domingo, 28 de fevereiro de 2010

A ARQUITETURA DO CAIXA DOIS PETISTA PARA A CAMPANHA DE DILMA

Notícia da Folha de São Paulo, repercutida pelo Blog Democracia Política e Novo Reformismo, dá conta da participação do BNDES na arquitetura do caixa dois petista para a campanha de Dilma Roussef.

Como fica evidente não se trata de um empresário de ganhou, sabe Deus lá como, uma bolada e resolve ser solidário com os “companheiros”.

É uso da máquina pública nos mínimos detalhes com a finalidade de financiar uma proposta cuja única finalidade é permanecer no poder.
Sem projetos, sem programas. Poder como qualidade de vida. Uma questão individual. Sendo assim, melhor que seja com o dinheiro dos outros, os tais contribuintes.
Esse é o assunto. Esse é o “nada a haver com a política” que desmoraliza a verdadeira política.

Não se trata de um uso “inocente” como Lula e outros tentam apresentar, seja devido à complexidade da legislação eleitoral ou aos especulados custos de campanha.
Na realidade a “bolha” de alta dos custos de campanha provavelmente se origina justamente na fartura dos recursos desviados dos cofres públicos. A competição política pelo voto acaba sendo inflacionada pelo, digamos, “excesso de liquidez” nas mãos de alguns grupos mais bem posicionados dentro da máquina pública.

O BNDES dos amigos do Rei e que alimentou o caixa dois é o mesmo BNDES que, em nome do desenvolvimento brasileiro, criou mais alguns bilhões de reais de dívida pública, que obviamente será paga, com todos os juros e correções, pelo contribuinte lá na frente.
O que mostra como o discurso governamental contra o rentismo da alta burguesia é hipócrita.

Demetrio Carneiro

sábado, 27 de fevereiro de 2010

2010: A LUTA PELA DEMOCRACIA

Honduras, Irã, OEA do B, Cuba, Conselhos para controlar a mídia, as relações exteriores, a cultura, a questão da revisão da Lei de Anistia, o caso Battisti. A soma destes episódios, todos recentes, dá um desenho ao governo que se encerra que deve ser razão de preocupação.

A impressão inicial é que vivíamos um governo que aceitava as regras do jogo democrático. Mas tarde foi ficando evidente, no episódio do mensalão, que esse governo queria ele próprio fazer as regras do jogo, mesmo que para isso tivesse que quebrar a normalidade republicana. Foi quando ficou mais evidente o conceito hegemonista do executivo.

O episódio da crise parece ter reavivado uma face mais autoritária, bastante evidente antes da posse, mas amainada, se vê agora, pelas necessidades e complexidades do poder em um regime democrático.

A alimentação das práticas do conselhismo aparelhado e orientado para pontos de controle estratégico, ação disfarçada de democratização da máquina do Estado e a intensa movimentação geo-estratégica, essa orientada para uma atrasada visão de dicotomia bons x maus, mas que alimenta no seu fundo a noção de choque inevitável, são fatores que se somam à manipulação republicana, à violação do princípio federativo, como ações complementares do mesmo processo. E esse processo não aponta para o aprofundamento da democracia, mas para amplas restrições à sua plenitude.

A indicação de José Dirceu para a coordenação de campanha de Dilma Roussef não deixa enganar sobre o que será o que se pretende como futuro governo.

Embora exista um debate econômico, embora Dilma já tenha até se manifestado pela estabilidade, o que fica muito evidente é que o grande debate de 2010 terá que ser sobre aprofundar ou restringir a democracia.

Dilma é antes de tudo a continuidade do mesmo projeto político que une Lula e o PT: O autoritarismo inerente a essa forma de ver o mundo como um conflito permanente a ser resolvido pela hegemonização. Para isso diversos caminhos podem ser tomados, como a cooptação, compra de posições, quebra da normalidade institucional, a formação de alianças regionais destinadas a reforçar a visão dicotômica do mundo ou apoio ao autoritarismo disfarçado de apoio a projetos socializantes. Para esses atores políticos a democracia é apenas um meio de chegar ao poder. Manter o poder é outro assunto.

Um projeto para o Brasil tem que passar pelo aprofundamento e ampliação da democracia, o que implica em um questionamento sadio do atual formato republicano e federativo que teste propostas que possam equilibrar os poderes republicanos e valorizar a noção de municipalidade.
Esse projeto também deve buscar o anti-aparelhamento dos formatos de co-gestão pública e participação popular que só é possível pela via da formação da cidadania diretamente nas comunidades.
Nessa forma de ver o mundo o Estado não é o ser onipresente que paira sobre a sociedade, mas é o resultado da ação conjunta do Estado, do mercado e da cidadania.
O Estado é instrumento da nação e a nação é o todo e não a manipulação de grupos que se auto-intitulam de iluminados. Agente público, agente privado e cidadão. Trata-se da soma e não da divisão.

O processo eleitoral de 2010 acabará sendo, antes de tudo, um debate sobre a democracia queremos para construir o nosso futuro.

Demetrio Carneiro

A QUEM PRESTAR CONTAS

Do alto de seu umbigo o presidente Lula, quanto à questão do Irã, declara que só deve prestar contas ao povo brasileiro, num suposto arroubo de independência em relação ao demônio americano. Muito lógico para o grande articulador da OEA do B. Contudo é um erro de quem se pretende um estadista mundial e não mero agente do bolivarismo.
Ao falar fala em nome da nação, não se dá conta de que a nação deve prestar conta sim às outras nações.
A atitude brasileira em relação ao Irã é equivocada e irresponsável. Não existe um caminho suave para lidar com uma ditadura com vocação ao extermínio em massa.
É o mesmo equívoco que produziu a ridícula fala em Cuba, praticamente sustentando politicamente a repressão na ilha ao culpar a oposição pelos fatos.
Melhor pensar que seja apenas um equívoco. Lula ainda vai ter que gastar muita saliva para explicar que não existem afinidades, suas e não da nação, reais com as ditaduras do Irã e de Cuba.
Demetrio Carneiro

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

DUAS VEZES LULA

Uma vez:

Lula, o mesmo que, sabendo da especulação financeira nos papéis de Telebras, fez questão de anunciar que seria a empresa a que o governo usaria para implantação da rede estatal de banda larga.

Duas vezes:


Fonte: Estadão

Três ministros que fizeram parte da primeira gestão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva disseram em depoimento à Justiça Federal que o presidente sabia da existência do mensalão. De acordo com a revista, os ex-ministros do Turismo, Walfrido dos Mares Guias, da Articulação Política, Aldo Rebelo, e da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, confirmaram a versão do deputado federal cassado Roberto Jefferson. O deputado foi responsável por denunciar o esquema. "Lula ouviu, mas nada falou", disse Mares Guia em depoimento, segundo a revista.

QUANDO O OUTONO CHEGAR...

A matéria abaixo, publicada no Valor de hoje, 26, não diminui a força dos argumentos do post anterior.
A redução da liquidez, via redução do compulsório, realmente retira pressão e a pressa, mas não elimina a questão estrutural ou a pressão de demanda gerada pela despesa do setor público ou o efeito, mesmo inercial,das políticas de estímulo, o produto potencial continua no mesmo lugar, com ou sem aumento do compulsório.
A notar o fim da matéria onde Meirelles especula sobre onde estará o PIB potencial do Brasil pós-crise, deixando em aberto uma leitura de que o poderia haver uma mobilidade para cima da fronteira, o que retiraria igualmente a pressão inflacionária adiando um aumento da Selic. A se ver.
De qualquer forma a pressão política sobre o BC não será pequena, já que o assunto abala o discurso de Lula.
Demetrio Carneiro


Compulsórios devem adiar a alta dos juros

Cristiano Romero, de Brasília

26/02/2010

O recolhimento de depósitos compulsórios, no valor estimado de R$ 71 bilhões, terá impactos sobre a política de juros do Banco Central. Meirelles: "Há recuperação forte da demanda, do consumo privado e público e do investimento"
O recolhimento de depósitos compulsórios, no valor estimado de R$ 71 bilhões, terá impactos sobre a política de juros do Banco Central. Segundo o presidente do BC, Henrique Meirelles, a medida foi adotada para diminuir o excesso de liquidez na economia, que ameaçava levar o mercado a assumir posições de risco. Em entrevista ao Valor, ele deixou claro, no entanto, que, ao reduzir a liquidez, a decisão ajudará o BC na tarefa de controlar a inflação.
Meirelles se recusa a vincular o recolhimento dos compulsórios com a política de juros. Na prática, porém, isso pode significar o adiamento da elevação da taxa básica, aguardada para breve por setores do mercado. "A liquidez se mostrou elevada nas últimas semanas e meses, e nós temos meios de medir isso através das nossas operações de mercado aberto", explicou o presidente do BC. Como o aumento dos compulsórios não é neutro do ponto de vista de política monetária, cumprirá parte da tarefa que, antes, estaria a cargo apenas da taxa Selic.
"Não há dúvidas que a decisão tem efeitos de política monetária. Restrição ou injeção de liquidez tem impactos monetários", afirmou Meirelles, ressalvando, porém, que o melhor instrumento para combater a inflação ainda é a política de juros. "Não procuramos substituir um mecanismo por outro. Para o controle específico de liquidez, em alguns momentos o recolhimento ou a liberação de compulsório, como fizemos em 2008, é um mecanismo extremamente eficaz".
Questionado se a previsão de crescimento de 5,8% para a economia brasileira neste ano, feita pelo BC, é sustentável, Meirelles respondeu que, como o país passa por momento de recuperação de uma crise, é possível crescer acima do seu potencial sem gerar descontrole inflacionário. Ele disse, todavia, que ninguém sabe ainda em quanto está o chamado PIB potencial do Brasil pós-crise.

NO OUTONO AS FOLHAS CAEM, MAS A SELIC VAI SUBIR

Abril é outono, embora o outono brasileiro não seja exatamente bem definido, ainda assim, no nosso imaginário é o mês em que as folhas caem das árvores. Mas apenas as folhas deverão continuar caindo...

Abril continua sendo o lugar da inflexão da curva da Selic. Preventivamente, digamos assim, o sistema bancário já reajusta para cima suas taxas, principalmente no crédito às empresas. No mercado a retomada do emprego, aumentando o potencial de demanda, é vista como um elemento a mais de pressão sobre a Selic.

Política econômica responsável nunca foi fácil, principalmente quando as condições estruturais ajudam muito pouco. Incapacidade de investimentos de médio e longo prazo, inconsistências na construção de políticas de estímulo à poupança que possam reverter como investimento. Resultado: O produto real sempre oscila muito perto do produto potencial, condição de pressão inflacionária.

No conceito de política econômica populista é mais simples ampliar a faixa de variação da inflação. Ou seja reações mais lentas das autoridades monetárias na lógica de que um pouco a mais de inflação viabilizando um pouco a mais de crescimento é melhor para o país.
Outros grupos mais radicais e que entendem menos ainda da economia, preferem “segurar” a Selic por decreto, imaginando que o Estado tem poder, que não tem de fato, de controlar os juros reais.
Outros, mais radicais ainda, afirmam que é tudo coisa neoliberal e que não precisa ter qualquer grau de preocupação com inflação, pois o importante é o crescimento que minorará as questões da desigualdade.
Olhando para a política nenhum desses grupos olha para onde realmente deveriam olhar sem estivessem autenticamente interessados nas soluções dos problemas de nosso desenvolvimento: Para a questão estrutural.

As políticas públicas brasileiras têm um longo histórico de atuação ineficiente frente ao processo inflacionário e o impacto disso na distribuição de rendas está ai nos livros para quem não for incapaz de ler, não por analfabetismo, mas por questões ideológicas e culturais. Contraditoriamente os que criticam a política monetária da estabilidade são os mesmos que criticam a concentração de renda. Na prática estão muito próximos, e não por acaso, de Delfim Netto, aquele que defendia “uma pouco mais de inflação”, mas já alertava que o bolo teria que ser dividido depois. Nesse ramo não há coincidências.

Então ficamos assim. Lula passou todo o ano de 2009 afirmando que a Selic não podia subir. Aliás, mirando a Selic como “responsável” pelo custo do crédito. A taxa administrada pelo BC seria ela a culpada de nossos males, pois o custo de financiamento das empresas nacionais é muito alto. Concentração bancária patrocinada pelo poder público, aquecimento da demanda via gastos públicos, também não são problemas. Na estratégia de governo são soluções, ações inocentes e bem orientadas, portanto não podem ser capazes de gerar o mal. Nessa lógica é mais fácil bater no rentismo patrocinado pelas autoridades monetárias. Não diz nada, mas impressiona e soma aliados à esquerda.
Já Dilma Roussef, mais realista e de olho na questão do financiamento externo, portanto sensível ao problema da confiabilidade, que deverá sustentar seus projetos mais fortes, Pré-Sal-Copa-Olimpíada-PAC, fez declarações públicas defendendo a estabilidade.

Abril vem ai. Vamos ver o que dirão os principais atores políticos.

Demetrio Carneiro

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

OEA DO B – A NOVA GUERRA FRIA

Nem todos ficaram satisfeitos com o fim da guerra fria.
A guerra fria tradicional, Bloco Capitalista x Bloco Socialista, trazia em seu bojo uma outra concepção: A questão da relação de dominação/subordinação entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, dentro do Bloco Capitalista.

Na realidade era o espaço de transição do capitalismo para o socialismo. Seguindo a doutrina leninista do elo mais fraco seriam os países em desenvolvimento que apresentariam maiores contradições internas capazes de viabilizar a instalação de um regime socialista. Politicamente essa luta se daria também pela ruptura das relações de exploração do núcleo sobre a periferia. A ruptura seria o socialismo e a inserção do país num outro bloco de relações, Bloco Socialista.

A desconstrução do Bloco Socialista e o fim da guerra fria tiveram como um dos efeitos a desorganização do discurso da luta anti-imperialista. A lógica da luta é de que havia um outro lugar na ordem mundial que seria de relações mais justas e fraternais entre países. A vida real se encarregou de mostrar que nunca houve esse lugar.

Todo o discurso bolivariano é, em parte, uma tentativa de recriar esse lugar no mundo.
Recriado o lugar idílico, recria-se automaticamente o discurso clássico.
Embora o lugar na ordem planetária esteja em gestação existem toneladas de textos, argumentos, falas, discursos, teorias, enfim toda uma cultura de dezenas de anos que está órfã e pode ser apropriada por qualquer um que tenha o “outro lado”, que é o restante da equação, para oferecer.

Os inimigos dos povos em desenvolvimento estão ai mesmo: O núcleo dos países desenvolvidos, comandado pelo satã máximo e seu aliado fiel: Estados Unidos e Canadá. Existem satãs menores que, ao seu tempo, deverão ser expostos.

Evidentemente terão ainda que explicar desenvolvimento “para onde”.
Na época da guerra fria os países em desenvolvimento, aqueles onde o capitalismo não se achava plenamente amadurecido dariam um salto de qualidade diretamente para o modo socialista de produção. Então esse era o sentido da palavra desenvolvimento.
O bolivarismo está muito longe ainda de saber explicar não de onde se vem, mas para onde se vai. A crise econômica que a Venezuela atravessa e as respostas proto-facistas de Chávez não dão muito espaço. De qualquer forma já existe o discurso. Trata-se apenas de espanar as poeiras e buscar aliados em outras regiões. Ai estão o Irã e a França-que-ruma-ao-socialismo.

De qualquer forma é uma cultura que se presta maravilhosamente às justificativas de operações de poder. Realmente o aperfeiçoamento da doutrina não é nada importante. Importante é que há um fortíssimo discurso político que empresta um inimigo, dá um foco à luta e, automaticamente explica qualquer atitude como justa porque é contra o “outro lado”. 

Projeto de poder interessado de um grupo de dirigentes nacionais que não tem qualquer projeto real a oferecer aos povos latino-americanos. É tudo que a OEA do B é. Não soluciona nada. Não acrescenta nada, mas contribuirá para piorar muito o atual quadro mundial pontuado por iniciativas regionalistas e protecionistas. Não resolve de forma correta a inserção do Brasil num conjunto de relações que sejam positivas para nosso futuro.

É um discurso de justificativas pela oposição natural. Nada melhor para justificar o próprio poder e suas necessidades.
A luta anti-imperialista e pela manutenção da coesão do Bloco Socialista explicou todo tipo de repressão dentro e entre países do bloco e ações fora dele. Tudo era o socialismo e a revolução. Mas também serviu para que essas economias se mantivessem em ritmo mediocre, beneficiando apenas suas elites tecno-burocráticas dentro do aparelho do Estado.

O único problema desse tipo de doutrina é o alinhamento automático.
Parece, do lado brasileiro, que alguém se esqueceu de perguntar ao povo se, em algum momento, transferiu-se para os atuais governantes o direito de alinhar automaticamente a nação a esse ou aquele bloco.
Deveriam ler melhor a Constituição Federal e deveria o Senado Federal entender melhor o seu papel constitucional de revisão da política externa brasileira. O silêncio senatorial é estranho.

O conceito de OEA do B, a criação do tal Conselho de Política Externa, somados ao revival conselhista e à Consolidação das Leis Sociais no formato que se propõe, todas medidas produzidas nos últimos momentos do atual governo têm evidentemente a finalidade de “enquadrar” o futuro governo e constrangê-lo.
Se se fizer o que se impôs, ótimo. Se não se fizer o que foi imposto certamente haverá muito espaço para criticar os aliados do imperialismo ou os agentes do neoliberalismo. Viva a oposição!

Demetrio Carneiro

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A MAIS NOVA PIADA DA GEO-ESTRATÉGIA

Não bastou Honduras, não bastou o Irã, não bastou Hugo Chaves, as arrumações estratégicas com a França e a Rússia, precisamos fechar o ciclo com chave (sem trocadilho) de ouro.
A máxima essência do bolivarismo será excluir do continente americano os demônios americano e canadense. A América Pura, verigorada, será apenas compostas por nós eleitos. Quem sabe num próximo passo poderemos criar a ONU do B, apenas com os países que importam. Vamos excluir a Europa ocidental, Japão, Austrália, Indonésia, Tailândia e outros cães fiéis do imperialismo. A China que se comporte!
Logo a democracia ocidental será um sonho ultrapassado e o povo poderá render justas homenagens a seus verdadeiros guias.
Obs.: A foto acima foi tirada logo após a estrondosa votação  do Partido Nazista nas eleições alemãs de 1930. Era o início da caminhada. Constatem a feição do futuro Fuher.
Demetrio Carneiro

DESABA ESTRUTURA DE FINANCIAMENTO DA CAMPANHA DE DILMA

A volta de José Dirceu era inevitável. A campanha de Dilma precisava de fontes seguras e generosas de recursos e J. Dirceu é o rei da caixa dois.
A denúncia da Folha de São Paulo, vinculando José Dirceu ao esquema de especulação montado com as ações da Telebrás derruba em plena decolagem a estrutura ilegal de financiamento da campanha de Dilma Roussef.

O que estamos presenciando é uma monumental maquinação voltada para a utilização do Estado brasileiro no financiamento do projeto petista de poder. Trata-se de crime de formação de quadrilha. Nem mais nem menos.

Cria-se uma demanda “nobre” fundada no conceito de que - embora mais de 900 empresas operem a questão da banda larga no Brasil, embora existam recursos fartos para financiar via a taxação que já é feita sobre as empresas do segmento – é o Estado brasileiro quem tem competência para criar uma rede nacional de banda larga que nos traga para a modernidade. Uma empresa falida estrategicamente detém uma rede de cabeamento. Outra empresa é escolhida como operadora e magicamente suas ações ganham valor. A proposta de uma rede pública de banda larga vira programa do PT para as eleições de 2010. O presidente brasileiro, em meio a uma onda especulativa registrada já na mídia, dá entrevista explicitando que a empresa alvo da especulação será a escolhida. Tem alguma coisa mais para dizer?

E agora, pegos todos com a boca na butija, o que é que vai acontecer?
Muita gente graúda disse que a prisão de José Roberto Arruda era paradigmática. Quem vai para a cadeia?

Para brasileiros sérios chegou a hora de questionar essa estrutura de poder fundada na hegemonização da Republica nas mãos de um centralismo executivo e baseada no uso da máquina pública para garantia da eternização de grupos, quadrilhas?, na estrutura de poder do Estado. O episódio de Dirceu mostra claramente como se locupetam empresas privadas, intermediários, partidos políticos, empresas públicas, agentes políticos, poder executivo e poder legislativo.
A crise é REPUBLICANA.
É falso e estrategicamente pensado jogar nos ombros do legislativo uma crise que tem sua origem nas estruturas de poder e sua manutenção que estão é no executivo presidencialista. Curiosamente o núcleo do questionamento da democracia representativa parte dos mesmos grupos que, defendendo a democracia direta e a democracia participativa como melhores que a democracia representativa, estão consorciados ao PT de José Dirceu.
O questionamento que tem que ser feito é para essa estrutura que ao contrário da negociação precisa comprar tudo e todos como única forma para se perpetuar. Isso é o inverso da proposta democrática que assimila e admite a alternância de poder.
Talvez esteja na hora de rediscutirmos o Parlamentarismo como forma de gestão e fazer política, inclusive e principalmente nos municípios.

Demetrio Carneiro

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A TEORIA ECONÔMICA E O PT - 1

Vivemos nos últimos dias uma sequência de falas coordenadas:Meirelles, Delfim, o guru de Lula, Nelson Barbosa, membro da atual equipe econômica e, pelo que parece, da futura. Finalmente, Andre Singer, porta-voz de Lula. Todas as falas são na direção do papel das políticas de estabilidade econômica no desenvolvimento e da não-contradição entre responsabilidade fiscal e responsabilidade social. Ao contrário das afirmações de Paulo Singer, por exemplo, a responsabilidade fiscal não impediria a aplicação de políticas sociais eficientes.
A crise econômica trouxe à luz do dia todo um debate petista sobre quebrar a responsabilidade fiscal para obter mais implementação das políticas sócias. Aparentemente, com a candidatura de Dilma Roussef, esse grupo vinha ganhando exposição e força. O ponto de inflexão, ou ordem unida se quiserem, vem se dar num momento crítico que é a realização do Congresso do PT.
Em um outro post recente já havíamos comentado que o pragmatismo lulista percebendo a importância dos investimentos diretos estrangeiros, face a impossibilidade de poupança interna, acabariam levando o governo para a linha de defesa das políticas de estabilidade econômica. Que era exatamente o que o Meirelles havia acabado de mencionar numa entrevista no dia do post a que me refiro.
Resta ver como a esquerda radical vai assimilar o golpe no fígado. Talvez tenha sido para satisfazer os “conselhistas” e minorar as críticas que a proposta do conselho de controle social da mídia tenha passado.
Da entrevista de Nelson Barbosa e da nova mística econômica que ele tenta criar – agora pela primeira vez na história do país a responsabilidade fiscal fica a serviço da responsabilidade social e foi Lula o cara – falaremos ainda hoje. É importante perceber como essa mística esta sendo construída e o que exatamente ela visa. Na lista também está a entrevista de Delfin. É muito esclarecedora.
Para quem apostou que o debate econômico não teria qualquer importância o que está ocorrendo mostra justamente o contrário.
Demetrio Carneiro

PROGRAMA PETISTA, INGLESES E BRASILEIROS

A acreditar na matéria publicada hoje no Congresso em Foco o eixo mais importante do programa petista para Dilma Roussef é...cumprir a Constituição Federal. Pode parecer fantástico tanto investimento em especialistas de altíssimo nível para chegar a conclusão que a CF que o PT se recusou a assinar tem no seu corpo o eixo mais importante de todos:
“Crescimento acelerado e o combate às desigualdades sociais e regionais como eixo que vai estruturar o desenvolvimento econômico.”

Evidentemente não é nada fácil montar uma proposta de programa de governo e sintetizá-la em poucas linhas. Exatamente por isso se fala em eixos, que seriam "núcleos" dos quais derivariam outras propostas. Hipoteticamente esses eixos teriam que se articular e todos se estruturariam sobre um conceito de desenvolvimento, políticas públicas econômicas e sociais que interagem com o conceito e um  padrão específico de aparelho de Estado que operasse essa proposta. 
Não tendo nenhum desses graus de articulação a proposta petista passa a interessar pelo que fala, como na questão do "controle social da mídia", já que isso indica claramente uma escolha que afeta a consolidação  do processo democrático  em nosso país e muito ou pelo que não fala. Não falar num programa de governo é uma forma eloquaz de se falar do que não se quer falar.
Embora seja para brasileiros é um projeto para “inglês ver”, amplo o suficiente para acomodar todo tipo de aliança possível e imaginável que garanta ao PT composições estaduais vitoriosas com qualquer segmento. Um discurso “social e moderninho”. É só isso.
O PT não tem nada a oferecer de fato. Nunca teve. Lula se resume a tudo o que puderam apresentar e não é por acaso que o projeto lulista se separou do projeto petista desde o primeiro mandato e Lula caminhou pelo pragmatismo, ora jogando para a esquerda, ora jogando para a direita , mas sempre dentro da perspectiva conservadora que corresponde ao nosso eleitor médio.

Evidentemente não compete à CF explicitar como se obtém crescimento ou como se obtém a quebra das desigualdades sociais e regionais, mas certamente é isso que se esperaria de um programa de governo. Minimamente.
A não ser que se imagine que o combate as desigualdades sociais se limita ao “Aprimoramento permanente dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família” ou a “Ampliação da banda larga acessível a setores populares”, embora muito certamente a especulação com as ações da Telebrás vá deixar muitos companheiros com uma renda bem melhor.
Especificamente no que se refira à tributação parece que os companheiros resolveram ler o tardio estudo do IPEA sobre o formato regressivo da tributação vista como percentual da renda de famílias abaixo de dois salários. Adeptos do +Estado e de despesas públicas resta saber como pensam em compensar essas perdas. Aparentemente a Reforma Tributária petista começa e termina ai.

É um programa que lança apostas desse governo como o Pré-Sal e a transposição do Rio São Francisco. Fala em “novas hidroelétricas” e “pólos de energia eólica e solar”, mas não fala na formatação de uma matriz energética ou matriz de transporte ou do modelo de industrialização ou da inserção geo-estratégica na América Latina ou no mundo que respondam ao futuro. Deveriam ter falado da Copa e das Olimpíadas. Ficaria mais colorido, pelo menos.

Na questão da reforma do Estado o máximo que alcançam é “Privilegiar reformas institucionais que fortaleçam o combate à corrupção e o desperdício de recursos públicos”. Nenhuma palavra sobre as questões federativas e republicanas. Nada sobre a Reforma Política.

No campo das reformas, nada sobre a inevitável Reforma Previdenciária.

Na realidade o programa petista não questiona por meio de suas propostas o principal: O modelo de desenvolvimento. A leitura que ai está é a mesma da feita por Delfin Neto em entrevista recente. São ajustes pontuais. O modelo é esse mesmo. O Estado continua sendo o centro. Mercado e sociedade civil são coadjuvantes. –“Siga o mestre!”. O resto se resolve.

O recado principal é para a classe C : Garantimos que o futuro será exatamente igual ao presente.

Demetrio Carneiro

Eixos do PT: crescimento e programas sociais

Renata Camargo

Entre os documentos apresentados pela executiva do PT para debate no 4º Congresso Nacional do partido, estão as Diretrizes para o Programa de Governo Dilma Rousseff 2010, que traz as principais tendências do plano de governo da ministra-chefe da Casa Civil, pré-candidata de Lula ao Palácio do Planalto.
No capítulo, a executiva se refere à Dilma como a nova presidente do Brasil e afirma que “ao contrário daquela que Lula recebeu, a herança a ser transmitida à próxima presidenta será bendita”. O documento reforça que os eixos estruturais adotados para o desenvolvimento do país serão o crescimento acelerado e o combate às desigualdades sociais e regionais.
“Não tem nada que seja uma ruptura com o governo Lula. Estamos olhando para o futuro, com muito mais acréscimos aqui e ali”, disse o assessor especial do governo para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, um dos autores do documento. “É um documento de diretrizes que o PT apresenta aos outros partidos. Seria estranho se o PT lançasse uma pré-candidatura que viria sem conteúdo de partido”, afirmou.
A exploração dos recursos do pré-sal é colocada como uma das bases de sustentação do crescimento econômico acelerado do país. De acordo com o documento, o novo governo pretende “fortalecer a auto-suficiência do país com hidro-carbonetos, dando continuidade à crescente nacionalização da exploração e da produção”.
“Ênfase especial será dada à criação, a partir do pré-sal, de uma poderosa indústria de derivados. A agregação de valor ao petróleo e ao gás do pré-sal e a constituição de um fundo para apoiar políticas sociais, educacionais, científico-tecnológicas e culturais é garantia contra a ‘maldição do petróleo’”, diz o documento.
Na proposta, a executiva ressalta a continuidade de programas de governo como o Bolsa Família e o incremento de programas como a ampliação do acesso à banda larga no Brasil. No documento, o PT também reforça que o desenvolvimento econômico do país terá como premissa a “sustentabilidade ambiental”.
“As posições do Brasil na recente Conferência sobre a Mudança do Clima, em Copenhague, onde apresentamos a mais avançada proposta de redução de emissões, dão ao atual e ao futuro governo a credibilidade necessária em matéria de desenvolvimento sustentável”, afirma o documento.
Principais promessas da pré-campanha de Dilma:
- Crescimento acelerado e o combate às desigualdades sociais e regionais como eixo que vai estruturar o desenvolvimento econômico;
- Aprimoramento permanente dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família;
- Ampliação da banda larga acessível a setores populares;
- Aprofundamento das políticas de crédito;
- Estabelecimento de uma reforma tributária que reduza os impostos indiretos;
- Criação de uma indústria de derivados do petróleo a partir da exploração das camadas do pré-sal;
- Conclusão das obras do Projeto São Francisco;
- Construção de novas hidrelétricas;
- Desenvolvimento de novos pólos de energia eólica e solar;
- Erradicação do analfabetismo no país;
- Aumento recursos para a saúde;
- Ressarcimento do SUS por atendimentos públicos dispensados aos usuários de planos de saúde;
- Fortalecimento de medidas que promovam a democratização da comunicação social no país;
- Privilegiar o fortalecimento do Estado, mediante a constituição de um serviço público de alta qualidade;
- Privilegiar reformas institucionais que fortaleçam o combate à corrupção e o desperdício de recursos públicos.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

REINALDO AZEVEDO: TELEFONIA À MODA PETISTA

Pelo visto os petistas ficaram com ciúmes do Arruda.
Demetrio Carneiro

ESTÁ PINTANDO UM ESCÂNDALO GIGANTE NA TELEBRAS: OU TELEFONIA À MODA PETISTA


Quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010 | 13:33

A manchete da Folha de hoje é esta: “Boatos valorizam ações da Telebrás em 35.000%”. Isto mesmo: 35 mil por cento!!! Reproduzo trechos da reportagem de Marcio Aith e Julio Wiziack. Comento em seguida:
*
Declarações sem confirmação oficial e rumores sobre a criação de uma estatal para vender serviços de acesso à banda larga inflaram em 35.000% as ações da Telebrás desde 2003, sem que, no período, nada tenha acontecido. A valorização se baseou na suposição, até hoje não transformada em realidade, de que a Telebrás será reativada na implantação do PNBL (Plano Nacional de Banda Larga) - um projeto do governo para levar o acesso à internet a 68% dos domicílios brasileiros até 2014.

A Folha apurou que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) faz, desde 2008, uma ampla investigação sobre o assunto, por meio de uma equipe que inclui não só fiscais do órgão como procuradores. Em dezembro de 2002, o lote de mil ações ordinárias da Telebrás valia R$ 0,01. No dia 8 de fevereiro passado, ela foi negociada a R$ 2,95 (variação nominal de 29.000% ou de 35.000% -considerando dividendos e juros sobre o capital próprio, segundo a Economática).

O investidor que colocasse R$ 10 mil na empresa no dia 31 de dezembro de 2002 teria R$ 3,5 milhões no dia 8 de fevereiro. Já com um investimento de R$ 100 mil o dono do dinheiro tiraria R$ 35 milhões. No clima de euforia em torno das ações da Telebrás, o valor de mercado das ações ordinárias da companhia saltou de R$ 3,4 milhões (custo do camarote expresso 2222, no Carnaval de Salvador) para R$ 2,6 bilhões (valor equivalente ao empréstimo do BNDES para a formação da BrT-Oi, maior companhia privada brasileira).

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Dois episódios retratam a forma como os papéis da empresa se valorizaram. No último dia 2, o representante da Associação Software Livre, Marcelo Branco, usou o Twitter para divulgar, em tempo real, um encontro fechado entre o presidente Lula e entidades da sociedade civil interessadas no assunto. Dizendo-se autorizado pelo Planalto a usar um telefone no encontro, Branco relatou, citando palavras do próprio presidente Lula, nunca desmentidas pelo palácio, que a Telebrás seria, sim, reativada, na esteira do PNBL. Credita-se às “tuitadas” de Branco uma valorização de 33% em apenas dois dias.

Após o episódio, o ministro Hélio Costa (Comunicações) negou que já houvesse decisão sobre a reativação da Telebrás, apesar de o Planalto não ter desmentido Branco. Costa, aliás, protagonizou o maior impulso das ações da Telebrás, em novembro de 2007. Ao participar de evento, ele disse que o governo criaria uma estatal para atender locais onde não há a prestação de serviços tradicionais de telefonia. Simultaneamente, o presidente da Telebrás, Jorge da Motta e Silva, disse que essa seria uma reparação “tardia” para a empresa. Resultado: as ações subiram 572% em dois dias.
Leiam mais aqui e aqui

Comento
Está na hora de Elio Gaspari rever os seus conceitos, não? Aquilo que ele chama “privataria” tucana produziu alguns efeitos no setor de telefonia/comunicações: 1) as ações foram vendidas por um ágio cujo valor em Bolsa (bem menor), um ano depois, provou ser espetacular — portanto, à diferença do que diziam os petistas e certo jornalismo, elas foram vendidas a peso de ouro, não de banana; isso é fato, não achismo; 2) assistimos à universalização do telefone e à impressionante expansão de outros serviços. Alguns são ainda muito ruins, e é para zelar pela sua qualidade que existe a Anatel. Se, sob o governo Lula, passou a ser um cabide político, bem, isso nada tem a ver com a privatização em si. Adiante.

Já a telefonia no modelo petista é diferente: como a gente vê, ela pode PRODUZIR MILIONÁRIOS sem fornecer, no entanto, um miserável telefone aos brasileiros, nada! É uma “riqueza” feita de papelório, nada mais. Nestes sete anos de governo Lula, de boato em boato, o valor de mercado da Telebras saltou de R$ 3,4 milhões para R$ 2,6 bilhões.

A história cheira muito mal. Márcio Aith e Julio Wiziack começaram a mexer num grande escândalo. NÃO SEI NADA A MAIS DO QUE A MATÉRIA REVELA; SEI, COMO SEMPRE, O QUE INDICA A LÓGICA DO PROCESSO. E a lógica do processo me diz que não se fabrica uma valorização de ações dessa dimensão sem que homens muito, vamos dizer assim, “influentes” atuem nos bastidores e nas franjas do poder.

E o que não falta no petismo hoje em dia é essa qualidade de “homens influentes”, não é mesmo? Acusar a “privataria” com argumentos puramente ideológicos é bico. Corajoso mesmo é apontar a ação dos piratas do estatismo.

Na página 68 de Máximas de Um País Mínimo, lê-se:
“SÃO AS EMPRESAS PRIVADAS QUE ATENDEM AOS INTERESSES PÚBLICOS; AS EMPRESAS PÚBLICAS EXISTEM PARA ATENDER AOS INTERESSES PRIVADOS”.

Sinto que ainda faltam personagens de peso nessa história. O tal Marcelo Branco é só um peixe pequeno. Podem apostar que há tubarão na área. E aposto dez contra um que ele tem uma estrela no peito.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

DILMA FORA DE SEU LEITO NATURAL

O “leito natural” a que Dilma parecia predestinada era recuperar o discurso petista pré-2002 deitando falas contra o neo-liberalismo que sustentaria a lógica da estabilidade econômica e ao próprio estilo de política econômica que é o modelo que viabiliza essa proposta.
Nos últimos meses esse discurso tem sido repetido à exaustão no arraial situacionista. Alguns mais apressados como Paul Singer já chegaram até a comemorar o início de uma nova era.

O discurso pró estabilidade não se tratou apenas de uma lógica de oportunidade que viu nas falas da oposição política uma brecha, um flanco aberto.
Havia uma clara questão de confiabilidade e Dilma soube se posicionar rapidamente.

Mais que isso, houve também a compreensão de que os investimentos diretos estrangeiros – IDE terão que fazer parte de qualquer projeto de desenvolvimento futuro, frente a impossibilidade de financiamento pela poupança interna.
De forma paradoxal o +Estado, na medida em que inviabiliza a formação de poupança interna, só se sustenta com a poupança externa financiando. Uso do sistema bancário público para alavancar o crédito, Pré-Sal, Copa, Olimpíada. A fila de demandas é grande.
Poupança externa a preços razoáveis não se conquista com bravatas bolivarianas e sim com estabilidade econômica. O que parece um paradoxo é uma solução. Claro que exportação qualificada também é, mas é bem mais complexo, então prudentemente, até segunda ordem, Dilma é pró estabilidade.

Demetrio Carneiro

PT: VITÓRIA MESMO NA DERROTA

Em certo sentido muito da leitura atual da esquerda ainda está colada no projeto leninista/stalinista de Estado. Nesse projeto é o Estado e sua técno-burocracia transvestida de “representantes da vontade popular” e legitimados pelas “indicações” do partido, o verdadeiro agente das mudanças no seio da sociedade. Nominalmente visto pelo marxismo como agente a história o indivíduo, as pessoas que estejam fora da estrutura Estatal ou para-estatal, é no mundo real um pouco menos que nada. Os agentes da mudança da história são outros.
De fato naquele modelo, a melhor forma de estar no governo era estar no partido. Os critérios de avaliação não eram técnicos, mas político/ideológicos.
Não parece diferente do que estamos vendo na atualidade porque é o que estamos vivendo. O que diferencia o modelo, digamos, LS, do modelo LuloPetista ou LP é o conceito que agrega ao modelo LS a democracia participativa. Na realidade Lênin, embora não fosse assim nos primeiros anos, e Stalim usavam a instância do partido para fazer esse papel. Lula e o PT “democratizam” usando a mística do “movimento social”. Estamos em plena era do “conselhismo”.
Temos exemplos bem atuais e presentes da leitura conselhista e das estratégias que vão sendo organizadas e de seu papel na estrutura de poder real. Esse é um jogo de poder real. Não por acaso estamos vendo alguma coisa parecida com a chamada “todo poder aos Soviets”. Duas propostas de criação de conselhos evidenciam onde se pretende chegar. A primeira na área de comunicação social, criando um sistema de pontuação que pode riscar do mapa os órgãos de comunicação que não caiam nas graças do chamado movimento social e a segunda na área da política externa, praticamente uma proposta que usurpa funções institucionais típicas do Ministério das Relações Exteriores e do Senado Federal.
O que ocorreu com a proposta de Orçamento Participativo, hoje completamente desmoralizado pelo aparelhamento petista, é elucidativo. Inicialmente visto como um processo importantíssimo para trazer a sociedade civil ao debate sobre o uso, e seu controle, dos recursos públicos acabou virando uma instância de confirmação de obras públicas nas comunidades, quando chegou a isso, ou, pior, legitimação por manipulação das propostas do poder executivo. A experiência de articulação para os debates do primeiro Plano Plurianual da época lulista indicaram como seria visto o orçamento participativo no momento em que o poder era real. Os arranjos bem intencionados do primeiro PPA e do segundo seguiram as linhas mais gerais dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU, mas andaram bem longe das propostas feitas pelas entidades. No fim do dia o executivo central fez o que achou melhor para seus interesses. O segundo PPA centrado no problema do ensino básico, conforme a segunda meta dos ODM’s, virou o pacotão da Dilma.
O que estamos vivendo nesse fim de governo é a tentativa de consolidação institucional do modelo LP. A própria Consolidação das Leis Sociais é parte principal desse projeto. O núcleo do que será a proposta de PEC a ser apresentada pelo Poder Executivo não está na consolidação das leis sociais, embora tenha esse nome. Está na consolidação das leis que tratam da co-gestão. É o item II da proposta de Decreto Presidencial. Os outros dois itens, a consolidação das leis social propriamente dita e a formação de um indicador são os entornos.
Eficientes na manipulação e cooptação dos movimentos sociais imaginam “estar no poder” pela via da gestão participativa dentro do Estado, seja qual for o governo. Está iludido quem achar que a esquerda radical vai dar férias. Alavancada nos sindicatos e na gestão participativa a oposição será muito, anotem, muito mais agressiva do que jamais foi.
Claro, também, que isso não implica em lutar contra uma Consolidação das Leis Sociais, mas em colocar o debate sobre o papel dos mecanismos de transferência de renda em relação aos mecanismos de geração de emprego qualificado e sustentável. O próprio programa a ser apresentado ao PT na próxima quinta-feira parece ter sofrido mudanças que o tiraram dessa rota para uma visão menos crítica desse processo. Também não implica em condenar os mecanismos de co-gestão pública, mas em entender que partindo das mesmas premissas, democratização do aparelho do Estado, poderemos chegar a lugares completamente diferentes usando as mesmas estruturas e instituições.
Há muito o que fazer e uma enorme dificuldade de equilibrar de forma republicana as diversas possibilidades de democracia, representativa, participativa e direta, num todo homogêneo e coerente que nos leve para frente e não para trás. Sem projetos claros e, digamos, “desambiguados” as estruturas de poder que servem à democracia podem perfeitamente servir ao autoritarismo. O conceito bolivariano de “democracia das maiorias” é um excelente exemplo. Para finalizar, “desambiguar” significa capacidade de crítica e superação. As propostas de poder fundadas no projeto de transformação “revolucionária” da sociedade e engendradas no contexto da luta pelo que chamamos hoje de socialismo real devem ser criticadas e o posicionamento das forças da esquerda democrática não pode ser ambíguo. Não dá para ter um pé lá e outro aqui, mesmo que isso desmonte toda uma cultura de décadas e custe sacrificar figuras e conceitos que povoaram e povoam o imaginário de esquerda. Como diria o próprio Lênin está na hora de amadurecer. Nosso caminho é outro. Não somos mais companheiros na mesma viagem.

Demetrio Carneiro

sábado, 13 de fevereiro de 2010

DESENVOLVIMENTO E CIDADES VERDES

A matéria abaixo, do Portal do Ecodebate, deveria merecer alguma reflexão. Aqui se trata de criar paradigmas reais. A questão, claro, estará não apenas para o que se criará, embora o modelo possa apontar para estruturas urbanas descentralizadas, mas para como partir do que já existe para chegar no modelo proposto. Por exemplo, o quanto esse modelo ou partes dele são aplicáveis a uma cidade como São Paulo.
Demetrio Carneiro

Cidades verdes e com emissão zero de carbono
Por José Eustáquio Diniz Alves*

11/02/2010 - As cidades são consideradas por muitos como verdadeiras vilãs do meio ambiente e concentram as maiores fontes de poluição e desperdício do Planeta. Algumas pessoas defendem à volta ao meio rural e a reversão da transição urbana que já colocou mais da metade da humanidade vivendo em cidades. Contudo, as cidades podem deixar de ser um problema e se tornarem uma solução. Será que existe a possibilidade de haver cidades com emissão zero de carbono?
Pode parecer sonho, mas já estão em construção projetos de cidades que se pretendem verdes e sustentáveis, ou ecópoles, como as cidades de Dongtan, na China, e Masdar, em Abu Dhabi.
O primeiro exemplo vem do governo de Xangai que está tentando erguer um projeto inovador em Dongtan, no sentido de tornar o local uma cidade totalmente ecológica. Localizada na ilha de Chongming, que possui 86 quilômetros quadrados de área, semelhante à de Manhattan, em Nova York. A cidade de Dongtan pretende ser auto-suficiente em energia e água e utilizar somente fontes alternativas e renováveis de energia, como solar, a força dos ventos, além de biogás e de biomassa. O transporte não permitirá os veículos tradicionais à combustão, mas sim bicicletas e motos movidas a bateria ou carros à base de hidrogênio e outras energias alternativas. Apenas 7 minutos de caminhada separarão as casas da infra-estrutura da cidade, como escolas, hospitais e transporte público. Cerca de 80% do lixo deverá ser reciclado e os dejetos processados e reutilizados como adubo.
O segundo exemplo acontece nos Emirados Árabes onde o governo de Abu Dhabi está constuindo a cidade considerada a mais verde do mundo, chamada Masdar (“A cidade fonte” em árabe). A cidade foi concebida para ter: carbono zero, zero de resíduos e a não existência de carros. A eletricidade será gerada por energia solar e eólica, a água será fornecida através de processos de dessalinização e o paisagismo será feito com água residuais produzidas pela cidade. A maioria das ruas da cidade, por exemplo, terão apenas 3 metros de largura e 70 de comprimento para facilitar a passagem do ar e incentivar a caminhada. Segundo os idealizadores do projeto, a construção da cidade de Masdar foi concebida para atender 10 princípios de sustentabilidade:
1) 100% da energia fornecida virá de fontes renováveis;
2) 99% dos resíduos serão reutilizados, reaproveitados ou usados de maneira ecologicamente correta;
3) O transporte da cidade será inteiramente público e sem emissão de carbono;
4) Só será usado material ecologicamente correto, como recicláveis e materiais certificados;
5) Apenas alimentos biológicos e orgânicos farão parte do cardápio de Masdar;
6) Consumo de água será reduzido em 50% da média mundial e todas as águas residuais serão reaproveitadas e reutilizadas;
7) Haverá preocupação e cuidado com as espécies (fauna e flora) locais;
8) A arquitetura integrará os valores locais;
9) Bons salários e condições de trabalho para todos, conforme definido pelas normas internacionais do trabalho;
10) Investimentos na qualidade de vida e eventos para todos os tipos de habitantes.
Ainda falta um longo caminho para estes projetos visionários se tornarem realidade e uma referência para as demais cidades do mundo. Mas só a concepção e a tentativa de se construir ecópoles já é um passo à frente, significando uma esperança para que um dia, junto com mudanças culturais e nos hábitos de consumo, possamos ter uma sociedade que tenha como base uma economia urbana verde, limpa e sustentavel.
José Eustáquio Diniz Alves, Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, é colaborador e articulista do EcoDebate. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br.
Fonte: EcoDebate

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

E Se Arruda Fosse do PT?

Não digo que aquilo que passa o atual governador do DF seja injusto. Creio que se fez falcatrua, a cadeia é seu lugar! Mas não deixo de me perguntar: e se ele fosse do PT?

Com as mesmas provas, acho que diante da prisão do governador “petista” teríamos a esplanada tomada por “heróis” da democracia, denunciando o “golpe das burguesias” contra o governo do “povo”.

Como a recente passeata ocorrida no DF evidencia, protesto liderado por “corajosos” vestidos e portando bandeiras do PT, esse é um partido que tem em suas fileiras de militantes gente sem a mínima vergonha na cara.

Alguém poderia questionar: o PT errou no seu mensalão, mas isso não tira dos petistas o direito de denunciar crimes iguais!

Isso é a mais absoluta verdade! Porém, protestar contra o Arruda e aceitar pacificamente José Dirceu, Genoino e cia na direção do partido e no comando da campanha a presidência é a mais pura e simples prova de picaretagem e falta de vergonha.

Um viva aos baluartes da moral e da ética!

Abs

José Carneiro

Amorim vs Amorim

“É preciso que haja um diálogo direto. O Brasil está pronto a ajudar nesse diálogo, mas evidentemente tem de haver uma disposição das partes principais. Agora, nós não acreditamos que sanções vão ter resultados.”

"...Não sou ingênuo sobre as dificuldades de um acordo. Mas o outro caminho, o das sanções, foi perseguido nos casos do Iraque e do Irã sem que nada tivesse acontecido...”

"...Se as sanções econômicas contra o Irã se tornarem mais apertadas, quem sofrerá são os setores mais frágeis da sociedade..."

Ou seja, para Amorim, sanções não são aceitáveis, não funcionam!, apenas prejudicam os mais pobres.

Porém, Amorim afirmou poucos meses atrás:

"É preciso que compreendam que eles têm que sair, que estão apenas retardando sua agonia, porque eles não têm condições de ficar. Com prejuízo para o povo hondurenho que vai sofrer se eles não saírem logo, à medida que essas ajudas sejam cortadas, que comece a faltar dinheiro para pagar o funcionalismo. Eles podem abreviar isso resolvendo logo a situação, nos termos da OEA (Organização dos Estados Americanos)".

Ora, sanções funcionam ou não? Segundo Amorim elas são inaceitáveis quando aplicadas às “democracias” do Irã e Iraque, mas devem ser severamente impostas à “ditaduras” como Honduras.

Na verdade, nem essa coerência o Ministro apresenta! Ele afirma serem sanções inaceitáveis, ponto! Mesmo tendo sido ele um dos que mais lutou por sanções contra Honduras. É a mais pura e simples falta de vergonha na cara mesmo!

Por fim, vale lembrar: “O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, disse nesta quinta-feira (11), durante discurso de celebração do 31º aniversário da Revolução Islâmica, que seu país já tem capacidade para enriquecer urânio a 80%, mas que, neste momento, não está interessado a produzir urânio neste nível.” (Fonte: G1)

Quem lembra do Dr. Fantástico?! A idéia de destruição mútua assegurada de Von Neumann, que fundamenta o equilíbrio de poder atômico entre nações, não é útil para defender o “direito à bomba” do Irã, mas sim para justificar um ataque maciço às instalações nucleares daquele país. Após o carnaval formularei um post sobre esse princípio básico de jogos.

Abs

José Carneiro


PS: Devo uma resposta a um questionamento feito ao post sobre Caixa e BB, prometo escrevê-la em breve.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

QUESTÃO PROGRAMÁTICA EM 2010

Já houve quem apostasse que o debate programático para 2010 não teria muita importância. A evolução da situação está demonstrando exatamente o contrário.
Embora a mídia enquadre mais como uma queda de braço formal do PMBD para disputar espaços de governo, é sintomática a postura ao indicar Meirelles e Jobim como produtores de seu programa. Principalmente no caso de Meirelles aquele partido se mostra sensível a todo um processo de desconstrução do discurso de estabilidade econômica.
A crítica ao conceito de estabilização dentro do PT e em outros campos da esquerda sempre existiu. Não é por acaso que o PT votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, vista na época como uma imposição do FMI. A leitura da esquerda radical é a da estabilidade e seus instrumentos como elementos de operação de um conceito que fere diretamente os interesses da população brasileira e do desenvolvimento nacional.
Embora toda a história econômica recente mostre que os ganhos para as famílias mais pobres só se deram porque a estabilização monetária permitiu a permanência do poder de compra, hora ou outra alguém aparece com falas que tentam induzir uma lógica diferente.
Desde o início desse Blog estamos alertando que o debate principal de 2010 seria um debate sobre o Estado e seu papel na política de desenvolvimento. Não há desenvolvimento sem estabilidade.
Demetrio Carneiro