terça-feira, 31 de agosto de 2010

DICA DE FILME: O ÔVO DA SERPENTE

Hoje, às 22 horas, o canal de cabo TCM transmite "O ôvo da serpente",1977, escrito e dirigido por Igmar Bergman.

A história se passa na Alemanha pós primeira guerra e já aponta os elementos e ambiente propício ao regime nazista nos anos que se seguirão.
É mesmo como o ôvo da serpente, já deixando transparecer a silhueta do que alí está e prenunciando o que virá.

Um bom programa bem atual para reflexão de todos e todas.

Demetrio Carneiro

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

POR FALAR EM HORIZONTES...


O texto veio por uma dica do Tony Volpon, publicado pela Folha e repercutido pelo blog Democracia Política e Novo reformismo.

Já que a gente andou falando em horizontes ai vai mais um.
A entrevista, a qualidade do entrevistado diz tudo, é um amplo olhar sobre o que pode vir pela frente em decorrência do que não foi feita lá trás. O crescimento econômico na no Brasil em particular, mas também na América Latina em geral tem, historicamente, apresentado uma face medíocre. Lendo a entrevista passamos pelas origens do problema e vamos até seus reflexos no futuro próximo.

Demetrio Carneiro





Países como o Brasil creem em um mundo de fantasia



"A sorte do Lula foi ter tido ótimo antecessor", diz Ricardo Hausmann, de Harvard, crítico das políticas externa e econômica atuais.



Houve avanços desde que o sr. escreveu sobre as barreiras ao crescimento do país?



A crise foi bem administrada. Mas o principal problema com países como o Brasil é que, quando as coisas começam a parecer bem, passam a crer em um mundo de fantasia.



Sucessor não terá a mesma sorte de Lula, diz economista



ENTREVISTA RICARDO HAUSMANN



PROFESSOR DE HARVARD DIZ QUE, APESAR DO CAPITAL POLÍTICO, LULA NÃO FOI CAPAZ DE FAZER REFORMAS SIGNIFICATIVAS COMO AS DE FHC



Érica Fraga



DE SÃO PAULO - "A grande sorte do presidente Lula foi ter tido um ótimo antecessor. Mas o próximo presidente do Brasil não terá a mesma sorte."



Com esse comentário, em entrevista à Folha, o economista Ricardo Hausmann, diretor do Centro para o Desenvolvimento Internacional da Universidade Harvard e um dos mais respeitados especialistas em teoria do desenvolvimento econômico, encerrou uma série de críticas ao governo Lula.



Em 2008, ele escreveu o estudo "In search of the chains that hold Brazil back" ("Em busca das correntes que freiam o Brasil"), afirmando que a política de expansão fiscal dos anos recentes, alavancada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), é insustentável.



E, segundo ele, pode ter o mesmo efeito "desastroso" para a economia que a política externa de Lula teve para a diplomacia.



FOLHA - Houve avanços desde que o sr. escreveu sobre as barreiras ao crescimento no Brasil em 2008?



RICARDO HAUSMANN - Talvez você se lembre que [no estudo] eu era otimista sobre muitos aspectos estruturais do Brasil. O Brasil tem um setor privado muito forte, tem muito potencial de crescimento do investimento em muitas áreas promissoras.Mas, nos anos de boom antes da crise de 2008, o Brasil era um dos países que cresciam às menores taxas na América Latina.



Minha avaliação era a de que isso se devia a uma taxa baixa de poupança doméstica, que exigia taxas de juros ridiculamente altas para evitar que a economia tivesse um aquecimento excessivo.
Aí veio a crise e o governo respondeu com políticas anticíclicas. Aumentou significativamente a oferta de crédito via BNDES e Banco do Brasil em um momento em que havia uma parada cardíaca financeira.
Diria que, de forma geral, a crise foi bem administrada. Mas o principal problema com muitos países, e o Brasil é um exemplo, é que, quando as coisas começam a parecer bem, eles se tornam arrogantes. Passam a acreditar num mundo de fantasia.



O que o sr. quer dizer com mundo de fantasia?



Só porque o Brasil teve por um trimestre uma taxa de crescimento acima de 7%, o Brasil agora é a nova China e o Lula é um gênio das finanças, e todos os problemas anteriores não existem mais porque o Brasil é um país diferente.



Há toda uma narrativa que tem sido criada por conta de alguns bons trimestres no Brasil que pode levar a políticas macroeconômicas muito inconvenientes. Essa narrativa é particularmente conveniente na época de eleições.



A primeira coisa que já está acontecendo é que a Selic [taxa de juros básica da economia] está subindo. Se você quisesse que a Selic aumentasse menos, a ideia seria compensar com políticas fiscais e de empréstimo pelo setor público mais estritas.
Porque, de certa forma, o Brasil é um país esquizofrênico. Você tem uma política fiscal em que o BNDES tem o pé no acelerador e o Banco Central tem o pé no freio.Essas combinações são particularmente perigosas porque deixam a Selic muito alta em um período em que as taxas de juros globais estão muito baixas.
Isso leva os investidores a pegar dinheiro emprestado em dólares, em ienes ou em euros para colocar dinheiro no Brasil, o que gera uma forte apreciação da taxa de juros e a possibilidade de desindustrialização.



Alguns defensores da atuação recente do BNDES citam países da Ásia que atingiram altas taxas de crescimento sustentado por meio de políticas industriais. O que o sr. acha desse paralelo?



Não tenho problemas com políticas que complementam o setor financeiro, viabilizando a disponibilidade de crédito para investimentos em áreas difíceis da economia.Não sou, de forma alguma, crítico em relação à contribuição potencial do BNDES para o desenvolvimento do país. Mas é uma organização que foi desenvolvida na época da inflação alta para proteger a economia das taxas de juros reais muito altas.
A inflação não é mais um problema no Brasil.
Seria possível que o BNDES mantivesse o foco de sua política em empréstimos para investimentos municipais, investimentos de longo prazo, apoiando pequenas e médias empresas, mas a uma taxa de juros que refletisse a Selic e não a uma taxa de juros que é muito inferior à Selic, que cria a distorção de gerar demanda excessiva pelos fundos que o BNDES tem de gerenciar.





O sr. vê o crescente deficit em conta-corrente do Brasil, em tempos recentes, como um problema?



A deterioração do deficit em conta-corrente indica que a expansão do gasto no Brasil é mais rápida do que a expansão da produção.
O efeito disso é apreciar a taxa de câmbio, desestimulando as atividades exportadoras, para liberar recursos produtivos para atender a esse boom temporário do consumo. Todas as indicações são de que as condições fiscais e a política financeira do setor público são excessivamente expansionistas. Isso vai causar prejuízo para as perspectivas de crescimento de longo prazo do Brasil.



A economia brasileira ainda é bastante fechada ao comércio exterior. Isso limita o crescimento de longo prazo?



Acho que o Brasil tem os produtos com os quais poderia ter uma presença muito maior no comércio internacional. Vocês são gigantes em agricultura, em mineração. Têm uma presença marcante na produção de aeronaves. Há uma atividade industrial vasta que poderia gerar uma presença muito maior. Mas a administração macro no Brasil tem sempre conspirado contra o potencial de longo prazo.



E isso continua acontecendo?



Na minha opinião, está piorando. Quando o Lula foi eleito, em 2002, houve uma crise econômica e ele foi muito cuidadoso ao dar confiança ao setor privado.
Agora, eles começaram a pensar que sabem mais e estão menos dispostos a serem cuidadosos. Estão se tornando mais ideológicos.
Do ponto de vista econômico, as políticas são insustentáveis como as adotadas na diplomacia.
Agora que o Brasil é grande, pode ir para a cama com o Ahmadinejad [Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã] no Irã ou hospedar o Zelaya [Manuel Zelaya, ex-presidente de Honduras deposto em junho de 2009] na sua embaixada em Honduras etc.
É uma atitude de que agora o país é independente, um poder diferente, e, portanto, pode confrontar o senso comum. Esse tipo de arrogância na política externa tem sido desastrosa.E esse tipo de arrogância tem o perigo de ser igualmente desastrosa para a administração macroeconômica.



As pesquisas de intenção de voto mostram grandes chances de vitória da candidata do presidente Lula. O sr. acha que isso levará a uma continuação dessas políticas que o sr. critica?



Todo mundo sabe que o presidente Lula tem sido superpopular e ele construiu um capital político enorme. Mas esse capital político enorme não se traduziu em nenhuma reforma significativa durante seu segundo mandato [2007-2010].
Ele não tem nada a mostrar em termos de ter resolvido problemas antigos relacionados à baixa taxa de poupança, ao sistema de previdência, à infraestrutura, a ter uma estrutura tributária mais normal e funcional.
Apesar do seu enorme capital político, ele não foi capaz de fazer nenhuma reforma significativa como as feitas pelo antecessor dele.
E, recentemente, ele tem se movido na direção contrária. A grande sorte do presidente Lula foi ter tido um ótimo antecessor [FHC]. Mas o próximo presidente do Brasil não terá a mesma sorte.



Frases
"De certa forma, o Brasil é um país esquizofrênico. Você tem uma política fiscal em que o BNDES tem o pé no acelerador e o Banco Central tem o pé no freio"



"A deterioração do deficit em conta-corrente indica que a expansão do gasto no Brasil é mais rápida do que a expansão da produção"



"O Lula tem sido superpopular e ele construiu um capital político enorme. Mas esse capital não se traduziu em nenhuma reforma significativa durante seu segundo mandato [2007-10]"





PERFIL



Venezuelano, Hausmann foi pioneiro no BID



Ricardo Hausmann nasceu na Venezuela em 1956.



Com doutorado em economia pela Universidade Cornell, nos EUA, Hausmann ocupou importantes cargos públicos em seu país natal, como ministro de Planejamento e diretor do Banco Central.



Foi o primeiro economista-chefe do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Desde 2005, é diretor do Centro para Desenvolvimento Internacional da John F. Kennedy School of Government, da Universidade Harvard.



Especialista em teoria do desenvolvimento econômico, ele defende a ideia de que um mesmo receituário de políticas não funciona necessariamente para todos os países.

domingo, 29 de agosto de 2010

VOLPON E OS 100 PRIMEIROS DIAS DE DILMA

Uma função importante para o economista é traçar cenários e é exatamente o que Tony Volpon fez ao redigir o documento que vai abaixo e que originalmente foi publicado, em inglês, num boletim do Banco Nomura. Como sempre a tradução livre correu por minha conta e risco.

Para quem for economista ou lide com a política, minimamente é um exercício de prospecção bastante estimulante e aponta o quanto os embates de pensamento econômico que ocorrem hoje continuarão a ser decisivos no futuro próximo.

Demetrio Carneiro

Os Primeiros "100 Dias" de Dilma

DE BARRIL EM BARRIL ALGUÉM ENCHE O PAPO


Depois da mega especulação, até hoje não esclarecida, às vésperas das eleições, com as ações da Telebras, agora são as ações da Petrobras.

Seria um fato “normal” se a queda do valor não fosse resultado de uma verdadeira atrapalhada cometida pelo poder executivo à pretexto de fazer um “cessão onerosa” cuja finalidade seria facilitar a capitalização da empresa.

A atrapalhada vai gerar muito prejuízo e muito lucro e a Petrobras, ao contrário da Telebras, é uma empresa de grande porte submetida à lei das SAs.

Vamos torcer para que tenha sido apenas incompetência, na pressa de faturar o bônus midiático durante as eleições ou talvez um viés de “estilo” política eleitoral, como está no texto abaixo. Como não é nossa a escola de responsabilização de autoridades, a tal da “accountability”, certamente ficamos por aqui.

Mas, feita de forma voluntária ou não, essa confusão tem que ser apurada na ponta do mercado de ações.
Vamos torcer para não surgirem das névoas os personagens de sempre...

Demetrio Carneiro


A POLÊMICA DO BARRIL

FONTE:Instituto Millenium/“Brasil econômico”

A capitalização da Petrobras é uma operação financeira normal no mercado. A iniciativa do governo de angariar recursos para viabilizar sua participação na capitalização, através da cessão onerosa de áreas petrolíferas ainda não concedidas, embora introduza mais um regime jurídico na exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil, é também justificável.
Então por que o governo e a Petrobras criaram essa encrenca com a capitalização? Porque o que não é justificável e está causando essa enorme confusão e a queda brutal do preço das ações da Petrobras é a definição de um preço para o barril da cessão onerosa, através da contratação de certificadoras internacionais.
Isso fica claro quando lemos na imprensa sobre a disparidade entre o preço do barril calculado pela certificadora contratada pela ANP e o da Petrobras.
A certificadora da ANP teria calculado o barril entre US$ 10 a US$ 12, enquanto a da Petrobras fica entre US$ 5 e US$ 6. Essas diferenças mostram claramente que, dada a enorme quantidade de variáveis e premissas envolvidas no cálculo do barril, é possível justificar qualquer preço.
No fundo, o cálculo do barril de petróleo por uma certificadora envolve futurologia.
Adotar preço de barril de petróleo calculado por certificadoras é o mesmo que querer revogar a lei da oferta e da procura.
Agora, pasmem, parece que a solução é contratar uma terceira certificadora. No final, o mais provável é que o governo escolha um preço intermediário na casa dos US$ 9.
Quem calcula preço de barril é o mercado. Por isso, a solução correta seria promover um leilão dos barris da cessão onerosa.
A certificadora fixaria o preço mínimo. Mas aí o governo ficou com medo de ser acusado de entregar as riquezas do pré-sal para as empresas privadas nacionais e estrangeiras.
Afinal, o governo precisa manter o discurso populista de que o petróleo é do povo brasileiro.
Não há nenhum impedimento legal para que a cessão onerosa introduzida pela lei fosse efetuada através de um leilão.
Os recursos arrecadados pelo governo no leilão seriam utilizados no aporte da União na capitalização da Petrobras.
Dessa forma, a Petrobras seria capitalizada com moeda corrente, reduzindo o custo financeiro de seus investimentos, que, de outra, forma serão efetuados através de novos empréstimos.
A lei poderia prever ainda que, em caso de participação e vitória da Petrobrás na aquisição de direitos de blocos leiloados, a estatal os pagasse com títulos públicos e que estes títulos correspondessem a uma parcela do aporte do governo na operação de capitalização.
E por que o governo insiste com um modelo que só tem causado incertezas e desvalorização das ações da Petrobras? A resposta é que o governo tem privilegiado o ponto de vista político-ideológico.
A ideia é facilitar o aumento da participação da União na Petrobras e, ao mesmo tempo, privilegiar a Petrobras na cessão onerosa de reservas.
O problema é que quando o barril é fixado entre US$ 5 e US$ 6 a beneficiária é a Petrobras, e quando é de US$ 10 a US$ 12 passa a ser a União.
Como sair dessa sinuca às vésperas das eleições?

sábado, 28 de agosto de 2010

DILMA: O ESQUEMA BUSCA ESPAÇO


José Dirceu é o cara e a cara do esquema petista.
Desse esquema saiu esse “neo-curral eleitoral” ,que tem como lema o combate à pobreza, convergente com o tradicional curral eleitoral dos coronéis do PMDB, que hoje adota o mesmo lema neocurralista.
De lá também saiu a doutrina da maioria estável a qualquer que fosse o preço.
Também ali está a origem da maioria dos escândalos políticos nos dois mandatos de Lula.
Palocci foi quem levou Dilma a NY para se reunir com os banqueiros e apresentar um perfil condizente com um país que dependerá, e muito, de recursos externos.
Tem seu lado negro. Não esteve isento das ações do esquema e um dia ainda terá que se explicar no episódio do caseiro Francelino.

Do choque desses dois grupos sairá a essência do que será o futuro governo Dilma.
Muitos e muitas torcem para que Dilma esteja apenas fazendo proselitismo eleitoral quando fala em manter a Estabilidade ou em realizar cortes orçamentários colocando um freio na expansão fiscal. Esse grupo espera ver Dilma cumprir as promessas radicais do Lula pré-Paz&Amor, levando ao limite máximo a Estatização da economia e o domínio do poder executivo central sobre os outros poderes. Esse é o pensamento econômico dos mesmos grupos que deram origem ao pensamento político que é a base do PNDH3. Um pé já está fincado na política externa brasileira e sabemos todos e todas dos resultados em termos da presença brasileira na cena internacional. Com um pé firme na política interna faltará firmar o pé na política econômica para “fechar” o modelo. É isso que esperam dela.

O que afastou Lula do grupo de Dirceu foi o pragmatismo e a percepção da inviabilidade dessas propostas. A se ver quais serão as escolhas de Dilma, caso realmente vença.

Demetrio Carneiro

Dirceu tenta barrar avanço de Palocci

Fonte: Estadão

Wilson Tosta e Vera Rosa

A 35 dias da eleição de 3 de outubro e confiantes na vitória de Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno, os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci disputam os rumos de eventual novo governo comandado pelo partido. Depois de emitir sinais contrários à possível indicação de Palocci para a Casa Civil, Dirceu luta agora para impedir que ele volte a ditar os caminhos da economia, a partir de 2011.
Os dois "generais" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reeditam a queda de braço que travaram no primeiro mandato do PT para definir a fisionomia do governo. Abatido pelo escândalo do mensalão, em 2005, e cassado pela Câmara, Dirceu vislumbra perda de influência se Palocci - ex-ministro da Fazenda - assumir a Casa Civil sob Dilma.
A preocupação não é à toa: cabe ao ministro da Casa Civil coordenar a equipe, o que lhe dá muito poder e pode torná-lo candidato natural ao Planalto. Foi o que ocorreu com a própria Dilma, puxada para o cargo após a queda de Dirceu. Nove meses depois, em março de 2006, Palocci também caiu, no rastro da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa.
Embora se movimente nos bastidores para evitar que o antigo colega vire uma espécie de "primeiro-ministro" de Dilma, Dirceu sabe que pode perder a aposta. Motivo: Palocci é um dos principais coordenadores da campanha e, além de tudo, tem Lula como padrinho. O plano do presidente é reabilitar o ex-titular da Fazenda na cena política.
Se Palocci for para a Casa Civil, o grupo de Dirceu - que quer empurrar o deputado para o Ministério da Saúde - espera uma "compensação". Sob o argumento de que "o governo Dilma não pode ter a cara do ajuste fiscal de Palocci", aliados do ex-chefe da Casa Civil defendem, agora, a permanência de Guido Mantega (PT) na Fazenda em dobradinha com "alguém de esquerda" no Planejamento.
Apesar das críticas ao "conservadorismo" do Banco Central, Dirceu não deverá se opor à manutenção de Henrique Meirelles, na cota do PMDB, desde que Palocci fique distante da seara econômica e Mantega não saia da Fazenda. Meirelles, porém, não pretende continuar no BC.
Mesmo com rachas internos, a corrente do PT Construindo um Novo Brasil (CNB) - integrada por Lula, Dirceu e pelo presidente do partido, José Eduardo Dutra - emplacará as principais indicações do petismo no eventual governo Dilma.
Nem todos da CNB, no entanto, falam a mesma língua. Palocci, por exemplo, também é da CNB, antigo Campo Majoritário, mas atua de forma independente e quase não tem ligação com a cúpula partidária.
Dirceu, ao contrário, procura frequentar todas as reuniões da corrente e do Diretório Nacional. Ex-presidente do PT, mantém um canal de comunicação com os militantes por meio de seu blog e tem papel discreto na campanha.
Queimada
O fogo amigo contra Palocci ganhou força há uma semana, depois de notícias dando conta que Dilma recorreria à tesourada nos gastos logo no início de eventual governo.
"Podemos assumir o compromisso de uma meta de inflação mais ambiciosa, sem um maior custo de política monetária. As condições estão dadas para, gradualmente, baixar a meta de inflação", disse Palocci, em entrevista publicada pelo Estado, na segunda-feira, no segundo caderno da série Desafios do Novo Presidente. "É um compromisso fiscal muito forte, porque Dilma vai se comprometer com nível de endividamento, além da meta de superávit."
Dilma já havia indicado, em maio, o desejo de reduzir a meta de inflação. Fez o comentário durante encontro com investidores promovido pela BM&F-Bovespa, em Nova York. Detalhe: Palocci estava com ela na viagem. Depois que o ex-titular da Fazenda passou a mexer no vespeiro da economia, porém, o grupo de Dirceu intensificou o bombardeio longe dos holofotes.
"O que esse cara quer? Uma nova Carta aos Brasileiros?", perguntou um interlocutor do ex-ministro da Casa Civil, numa referência ao documento divulgado por Lula, na campanha presidencial de 2002, para acalmar o mercado financeiro.
Em conversas reservadas, Dirceu tem dito que vai brigar pela "embocadura" de um possível governo Dilma. Nunca esteve nos planos de sua sucessora na Casa Civil - e nem dele próprio - qualquer tarefa oficial antes do veredicto do Supremo Tribunal Federal no caso do mensalão.
Dilma e Dirceu, de toda forma, se dão bem. Além de deixar com ela o labrador Nego, que apareceu no primeiro programa de TV, o ex-ministro sempre entra em cena quando é preciso desarmar crises, principalmente entre aliados nos Estados.
Quando é perguntado sobre Dirceu, Palocci abre um sorriso. "Mesmo no governo, ele nunca fez todas as maldades que vocês diziam, mas levava a fama", diz.

ELEIÇÕES 2010: O MARCO DA DESPOLITIZAÇÃO DA POLÍTICA

Acho que foi no ano passando, ainda, que postei pela primeira vez sobre o risco da despolitização das eleições presidenciais de 2010.
Quando ficou claro que Serra queria ser o “pós-Lula” também ficou claro que a pedida seria esvaziar o verdadeiro debate programático e privilegiar a mídia.



Hoje acredito que Serra caiu como pato da armadilha da "política despolitizada" que só podia favorecer a atual estrutura de poder no Estado e sua relação com o poder real.
Essa parceria 'poder político dentro do Estado/poder real na sociedade civil' é o verdadeiro núcleo duro desse projeto de poder que está consolidando o antigo projeto da ditadura de um forte Capitalismo de Estado fundado numa ampla aliança transversal de interesses.
É, eles também privilegiam a coesão. Apenas a deles é centrada em grupos de interesse e olha apenas para seu próprio umbigo, digamos assim.



O quanto foi um erro veremos no dia 2 de outubro, mas já possuímos fortes evidências que demonstram o completo equívoco da estratégia. Não foi por falta de avisos, mas, certamente, por excesso de arrogância que se adotou essa rota.



Erros têm sido muitos e inúmeros e graves.
Aqui mesmo no DF ao invés de se privilegiar a formação de uma terceira via que não fosse o caminho para o PT ou o caminho para o retorno rorizista, o PSDB nacional preferiu consolidar, no peito, uma estranha aliança com Roriz. O resultado é visível: Não há campanha para Serra no DF, as pesquisas mostram que ele tem metade das intenções de votos de Dilma e agora a ação de Eduardo Jorge não tem mais pai, é filha de chocadeira.



Como Marco Antonio Villa também chamei a atenção para o caráter claramente “República Velha”, no sentido da fraude imposta a partir do poder executivo, que Marco Antonio amplia para a questão das alianças com as, também velhas, oligarquias estaduais.



Enfim, ai está. As consequências logo saberemos. Esses poucos dias passarão bem rápido.
Na realidade estou mais preocupado com o que nos espera do outro lado, no dia 3.



Demetrio Carneiro



Eleição sem política

Marco Antonio Villa

Publicado na Folha e repercutido pelo Instituto Millenium

Ganhar eleição é uma possibilidade, fazer política é um imperativo. O Brasil poderá com esta campanha inaugurar uma nova forma de pleito presidencial: sem debate, sem polêmica, sem divergência e sem oposição.
Nas últimas cinco eleições tivemos disputa em três delas. Mas disputa mesmo, só em 1989. Em 1994 e 1998, FHC venceu Lula facilmente, as duas no primeiro turno.
Em 2002 e 2006, Lula foi como franco favorito para o segundo turno. Eu esperava que teríamos uma eleição diferente em 2010: sem Lula e com oposição que transformasse o pleito em um momento de amplo debate nacional.
Rotundo equívoco. Lula é candidatíssimo, aparece mais que Dilma. E pior: a oposição não apareceu ao encontro marcado. Como um aluno relapso, faltou justamente no momento da avaliação, a eleição.
Na República Velha, a oposição concorria sabendo que o resultado seria fraudado. Era o momento de, ao menos, marcar posição e acumular forças para um novo embate. Agora -e de forma surpreendente- nem isso está ocorrendo. Confesso que a cada dia que assisto ao horário eleitoral fico mais estarrecido.
Este triste panorama terá efeito direto sobre o Legislativo. Tudo indica que o futuro Congresso será muito mais governista que o atual. E também com um número expressivo de “deputados cacarecos”, o maior da história recente, produto direto da inexistência do debate político.
A despolitização abre campo para que ex-jogadores de futebol, comediantes, cantores e celebridades instantâneas sejam considerados puxadores de votos para partidos de todos os matizes.
Outro efeito nefasto da despolitização é a permanência (e até ampliação) dos representantes dos oligarcas. Quase todos os sobrenomes que simbolizam o que há de pior na política brasileira estão apoiando a candidata oficial. São espertos. Tratam Lula como se fosse um dos seus. E, por incrível que pareça, ele acabou se transformando em uma espécie de “capo” dessas famílias.
Parodiando Sílvio Romero, no célebre discurso de recepção a Euclides da Cunha na ABL, Lula chegou “à suprema degradação de retrogradar, dando, de novo, um sentido histórico às oligarquias locais e outorgando-lhes nova função política e social”.
A apatia política tem preço. E muito alto para o país. A fuga da oposição do debate, o medo do enfrentamento, a recusa de se opor, pode abrir caminho para um longo domínio do Estado por parte de um bloco conservador, sem espírito republicano, com tinturas caudilhistas e desejos de impor sua vontade à força.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DOSSIÊ E INCAPACIDADE

Evidentemente, a seguir a linha de argumento da receita as servidoras envolvidas na organização dos dossiês montados contra pessoas da oposição não são imputáveis. São destituídas de qualquer culpa. Só uma forma deste argumento ter sentido: São incapazes.

Modestamente proponho que se abra uma outra investigação para:

1°) Afastar imediatamente essas servidoras, com perda de todos os direitos, já que são incapazes. Evidentemente devem ser obrigadas a restituir tudo receberam no exercício de uma função a qual não poderiam ter acesso;
2º) Punir a autoridade que admitiu incapazes no serviço público.

Demetrio Carneiro

BLOGS, POLÍTICA E OPOSIÇÃO


Uma das marcas políticas mais fortes dos últimos anos tem sido a despolitização da política. Todo um conjunto de fatos e atitudes, desencanto/aparelhamento/ingresso de um eleitorado destituído de formação em cidadania, contribuiu para esse fato e deixo para outro momento uma avaliação mais aprofundada, embora ache que teremos que passar por ai para entendermos melhor o atual quadro eleitoral e suas consequências.

O fato é que a despolitização produziu e produz seus efeitos. Nesse ambiente a existência coesa dos blogs que debatem a política pode ser um fator relevante e uma força segurando a onda anti-republicana, alienante.

A blogosfera que debate a política aqui no Brasil, fora os blogs de jornalistas profissionais, é marcada por blogs nitidamente situacionistas, blogs nitidamente oposicionista e uma grande maioria de blogs que se limitam a reportar os fatos da mídia, mas cujas escolhas acabam evidenciando uma maior ou menor inclinação pró ou anti-governamental.

De modo geral a compreensão é que a rede é o lugar da diversidade e que há espaço para todos.
A compreensão também é que, mesmo que feitos profissionalmente, via fontes de recursos de patrocínio, os blogs são essencialmente privados.
Do estrito ponto de vista da oposição o quadro indica: Blogs de claro comportamento de oposição, principalmente partindo dos liberais. Alguns apenas críticos, num sentido muito amplo. Outros críticos e propositivos.

Acredito que estamos no início de um outro processo: A organização na blogosfera de um grupo de blogs pró-governamental articulada a partir de financiamento por estruturas pró-governamentais. Enfim, o aparelhamento chegou na blogosfera.

Estou me referindo ao 1° Encontro de Blogueiros Progressistas realizado entre 20 e 22 de agosto passado em SP, no Sindicato do Engenheiros, promovido por Nassif e Amorim e financiado, entre outros menos famosos, pela fundação do PT, a Perseu Abramo e a CUT.

Também não pretendo discutir o auto-rótulo "progressista". é direito deles se auto-rotularem como bem entenderem. Apenas me dou ao direito de achar que não é bem isso.

Também não discuto gosto.
Numa lista de debates que participo um dos integrantes, um blogueiro, perguntou “o que é que tem o ‘de onde vem o recurso’?”. Seja um estranho gênero de cidadão ou o que quer que seja, de qualquer forma, ele está no direito dele, já que o blog é dele. É assunto privado.

Que o aparelhamento se estenda à blogosfera não me surpreende, assim como não me surpreendeu o arranjo providencialmente pré-eleitoral, como no eventos de mulheres, cultura, jovens etc.
Que o aparelhamento seja feito via recursos públicos também não surpreende.
Duvido muito que essa turma ponha a mão no bolso para isso, embora alguns já estejam razoavelmente bem de vida. Falo em recurso público, pois essas estruturas para-estatais como a CUT ou a Perseu Abramo são financiadas por recursos públicos.
A CUT pela contribuição sindical, que é um confisco com autorização estatal, por tanto é recurso público e a Perseu Abramo porque funciona com recursos do fundo partidário do PT. Recurso de fundo partidário também é recurso público.

Muito bem. É direito deles.
Mas é nós blogueiros independentes que não concordam com tudo que vem ocorrendo nesse país? Será que também não estaria na hora de buscarmos formar uma rede coesa onde cada um mantivesse sua independência, mas que nos falássemos e apoiássemos?

Se o debate político na blogosfera é importante, se a nossa autonomia é importante, também é importante o apoiamento mútuo. O que pode vir por ai não é pouco. Acredito que está na hora de romper barreiras de grupos ou o isolamento individual.

Demetrio Carneiro

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

MIRIAM PRÁ PRESIDENTE

Finalmente um discurso centrado e conseqüente...Miriam Presidente. Até que rima.

Demetrio Carneiro


Falha da oposição :: Míriam Leitão

Fonte: O Globo

Baixo saneamento tem a ver com saúde e meio ambiente. Aumenta a incidência de doenças e a deterioração ambiental urbana. Dados do IBGE mostram que oito anos de governo Lula não reduziram a calamidade dos indicadores. José Serra, candidato da saúde; Marina Silva, da sustentabilidade, falam pouco do assunto e lutam para sair na foto ao lado de Lula.

O mais relevante numa eleição da perspectiva de um candidato é, evidentemente, ganhar a eleição. Mas da perspectiva do eleitor, o melhor é que se aproveite o momento para discutir os problemas e tirar dos candidatos compromissos para superá-los. A oposição tem a obrigação de falar tudo o que não está funcionando, apontar o dedo para todas as feridas. Para isso é oposição. Esse debate influenciará as políticas públicas independentemente de quem for eleito. Se a oposição se amedronta com os índices de popularidade do governante e não pode fazer seu papel, o país é que sai prejudicado.

Marina Silva, nas brigas dentro do governo por políticas públicas de proteção ambiental, encontrou uma sistemática e implacável adversária: Dilma Rousseff. Foi a ex-ministra das Minas e Energia e ex-chefe da Casa Civil que disse não a projetos de sustentabilidade, afastou Marina das decisões de projetos na Amazônia, engavetou a criação de áreas de proteção, revogou conquistas na luta pelo equilíbrio entre desenvolvimento e meio ambiente. Marina sabe disso. Sabe porque viveu. No dia do lançamento do primeiro PAC, enquanto o laser pointer de Dilma Rousseff cortava a Amazônia sem cerimônia, Marina se encolhia derrotada, longe do palco e perto da saída do governo. Mas até agora não disse isso ao eleitor. Não contou o que sabe e viveu. Não mostrou o risco para o meio ambiente que representa a vitória das ideias defendidas pela sua adversária. Se for resumir tudo o que ela disse nas entrevistas, debates e programa eleitoral não se consegue saber exatamente o que a fez sair do governo.

José Serra é líder de um partido, o PSDB, que já governou o Brasil por oito anos. Sabe onde foi que o governo atual errou e erra. Fala pouco desses erros. Prefere tentar o impossível: disputar com Dilma a sombra do presidente Lula. Ora, Lula fez sua escolha, sua candidata é Dilma Rousseff. Cabe aos outros fazerem oposição. Marina acerta quando ataca Serra, como fez ao apontar os erros da gestão tucana em São Paulo, no debate da Folha Uol. Esse é seu papel como alternativa aos dois grupos que já governaram o Brasil. Erra quando poupa Dilma, sabendo tudo o que sabe. E erra porque está sonegando uma informação relevante ao eleitor. Marina nunca exibiria divergências de forma agressiva. Não é de sua natureza, nem aconselhável. Mas ser direta, clara e sincera sobre os riscos ambientais que o país corre, ela deveria ser, preservando o seu estilo elegante.

O Brasil está pegando fogo literalmente. O aumento dos focos de incêndio em todos os biomas não é coincidência. Há uma licença para queimar. Os riscos ambientais estão subindo assustadoramente. O Imazon divulgou um estudo mostrando que 29 áreas protegidas da Amazônia foram reduzidas ou extintas, entre 2008 e 2009, expondo à destruição um território quase do tamanho do Rio Grande do Norte. Coincide com o período em que o governo Lula afastou Marina Silva e deu maiores poderes a Dilma Rousseff. O estrago só não é maior porque por incompetência gerencial, a maior parte do PAC não saiu do papel, é só fumaça dos efeitos especiais para a campanha eleitoral.

Em saneamento, tucanos e petistas fizeram pouco, como tenho repetido neste espaço. Nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso e nos quase oito do governo petista, os investimentos em saneamento básico foram baixíssimos. O Brasil tem dados vergonhosos para provar isso, como o IBGE acaba de divulgar: quase metade do país sem esgoto. A diferença entre os dois grupos políticos é que o governo Lula fabrica números falsos de investimento, e Dilma, confrontada com os dados verdadeiros, garante que os próximos indicadores serão bons. Aposta no mercado futuro de ilusões. Para aceitar como boa sua explicação é preciso acreditar que em 2009, ano de crise, o país deu um salto ornamental em saneamento básico, fazendo o que o governo Lula não fez em 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008.

Nos últimos dois anos elevaram-se assustadoramente as ameaças ao projeto econômico que nos trouxe a estabilidade monetária. O risco não vem do Banco Central, mas sim da ampliação de gastos de custeio, da criação de estatais, da intervenção política nas estatais existentes, da atuação desordenada do BNDES. Nunca o patrimônio da estabilização, herdado pelo governo Lula, esteve tão ameaçado. José Serra, do partido que venceu a inflação no Brasil, é incapaz de alertar para esses riscos.

O que é ameaçador nas eleições de 2010 não é a vitória do governo. O eleitor brasileiro é que tem o poder de, coletivamente, decidir quem é o vencedor, e por esse poder, que emana do povo, se bateram os verdadeiros democratas. O ameaçador é consolidar políticas imprudentes. Por isso, a oposição tem que fazer seu papel, sem temer a popularidade do presidente Lula. Esse tipo de consagração vem e passa. O país fica.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

DESINDUSTRIALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Existe todo um debate sobre a chamado doença holandesa e sua possível constatação no Brasil.

Chama-se de doença holandesa o episódio ligado à descoberta de jazidas de gás natural no Mar do Norte. Esta riqueza natural teria estimulado, na Holanda, uma forte apreciação cambial. A apreciação cambial teria estimulado as importações, desestimulado as exportações e produzido, como efeito mais direto, um forte desestímulo à atividade industrial naquele país, iniciando um processo de desindustrialização.

A fortíssima apreciação cambial de nossa moeda gerou uma onda de debates nesta linha com muitos conhecidos economistas sugerindo uma intervenção no câmbio por conta do receio de que pudesse se repetir em nosso país o mesmo processo ocorrido na Holanda.

Além da forte apreciação outro forte ponto do argumento é a qualidade das exportações brasileiras. De fato, tendo em vista o mesmo período do ano, primeiro semestre, e comparativamente ao ano 2000 nossas exportações de commodities saltaram de 22% para incríveis 43,4%. Basicamente minério de ferro e soja. Processo alavancado pelo pesado fluxo de exportações para a China, atualmente responsável por cerca de um quarto do volume total. Nossas atuais relações não apenas com a China, mas com o resto do mundo, produto a produto tende a manter o mesmo padrão constante dos últimos 500 anos: trocamos matéria prima básica por produtos de maior valor agregado.

No caso específico das commodities elas acabam nos beneficiando pela apreciação do real, já que nem mesmo sua forte valorização foi capaz de interromper o fluxo. O Brasil dispõe daquilo que o mundo precisa para poder crescer.

Nosso problema é que vamos nos tornando beneficiários em segunda instância do processo, repetindo um papel um papel clássico de nosso passado enquanto país dependente, na antiga concepção de centro/periferia.

De qualquer forma e apesar de tudo a doença holandesa embora nos sirva de espada de Dâmocles e vá permanecer ai pendurada sobre nossas cabeças por muito tempo não é um fato, embora seja uma ameaça potencial.

O produto industrial brasileiro não apresenta sinais de retrocesso e isso se explica pela via da expansão do mercado interno. As políticas sociais somadas aos anos de estabilidade econômica, com a inflação controlada, geraram como contra partida poder de compra suficiente para sustentar o crescimento de nosso produto industrial apesar da apreciação cambial e da forte exportação de commodities. Nossos manufaturados buscaram outro destino. Claro que nada disto implica em estarmos numa situação cômoda. A espada continua acima de nossas cabeças, como um sinistro aviso.

Bom esclarecer que se chegamos onde chegamos, repetindo nossa indesejada história passada, é porque estamos por conta de um modelo de desenvolvimento que se mostra totalmente insuficiente para enfrentar os dilemas do mundo como se apresenta hoje.

Se nosso câmbio está tão apreciado é graças ao intenso fluxo de capitais. Fluxo do qual precisamos para financiar nosso crescimento já que não existe preocupação em formar uma real mentalidade de poupança pública, mas apenas do gasto e seu uso como poder. Muito menos em estimular as famílias para este caminho, já que se escolheu o crescimento do mercado interno pelo atalho da expansão de crédito e não da renda gerada pelo trabalho qualificado. Apenas as empresas poupam, mas não é suficiente. Sem poupança interna não há investimento, que para acontecer passa a necessitar do investimento externo.

Nossos produtos industriais também precisam estar mais competitivos. Mas como ser competitivos com todo o Custo-Brasil - no conceito mais amplo da CNI e não apenas de estradas melhor asfaltada - sobre nossas costas.

Como ser competitivos sem uma forte política de investimentos em inovações? Principalmente como ser competitivos financiados com base na absurda taxa de juros que se paga em nosso país?

Precisamos urgentemente de outro modelo de desenvolvimento antes que a espada caia de fato sobre nossas cabeças e recuemos ao século 19.

Demetrio Carneiro

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O MELHOR BANQUEIRO DO MUNDO É BRASILEIRO!

É para todos e todas ficarem muito, muito orgulhosos.
É de arrepiar. O melhor banqueiro do planeta é um cidadão brasileiro.

Leiam abaixo e inflem seu peito. Emocionem-se. Amem esse gênio das finanças. Só não tentem fazer igual sem os amigos certos...

A imagem de hoje, muito romântica, é dedicada a essa maravilhosa figura: O amigo de verdade.

Demetrio Carneiro

O banquinho que cresceu 980% em três anos

Ativos do BVA dispararam de R$ 361 milhões no começo de 2007 para R$ 3,9 bilhões em junho deste ano
David Friedlander e Leandro Modé
Agência Estado


São Paulo - Um banco minúsculo até outro dia, criado no Rio de Janeiro e radicado em São Paulo, está chamando a atenção do mercado financeiro pela segunda vez nos últimos anos. No passado, o nome do BVA apareceu misturado a operações esquisitas de seu então único dono, o banqueiro José Augusto Ferraz Santos. Desta vez, o foco da curiosidade é o crescimento relâmpago da instituição.
Nos últimos três anos, os ativos do BVA cresceram mais de dez vezes: de R$ 361 milhões no começo de 2007 para R$ 3,9 bilhões em junho deste ano. É um desempenho fabuloso por qualquer critério, principalmente num mercado altamente competitivo e num período que engloba uma crise que deixou de joelhos várias instituições de pequeno e médio portes.
A expansão começou com a chegada do executivo Ivo Lodo, que o BVA foi buscar no J. Safra no fim de 2006. Lodo foi contratado como presidente, passou a comprar participações e hoje tem 50% do banco. Desde que assumiu o comando, os resultados melhoraram em todas as linhas do balanço. Os depósitos saíram de pouco menos de R$ 100 milhões para R$ 3,2 bilhões. O número de clientes saltou de 216 para 1.565, crescimento de 625%. O capital total (base necessária para expandir o crédito) saiu de R$ 58 milhões para R$ 330 milhões no mesmo intervalo, uma alta de 460%.
A agressividade do BVA virou assunto entre seus concorrentes e analistas de mercado, que passaram a atribuir o sucesso a um suposto bom trânsito político e acesso a fundos de pensão de empresas estatais, como antecipado semanas atrás pela coluna Direto da Fonte.
No plano político, chegou-se a espalhar que Luiz Gushiken, ex-ministro do governo Lula conhecido pela influência em fundos de pensão, seria "padrinho" do banco. Segundo Lodo, o único Gushiken que frequentou o BVA é Artur, filho do ex-ministro, que foi estagiário do BVA por cerca de um ano. "Uma vez almocei com Gushiken (o pai). Ele queria agradecer. Foi o único encontro com ele." Procurado semanas atrás, o ex-ministro disse que não fala com jornalistas e não quis ouvir as perguntas.
Fundos
A respeito do relacionamento com os fundos de pensão de empresas estatais, Lodo e seus executivos afirmam que eles foram importantes na arrancada do BVA, mas hoje teriam perdido espaço para outros clientes. Os investimentos dessas fundações estão concentrados na Vitória Asset Management, a administradora de recursos de terceiros do banco. Criada em 2007, a Vitória acumula hoje quase R$ 3 bilhões de patrimônio, dos quais R$ 1,2 bilhão está no fundo Florestal.
Trata-se de um projeto cujo foco é o reflorestamento e a produção de eucalipto, que tem quatro sócios em partes iguais: os fundos de pensão Petros (Petrobrás) e Funcef (Caixa Econômica Federal), o frigorífico JBS e a MCL Empreendimentos. Para formar a Florestal, a JBS e a MCL entraram com terras e mudas de eucalipto e Petros e Funcef entraram com cerca de R$ 250 milhões cada um. "A Vitória venceu uma disputa com outros sete concorrentes para administrar o projeto", afirma Carlos Rosa, diretor financeiro da Florestal indicado pelos fundos de pensão.
De acordo com o presidente do BVA, além da Florestal, as fundações têm outros R$ 230 milhões aplicados em fundos exclusivos geridos pela Vitória. São R$ 140 milhões da Petros e R$ 90 milhões da Geap (Fundação de Seguridade Social que, segundo definição própria, "oferece aos servidores públicos federais, estaduais e municipais planos e programas de saúde, assistência social e previdência complementar")
Ao todo, portanto, os fundos de pensão teriam hoje cerca de R$ 750 milhões confiados à gestora do BVA, o que representa 25% do patrimônio total. No mercado financeiro, concorrentes com tamanho semelhante ao BVA dizem que é complicado conquistar o direito de administrar um fundo de uma gigante como a Petros - a fundação informa que tem R$ 10,1 bilhões distribuídos em 32 fundos exclusivos, dois deles com o BVA/Vitória Asset. "É tão difícil que eu não tenho nenhum", brinca o presidente de uma gestora de porte semelhante ao da Vitória.
Lodo fica irritado quando ouve esse tipo de desconfiança. "Trabalho como um condenado, aplico tudo que ganho no banco e tenho de passar por isso?" Ele argumenta que, sempre que disputou concorrências para gerir fundos do gênero, contratou pessoas qualificadas.
Ele reconhece que, no início de seu trabalho no BVA, as fundações foram importantes. Mas afirma que, hoje, há opções que rendem mais dinheiro para o banco, como os fundos de investimento em direitos creditórios (os chamados FIDCs).
Além disso, Lodo afirma que bancos que administram muitos recursos de fundos de pensão acabam se acomodando. Com isso, argumenta, ficam vulneráveis às tradicionais mudanças de comando das fundações (sobretudo as ligadas a estatais) em início de governo.
Escândalos
No mercado, afirma-se que as desconfianças em relação ao BVA encontram ressonância, em parte, por causa do envolvimento do fundador do banco, José Augusto Ferraz Santos, em operações problemáticas. Além do banco, ele tem negócios no ramo de energia e de shopping centers, e seria bem relacionado politicamente, principalmente com parlamentares do PMDB.
José Augusto era sócio de uma das empresas que participaram da chamada "máfia do lixo" na prefeitura petista de Santo André (SP), esquema que veio à tona com o assassinato do ex-prefeito Celso Daniel. "Ele não era gestor da empresa, mas lucrou com o esquema e foi denunciado por tráfico de influência", afirma o promotor de Justiça de São Paulo Roberto Wider, que investigou o caso.
Num outro escândalo, o das compensações fraudulentas de dívidas com a Receita Federal, José Augusto teve operações recusadas pelo Fisco quando tentava quitar impostos com créditos podres. Procurado na semana passada, ele estava no exterior. Sua advogada, Ilcelene Bottari, foi encarregada de falar por ele.
"No caso de Santo André, já apresentamos a defesa escrita e aguardamos a decisão do juiz", diz ela. "Em relação a compensações tributárias, a Justiça entendeu que meu cliente foi vítima. Ele comprou créditos tributários sem saber que não eram bons. Mas já acertou tudo com a Receita."
Planos
Embora Lodo defenda seu sócio em público, pessoas próximas afirmam que ele reconhece que a sombra de José Augusto pode deixar o banco numa saia-justa. Ele sabe que, mais do que o bom desempenho no dia a dia dos negócios, o sucesso dos projetos depende da mudança de percepção do mercado em relação ao BVA. E Lodo tem planos ambiciosos para o banco.
Em 30 de junho, o BVA ingressou na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com um pedido para fazer um fundo de investimento em participações (FIP). Na prática, equivale a uma abertura de capital restrita. Ou seja, o BVA quer ter outros sócios, mas sem participação no controle.
Por isso, quer aumentar sua participação no banco e, além disso, planeja mudar o nome da instituição em breve. "Neste momento, faz sentido. Se eu tivesse feito logo quando assumi, ficaria parecendo que queríamos trocar só a casca", afirma. "Hoje, é legítimo." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

VAMOS LUTAR PARA PAGAR MENOS TRIBUTOS? OU VAMOS CALAR?

Fonte: Instituto Millenium/FIRJAN


AMIGOS PARA SEMPRE

Num post recente, “Passivo Externo Líquido etc.”, comentei que uma das razões para o governo estar estimulando a ação de empresas brasileiras no exterior seria a necessidade de buscar maior equilíbrio entre o que brasileiros investem no exterior com o que o resto do mundo investe aqui.

Na lógica do post a enorme diferença entre os dois investimentos gera um fluxo de remessa de lucros que praticamente anula atualmente o ingresso dos investimentos diretos estrangeiros.

Contudo temos aqui um problema. Karl Marx dizia que a história só se repete em farsa. Ainda teremos que investigar melhor o quanto há de farsa, mas o fato é que o “caminho” escolhido pelo poder público para facilitar a caminhada de negócios brasileiros no exterior é o mesmo escolhido pelos sucessivos governos da época da ditadura militar para estimular o surgimento e/ou consolidação dos grandes grupos econômicos, que estão por ai até hoje. Subsídios, favorecimento, enfim um relacionamewnto para lá de duvidoso. Aliás, os “estimulados” para investir no exterior são os mesmos que foram "estimulados" a crescer.

O Estado não precisa inventar ou chocar empresas. O governo precisa é dar condições institucionais, ter políticas microeconômicas para estimular o amplo crédito, ter políticas macroeconômicas que viabilizem juros mais baixos . Resolver os problemas do Custo Brasil. Dar maior capacidade concorrencial. Dar apoio concreto às empresas no exterior. Isto é fazer políticas públicas.
O governo precisa é dar acesso a todos e não escolher parceiros de relações de amizade promíscua para subsidiar com favores e recursos públicos.
O governo não precisa de "amigos para sempre", mas de parceiros.

Demetrio Carneiro