontro das informações:

“Com relação às notícias que vem sendo veiculadas na imprensa sobre suposto convite feito ao ex-Subchefe de Assuntos Parlamentares da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Luiz Azevedo, para assumir o cargo de superintendente Regional da FINEP em Brasília, a presidência informa que ele não foi convidado e que não há planos para a sua contratação.”

No mesmo comunicado, Arbix informa os motivos que levaram à exoneração do ex-superintendente do escritório da Finep na capital federal, Marcos Rogério, acontecida na última segunda-feira, dia 23 de maio. Rogério irá trabalhar no gabinete do senador Lindbergh Faria (PT-RJ).

O primeiro engano

Após as denúncias do suposto aumento patrimonial do ministro Palocci, feitas pela Folha de S.Paulo, o assessor especial da Casa Civil e jornalista Thomas Traumann preparou um texto para servir de orientação para a defesa junto à articulação política do governo, no Congresso. A mensagem citava ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central e BNDES do governo Fernando Henrique Cardoso, como exemplos de pessoas públicas que prosperaram com consultorias.

A trapalhada ficou por conta de Luiz Azevedo, que enviou o texto para todas as assessorias da Esplanada, inclusive para gabinetes de parlamentares da oposição. O conteúdo acabou por obrigar ao ministro Palocci em ligar pessoalmente para ex-ministros e políticos da oposição, no intuito de se desculpar.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

EM BRASÍLIA LULA INAUGURA SEU TERCEIRO MANDATO

A história ainda vai esclarecer quais motivos levaram Dilma Roussef a ir tão fundo na defesa de seu chefe da Casa Civil. Provavelmente é passado, pois a situação de Palocci já é insustentável.

A Caixa Econômica Federal - não é mais fogo amigo , é pura e simplesmente execução sumária - muito objetivamente pendurou no pescoço de Palocci a acusação de que foi ele quem realmente quebrou o sigilo de Francenildo.

Isto coloca Palocci como mentiroso pego em mentira pública, mentira que atravessou meses sendo posta de lado de todas as formas. Uma situação bem semelhante a outro mentiroso famoso: Arruda.

Aparentemente ambos tem aquele estranho poder de destruir o que tocam. Um Midas ao inverso.
Arruda destruiu boa parte dos planos da oposição ao jogar o DEM numa crise sem retorno.
Agora é Palocci quem liquida os planos de autonomia de Dilma.

Provavelmente Palocci sai e Dilma fica. Mas quem fica, quase que certamente, é o mesmo poste das eleições.

Quem esperava só encontrar com Lula em 2014, Serra, Aécio, PMDB, PSB etc., vai se decepcionar.
O jogo terá que ser refeito.


Palocci foi responsável por vazamento de dados do caseiro, diz Caixa


Demetrio Carneiro

PASSEIO PELA FALTA DE MATURIDADE DA OPOSIÇÃO BRASILEIRA

Nós dois posts anteriores ( O mundo multipolar... e Os pontos nevrálgicos... ) apresentamos questões internacionais e atuais que nos parecem relevantes. Agora vamos tentar uma lógica que indique qual papel a oposição pode assumir neste debate. Meu ponto de partida é que a oposição brasileira se comporta de forma desorientada e pouco madura. Incapaz de perceber as rápidas mudanças que vão ocorrendo no campo internacional e seus profundos reflexos na situação interna nacional, ainda vem insistindo que o problema principal está no jogo parlamentar jogado num cenário de análises eminentemente conjunturais e pontuais, uma espécie de guerra de posições parlamentar. Evidentemente não estou negando o papel do debate parlamentar e sim a sua priorização absoluta frente a outros temas igualmente importantes. Enfim é a questão das escolha.

Frente a um modelo de desenvolvimento que pode estar se esgotando e às vésperas de um novo modelo que não está ainda claro, este jogo, que se trata fundamentalmente de pura tentativa de ficar acima da linha d’àgua, é inconsistente e nitidamente insuficiente.

Do lado do governo as fortes mudanças que estão ocorrendo viram elemento de legitimação sem que a oposição seja capaz de articular lé-com-cré, refém de suas escolhas atuais.
A teoria do sistema-mundo fala em três grupos de países: Os do centro, os da periferia e os da semi-periferia. Olhando assim o Brasil seria um país de semi-periferia em trânsito para o centro, como parte do grupo emergente dentro do fenômeno do mundo multipolar que vai se desenhando.

A semi-periferia pode ter relações diferenciadas a cima e abaixo. Acima pode ter relações de dependência e subordinação. Abaixo pode ela gerar relações de dependência e subordinação. Mas nada impede dentro da própria semi-periferia que as relações entre semi-periféricos sejam também relações de dependência e subordinação.

Ou estamos falando de outra questão, talvez de uma relação simbiótica bem horizontal onde ambos parceiros se beneficiem? Certamente os termos de troca é que indicarão que relação é esta. A direção do fluxo de riquezas é que dirá qual é a relação.
Essas questões de transição para o centro ou de posição atual dentro do sistema-mundo ou de relações dentro do grupo emergente são centrais para uma compreensão mais clara sobre nosso futuro e deveriam estar no centro do debate das oposições, pois não são apenas elementos de mídia, são eventos concretos que marcarão com profundidade os próximos anos.

Vamos insistir que o atual modelo de desenvolvimento não responde de forma eficiente às demandas e que esta ineficiência poderá nos colocar à reboque de um processo de mudanças para o qual não estaremos preparados enquanto nação e poderemos ser incapazes de aproveitar as melhores oportunidades conforme se apresentem. 

Existe ai um amplo campo de debate e proposições concretas a ser explorado pela oposição. 
Há também um enorme desafio em estabelecer como esses dilemas podem ser transmitidos ao eleitor mediano. 
A agenda na realidade está repleta.

Demetrio Carneiro

OS PONTOS NEVRÁLGICOS DE NOSSO CRESCIMENTO: FT FALA DA RELAÇÃO CHINA/BRASIL

O protecionismo e o dólar apreciado criaram um reinado de ineficiências em parte bancado por recursos públicos e em parte financiado pela anterior posição do Brasil na divisão internacional do trabalho.

Outros tempos e novas necessidades é o que fica evidente na matéria abaixo do FT 
( tradução livre do texto publicado em 20 de maio passado). Evidentemente trás inúmeras outras questões – como, por exemplo o problema do déficit em conta corrente - mas por agora o essencial é que fica extremamente evidente que são outros tempos e que os agora superados discursos já não alcançam a complexidade que está exposta de forma evidente.

Em uma interessante matéria publicada ontem no Correio Braziliense, Brasil S/A, o articulista Antonio Machado mostra de forma muito tranquíla que esse novo formato de participação brasileira na divisão internacional do trabalho, o termo é meu e não dele, tem uma elevadíssima dose de risco de naufragar frente a todas deficiências acumuladas por décadas de uma visão errada sobre o papel do Estado na economia e no desenvolvimento que resultou em numa logística deficiente, num institucionalismo eminentemente cartorial e nocivo aos negócios, fortíssimas deficiências na formação de poupança e investimentos de longo prazo etc. Esse pontos de fato nevrálgicos e que necessitam ser abordados de forma realista e objetiva.

Falta no mundo da política quem queira dizer isso de forma explícita e direta. Incapaz de se movimentar nessas questões o governo só sabe repetir ao infinito a questão da igualdade como um mantra eleitoral e a oposição não consegue dar um passo além do jogo parlamentar mais imediato.

Demetrio Carneiro

Fluxos financeiros: As commodities são centrais para definir a relação

Quando a Repsol vendeu uma participação de 40 por cento em seu braço brasileiro para a chinesa Sinopec, no ano passado, o produtor de azeite espanhol, disse que o negócio criaria uma das maiores empresas de energia da América Latina. O negócio era um sinal das coisas por vir, com o Brasil começando a exploração do petróleo descoberto recentemente e o gás nas bacias de sua costa sudeste.

No alto mar o Brasil tem uma das maiores reservas de petróleo e gás do mundo disse a Repsol naquela hora. "O acordo destaca a enorme interesse internacional neste momento histórico para o Brasil."

A Repsol poderia ter apenas trocado facilmente a expressão "interesse internacional" para “interesse chinês”
Todos os países do mundo querem investir nos recursos naturais do Brasil e na industria agrícola, poucos são mais necessitados do que a China, carente de energia e com fome de alimentos.

Este interesse levou a China a se tornar o maior do investidor direto estrangeiro do Brasil no ano passado, uma posição que só se espera que cresça. Mas, assim como outros aspectos da relação Brasil-China, os dois países terão de concordar sobre a forma que essa nova parceria terá- em especial, o quão longe o Brasil vai estar disposto a deixar a China investir em seus recursos estratégicos e terras agriculturáveis.

"Há um grande interesse entre os executivos chineses em investir mais no Brasil. Tem que haver um ambiente favorável ao investimento estrangeiro. Dessa forma, podemos criar mais empregos no Brasil ", disse Chen Deming, ministro do comércio chinês, durante uma visita à maior economia da América Latina em maio.

A China respondeu por cerca de U $ 17 bi de investimentos diretos estrangeiros no Brasil num total de U$ 48.46 bi em 2010, ante cerca de U$ 300 milhões em 2009, de acordo com a análise da Sobeet, um grupo de analistas brasileiros.

Fusões e aquisições contribuíram com U$ 12.53 bi desse total. Disse a Dealogic, a empresa de dados. Além das oferta à Repsol, estes incluíram um investimento de U$ 3.07 bi pela Sinochem, um grupo estatal chinês, em ativos de petróleo e gás no Campo de Peregrino, no Brasil.

Outro grupo chinês, a China Oriental Escritório de Exploração Mineral e Desenvolvimento, investiu U$ 1.22bi na Itaminas Comércio de Minerais, uma empresa de mineração, enquanto o State Grid Corp of China gastou U$ 1 bi em um acordo de rede de eletricidade.
Os investimentos de empresas chinesas nos anos anteriores incluem U$ 362 mi investimento- âncora da Wuhan Iron & Steel na MMX Mineração e Metálicos, a mineradora brasileira.

Para o Brasil, esses investimentos primeiro foram bem-vindos. Mas crescentemente, eles se tornaram uma fonte de preocupação para os dirigentes políticos. Quando surgiram rumores no ano passado que empresas chinesas apoiadas por seu governo estavam se voltando para compra de glebas de terras agriculturáveis brasileiras, o governo saiu da linha.Reinterpretando a uma lei existente que introduziu restrições aos investimentos diretos estrangeiros nas explorações agrícolas.Essa lei não era ostensivamente dirigida a China. O Brasil já estava preocupado antes com a compra de terras por parte de fundos soberanos e empresas levou em consideração que fundos soberanos e empresas apoiadas por seus governos. De qualquer forma o alvo acabou sendo a China.

“Não sou o ministro das Relações Exteriores. Eu não quero criar um incidente ", disse o ministro da Agricultura, Wagner Rossi ao FT, em entrevista no início deste ano. "Alguns desses países são grandes parceiros em outras áreas, mas tê-los comprando terras no Brasil cria algum tipo de risco soberano para nós. Isso não faz parte do nossos planos e nós não vamos permitir isso. "

Nos últimos meses, a China indicou que está disposta a diversificar seus investimentos no Brasil em outras áreas além dos recursos naturais e da agricultura. Durante uma visita à China da presidente Dilma Rousseff, em abril, a Foxconn, uma empresa de Taiwan, com amplas operações na China continental, prometeu investir U$ 12 bi no Brasil na produção de artigos da Apple.

Delegação de Chen procurou reforçar essa impressão com promessas de que a Geely, uma fabricante chinês de automóveis pequenos, poderia construir uma fábrica no Brasil. Mas ele ressaltou que o Brasil deve manter a sua parte do negócio, tanto reduzindo o custo de fazer negócios para o país, como pela racionalização dos seus portos notoriamente lentos e pela melhoria de sua logística.(grifo nosso DC)

Embora o Brasil possa suspeitar dos investimentos chineses, ele precisa de fluxos adicionais de financiamento de longo prazo para ajudar a financiar seu crescente déficit em conta corrente. Com cerca de 2,3 por cento do produto interno bruto, este ainda não é alarmante. Mas se os preços das commodities caírem o déficit em conta corrente poderia deteriorar-se rapidamente, deixando o Brasil à beira de uma crise da dívida.(grifo nosso)

Muitos acreditam que por esse motivo, as relações financeiras entre o Brasil e a China só podem se reforçar.
Uma parte essencial dessa aproximação poderia ser conseguida através do aumento do uso da moeda da china continental no comércio com economias latino-americanas. Poderia ser feito através da substituição do dólar por uma cesta de moedas que a incluiria.
Fernando Pimentel, o Ministro da Indústria e Comércio do Brasil, afirmou, após reunião, o Sr. Chen: "Nós mencionado ao ministro a importância de começar uma discussão nos fóruns internacionais sobre a necessidade de mudar o padrão monetário internacional."

Muitos analistas acreditam que cedo o Brasil concluirá que seu melhor destino financeiro está ligado a China. Quando o Brasil começar a produzir petróleo a partir do seu "pré-sal" nos campos de alto mar, sua moeda se tornará ainda mais ligada às commodities e aos preços da energia.

China será um dos principais compradores desses produtos, o que significa que vai fazer sentido para as empresas brasileiras e chinesas transacionarem em renminbi e, eventualmente, poupar em renminbi.

Brasil vai se tornar parte de um "bloco renminbi" de países que utilizam a moeda chinesa para o comércio.

Tony Volpon, chefe de pesquisa da América Latina da Nomura, diz: "o petróleo do pré-sal é a grande coisa que vai acontecer no Brasil nos próximos anos e vai dobrar a aposta na China:
"Se você acha que o real é uma moeda de commodities, hoje, espere um par de anos - isso vai ser muito mais evidente."((grifo nosso)

O MUNDO MULTIPOLAR COMO ELE VAI SE FIRMANDO, MESMO QUE A COTOVELADAS...

Estamos realmente caminhando para um mundo multipolar, com todas as consequências, inclusive quanto a “sesta de moedas” como referência de troca? Em particular esse termo da sesta de trocas tira do cenário a moeda única que acaba capturando a economia mundial para a hegemonia de um país, como ainda vem ocorrendo hoje. Esse estudo sobre hegemonia e moeda única é bem interessante.

Seja como for a quebra histórica da hegemonia monopolar parece cada vez mais evidente ao ponto do Banco Mundial lançar, por meio de um novo relatório que planeja captar essas mudanças, o GDH, em português Horizontes do Desenvolvimento Global. Este primeiro relatoria trata exatamente da Multipolaridade e merece uma leitura bem atenta para quem se interessa pelo que vai se confirmando como desenho na arena internacional.

Inúmeras teorias falam sobre o fato de que democracias são regimes mais estáveis nos termos de guerra enquanto política. Quer dizer, guerra entre democracias são mais improváveis do que guerra entre democracias e regimes autoritários ou guerras entre regimes autoritários. A explicação estaria na diferença de “custo político” para os agentes políticos nos regimes democráticos e nos regimes autoritários. Portanto é de se imaginar que o desenho da multipolaridade não vá se produzir por meio das guerras, mas certamente as cotoveladas, tipo usar cotovelos para abrir caminho, serão inevitáveis num momento onde países anteriormente periféricos e agora semi-periféricos, nos termos da leitura de Walerstein e Arrighi, buscam o centro do sistema-mundo.

O sistema de se impor por cotoveladas no cenário mundial é muito bem expresso pela nota abaixo¹, divulgada ontem. A nota é assinada pelos representantes - sequência dada pelos autores da nota - do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. É a assinatura brasileira que fecha a nota. Em diplomacia são detalhes importantes². Em termos bem simples e diretos a diplomacia das cotoveladas se expõe: Os países emergentes não aceitam que a indicação do novo diretor do FMI seja feita com base em critérios de nacionalidade, referindo-se no caso ao fato da origem européia do demitido presidente. Enfim, os emergentes não irão aceitar que a escolha do novo presidente do FMI seja feita dentro do “antigo” centro do sistema-mundo.

Se a política de cotoveladas vai dar certo ou não, isto é, se os emergentes vão de fato para o centro do poder e a partir daí poderemos ter outros desdobramentos ainda veremos nos próximos capítulos. O fato é que a crise de 2008, como todas as grandes crises, gerou novos contextos e aparentemente estamos frente a um novo ciclo da história política e econômica mundial. O real significado desse novo mundo multipolar ainda é difícil de precisar, pois estamos em um processo de consolidação, mas o fato é que já dá para pensar que “nada será como antes” como diz a música.

Para nós brasileiros, normalmente desligados do ambiente internacional, estar entrando no centro do sistema-mundo tem implicações complexas que vão desde a mudança do regime cambial, uma sesta com o Real tem fortes implicações no regime cambial, até as relações internas de poder. 
Outra questão : Até aqui estar no centro implicava em ser uma economia “desenvolvida”. De uma forma ou de outra até mesmo o conceito do que significa “ser desenvolvido” precisa ser mediado pela pergunta mais básica: Este é o desenvolvimento que queremos? Este é um debate eminentemente político e eminentemente ignorado ao mesmo tempo. 
A cultura desenvolvimentista instalada em mentes e corações brasileiros parece não querer passar jamais por ai, talvez antevendo o quanto que seu "núcleo" de pensamento industrializante, fundado nos paradigmas que vão sendo superados, será fortemente questionado quanto a sua legitimidade.

Demetrio Carneiro

1 - Íntegra da nota citada

Statement by the IMF Executive Directors Representing Brazil, Russia, India, China and South Africa on the Selection Process for Appointing an IMF Managing Director
Press Release No. 11/195
May 24, 2011
We, as Executive Directors representing Brazil, Russia, India, China and South Africa in the International Monetary Fund (IMF), have the following common understanding concerning the selection of the next Managing Director of the International Monetary Fund:
1) The convention that the selection of the Managing Director is made, in practice, on the basis of nationality undermines the legitimacy of the Fund.
2) The recent financial crisis which erupted in developed countries, underscored the urgency of reforming international financial institutions so as to reflect the growing role of developing countries in the world economy.
3) Accordingly, several international agreements have called for a truly transparent, merit-based and competitive process for the selection of the Managing Director of the IMF and other senior positions in the Bretton Woods institutions. This requires abandoning the obsolete unwritten convention that requires that the head of the IMF be necessarily from Europe. We are concerned with public statements made recently by high-level European officials to the effect that the position of Managing Director should continue to be occupied by a European.
4) These statements contradict public announcements made in 2007, at the time of the selection of Mr. Strauss-Kahn, when Mr. Jean-Claude Junker, president of the Euro group, declared that “the next managing director will certainly not be a European” and that “in the Euro group and among EU finance ministers, everyone is aware that Strauss-Kahn will probably be the last European to become director of the IMF in the foreseeable future”.
5) We believe that, if the Fund is to have credibility and legitimacy, its Managing Director should be selected after broad consultation with the membership. It should result in the most competent person being appointed as Managing Director, regardless of his or her nationality. We also believe that adequate representation of emerging market and developing members in the Fund’s management is critical to its legitimacy and effectiveness.
6) The next Managing Director of the Fund should not only be a strongly qualified person, with solid technical background and political acumen, but also a person that is committed to continuing the process of change and reform of the institution so as to adapt it to the new realities of the world economy.

Aleksei Mozhin, Executive Director (Russia)
Arvind Virmani, Executive Director (India)
Jianxiong He, Executive Director (China)
Moeketsi Majoro, Executive Director representing South Africa
Paulo Nogueira Batista Jr., Executive Director (Brazil)


2 - A liderança brasileira, mesmo o Brasil sendo economicamente menos expressivo no grupo, é uma questão interessante para debate. Quer dizer, tudo bem que a China tenha a atitude discreta de sempre, mas por qual razão a Índia, por exemplo, abre mão desse direito? São questões de diplomacia internacional que não deveriam ser ignoradas.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

OCEANO ÁRTICO E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: ERA PARA TER AGIDO ANTES, MAS É MELHOR AGORA DO QUE QUANDO FOR MUITO TARDE

Ainda tem muita gente imaginando que a questão do aquecimento global é pura frescura de quem não tem mais o que fazer ou que há prioridades mais importantes como a questão social.
O Climate Progress, considerado pelo Times um dos mais influentes e importantes blogs na questão das mudanças climáticas vem com um extenso post, fartamente referenciado, sobre os efeitos da mudança climática no volume de gelo no oceano Ártico.
Sob o título geral “Volume de gelo do oceano Ártico: A espiral da morte continua” o post não poupa argumentos no sentido de alertar considerando que já era para se ter feito alguma coisa, mas que é melhor fazer algo já do que deixar para fazer quando for irreversível.

Infelizmente entre nós a questão da crise ou debate sobre as suas consequência nacionalmente falando ou o debate sobre a ação sobre as consequências ou o atual debate sobre essa soma de políticas anti-cíclicas e eleições etc. tem esvaziado fortemente o debate sobre a agenda ambiental e sua relação com o desenvolvimento que poderemos ter. não estou mais me referindo ao desenvolvimento que queremos ter. Nosso estilo nacional-desenvolvimentista focado em crescer a qualquer custo relega ao segundo plano toda a questão ambiental, inclusive aquelas que falam mais fortemente ao nosso futuro como espécie. Incrivelmente esses racionalistas não conseguem racionalizar não apenas a necessidade de evitar mudanças climáticas com mais velocidade, mas a própria importância de prioridade deste debate.

Com o pensamento nacional-desenvolvimentista incutido à esquerda e à direita, na situação e na oposição, há uma fortíssima barreira de caráter ideológico despriorizando a questão ambiental. Questões mais imediatas referentes ao meio ambiente como o debate do Código Florestal entram na agenda por conta não de serem ambientais, que aparecem lateralmente “de carona”, mas por envolverem poderosos interesses corporativos ou dos movimentos sociais, aparelhados ou não, ligados à ocupação social do solo ou ao resgate de populações rurais marginalizadas, ou por parte dos produtores rurais, notadamente os ligados ao fortíssimo e consistente setor de agronegócios brasileiro. Nas eleições de 2010 questões como o aborto, envolvendo o voto fundamentalista, desfocaram completamente o que era o ponto mais fraco da agenda, implícita, governista.

Discutir mudanças climáticas envolve um outro modelo de desenvolvimento, pois envolve mudanças de paradigmas que interferem diretamente no próprio conceito de industrialização e de desenvolvimento como “industrializar” quando entre nós a grande missão auto-definida pelo nacional-desenvolvimentismo é a industrialização vista como única forma de “progresso”. Enfim, esse conceito de progresso e mesmo essa máxima do progresso a qualquer custo são um pano de fundo, mas oculto por inúmeras camadas constituídas por outros debates como, por exemplo, o das escolhas entre inflação e crescimento da renda ou inflação e crescimento do emprego.

Temos ai um dilema inter-temporal entre trocar um presente “confortável” por um futuro incerto pois muda todas as bases por sobre as quais o pensamento econômico, e dominante, sobre o desenvolvimento foi construído.


Demetrio Carneiro

quinta-feira, 19 de maio de 2011

DILEMAS: CRESCER A RENDA/EMPREGO OU COMBATER A INFLAÇÃO?

o Padovani publicou um post comentando sobre o papel dos gastos públicos como elemento de pressão inflacionária:
A forte expansão fiscal registrada em 2010 praticamente anulou os esforços do Banco Central e tornou a situação inflacionária ainda mais dramática com os choques externos.”

Há toda uma postura que há toda uma postura governamental lendo essa questão como secundária. Um bom exemplo vem daquele instituto supostamente acadêmico que usa recursos públicos para justificar o pensamento econômico petista.

Na realidade o debate está entre priorizar o crescimento da renda ou priorizar o combate a inflação. O desenvolvimentismo governamental lê que o crescimento debe ser dar a qualquer custo, mesmo o da estabilidade. Muitos, eu incluso, não acreditam que a melhor escolha seja essa por imaginarem que é a trilha de um crescimento problemático e instável.

Abaixo uma interesante reflexão sobre a atual situação latinoamerica onde justamente essa visão de priorização do crescimento em detrimento da estabilidade tem conquistado adesões. De autoria de Andres Velasco, ex-ministro da fazenda do Chile, foi publicada originalmente no Project Syndicate

El decenio brillante de América Latina

SANTIAGO – El Banco Interamericano de Desarrollo declaró el pasado mes de julio que éste sería el “decenio de América Latina”. Unos meses después, The Economist hizo suya esa idea, que desde entonces han repetido innumerables apologistas y expertos.
Nada hay como un poco de crecimiento económico para hacer salivar a los expertos y América Latina está creciendo: un seis por ciento el año pasado y un 4,75 por ciento, aproximadamente en 2011, según el Fondo Monetario Internacional. En comparación con los resultados, más bien flojos, a lo largo de los tres últimos decenios, parece casi velocidad de despegue y, en comparación con la reciente y deprimente ejecutoria de Norteamérica y Europa, parece claramente supersónico. Los mercados de valores de América Latina han experimentado una marcada subida desde la crisis, como también los precios de la propiedad inmobiliaria en los pocos países que recopilan datos sobre los valores de la viviendas. No es de extrañar que tantos estén tan entusiasmados.
La impresión sobre América Latina fue igualmente optimista al comienzo del decenio de 1980. Había abundancia de préstamos de bancos de los EE.UU. y países como la Argentina, Chile y el Uruguay estaban creciendo rápidamente, pero entonces Paul Volcker aumentó los tipos de interés en los EE.UU., los dólares volvieron a casa, la mayoría de los países no pagaron sus deudas y el decenio de 1980 se convirtió en un “decenio perdido” para América Latina.
A comienzos y a mediados del decenio de 1990, se produjo otra ola de optimismo. Los precios de los productos básicos estaban altos, había abundante financiación exterior y muchos países latinoamericanos crecieron. Tras adoptar las reformas liberalizadoras dictadas por el Consenso de Washington, se consideraba que América Latina había empezado a mejorar, pero entonces se produjo la “crisis del tequila” de México en 1994, seguida del desplome asiático, que afectó duramente a las economías latinoamericanas. El Brasil explotó en 1998 y la Argentina se desplomó en 2001.
No pretendo dar a entender que América Latina esté al borde de otra crisis de la deuda ni mucho menos. En muchos países –incluidos el Brasil, el Perú y Colombia– la gestión macroeconómica es mucho mejor que en el decenio de 1980 o a comienzos del de 1990.
Pero la situación actual comparte dos características con los episodios anteriores de euforia financiera sobre América Latina: precios por las nubes de los productos básicos y dinero internacional barato. En realidad, para muchos de los países de la región la relación de intercambio es mejor y los tipos de interés mundiales pertinentes menores de lo que han sido jamás. Esos factores, más que cambio virtuoso alguno de políticas en los últimos años, están impulsando el crecimiento.
De hecho, hoy hay dos Latinoaméricas: Sudamérica, rica en recursos naturales, y Centroamérica y México, pobres en recursos naturales. No es de extrañar que Sudamérica esté creciendo mucho más rápidamente que sus vecinos del Norte: 4,4 por ciento frente a 2,7 por ciento en el período 2010-11, según un reciente informe del Banco Interamericano de Desarrollo. El informe considera que la economía de la Argentina crecerá un 6,1 por ciento en ese período, mientras que la de Costa Rica lo hará un 3,8 por ciento y la de El Salvador tan sólo un 1,6 por ciento. ¿Existe siquiera un solo economista que crea que las políticas de la Argentina son cuatro veces mejores que las de El Salvador?
También una abundancia de capital internacional está influyendo. Recientemente, el niño mimado de los mercados financieros ha sido el Brasil, que en 2010 creció a la velocidad de vértigo de un 7,5 por ciento, impulsado por casi 100.000 millones de dólares en entradas de capitales. De aquí a 2016, el Brasil habrá albergado el Campeonato Mundial de Fútbol y los Juegos Olímpicos.
Pocos pondrán en duda la primacía del Brasil en materia de fútbol, pero su competitividad económica es otra historia. En ese campeonato, el Brasil ni siquiera llega a la ronda disputada por 32 equipos, pues ocupa el puesto 58º en la clasificación por competitividad de 139 países compilada por el Foro Económico Mundial. Por encima del Brasil vemos a Montenegro, Mauricio y Azerbaiyán.
En el pasado, episodios de dinero baratísimo y precios de los productos básicos por las nubes acabaron mal para América Latina. ¿Será diferente esta vez?
Perdonen la respuesta típica de economista: todo depende. En primer lugar, depende de si los países pueden impedir que se desarrollen burbujas financieras. El FMI preguntaba en un informe reciente: “¿Están afianzándose unas condiciones que propicien burbujas?” Después de señalar un enorme crecimiento del crédito en la mayoría de los países sudamericanos (en el Brasil, el crecimiento de los créditos hipotecarios superó el 40 por ciento durante 2010, con lo que se triplicó el volumen de crédito pendiente en 2007), el Fondo concluyó que “el aumento actual aún no llega al nivel de un auge crediticio”, aunque “así sería, si el aumento se mantuviera durante un período prolongado”.
Obsérvese ese “aún no”. Cuando un médico dice que un paciente “aún no” está muerto, los familiares deben empezar a preocuparse.
En el mismo informe, el FMI dio la alarma sobre posibles burbujas de acciones, al señalar que “los precios de las acciones están actualmente en niveles superiores a la norma en la mayoría de los países, con algunas señales de apreciaciones exageradas en algunos de ellos (Chile, Colombia y el Perú)”. En Chile, el informe provocó negativas airadas de los agentes de bolsa y los gestores de fondos que se ganan la vida vendiendo acciones chilenas a los inversores.
También depende de la política fiscal que el episodio acabe o no con lágrimas. En otro tiempo, en América Latina las políticas fiscales eran extraordinariamente procíclicas: siempre que bajaban los precios de los productos básicos, los gobiernos perdían el acceso a los mercados de capitales, por lo que debían eliminar sus déficits justo cuando las condiciones requerían una expansión fiscal.
Eso ha empezado a cambiar lentamente. En vista de que la deuda pública era muy inferior a la del pasado, varios países latinoamericanos mantuvieron déficits anticíclicos por primera vez en 2009, con lo que amortiguaron las repercusiones interiores del golpe exterior resultante de la crisis financiera mundial.
El problema estriba en que los gobiernos de la región aún no han comprendido que la política fiscal anticíclica equivale a remar contra la corriente en los dos momentos del ciclo: gastar más en los malos tiempos (el momento fácil) y gastar menos en los buenos tiempos (la verdadera prueba de la virtud). Hoy la política fiscal sigue siendo demasiado expansiva en prácticamente todos los países latinoamericanos.
Ese impulso fiscal, junto con unos precios altos de los productos básicos y un crédito abundante, sigue alimentando el crecimiento económico actual, con frecuencia a expensas de la estabilidad y del crecimiento futuros. Ha llegado la hora de América Latina, seguirán diciendo demasiados expertos. Ojalá estén en lo cierto.


Traducido del inglés por Carlos Manzano.

En este enlace puede encontrar un podcast de este artículo:

http://media.blubrry.com/ps/media.libsyn.com/media/ps/velasco6es.mp3

DOS LIMITES ENTRE APRESENTAR E IMPOR UMA VERDADE: A CONTRADIÇÃO ENTRE A AMPLIAÇÃO DA BASE DE VOTANTES E A LENTA DESDEMOCRATIZAÇÃO

A Helena Werneck veio propor uma discussão interessante no Face:
...nem sempre fica claro ou mesmo distinto o limite que separa a adoção de verdades do espírito autoritário. Acredito que estamos caminhando em uma seara sem visibilidade e que vai além da "sociedade do espetáculo".

Tenho lá minhas avaliações.

Acho que na realidade a questão não está em vc "adotar" uma verdade enquanto visão-de-mundo, num dos sentidos da ideologia, mas no "como" vc acha que as pessoas devem conhecer a tua verdade.

Se vc aceita o contraditório, busca convergências possíveis, vc está numa rota. Mas se vc decide que a tua verdade é a única e vc divide o mundo ente quem apoia a tua verdade e os teus inimigos que são os que não apoiam, então acho que dá para chamar de autoritarismo.

Se a tua proposta for enfiar verdades goela à baixo, a partir do poder, então eu acho que dá para chamar de hegemonização autoritária. Ai já dá para verificar as raízes do fascismo como forma política.

Enfim, exageros são até esperáveis dentro de um debate democrático. O que não é democrático é o uso do aparelho e dos recursos do Estado para impor a tua visão-de-mundo. Foi assim com Hitler, foi assim com Mussolini, foi assim com Stalin, foi assim com o Lênin da NEP que encerrou a experiência de liberdade no pós-revolução de 1917 e está começando a ser assim aqui no Brasil.

Há diversas pontas soltas que precisam ser unidas para facilitar a compreensão do processo de lenta desdemocratização, que talvez por ser lenta seja de mais difícil percepção, que vamos vivendo como a questão do uso dos recursos públicos para manter uma base de governo absolutamente majoritária ou a questão da comunicação social como está nos sonhos do PT e de seu personal-movimento-social.

Contudo, embora a educação não esteja nos planos de debate da maioria das pessoas é principalmente ali que a operação de hegemonização ideológica vai tomando corpo. Aparentemente as pessoas ainda não se deram conta de que processos ideológicos na educação dialogam com o futuro e não com o presente, como no caso das comunicações sociais. O que estamos vendo na área da educação é um claríssimo uso do aparelho do Estado para impor lógicas e princípios que acabarão influenciando as gerações futuras sem que a sociedade haja sido chamada para o debate e pior sem que qualquer um tenha se dado conta de que a sociedade deveria ser chamada a se manifestar. Neste momento o silêncio dá ares de concordância e cumplicidade. De nada vai adiantar discutir a implantação do ensino em horário integral se não se discutir abertamente “qual” o ensino. Há uma enorme confusão aqui sobre a capacidade discricionária do governo que precisa ser esclarecida com muita urgência.

Voltando ao título, vivemos um processo onde a ampliação da democracia formal pela via da ampliação da base de votos está significando um cheque em branco para que o Estado seja manipulado a partir de sua elite dirigente na direção de um lento, mas seguro processo de desdemocratização, no sentido do núcleo do que seja de fato um regime democrático envolvendo a alternância de poder, aceitação de contraditório, reconhecimento do pensamento diverso etc., processo que se dá que se dá através da capacidade de discricionariedade nas políticas públicas.

Estamos festejando a democracia, mas de qual democracia estamos falando?

Demetrio Carneiro