Cerca de dois anos atrás escrevi um post aqui para o Alternativa, "Capitalismo de amigos e capitalismo de laços no Brasil" (1), onde eu comentava sobre como se davam as relações entre governo e Poder Real no Brasil. Basicamente partia do estudo acadêmico feito por Lazzarini(2) sobre o Capitalismo de Laços no Brasil. Nele o autor faz um exaustivo levantamento sobre o relacionamento entre os grandes grupos empresariais e o governo Lula.
A síntese desta questão é a formação de uma Coalizão Dominante que articula os agentes políticos, sindicatos, partidos e grandes grupos econômicos num único projeto de benefícios mútuos.
Outro trabalho acadêmico, desta feita de Danilo de Oliveira Rocha, intitulado "Estado, empresariado e variedades de capitalismo no Brasil: internacionalização de empresas privadas no governo Lula" (USP, Instituto de Relações Internacionais, 2012), dá uma ideia sobre como funciona a política de promoção das empresas multinacionais brasileiras:
"O objetivo desta pesquisa foi analisar a economia política do recente processo de formação de empresas transnacionais privadas brasileiras. Iniciado em meados da década passada, na gestão Lula, contou com forte apoio da política industrial do governo federal, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Uma característica importante desse movimento foi a concentração dos incentivos governamentais em setores nos quais o Brasil já é competitivo, como os intensivos em recursos naturais, embora as diretrizes originalmente estabelecidas pela própria política industrial do governo Lula preconizassem o apoio a setores mais intensivos em tecnologia. Buscando desvendar a razão dessa contradição, este artigo argumenta que, dada a dificuldade de se estabelecerem acordos de longo prazo entre Estado e setor privado, a política industrial brasileira pautou-se por demandas de curto prazo do empresariado nacional. Utilizando a abordagem institucional das variedades de capitalismo, que vincula resultados de políticas de desenvolvimento a diferentes arranjos institucionais das economias nacionais, mostrou-se como a ausência de mecanismos institucionais que permitam estabelecer acordos intra e inter setoriais com o empresariado privado deixou a política de internacionalização de empresas sujeita a demandas de curto prazo de grupos econômicos nacionais. Assim, conclui-se que a concentração de apoio em setores já competitivos decorreu do fato de apenas esses setores terem sido capazes de apresentar projetos de investimentos viáveis no curto prazo, e não de uma suposta capacidade de influenciar politicamente os resultados da política industrial – e isso é path dependent."
Algumas notícias recentes retomam o tema:
a) o Portal Congresso em Foco(3) dá o rateio do destino dos recursos de financiamento ao exterior do BNDES no últimos 5 anos:
Odebrecht - 41%
Andrade Gutierrez - 7%
Queirós Galvão - 2%
Camargo Correia - 2%;
b) não fica muito difícil associar este favorecimento às diversas bondades e a forma como o governo brasileiro promove sua "política africana"(4);
c) notícia do Estado de São Paulo (5) relata o possível envolvimento da Odebrecht em ação, no exterior, de favorecimento ilícito com sobre preço promovida pela Petrobras em favor daquela empresa;
d) finalmente, e já no Brasil, matéria da Agência Pública (6) relata um quadro carioca, mas que muito provavelmente se repte Brasil à fora:
"Nas maiores intervenções urbanas no Rio de Janeiro em função da Copa e Olimpíadas mudam os objetivos das obras, os valores, os impactos e as suspeitas de ilegalidade na condução dos projetos. Só não mudam as empresas beneficiadas. Por meio de consórcios firmados entre si e com outras empresas, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e OAS se revezam nos dez maiores investimentos relacionados aos jogos
......
A Odebrecht é a grande campeã: está presente em oito dos dez projetos. Já a OAS e a Andrade Gutierrez dividem o segundo lugar, com participação em seis projetos cada uma. Em 7 dos 10 projetos a licitação foi ganha por consórcios com presença de duas ou mais das “quatro irmãs”, como são conhecidas. Em dois destes, a concorrência pública foi feita tendo apenas um consórcio na disputa."
Enfim, quem quiser somar dois mais dois está livre para fazê-lo...
(1)
http://alterbrasil.blogspot.com.br/2012/06/acronica-do-sardenberg-agradecendo-ao.html
(2)
https://www.youtube.com/watch?v=XceMSabHyT4
(3)
http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/odebrecht-e-embraer-concentram-81-do-credito-do-bndes-para-o-exterior/
(4)
http://alterbrasil.blogspot.com.br/2014/07/geoestrategia-brasileira-e-ditaduras-na.html
(5)http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,ex-diretor-da-petrobras-e-alvo-de-denuncia-por-fraude-em-contrato,1529751
(6)