Por gentileza do "Volpon News", nosso correspondente exclusivo em NY - o coração do Império do Mal - , exclusivo apesar das canjas ao Bloomberg, dou conhecimento do texto abaixo, de cujo original em inglês fiz uma rápida e livre tradução para os nossos monoglotas do pedaço.
Tenho a impressão que o Rodrik deveria dispensar apresentações, mas precaucionalmente e tendo em vista nosso grau de ligação zero com o resto do mundo ,ai vai a nossa prestação básica de serviços:
Dan Rodrik, professor de Política Econômica na Universidade de Harvard, Escola de Governo John F. Kennedy, foi o primeiro a receber o prêmio Albert O. Hirschman do Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais(Social Science Research Council). Seu livro mais recente: Uma Economia, Muitas Receitas: Globalização, Instituições e Crescimento Econômico (One Economics, Many Recipes: Globalization, Institutions, and Economic Growth.).
De quebra, para os não-monoglotas, ele tem um ótimo Blog cujo endereço se encontra na nossa área de Blogs recomendados, ai do lado direito.
Tem muito pano para a manga aqui.
Principalmente para nós brasileiros, mas mais principalmente para aqueles entre nós que defendem de forma incisiva a questão da governança global como única saída para o planeta.
A proposta do “trilema” de Rodrik nos obriga a um pé no chão e a diversas interrogações sobre a viabilidade real dessa proposta.
Em realidade, ao menos para os marxistas, não é um assunto novo. Esse era o projeto de Trótsky, que percebia na unificação política planetária a única saída para viabilizar uma propostas de socialismo.
Demetrio Carneiro
Lições gregas para a economia mundial
CAMBRIDGE - O pacote de apoio de USD 140 bi que o governo grego, finalmente, recebeu de seus parceiros da União Européia e do Fundo Monetário Internacional, dá o espaço necessário para empreender a difícil tarefa de colocar suas finanças em ordem. O pacote pode ou não impedir que a Espanha e Portugal tomem o mesmo caminho ou até mesmo eliminar a eventual proliferação de um padrão grego de problemas. Independentemente do resultado, é evidente que o descalabro grego deu a UE um olho roxo.
No fundo, a crise é mais uma manifestação do que chamo de "trilema político da economia mundial": A globalização econômica, a democracia política e o Estado-Nação são mutuamente incompatíveis. Nós podemos ter no máximo dois termos ao mesmo tempo. A democracia só é compatível com a soberania nacional se restringir a globalização. Se formos para a globalização, mantendo Estado-Nação, devemos abandonar a democracia. E se queremos democracia, juntamente com a globalização, temos de deixar o Estado-nação de lado e lutar por uma maior governança internacional.
A história da economia mundial mostra o trilema trabalhando. A primeira era da globalização, que durou até 1914, foi um sucesso, já que as políticas econômicas e monetárias mantiveram-se isoladas das pressões das políticas internas. Essas políticas poderiam então ser completamente subjugadas às exigências do padrão-ouro e livre mobilidade do capital. Mas, uma vez que a participação política foi ampliada, a classe trabalhadora se organizou e a política de massas tornou-se a norma, os objetivos econômicos nacionais começaram a competir (e esmagar) com as regras e restrições externas.
O caso clássico é o retorno, de curta duração, ao ouro na Grã-Bretanha no período entre guerras. A tentativa de reconstituir o modelo pré-I Guerra Mundial de globalização entrou em colapso em 1931, quando a política interna obrigou o governo britânico a preferir uma inflexão doméstica em relação ao padrão-ouro.
Os arquitetos do regime de Bretton Woods tiveram essa lição em mente quando redesenharam o sistema monetário do mundo em 1944. Eles entenderam que os países democráticos precisam de espaço para realizar políticas monetárias e fiscais independentes. Então eles contemplaram apenas "globalização" restrita, com os fluxos de capitais em grande parte limitados a empréstimos de longo prazo. John Maynard Keynes, que escreveu as regras junto com Harry Dexter White, olhava o controle de capitais não como um expediente temporário, mas como uma característica permanente da economia global.
O regime de Bretton Woods entrou em colapso na década de 1970 como um resultado da incapacidade ou falta de vontade - não é totalmente claro - de levar os governos a controlar a maré crescente de fluxos de capitais.
O terceiro caminho identificado pelo trilema é acabar com a soberania nacional por completo. Neste caso, a integração econômica pode ser casada com a democracia através da união política entre os estados. A perda de soberania nacional é, então, compensada pela "internacionalização" da política democrática. Pense nisto como uma versão global do federalismo.
Os Estados Unidos, por exemplo, criaram um mercado unificado nacional uma vez que o seu governo federal assumiu suficiente o controle político dos Estados individuais. Isso estava longe de ser um processo suave, como a Guerra Civil Americana, demonstra amplamente.
As dificuldades da União Européia decorrem do fato de que a crise financeira mundial pegou a Europa em meio ao caminho de um processo similar. Os líderes europeus sempre entenderam que a união econômica tem que ter um pé para na política. Mesmo que alguns, como os britânicos, quisessem dar à União o mínimo possível de energia, a força do argumento ficou com aqueles que pressionaram para a integração política junto com a integração econômica. Ainda assim, o projeto político europeu, ficou muito aquém do econômico.
A Grécia se beneficiou de uma moeda comum, dos mercados de capital unificados, do comércio livre com outros Estados membros da UE. Mas ela não teve acesso automático a um emprestador em última instância europeu. Seus cidadãos não receberam cheques de desemprego a partir de Bruxelasm no formato que, digamos, os californianos recebem a partir de Washington, DC, quando a Califórnia tem uma recessão. Também, devido às barreiras linguísticas e culturais, os gregos desempregados não podem se mover tão facilmente, e atravessar a fronteira para outro estado europeu mais próspero. E os bancos e as empresas gregas perdem a sua credibilidade junto ao seu governo, se os mercados percebem que estão insolventes.
Os governos alemão e francês, por sua vez, tiveram pouca influência sobre as políticas orçamentárias da Grécia. Eles não podiam impedir os empréstimos do governo grego no Banco Central Europeu(BCE), enquanto as agências de avaliação de risco davam credibilidade à dívida grega. Se a Grécia escolhe uma lógica, não se pode fazer valer as reivindicações dos bancos sobre os mutuários grego ou apreender os bens gregos. Também não podem impedir que a Grécia de sair da zona do euro.
O que tudo isto significa é que a crise financeira acabou por ser muito mais profunda e sua resolução muito mais confusa do que o necessário. Os governos francês e alemão tiveram má vontade para fazer acontecer o pacote principal de empréstimos e só o liberaram depois de um atraso considerável e com o FMI em pé ao seu lado. O BCE baixou o limite de crédito que os títulos do governo grego devem atender a fim de permitir a continuação de empréstimos aos gregos.
O sucesso da operação de salvamento está longe de ser assegurado, tendo em vista a magnitude do aperto de cintos que solicita e a hostilidade que suscitou da parte dos trabalhadores gregos. Quando o impulso vem dos confrontos da política interna supera os credores estrangeiros.
A crise revelou como são demandas dos pré-requisitos da globalização. Isso mostra o quanto as instituições européias ainda devem evoluir para sustentar um único mercado saudável. A escolha que a UE enfrenta é a mesma em outras partes do mundo: Se o que se quer é a integração política ou apenas a facilitação da unificação econômica.
Antes da crise, a Europa parecia ser o candidato mais provável para fazer uma transição bem sucedida para o equilíbrio do primeiro quesito - uma maior unificação política. Agora seu projeto econômico está em frangalhos, enquanto a liderança necessária para reacender a integração política está longe de ser vista.
O melhor que se pode dizer é que a Europa não será mais capaz de retardar a escolha a ser feita e que o caso grego tem posto o problema a descoberto. Se você é um otimista, pode até concluir que a Europa, portanto, em última análise, emergirá mais forte.