quinta-feira, 31 de março de 2011

INFLAÇÃO TRIBUTÁRIA

Aumento de 15% para bebidas e água!!!, numa previsão de arrecadação de cerca de mais R$ 1 bi apenas entre abril e dezembro de 2011. A desculpa deve ser reduzir o consumo de álcool e refrigerantes, mas de água???;

Aumento de IOF de mais de 200% nas compras em CC no exterior. A desculpa deve ser o péssimo desempenho do real que absurdamente insiste em ficar valorizado. E lembrar que já se gastou tanto papel com discursos contra nossa fraca moeda em épocas passadas.

Veja abaixo os dados apresentados por estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário e diga se realmente precisavam aumentar, para muito mais, os tributos:

- Arrecadação tributária cresceu 17,80% em 2010;
- Nos últimos dez anos, de 2001 a 2010, a arrecadação tributária cresceu 264,49%;
- No mesmo período o IPCA cresceu 89,81%;
- Nestes dez anos, o IGP-M apresentou variação de 129,85%, o IGP-DI variou 128,58%
e o INPC apresentou variação de 97,15%;
Neste período, o PIB teve variação nominal de 212,32%;
- A arrecadação tributária cresceu 92,03% acima do IPCA (Inflação Tributária).

quarta-feira, 30 de março de 2011

O QUE A TAXAÇÃO RESOLVE OU NÃO

Em entrevista dada ao Financial Times  ontem, 29, o Tony coloca pontos a serem considerados:

"O mercado de câmbio não tem dado muita atenção a essas medidas. O que impulsiona o real são, essencialmente, os fundamentos brasileiros e preços das commodities.", nas palavras dele.
É um processo de aprendizado: Adotar medidas e ver o que funciona.

Na base da questão cambial a capacidade concorrencial da indústria brasileira.
Quero, então, agregar outro ponto:
Ontem a mídia registrava uma mudança de posição de Dilma, portanto do governo brasileiro, quanto à China. Aparentemente a inicialmente firme defesa feita por Lula de que naquele país haveria um “regime de mercado” definitivamente será posta em cheque. O contra-ataque chinês não tardou e tocou num ponto sensível de nossa política externa ligado à visão geoestratégica brasileira.
Para além de todas essas ações experimentais na política cambial, que poderão ser mais paliativas do que eficientes, parece que a relação China/Brasil receberá uma outra abordagem com o governo brasileiro retirando a luva de pelica. Na base justamente a fortíssima concorrência dos manufaturados chineses dentro do próprio mercado brasileiro. Se com relação à concorrência no exterior obviamente não há muito para fazer.
Em última análise a China protege seus pintinhos. Cabe ao Brasil sair da neutralidade e tentar fazer com que pelo menos internamente os reflexos não sejam tão potentes. Ou seja, quem tem que cuidar de seus pintinhos é o Brasil.
Neste sentido tirar da China a qualidade de regime de mercado abre a porta para ações mais efetivas.
Não por acaso a Polícia Federal tem produzidos ações pesadas contra a máfia de importação irregular de manufaturados. Poucos dias atrás fizeram quase que um showmício num shopping paulista, aliás de propriedade de um conhecidíssimo contrabandista chinês.

Enfim o futuro mostrará os limites desta ação direta. No fundo também não deixa de haver um experimentalismo e algum grau de incerteza na medida em que um recado mais forte poderá retrair os preciosos investimentos diretos estrangeiros, dos quais uma parte bem significativa é de origem chinesa. O que, alias, recoloca outra nova questão quanto à uma estratégia de reorientação de IDEs do setor de commodidities para o de manufaturados, por exemplo. Sendo o primeiro o foco principal dos investimentos diretos chineses.

Possam ou não ser saudadas estas medidas protecionistas voltadas para a questão cambial ou para a relação comercial Brasil/China são pontuais quando em realidade deveriam ser medidas inseridas numa lógica de desenvolvimento economicamente sustentável que só se realizará com efetivas ações quanto ao custo-Brasil ou aos empréstimos de longo prazo fora da estrita órbita do BNDES ou à inexistente cultura interna de poupança, apenas para apontar alguns temas.

Não há nada a comemorar. Falta do governo Dilma sair do tradicional imediatismo das políticas de defesa da indústria brasileira. Olhando para a história não é difícil perceber ao lado do dado positivo um enorme passivo negativo nos custos do estímulo à permanência da baixa capacidade competitiva. Precisamos não de discursos, mas de políticas de longo prazo que permitam à nossa indústria uma real capacidade de competição interna e externa.
Como diz o ditado: De boa vontade o inferno está lotado.

Demetrio Carneiro

terça-feira, 29 de março de 2011

POLÍTICA CAMBIAL COMO DESCULPA PARA MAIS TRIBUTAÇÃO

Parece que tem um destino manifesto para a classe média brasileira: O consumo reprimido. Quando o real dá uma apreciada e nossa ilustre classe média bate asas para o exterior comprando todo tipo de gadjet, torrando alguns bilhões na sua festa tardia o governo sobre taxa o IOF com base no argumento do consumo destritivo de divisas.
Que coisa! Uma hora a receita dá uma liberada. Na outra a fazenda dá uma apertada.
Conclusão: Não tem nada a haver com política cambial. Tem a haver com arrumar mais uma desculpa para arrancar uns trocados dos contribuintes. Só.
É o mais puro estilo Mantega de fazer as coisas...

Demetrio Carneiro

domingo, 27 de março de 2011

SEM ILUSÕES. A CHINA É AQUI MESMO

Atenção CNI e FIESP: Não dá mais para escrever acusando a China de ser desleal na concorrência empregando mão de obra semi-escrava ou escrava.
Ao contrário de influenciarmos mudanças lá mudamos nós aqui...

Ao contrário do que parece o "crescer a qualquer preço" teve preço na antiga União Soviética, tem um preço na China e tem preço aqui também.

Enquanto isto os sindicatos e o Ministro do Trabalho pedetista fazem de conta que defendem os trabalhadores.
Onde estava a fiscalização governamental?
Será que dessa vez o "Brasil que não pode parar" vai parar na cadeia? Ou vai ser mais uma "conspiração" que vai para baixo do tapete?


Demetrio Carneiro

sábado, 26 de março de 2011

MENSALÃO DO LULA VAI VIRAR POEIRA

O STF é o topo. Lá está a máxima autoridade do sistema judiciário.

Nas democracias supõe-se que ao crime deve se seguir a punição, pois o reinado é das leis e não o da vontade das pessoas.

Deveria ser, mas não é. Lula, o jurista, já interpretou e deitou parecer claro e direto: O mensalão é farsa. É golpe. Nunca existiu.

Existir existiu, mas com a devida colaboração do topo do sistema judiciário brasileiro logo deixará de existir e Lula estará certo.


Demetrio Carneiro

BRASIL IMPORTA ALCÓOL COMBUSTÍVEL DOS EUA!!!!: MUDA A ESTRATÉGIA NACIONAL PARA OS COMBUSTÍVEIS RENOVÁVEIS.

Realmente para os americanos a viagem de Obama ao Brasil foi extremamente lucrativa.
O presidente americano voltou com uma garantia de fornecimento de petróleo bruto, o que facilita parcialmente a vida deles em relação a instável e problemática Venezuela do “amigo” Chaves, e, de quebra vendeu para nós o que já foi fonte de orgulho nacional pelo pioneirismo e pela liderança mundial na produção: Álcool combustível.

Em épocas passadas o antigo PT da presidenta Dilma, fosse outro presidente, FHC, por exemplo, já teria ido às ruas denunciando a confirmação da relação imperialista: Exportação de produto em estado natural contra a importação de produto beneficiado. Obama deve estar muito satisfeito. Talvez nem tenha se dado conta da ausência de Lula, nessa altura o “ex”-cara. Afinal vendeu para o Brasil um produto cuja produção dentro dos EUA tem sido razão de pesadas críticas por conta de um especial dilema entre produzir combustível ou produzir alimento essencial. No caso o álcool americano é derivado do milho que é o segundo maior produto agrícola americano depois do trigo. Muitos americanos apontam o exemplo negativo da produção de álcool brasileira sobre a produção e o preço do açúcar como um exemplo “a não ser seguido”.

No fim do dia nada demais. Apenas o que parece ser uma completa desorientação estratégica. Vamos argumentar e mostrar que está muito longe disso e é, na verdade, uma lógica já consolidada de despriorizar os combustíveis renováveis em favor do petróleo, combustível não renovável.

Primeiro vamos contar uma historinha. Existe um Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
É um entre uma verdadeira multidão, pós Constituição Federal de 1988, de “conselhos” de todo o tipo. A Administração Pública brasileira vai transformando o Brasil no “País dos Conselhos”, talvez numa analogia tardia com o “País dos Soviets”.
Muito bem. O papel principal do CDES é produzir a estratégia nacional. É o documento chamado Agenda Nacional de Desenvolvimento, renovado periodicamente, pari passu com o Plano Plurianual, que serve para informar a fundamentação estratégica do PPA que é o plano estratégico da gestão pública brasileira.

Em dezembro de 2010, ao apagar das velas da gestão Lula, o CDES produziu uma espécie de atualização da AND: Agenda para um novo ciclo de desenvolvimento. Obs.: Na página procure o tópico "documento estratégico".
Na realidade está dentro das competências do Conselho e das boas regras de planejamento atualizar documentos estratégicos. O que soa estranho é que tenha sido feito no último minuto do segundo tempo.
Eu diria que houve a nítida intenção de deixar já delimitado o pensamento estratégico do novo governo. Tentativa, aliás, feita em diversas outras áreas por ações construídas na última hora e que normalmente, até por respeito ao sucessor, não deveriam ser produzidas.

Bom, agora voltemos ao fio da meada. Lido o documento o que se fala sobre combustível?
Baratear os custos de energia e de combustíveis. Realizar estudos para viabilizar a redução das tarifas de energia e praticar a modicidade tarifária, considerando os encargos que incidem sobre as tarifas de energia elétrica e de combustível, inclusive a carga tributária.”
Uma interessantíssima proposta que estaria bem na oposição: Corte de impostos para baratear o combustível!?? Podemos realmente esperar este tipo de atitude do governo Dilma? Quem viver verá ou melhor, não verá.

Nada mais. Mesmo falando sobre economia verde, produção sustentável etc. nada se fala sobre álcool combustível. Apesar de um processo de mais de duas décadas com pesadíssimos investimentos, apesar do remanejamento da frota nacional para o motor flex, nada.
Pelo contrário o documento lança um argumento verdadeiramente revolucionário: O combustível fóssil “sustentável”:

“Aumentar a produção e exploração de petróleo e gás natural, com ênfase nas reservas da província petrolífera da camada do pré-sal, considerando os novos marcos regulatórios, o incentivo à formação de cadeia de fornecedores nacionais com competitividade internacional e adotando tecnologias que garantam a exploração, a produção e o refino da maneira mais sustentável possível, de modo que o Brasil possa liderar a produção global de hidrocarbonetos sustentáveis.”

Conforme pudemos argumentar em outros posts e argumentamos agora a visão estratégica governamental deixa de lado a questão dos combustíveis renováveis, usa o alcóol combustível para suplementar a balança comercial e foca sua atenção no Pré-Sal que se transforma na bola da vez. Assim, sem choro, nem vela. Não tem plano B.
A idéia é extrair tudo o que der. Não se discute o custo ambiental. Parece que a questão dos combustíveis renováveis fica para um segundo momento, o que é uma péssima orientação, pois desestimula pesquisas e congela propostas, inclusiva as alternativas ao álcool combustível.
É totalmente incoerente falar em Economia Verde, como está no documento, adotando este estilo de proposta quanto aos combustíveis.

E prior, a sustentação da lógica não parte da autoridade. Parte de um conselho paritário, exercendo a democracia participativa, que tem representantes da “sociedade civil” que nos representam a todas e todos.

Podem até me “representar”, mas ando muito longe de concordar com isso. Agora, para meu azar, ser voz discordante num país onde a esfera da política profissional e os partidos em geral estão mais perdidos que cego em tiroteio quando se trata de discordar do Poder é triste. Espero que pelo menos nisso todos concordemos.


Demetrio Carneiro

quarta-feira, 23 de março de 2011

VÍDEO PORTUGUÊS SOBRE O COMBATE À CORRUPÇÃO

No fim do dia Portugal não é tão diferente, pois a luta contra a corrupção, a apropriação privada dos recursos públicos, deve ser universal.

Assistam ao vídeo é muito interessante.

Demetrio Carneiro

domingo, 20 de março de 2011

O CAPITAL POLÍTICO DA OPOSIÇÃO

Um pouco antes das eleições, quando já estava delineada a derrota de Serra, uma das questões era sobre o se faria com o capital político da oposição. Embora estive certa a vitória de Dilma as pesquisas também apontavam que não seria uma vitória esmagadora. Pelo contrário, tendo em vista a desorientação da campanha de Serra e o investimento pesadíssimo do governo Lula até que os números foram bem favoráveis.

Naquela época o que dizíamos é que a oposição deveria saber se articular rapidamente com base no debate propositivo e de olho na questão do desenvolvimento que deveria ser o ponto fraco, já que a proposta de Dilma era basicamente a mesma de seu antecessor: O estilo mais clássico do nacional-desenvolvimentismo.

De concreto, com a oposição focada nos debates pontuais, incapaz de apontar propostas objetivas, o capital vai se esvaziando e alguns parecem contar com uma crise que lhes abra uma saída ou com as contradições da amplíssima base de governo. Pode ser muito pouco. Logo saberemos. 2012 está ai na porta. Já.

Dilma conquista parcela expressiva dos eleitores de Serra

Demetrio Carneiro



sábado, 19 de março de 2011

ECOS DO PASSADO E AFIRMAÇÃO DO PRESENTE.

Dilma falou...

E, para quem pouco fala, falou bastante. Ai abaixo, no final do post, vão as avaliações de Tony Volpon.

De meu ponto de vista registro basicamente a confirmação de que a política econômica será tocada pelo conceito de gatilho a ser disparado por um piso de crescimento previsto para 4,5%/ 5%.
Sendo assim há limites para tudo que crie obstáculo ao piso, o que explica o corte com contra-corte destinado a mudar a operação contábil, mas não a proposta do gatilho. Da mesma forma explica a mudança da política de atacar o centro da meta inflacionária pela política de tolerar variações dentro da banda sem que o núcleo seja o gatilho da Selic. Segundo Dilma variações para baixo (magnanimidade?) ou para cima.

Como diz o Tony, abaixo, é o trade-off, clássico, entre crescimento e inflação. Dilma parte da lógica desenvolvimentista presente em amplos segmentos do PT e de outras forças de esquerda: Só o crescimento e o forte papel do Estado, pela via do gasto, implementação do investimento e do estímulo ao gasto das famílias, são capazes de garantir uma política distributivista, direta ou indireta, contínua. É dentro da lógica do distributivismo que encara com tranqüilidade o aumento do salário mínimo previsto para 2012. Na realidade a gestão Dilma assume claramente um lado na questão do Estado e da partição da renda.
Na lógica desenvolvimentista mais clássica, como a atual, cabe ao mercado interno o pólo dinâmico e sustentável de crescimento, tendo o consumo das famílias papel preponderante. É realmente a escolha pelo consumo como pólo dinâmico, o que sustenta todas as políticas de expansão de crédito. A trava dada agora foi uma trava macro-prudencial ou seja pontual. Em notícia de hoje avalia-se que a decisão de aumentar a margem de compulsório, por exemplo, retirou da economia R$75 bi o que não é exatamente um valor desprezível.

Na realidade é um mix de política econômica onde se aceita o princípio da estabilidade fundado na lógica do tripé, desde que não afete o piso de crescimento projetado. É uma relativização condicional do conceito de Estabilidade.

Para cima a conversa é bem outra. Quando Dilma questiona o “teto” de crescimento, dentro da lógica de que há um limite estrutural a partir do qual o crescimento perde impacto e vira inflação o faz repetindo um discurso já existente de que ninguém é capaz de determinar com precisão onde está o teto: 5%, 5,5% etc. e assume, portanto, que nos período de forte expansão o governo buscará o teto experimentalmente, que é meio o que veio sendo feito agora. Enfim, há um gatilho para baixo, mas não há um gatilho para cima. Evidentemente esta lógica de tolerância para cima afetará o conjunto de desempenho do pensamento econômico do governo, inclusive o BC.

A questão distributivista no seu sentido mais amplo merece uma observação a mais. Sendo o eixo central da política do gatilho do piso mínimo pode levar a questões complicadas :

Uma é a admissão de que a inflação é tolerável desde que se mantenha a proposta básica e enveredarmos pelo caminho do inverso do que se pretende com um crescimento comprometido. Convém alertar que a perda da memória inflacionária de nosso passado é relativa, já que as pesquisas de percepção indicam um grau de preocupação com a questão disseminado entre a população;

Outra é a que se refere ao resultado concreto. A estratégia de governo para executar esta proposta distributivista no seu sentido mais amplo de partição de renda a partir do Estado é firmada na promoção apenas na faixa de população de risco. Acima do risco cessam os efeitos das políticas de promoção. Quer dizer o aumento da renda via salário mínimo, importante para os segmentos não qualificados da população, com um bom exemplo no setor de trabalhadores que atendem a classe média, tipo empregadas, faxineiros etc., ou o pagamento dos benefícios de previdência ou o pagamento da Bolsa-Família, pode ter forte impacto num mercado interno sempre capenga da participação de amplos segmentos da população brasileira, pode ter impacto na PNAD promovendo a incrível e recente mudança na base social. Lembrando que essa mudança só se viabilizou pela via da promulgação da Constituição de 1988.

Muito bem, o problema da atual lógica é que a renda não resolve a promoção social sozinha.
Há, por exemplo, uma forte, midiaticamente falando, política de promoção de direitos. Mas é mais midiática que concreta e a prova está na execução orçamentária. Hoje, também, o Portal Contas Abertas divulga que a Secretaria da Igualdade Racial desembolsou menos da metade de sua verba. Certamente não será por falta de objeto, mas de objetivo.

Infelizmente agregado ao conceito desenvolvimentista clássico, que é o dominante, a visão de Delfim Netto, de distribuir por conta do crescimento do bolo, é a prevalente. Fala-se em crescimento como “receita mágica”.
Não o crescimento não é receita mágica. Se fosse todas as nossas décadas de crescimento econômico, acima do crescimento vegetativo teriam gerado necessariamente outro perfil de distribuição de rendas, que é tão absurdo hoje quanto era 20, 30, 40 ou 50 anos atrás, quando começou o atual ciclo de crescimento mais acelerado, com relação ao passado anterior entre o início do século e a década de 60.
Nenhuma coincidência no fato de 30% dos mais ricos do mundo, na relação da Forbes, serem brasileiros.

Acima da faixa de pobreza o que garante promoção social é ensino qualificado que gera o emprego qualificado. É bom não esquecer que a máquina que elegeu Dilma foi montada pela retirada da qualidade do Ensino Básico como prioridade e sua substituição pelo PAC.
A construção de uma sólida estrutura capaz de fornecer um ensino básico de qualidade é uma questão de tempo e vontade política, mas é a partir desta base concreta que se constrói um processo de autentica promoção social.

De outra forma não adianta ter pessoal qualificado se não em áreas voltadas para a economia sustentável, o que representa a necessidade de repensar todo o nosso modelo de desenvolvimento.
A exportação de commodities pode ser um bem ou um mal. Anotem, para não esquecer, que uma das pautas mais importantes da visita de Obama é assinar um acorde de fornecimento de petróleo bruto para os EUA.
Poderemos, como nos últimos 500 anos, exportar material bruto e dar ao país praticamente nada e, quando se esgotarem as commodities finitas, apenas lamentarmos o azar ou podemos usar o processo para financiar outras escolhas, que sejam sustentáveis.

Isto, por sua vez, vai nos remeter ao Custo-Brasil e aos gargalos de investimento que a política de transformar o BNDES num banco de investimento três maior que o Banco Mundial absolutamente não resolve.

Enfim, todo este debate sobre gatilho para baixo, inexistência de gatilho para cima ou relativização do conceito de Equilíbrio é apenas uma ponta de outro debate. Quer dizer, pensar assim não retira a essencialidade e importância da discussão da política econômica de Dilma, mas é importante que se perceba onde um debate fica inserido em relação ao outro.
Quem muda, taticamente é bom esclarecer, é o projeto nacional-desenvolvimentista que agora confirma a aceitação da Estabilidade, mas relativizada, para alívio de muitos.
Menos mal, pois foi este mesmo projeto que navegou, sem medos ou receios, pelo menos inicialmente, tanto pela irresponsabilidade fiscal, quanto pelo regime de alta inflação.

Entretanto é bom frisar que a aceitação tática anda muito longe de representar uma mudança do pensamento central, que permanece o mesmo dos últimos 50 anos.
Demetrio Carneiro



Abaixo a nota do Tony:

Em sua primeira entrevista como presidente ao jornal financeiro Valor, publicada hoje, a presidente Dilma Rousseff fez uma série de observações importantes sobre a economia brasileira, que resumimos abaixo:

1. Ela julga a que a atual crise japonesa "atrasará um pouco" a recuperação mundial, mas que conduzirá a uma maior demanda por petróleo e gás natural em substituição a energia nuclear.

2. Ela considera que o desenvolvimento do petróleo do "pré-sal" como estratégica para o desenvolvimento econômico nacional; que ela o chama de "passaporte para o futuro" do Brasil.

3. Ela diz que vai "não permitir que a inflação volte ao Brasil." Mas ela também diz que acredita que o Brasil vai crescer 4,5-5% este ano, e que "não há incoerência entre o corte de R$50 bilhões em gastos e entregar R$55 bilhões para o (banco estatal de desenvolvimento do Brasil) BNDES, para sustentar os investimentos ".

4. Continuando na frente macroeconômica, ela afirma que "a velha discussão sobre o potencial de crescimento tem de ser revisitada" e que ela não acredita que a inflação no Brasil é devida ao excesso de demanda. Relativamente ao último ponto, ela afirma: "[este é o lugar onde] nós divergimos com determinados segmentos. Nós não pensamos é um problema de demanda ... é óbvio que temos tido ultimamente uma alta no preço dos alimentos ... e pressão sazonal. Quando perguntada sobre a inflação de serviços, que bateu o nível de 8%, ela respondeu:" nós temos que acompanhar isso. Mas não é possível dizer que o Brasil está crescendo além de sua capacidade e assim que o crescimento está causando a inflação. "

5. Dilma Rousseff também diz que não irá "derrubar o crescimento", mesmo que ela prometa reduzir os gastos correntes. Ela descreve sua política fiscal como "consolidação fiscal" e não uma política de contenção orçamentária.

6. Ela diz que sua política quanto a inflação é manter a inflação na meta, mas "nós temos a parte ascendendo ou descendendo na banda". Quando perguntado sobre as dúvidas do mercado sobre o Banco Central do compromisso do Brasil (BCB) de combate à inflação, ela disse que o mercado às vezes acerta, às vezes erra, e que ela acredita em um "Banco Central profissional e autônomas".

7. Quando perguntado sobre os riscos da inflação decorrente do aumento, esperado, de 14% do salário mínimo em 2012, Dilma Rousseff justificou a regra atual (correção da inflação anual, mais o crescimento do PIB de dois anos) como sendo justa para dar aos trabalhadores parte do crescimento e da produtividade ganhos vistos no passado. Ela diz que a regra atual "não é a indexação, e quem diz isso não se preocupa com o trabalhador brasileiro".


8. A entrevista deixa claro que há áreas de divergência entre o governo e o mercado, mas também apresenta nuances de ponto de vista sobre as principais questões macroeconômicas. A recusa em admitir qualquer tipo de trade-off entre inflação e crescimento podem ser em parte uma estratégia para manter elevado o "espírito animal" e da necessidade, que é política, de não admitir ajustes fiscais como consequência da política induzida de sobreaquecimento da economia. A ênfase na explicação do choque pelo lado da oferta para a inflação atual é, também, acreditamos, uma defesa do uso excessivo do “escorvar a bomba”*, feito por seu antecessor em ano eleitoral. No entanto, mesmo com os ajustes que estão sendo feitos há uma clara escolha de investimentos “direcionados” que irão adicionar capacidade de produção futura independentemente de qualquer esforço para controlar a inflação, o que é consistente com a visão do governo de que foram os pesados investimentos do BNDES, que "salvaram" a economia brasileira, de uma grande recessão durante a crise financeira. Sua defesa da política de salário mínimo atual é na mesma linha, com o seu governo acreditando que o forte crescimento do consumo é a chave para o desenvolvimento social e econômico em curso.

Apesar da insistência de Dilma Rousseff de que ela não vai "negociar" com a inflação há outras "metas" importantes em sua política macroeconômica: Da sustentação dos altos investimentos até a utilização da política salarial como um instrumento de redistribuição de renda.
O como ela equilibrará as escolhas, no sentido do trade-off econômico básico “crescimentos versus inflação”, é que determinará em grande parte o sucesso de seu governo.

*Mecanicamente significa uma sangria que retira as bolhas de ar que impedem que a água seja sugada por uma bomba hidráulica. Em economia trata-se de um conceito keynesiano que envolve estímulo pela via da despesa pública para manter ou elevar níveis de demanda.NT(DC)

quinta-feira, 17 de março de 2011

KADAFI SERIA O DURVAL DO MUNDO OCIDENTAL?

Isolado e acuado Kadafi ameaça abrir seu baú de lembranças e trazer à público o financiamento de operações de apoiamento político na França. Imediatamente refutada pelas autoridades francesas. Há muito anos já correm notícias sobre o papel do ditador no financiamento primeiro do terrorismo e depois de movimento políticos e políticos, inclusive, associados a seus interesses no exterior. Evidentemente o “recado” não foi apenas para o presidente francês...

 

Vamos ver se ele resolve mesmo abrir o verbo. Pode ficar muito interessante.

 

Demetrio Carneiro

 

SORTEIO PARA ESCOLHER O PRESIDENTE?

 

Mais um texto de dica de leitura do “davidexpress”, se o próprio me permitir:

 

É um texto de Rudá Ricci e tem uma tese original sobre Dilma e outra sobre a oposição, embora não seja exatamente novidade.

 

O interessante é que dá como perdida a democracia representativa e passa por cima da direta, criando uma “democracia rondômica” ,  que até pode ter dado certo em algum lugar, mas que hoje é inviável dado o tamanho, a complexidade e ao “tempo estatal” que se mede em anos para avaliar efeitos reais das políticas públicas.

 

Talvez fosse mais oportuno é decretar ou morte do Presidencialismo Centralizador e Verticalista ou reconhecer a falência absoluta da República de 1988.

A aversão ao “político” é tão forte que a solução lógica : O parlamentarismo - separando o espaço público da produção e execução de políticas do espaço público negocial e produtor de política – que acaba relegado ao segundo plano e abandonado.

 

Claro que o estilo “o parlamento tudo resolve” das oposições não ajuda em nada. De fato a esquizofrenia chegou ao ponto máximo quando a oposição no executivo veste uma capapuça e a mesma(?) oposição no legislativo veste outra.

Se Blairo, ex-PPS, reclama da falta de objetividade do parlamento é por que na verdade o regime parlamentar não existe mais. É só isto. Numa República digna do nome parlamento e executivo seria peças de um jogo de pesos e contra-pesos que a possibilidade de compra das maiorias parlamentares pela via do famoso caixa dois “que todo mundo faz”, como lembrou Lula, simplesmente eliminou.

Não dá para discordar que este caminho que estamos aponta diretamente para o suicídio.

 

Quanto à Dilma e sua Agorofobia, acho que não precisa de psicanálise ou leitura da clandestinidade feita pelo interessante, mas discutível na avaliação, texto do Ridenti. Basta entender o papel do Poste na política. Dilma foi um poste plantado por Lula para fazer o “seu” terceiro mandato. Assim, sem choro nem vela, bem no nariz da nação. Operação feita sem disfarces ou retoques. Cada de pau consumada e, pior, aceita e eleita.

Neste momento, que bem pode ser de transição, as pessoas estranham o silêncio depois de oito anos de falas diárias ou de dezenas de falas diárias. Esqueceram dos outros presidentes, muitos dos quais também não falavam tanto.

Talvez faça falta ou o Lula pautando Dilma, que era a denúncia e expectativa da oposição. Ou Dilma expressando abertamente seu desabrochar, como é esperança de muita gente. Enquanto não acontece uma coisa ou outra Dilma é o casulo e todo casulo tem um quê de mistério, pois entre a lagarta e a borboleta tem muita diferença. A principal é que a borboleta voa por conta própria.

 

Demetrio Carneiro

 

Agorafobia Política


Acabo de ler dois livros que motivaram este artigo. O primeiro foi “O fantasma da revolução brasileira”, de Marcelo Ridenti. Gosto dos livros de Ridenti porque são honestos, objetivos, sem firulas. Lembro de um livro que li, tempos atrás, onde descrevia os autores clássicos da sociologia, relacionando-os com as práticas políticas. Um trabalho típico de educador, honesto e solidário. Neste livro que acabo de ler, Ridenti retoma, ao final, uma expressão de Giannotti para descrever a esquerda brasileira que entrou na luta armada: “permanência representativa”. Seria algo como a ilusão da perenidade da representação dos partidos e organizações de esquerda em relação aos desejos das classes trabalhadoras. O autor vai mais além e retoma o impacto psicológico da clandestinidade, que impele à uma profunda solidão e à ida sem volta, já que a clandestinidade transforma o militante em profissional: está totalmente submetido à organização, que o sustenta, inclusive materialmente. Imagine o impacto psicológico desta prisão que aparta o militante do corpo social, da dinâmica tortuosa da vida política pública. O militante clandestino visualiza uma trajetória retilínea e o mundo lá fora dando voltas e trançando movimentos erráticos. O pior dos mundos para quem quer ser a expressão dos que estão lá fora.


O outro livro foi “O Poder do Povo”, de Yves Sintomer. O autor trabalha sobre uma tese das mais polêmicas: o sorteio como prática democrática. Retoma Aristóteles para quem as funções públicas que não requeriam experiência específica deveriam ser sorteadas, como ocorre na montagem do corpo de jurados num julgamento público. O autor descreve a experiência ateniense, de Veneza e Florença. A descrição da experiência do Grande Conselho de Veneza chega a causar vertigem no leitor: o conselheiro mais jovem saía à rua e retornava com a primeira criança que encontrasse, que retirava, por sua vez, bolas de madeira (denominadas “balote”) de uma urna. Daí eram sorteados 30 eleitos que se reduziam a nove após novo sorteio. Esses nove eleitos elegiam, então, 40 conselheiros por maioria qualificada, que eram reduzidos a 12, por sorteio. Esta rotina se repetia por nove turnos, até a escolha final do “doge” (o comandante, o magistrado supremo de Veneza). A candidata socialista da França em 2007, Ségolène Royal, sugeriu recentemente que se criasse um júri de cidadãos sorteados para avaliarem os governos. Em 2006, Marousi (cidade próxima de Atenas) evocou a experiência do sorteio para que 131 cidadãos definissem o candidato socialista à prefeitura.


Mas, o que teria a leitura dos dois livros em comum?

A noção que a democracia vai muito além da democracia partidária, onde os eleitos possuem uma grande autonomia para decidir em nome do voto. A democracia partidária parece se transformar num simulacro de espaço público (ou representação do espaço público). Trata-se mais de um arranjo privado, entre lideranças – quase sempre notáveis – de agrupamentos infrapartidários. Se representação é equivalência, onde estaria o par do líder partidário, que afinal define os candidatos que supostamente representarão os cidadãos. Onde nos perdemos para chegar a tal vertigem democrática?

Talvez, no momento em que a sociedade se fragmentou e acelerou os processos de mudança cultural, de comunicação, fragmentou os padrões de consumo e escolha ou construiu a “sociedade reflexiva”, as estruturas formais de representação política caducaram e se aproximaram da profissionalização política não-representativa do período de clandestinidade dos anos de chumbo.


Duas situações alertam para tal descompasso. O primeiro, o fenômeno de agorafobia que acomete a Presidente Dilma Rousseff. A agorafobia é o medo do medo ou uma antecipação do possível medo de situações não controladas. Dilma parece fazer uma ponte com seu passado de clandestinidade ao se abdicar do papel de liderança midiática. Dilma não é mais uma persona, mas uma instituição, o cargo mais alto da República Presidencialista de nosso país. Como ápice de todo um sistema político, é expressão pública da moral desta estrutura política. A Presidência da República é uma investidura revestida de uma aura cerimonial, uma distinção, uma honra que envolve o cargo oficial a partir do qual se estabelece a lógica política republicana.


Mas o que parece suceder à Dilma Rousseff é a dificuldade de se relacionar com este espaço público formal, cuja realidade não se confunde com as suas escolhas privadas, com a lógica de um escritório empresarial. Ser Presidente da República não é, necessariamente, ser como se é de fato, mas se submeter à uma lógica específica, nacional e coletiva, forjada na ética da responsabilidade política.


Dilma não parece muito à vontade em não ser o que é. Pior: não parece à vontade em assumir a investidura que o voto lhe conferiu.

Mas o pior é que o outro lado da moeda, a oposição, também parece acometida do mesmo problema psicológico. A oposição ao governo federal se enredou na “Síndrome da Tribuna Parlamentar”. Acredita piamente que o parlamento representa, de fato, a diversidade nacional. Mas todos brasileiros, como demonstram tantas pesquisas, acreditam que o parlamento representa a si. Aliás, algo que ex-governadores, hoje parlamentares, afirmam e reafirmam. Blairo Maggi (PR-MT), Jorge Viana (PT-AC), Eduardo Braga (PMDB-AM) e tantos outros ex-governadores, hoje senadores, estranham a lentidão e a falta de “senso de praticidade” do parlamento (cf. Folha de S.Paulo, 8 de março de 2011, p. A5).

A oposição perdeu, enfim, sua capacidade de se comunicar e, enfim, se fazer representante dos cidadãos.

O que faz de nossa democracia formal um diálogo entre iguais, uma espécie de oligarquia formalizada pelo ato simbólico (ou simulacro) do voto.


A não-representação do sistema político formal brasileiro gera algo próximo da vertigem da clandestinidade. Sendo que naquele momento, a vertigem se fazia sentir porque havia a ânsia de representação dos que se encontravam marginalizados ou submetidos ao regime militar. Nos dias atuais, o ritual das eleições impede qualquer sentimento de angústia. Talvez, apenas nos meses que antecedem às eleições, mas não no ato da representação efetiva.


Se a análise está correta, Sintomer e Ségolène podem ter dado a pista, sem o saber, para nossa reforma política. Contudo, para que desse certo, o fórum de formuladores da proposta de reforma política deveria ser sorteado entre cidadãos. Afinal, haveria um vício de origem se os atuais parlamentares decidissem sobre a sua real representatividade.

 

( Rudá Ricci )

 

 

quarta-feira, 16 de março de 2011

BRASIL: O PRÉ-SAL E O DESENVOLVIMENTO

Estamos aqui todos envolvidos num forte debate sobre o que está acontecendo agora, hoje:

 Se o BC está ou não andando em gelo fino, se o governo estabeleceu ou não um piso para o PIB e como isto pode influenciar o crescimento, se o governo está ou não correto em olhar “além do horizonte” ou se é certo ou não controlar o fluxo da capitais e o que impactará no crescimento.

Agora, neste debate ainda, registro essa interessante, bom assinalar que é original, até onde sei, leitura do Tony sobre a inversão do equilíbrio do tripé. O Tony parte de uma lógica, sistêmica é bom dizer, de que o “sistema” tripé precisa ter equilíbrio, isto é, se você investe mais num ponto você precisa desinvestir no outro. Se o governo anterior apertou um lado e afrouxou o outro, este governo inverteu a direção das forças aplicadas. É uma percepção sobre método que procura ler questões de essência e não da aparência. É preciso ressaltar, pois este é o caminho do pensamento científico na economia. Aliás, a “marca” do Tony tem sido saber utilizar o pensamento científico e criador, chegando um pouco no pensamento acadêmico, mas sem todas aquelas formalidades, num segmento totalmente voltado para o conjuntural. Talvez esteja ai o “segredo” de seu consistente trabalho de acertos na previsão do comportamento do mercado e do governo.

De meu ponto de vista opino e reporto posições que me parecem relevantes nesse debate, mas sempre tenho insistido nas questões mais estratégicas, ligadas ao desenvolvimento e não apenas ao crescimento. Na realidade não acho impossível o governo Dilma “acertar” a recita de condução das políticas econômicas de curto e médio prazo. De fato, basicamente é uma questão de sensibilidade e leitura objetiva. Não acho impossível, mantido o atual quadro, que cheguem realmente numa política consistente de equilíbrio. Claro tem fatores limitantes como a leitura ideológica de Mantega e seu grupo, tem a salada e inconsistência etc. Contudo governo é governo e acho que nossa história demonstra que para cometer erros profundos/calamitosos é preciso ser muito mais incompetente do que são os atuais gestores da economia. O cenário que imagino não é o do desastre, mas o da mediocridade como tenho afirmado: Políticas econômicas mais ou menos consistentes, ai sim, limitadas pela inconsistência principal, a estratégia de longuíssimo prazo ou seja limitada pelas premissas de um modelo de desenvolvimento ele sim totalmente errado.

Para mim o ponto principal é que as políticas econômicas, monetária, fiscal, cambial, são instrumentos válidos de atuação pontual. São políticas reativas. As políticas pró-ativas, estruturantes são aquelas ligadas aos conceitos de desenvolvimento. Na realidade estas políticas se falam. Falam-se historicamente, pois as concepções de desenvolvimento de longo prazo em certa medida moldam as políticas econômicas e fornecem claríssimos limitadores. Claro que não elimino o papel isolado de cada uma, como não elimino a possibilidade de melhorar e aprimorar as políticas econômicas, tanto no sentido institucional como no estrutural. Nem mesmo elimino a obrigação da oposição em contribuir, naquilo que lhe couber, para a melhoria das políticas de governo. Aliás tenho convicção que ser oposição é isto mesmo: Criticar e propor.

Retornando ao fio do raciocínio. O Maurício Dias David me enviou, pelo mailing dele, o texto abaixo. Achei interessante replicar, pois fala um pouco sobre a importância de olhar cenários mais amplos, aqueles ligados ao desenvolvimento. O Pré-Sal foi um assunto badaladíssimo no pré-eleitoral, mas atualmente parece ter sido posto de lado, como se não existisse mais. O ponto deste artigo é justamente mostrar que o debate sobre o Pré-Sal, seus resultados e expectativas interferem diretamente em nosso desenvolvimento e suas estratégias.

Demetrio Carneiro

 

Economista-chefe do BNY Mellon alerta para riscos do "petrorreal"


Richard Hoey: "Uma hora será preciso pensar em como será o Brasil em 2015"

A principal preocupação da equipe econômica brasileira não deveria ser a valorização cambial provocada pela entrada de divisas das exportações de soja, café e minério de ferro, mas preparar o país antes que o petróleo do pré-sal comece a ser vendido. Neste momento, o real poderá passar a ser "petrorreal", uma vez que os preços elevados dos barris de petróleo vieram para ficar.
Essa é a avaliação de Richard Hoey, economista-chefe do BNY Mellon, o maior banco de custódia do mundo. Para Hoey, formado em Yale (EUA), a atual dependência que o saldo comercial brasileiro têm da venda de commodities será "muito mais concentrada" no petróleo, caracterizando um problema muito mais difícil de lidar. "O problema não está na inflação de 2011 e até quanto o Banco Central deve elevar os juros, mas em preparar a economia para o momento que o pré-sal começar a gerar recursos."
Para Hoey, os agentes - governo e empresários - brasileiros se preocupam muito com o curto prazo, o que sempre deixa problemas em aberto a serem resolvidos no futuro. "Em 2009, a preocupação era segurar a crise. Em 2010, produzir um ano de crescimento muito acelerado. Em 2011, colocar o pé no freio. Uma hora será preciso pensar em como será o Brasil em 2015, quando o pré-sal estará a todo o vapor", afirma Hoey, que falou de Nova York com o Valor, por telefone.
Com mais de US$ 25 trilhões em ativos - o equivalente a quase cinco vezes o Produto Interno Bruto (PIB) da China, o segundo maior do mundo - o BNY Mellon é um dos bancos mais antigos em atividade no mundo. Fundado em 1798 por Alexander Hamilton, um dos fundadores dos Estados Unidos, o Bank of New York (BNY) se fundiu há quatro anos com o Mellon Corp., criado na década de 1920 pelo então secretário do Tesouro americano, Andrew Mellon. Hoey é economista-chefe do banco desde a fusão.
"As revoluções nos países árabes, de fato, deveriam alterar pouco os preços do petróleo, uma vez que Egito e Tunísia não produzem nada e a produção da Líbia é uma fração do que pode produzir, por exemplo, a Arábia Saudita", diz Hoey, para quem a elevação de preços do petróleo no mercado internacional ocorre "simplesmente porque os barris estavam com preços defasados". Segundo o economista, os preços do petróleo, que devem recuar quando os conflitos no Oriente Médio atenuarem, encontraram um nível mais elevado em 2011. "Essa é a base de preços que o Brasil encontrará quando o pré-sal começar a gerar dividendos à Petrobras e ao país, a partir de 2013", diz ele.
A economia brasileira está pressionada, acredita Hoey, pelo fato de a moeda já estar em um patamar "muito valorizado", o que dificulta o combate à inflação pela via tradicional, isto é, a elevação de juros servindo de imã que atrai capitais, valorizando o real e barateando os importados. Os chineses, por outro lado, podem reduzir a alta de preços por meio da valorização de sua moeda, mantida desvalorizada em relação ao dólar pelo Partido Comunista, que sustentou o forte crescimento da economia pelas exportações. "A valorização da moeda chinesa, inclusive, ajudaria a economia americana, que está começando a exportar mais, e isso, consequentemente, melhoraria o quadro para os industriais brasileiros que perderam mercado nos Estados Unidos nesses últimos anos", diz Hoey.
Com a retomada americana, avalia o economista, a demanda por petróleo terá uma sobrevida, enquanto os pesados investimentos feitos no desenvolvimento de fontes de energia alternativas não maturam. "Essa demanda será importante, num primeiro momento, para países como o Brasil, que se tornarão importantes exportadores, substituindo uma eventual perda de força na demanda chinesa por commodities", avalia Hoey, para quem, no entanto, apostar no petróleo é "arriscado" no longo prazo. "Quando o óleo de baleia começou a perder força, 150 anos atrás, por falta de baleias, ninguém ficou subsidiando a criação de baleias para manter o fornecimento de energia", afirma. 

A INTERNACIONAL AUTORITÁRIA

Enquanto o mundo assiste impávido a internacional de solidariedade entre os regimes autoritários no mundo de cultura árabe a situação na Líbia complica para a oposição. Talvez o petróleo e seu fornecimento sejam as questões mais relevantes a se considerar. Sendo assim, por exemplo, a chamada “zona de exclusão aérea”, que evitaria o virtual massacre da oposição à Kadafi, é postergada, quem sabe por conta de uma “solução natural” ou seja, o fim da oposição.

 

Demetrio Carneiro

O "BALANÇO CAMBIAL" DO BRASIL É SUSTENTÁVEL?

Por Tony Volpon

O câmbio está realmente sobrevalorizado? Frente uma apreciação de mais de 35% em relação ao dólar, a resposta óbvia parece ser que sim. Certamente isso é o que o governo brasileiro acredita, dado a recente agressividade de suas intervenções.
E talvez o governo tenha razão em estar preocupado. Apesar de todo otimismo com o Brasil, a situação atual lembra os anos 70. Nos anos 70, os preços das commodities estavam subindo, a política monetária nos países desenvolvidos estava frouxa, e a inflação começava a subir. O Brasil crescia rapidamente com forte entrada de recursos estrangeiros. Mas esse "boom" acabou de forma amarga: para finalmente domar a inflação, os EUA apertaram drasticamente sua política monetária, enxugando a liquidez global, derrubando os preços das commodities e levando o Brasil à crise da dívida externa. O governo, apesar do seu interesse político em manter os "espíritos animais" da economia em alta, tem muitas razões para se preocupar.
Mas como existem preocupantes paralelos com os anos antes da década perdida, há importantes diferenças. Diferentemente dos anos 70, hoje temos um sistema de câmbio flutuante enquanto naquela época o nosso passivo eram empréstimos denominados em moeda estrangeira, hoje a grande acumulação de passivos se dá na moeda nacional. Isso muda muito o perfil do risco que enfrentamos, e nos permite analisar a sustentabilidade dos níveis atuais da nossa moeda.
Como nossa moeda não é conversível, os fluxos cambiais devem ser registrados no Banco Central. Isso permite que o BC crie um verdadeiro "balanço cambial" para a economia brasileira, calculando os ativos dos estrangeiros no Brasil (portanto passivos para a economia) e os ativos dos brasileiros no exterior (os dados estão disponíveis no site do BC como "Posição internacional de investimento").
Essa posição patrimonial foi calculada como um passivo de US$ 657 bilhões em setembro de 2010. Como no caso de uma empresa, podemos tratar esse montante como o estoque de investimentos feitos na empresa "Brasil S.A." que deve gerar um fluxo de retornos. Mas qual a melhor medição desses retornos?
Olhando o balanço de pagamentos, vemos que a linha "serviços e rendas" gerou um fluxo negativo de US$ 70,6 bilhões em 2010. Mas esse montante, apesar de representar em parte um fluxo real de retorno sobre os investimentos estrangeiros no Brasil, não leva em conta que boa parte da renda deve estar sendo reinvestida. Como no caso de uma empresa, temos que distinguir o lucro líquido dos dividendos pagos.
Investimentos dos estrangeiros no Brasil, de US$ 1.205,7 bilhões, geram retorno de cerca de 16,5% ao ano
Para determinar o montante de lucros sendo gerados, temos que olhar a estrutura desse passivo, e atribuir retornos esperados a cada linha desse balanço. Em recente estudo fizemos isso e chegamos à conclusão que os investimentos dos estrangeiros no Brasil no valor de US$ 1.205,7 bilhões geram um retorno estimado de mais ou menos 16,5% ao ano, enquanto os ativos estrangeiros dos brasileiros no exterior, de US$ 548 bilhões, geram um retorno de mais ou menos 6,7%. A grande diferença de retorno se deve à composição dos recursos: do lado estrangeiro temos investimentos diretos (US$ 436,9 bilhões) e investimentos em portfólio (US$ 608,5 bilhões), ambos de alta rentabilidade. Do lado brasileiro, o maior item são as reservas internacionais do Banco Central (US$ 275,2 bilhões) de baixíssimo retorno.
Essa diferença implica um retorno esperado no montante de US$ 162,8 bilhões, US$ 92,2 bilhões acima do que é apurado na balança de pagamentos.
A importância desse montante para a sustentabilidade cambial tem a ver com a necessidade da empresa "Brasil S.A." de gerar recursos em moeda forte para rentabilizar esses investimentos já que estrangeiros querem ser pagos em sua moeda. E dado o fato que o Brasil hoje tem déficit na sua conta de serviços, isso tem a ver basicamente com nossa habilidade como economia exportadora de bens (basicamente commodities) de gerar superávit comercial suficiente para sustentar esse passivo externo.
De fato, a taxa de câmbio estará em equilíbrio quando o valor presente do superávit comercial for igual ao passivo externo. Assim, se por qualquer razão o valor futuro do nosso superávit comercial cair, o câmbio sofre desvalorização que diminui nosso passivo externo em dólares.
Reconhecendo as dificuldades em calcular valores presentes, decidimos simplificar a tarefa usando o "modelo de Gordon" da teoria da precificação das empresas para capitalizar a balança comercial. Especificamente, capitalizamos o superávit esperado para 2011, de US$ 10 bilhões e calculamos que a taxa de crescimento da balança comercial teria que ser de 23% ao ano para ser compatível com a taxa de câmbio (de R$ 1,687) e o passivo externo apurado pelo BC.
Esse valor é factível, ou indicaria que estamos em uma posição insustentável? Atualmente temos não um aumento, mas uma queda de 18,6% ao ano da balança comercial, e isso com nossos termos de troca (razão entre o preço das exportações e o das importações) nos maiores valores da história.
Tal resultado parece indicar a existência de uma preocupante "bolha especulativa" cambial. Como no caso de uma bolha especulativa na bolsa, parece que estamos descontando um crescimento na renda da empresa "Brasil S.A." que é muito improvável de se concretizar no futuro.
Mas será isso verdade? Acreditamos que uma possível explicação é que o mercado esteja racionalmente descontando um forte aumento futuro no superávit comercial advindo das futuras exportações de petróleo das reservas do "pré-sal". Enquanto fica difícil prever forte crescimento em moeda estrangeira da receita vindo das nossas já grandes exportações agrícolas e de minérios, o pré-sal parece oferecer um possível incremento de exportação grande o suficiente para sustentar o nosso crescente e caro passivo externo na taxa de câmbio atual.
Mas a verdadeira boa notícia é que esse alto risco está hoje nas mãos de estrangeiros. Se o pré-sal desapontar, basta o real cair para reestabelecer o equilíbrio, impondo perdas em moeda forte nos investidores estrangeiros. Isso, afinal, é a grande e importante diferença entre hoje e os dias que antecederão a crise dos anos 80.

terça-feira, 15 de março de 2011

BRASIL: GAVIÕES IRRITADOS RECLAMAM COM O BIG BOSS

Por Tony Volpon

Ontem, o Banco Central do Brasil (BCB) realizou a sua reunião trimestral com muitos economistas do mercado ( participantes da pesquisa Focus)  preparatória do próximo Relatório de Inflação de março. No entanto, esta reunião, ao contrário da maioria das reuniões anteriores, apresentou fortes críticas de alguns economistas que, abertamente, puseram em causa o compromisso do Banco Central no combate à inflação. Embora a maioria concordasse que a economia brasileira está desacelerando, alguns participantes mais radicais afirmaram que não se faz o suficiente para trazer a inflação de volta à meta,  ainda em 2012. Dúvidas sobre a eficácia das medidas de macro-prudencial, o compromisso com a austeridade fiscal e com o esperado  aumento de 13,5% ,ou mais, do salário mínimo para 2012 eram queixas repetidas muitas vezes. O Banco Central também foi criticado por ter, aparentemente, abandonado o objetivo de trazer a inflação para meta durante o ano corrente e pelas alterações sugeridas na composição da pesquisa Focus.
  
O Brasil é o único país no qual eu posso pensar que alguns economistas do mercado vêem como seu dever dizer ao Banco Central o que fazer ao invés procurarem prever o que o Banco Central vai realmente fazer. Culturalmente (e falo isso como um brasileiro) a maioria dos economistas do mercado gostam de fazer um  “Monday morning quarterbacking”*, da mesma forma a maioria dos brasileiros acha que eles seriam melhores treinadores do alardeado plantel de futebol do país.

Por conta dessas tendências culturais, devemos ainda acrescentar dois conjuntos de fatores agravantes:
 Em primeiro lugar, a partir de uma perspectiva normativa, muitos analistas locais simplesmente não concordam com as recentes alterações introduzidas pelo novo governo no mix de política macroeconômica.
Em segundo lugar, tanto o governo como o Banco Central precisa tornar mais claras as mudanças políticas que estão sendo planejadas e, de fato, concluí-las.
O mix do regime no Brasil também mudou. .
Simplificando um pouco as coisas, nós tínhamos o seguinte mix no governo Lula:

1. Uma política fiscal e creditícia frouxa;
2. Política monetária e cambial apertada;

Agora com o Presidente Dilma:
 
1. Uma apertada, mas nem tanto, política fiscal e uma política creditícia pela via das medidas prudenciais;
2. Menor dependência da Selic e da apreciação cambial para controlar a inflação.
 
Além disso, essas mudanças têm um maior grau de coordenação e coerência entre políticas agora do que durante o período Lula.
 
Alguns economistas não concordam com essas mudanças. Enquanto a grande maioria dos economistas de mercado não são fãs da política fiscal frouxa do período de Lula (ainda que mais aceita como uma necessidade no rescaldo da crise financeira), o claro direcionamento da inflação pelo instrumento da política de taxa de juro é visto por muitos como uma virtude. A maioria não aceita o argumento de que a articulação política de Lula levou a uma valorização enorme e perigosa da moeda, e que a decisão política tomada pelo novo governo mudou a combinação de políticas para diminuir a pressão sobre o Real.
 
Reconhecemos que a articulação política atual é mais complexa do que se deu no governo anterior. A execução desta combinação das complexas políticas atuais é o que governo escolheu para lidar tanto com a valorização do real, como as maiores taxas de política real do mundo. Em segundo lugar, a coordenação entre as políticas é muito importante e a necessidade de olhar tranversalmente as áreas políticas e fazer julgamentos informados é talvez a principal lição da crise financeira.
 
Mas a maior complexidade pode criar riscos que o governo e o Banco Central deveriam ter em conta. Por exemplo, o impacto real das políticas macro-prudenciais é difícil de estimar, dada a capacidade do sistema financeiro para ultrapassar as medidas (algo desse tipo está acontecendo no mercado de câmbio, com os bancos locais formando dívidas de curto prazo para contornar os recentes limites impostos sobre as posições pontuais de curto prazo).
 
Em nossa opinião, o Banco Central deve abordar esta incerteza, errando para mais no lado da cautela e impondo medidas mais eficazes para reduzir o crescimento do crédito. Acreditamos também que o governo deve caminhar para um regime fiscal de longo prazo que iria retirar a tentação política de estimular a demanda nos períodos próximos as eleições, como se estimulou em 2010. Esperemos que qualquer novo regime possa usar, como alvo, outra coisa além da medida fiscal primária, que, infelizmente, perdeu toda a credibilidade dada aos truques contábeis sucessivos utilizados pelo governo para "acertar" esta meta ao longo dos últimos dois anos.O governo também precisa lidar com a "super indexação" do salário mínimo, que será um importante desafio em 2012.
 
O Banco Central também deve ser mais direto em seus objetivos. É claro que não há apoio político para o tipo de aperto monetário que seria necessário para trazer a inflação para meta no ano calendário de 2011. O horizonte político efetivo é de 2012. Sendo assim, o Banco Central deve indicar isso claramente, e não através de atas habilmente redigidas, mas com uma linguagem opaca.
 
Os falcões infelizes estão certos em muitos pontos, mas assim é o governo e o Banco Central. O regime político mudou, e nós acreditamos na direção certa. No entanto, o governo tem muito mais trabalho a fazer, especialmente no lado fiscal. E o Banco Central tem que clarificar as suas reais intenções.

* Nota de tradução (DC): Termo informal, americano e canadense, que se refere à pessoas que gostam de opinar após os fatos, de forma retrospectiva, sugerindo outras opções.