sábado, 29 de maio de 2010

O DEBATE MACROECONÔMICO BRASILEIRO

Se há uma coisa que eu e Tony não somos é "neutros". Nossas posturas têm sido politicamente bem claras.

Abaixo apresentamos dois textos: 

Um de minha autoria e lida com o papel da economia para o PPS, mas pode se referir ao papel da economia para qualquer partido político. Principalmente no momento em que vivemos. 

Outro de autoria do Tony e se refere à propostas para a macroeconomia no novo governo. 
Tem elementos bem interessantes como a questão da coordenação das políticas econômicas, tema abordado por Serra recentemente. e que está na ordem do dia. 
Originalmente o texto também foi apresentado ao PPS, mas pode tranquilamente ser inserido no debate geral que existe sobre a macroeconomia e sua relação com o desenvolvimento. 
Especificamente este texto contou com oportunas observações do Adolfo Sachsida, do José Carneiro e do Cláudio Vitorino Aguiar.

Demetrio Carneiro

O QUE O PPS ESPERA OU PODE ESPERAR DA ECONOMIA

Atacando a doença e não os sintomas

UM DEBATE INGLÊS SOBRE O ESTADO

O texto abaixo foi publicado no Blog francês “La  Vie des Idées”. Trata-se da tradução – do inglês para o francês – de extratos da introdução da obra organizada P. Diamond e R. Liddle, “Beyon New Labor. The Future of Social Democracy in Britain, Londres, Politico’s, 2009.

Achei extremamente interessante apresentar esse texto por envolver toda uma avaliação crítica do trabalhismo inglês. Nem tanto pelo momento que eles vivem agora, mas principalmente pelo quanto toca em questões fundamentais de nosso próprio debate brasileiro. O texto trás um interessante debate sobre o Estado e suas funções e anda muito próximo ao debate que hoje nós mesmos fazemos.

Por ser longo achei conveniente colocá-lo no Scribd.

Demetrio Carneiro


POR QUE O NEW LABOR PRECISA DE NOVAS IDÉIAS

quinta-feira, 27 de maio de 2010

CARTA AO FUTURO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Não é muito normal nossos acadêmicos se exporem na política. Principalmente em público e com propostas diretas .

Abaixo uma carta-manifesto, do Adolfo Sachsida e publicada em seu Blog, que merece a consideração de todos e todas.

Demetrio Carneiro



Carta ao Futuro Presidente da República



Sempre podem ocorrer discordâncias acerca das melhores políticas econômicas a serem implementadas. Tais discordâncias são saudáveis e fazem parte do processo democrático. Anos eleitorais são propícios às discussões de temas econômicos, pois nos obrigam a uma confrontação com nossa realidade. Quais políticas deram certo? Quais fracassaram? O que precisa ser mudado?



Nos últimos anos a base de política econômica brasileira sustentou-se no tripé: metas de inflação, responsabilidade fiscal e taxas de câmbio flutuante. Claro que entre especialistas existem discordâncias quanto a efetividade, e a melhor operacionalização, de cada uma dessas idéias. Contudo, concordamos que apesar de talvez tais políticas não representarem o ideal, elas são efetivas o bastante para garantir a estabilidade econômica de nosso país.



Assim, os signatários dessa carta deixam claro que antes que mudanças sejam propostas no tripé econômico, outras reformas devem ser realizadas: reforma tributária, reforma fiscal, reforma trabalhista e reforma da previdência são temas muito mais urgentes para o debate nacional. De maneira alguma dizemos que o tripé econômico atual seja isento de imperfeições. Alegamos apenas que reformas muito mais urgentes devem ser implementadas antes que mudanças no tripé econômico atual sejam levadas a cabo.





PS: caso você queira assinar essa carta, mande seu nome (se quiser inclua sua titulação e/ou seu empregador) para o e-mail: sachsida@hotmail.com

O IRÃ E A BOMBA PACIFICADORA

Enquanto o Obama leva pau por ter enganado nossa diplomacia, num jogo duplo, o Irã certamente continua acumulando material mais que suficiente para fazer a sua bomba "dissuasória".
Se olharmos para a atitude crítica da diplomacia brasileira com relação ao Tratado de Não Proliferação, somarmos ao que andou falando o nosso vice-presidente sobre a função “pacificadora” da bomba atômica, multiplicarmos por diversas declarações vindas de militares ou aproximados, começa a ficar no ar um cheirinho de desconfiança sobre as reais intenções do governo brasileiro neste imbróglio.

Admitindo a lógica da bomba pacificadora brasileira, será que tê-la, ao custo de uma bomba atômica nas mãos de um regime autoritário disposto a varrer Israel do mapa, é um bom negócio realmente?

Demetrio Carneiro

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O BRASIL E A CRISE NA EUROPA

Os ambiciosíssimos planos de Lula para o nosso crescimento fundam-se na poupança externa já que a construção de poupança interna nunca esteve entre suas maiores preocupações.
A crise européia pode abalar a grande disponibilidade de recursos no mercado internacional, colocando com um pé atrás os investidores, quando se tratar de países fiscalmente irresponsáveis.
É isso que mudou o discurso de Dilma, orientada por Palocci.

Demetrio Carneiro

LULA E OS 30 ANOS DO PAC MAN

terça-feira, 25 de maio de 2010

EXPANSÃO FISCAL: A MOEDA TEM DUAS FACES

Lá trás tudo era festa. A crise econômica trazia de volta ao cenário o keynesianismo militante e, internamente, revigorava o desenvolvimentismo keynesiano.
Nacionalmente e no resto do mundo, uma miríade de textos foram aparecendo provando o fim do que chamavam de neoliberalismo e a retomada vigorosa das políticas econômicas fiscais expansionistas como única forma de superar a crise. Diga-se a bem da verdade que esta foi uma leitura muito simplificada do propunha o mestre.
Ao ponto de Nakano garantir que a política econômica de 2010 seria um debate entre subcorrentes keynesianas. O futuro era promissor.
Daí para a leitura de que a meta de superávit , a responsabilidade fiscal e outras questões da estabilidade eram meras invenções neoliberais foi um pulo, amplamente celebrado num Seminário do IPEA.
Nesse momento a Grécia mostra claramente os limites das políticas de expansão, e irresponsabilidade, fiscal.
Internamente a esquerda econômica recebeu um “cala-boca” no próprio Congresso do PT e agora fica obrigada ver Dilma e Palocci defendendo em NY as políticas de estabilidade e responsabilidade fiscal.
Não que a lógica expansionista tenha se encerrado. Esses dias pudemos constatar um crescimento de mais de 70 bi na Dívida Pública por conta de recursos obtidos no mercado para financiar a expansão do crédito ofertado pelo BNDES.
Por volta de 2012 nossa conta começará a chegar.

Abaixo um post, bastante sarcástico, do Blog Kids Prefer Cheese, que o Tony me enviou.

Demetrio Carneiro


Apaguem as luzes, a festa acabou...

Na minha juventude, eu tentei publicar um texto intitulado "Como a morte é um modelo de Solow?"
Permitam-me reproduzir, abaixo, um resumo dele:


"Morta e dura como uma pedra"

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Destemido, tomo esta linda manhã, para anunciar que a economia keynesiana, apesar de recentes relatórios sobre seu amplo renascimento, é verdade, está morta e dura como uma pedra.

Gente, pudemos verificar literalmente um monte de gastos do governo ao redor do planeta. E o que nós temos para mostrar a respeito? Uma avalanche de déficits insustentáveis e problemas de dívida soberana.

No longo prazo é verdade que estamos todos mortos. Entretanto, mas até que esse dia bendito chegue todos nós estaremos quebrados!

A coisa mais inteligente que muitos países poderiam fazer agora é o velho duplo D: Default ( não honrar compromissios ) e Desvalorizarização. No entanto, o resultado provável será uma "década perdida" de políticas empobrecedoras levadas a cabo sob o comando da mais horrível criação de Keynes, o FMI.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O TRILEMA DE RODRIK E A EUROPA

A atual situação européia deixa evidente que o Trilema de Dan Rodrik, que apresentamos em outro post, é um fato.

Estruturas de governança transnacionais são incompatíveis com Estados-nação se inserirmos a democracia. Ou seja a tensão latente entre os interesses de um grupo países e os interesses das populações locais não se soluciona sem métodos que ou não atendem a demanda do grupo de países ou não atendem à população local. Algum nível de democracia não se exercerá.

Parece uma obviedade do tipo ovo de Colombo, mas é o maior obstáculo quando se discute a governança mundial.

Demetrio Carneiro

domingo, 23 de maio de 2010

FATOR PREVIDENCIÁRIO E REFORMA

Agora que suas excelências trataram de sua questão eleitoral, aprovando o fim do fator previdenciário, talvez esteja na hora de se debruçarem sobre os mais recentes estudos demográficos que apontam para um expressivo crescimento da população economicamente ativa (PEA) nas próximas décadas.

É o chamado “bônus demográfico”. Nos países desenvolvidos a população economicamente ativa reduzirá ou estabilizará. No nosso caso teremos uma dramática mudança do perfil da chamada pirâmede populacional , com um crescimento acentuado da população acima de 19 anos.
O fenômeno ficará mais claro em 2020. Para frente e até 2050, o desenho da pirâmede sofrerá outra modificação que levará para a seção superior, digamos 60 anos em diante, uma carga de população trinta vezes maior do que a que havia em 1980.

Enfim, até 2020 a pressão sobre a previdência deverá reduzir, pois entrarão mais contribuintes. É mais ou menos como o mecanismo da despeza pública. Enquanto o PIB cresce a taxas altas o aumento da despeza não é muito perceptível. Ele fica evidente quando o crescimento perde o ritmo e a despeza se mantém por ter em seu componente a obrigatoriedade. De 2020 em diante a pressão sobre a previdência crescerá de forma bem acentuada e o déficit deverá crescer aceleradamente.

Como já se fala, se o país se preparar com políticas de qualificação de mão-de-obra e for capaz de produzir uma boa reforma previdenciária o bônus será real. Do contrário , mantido o atual modelo de subsídio de pensões a aposentadorias, somado à incapacidade de poupança prividenciária, o que teremos é um ônus.E dos grandes.

O mais curioso é que esta questão ainda não foi captada pelos programas de governo, embora tenha extrema imporância estratégica.

Demetrio Carneiro

sexta-feira, 21 de maio de 2010

CÉSAR MAIA E A DIPLOMACIA BRASILEIRA

Paciência para meus leitores, mas realmente a política externa brasileira é um problema de extrema importância e que vem sendo meio que ignorado pela oposição.
Um novo governo terá algum problema em recolocar tudo em ordem.
Demetrio Carneiro


BRASIL COPIA O ESTILO DE CUBA E DA VENEZUELA: DIPLOMACIA DE SLOGANS!

Fonte: Ex-Blog César Maia

1. Cuba e Venezuela usam a política externa como instrumento de propaganda para inventar um inimigo externo e, com isso, ampliar o apoio interno, e para multiplicar a percepção da importância de seus países. A política externa deles é marcada por slogans e frases de efeito, na luta retórica contra o imperialismo e coisas tais.

2. Brasil de Lula segue com rigor a Diplomacia de Slogans. E amplia, com presença internacional como 'evangelista' do etanol numa fase, de camisas da seleção em outra, e com acordos políticos e comerciais "fakes", que nada mais produzem que "barrigas" na imprensa. Nessa última tentativa de 'barriga nuclear', a imprensa brasileira esteve atenta e não deu a Lula, no dia seguinte, as manchetes que esperava.

3. A diplomacia brasileira construiu, por décadas, o respeito internacional, pela capacidade e conhecimento de nossos diplomatas, nas instituições, tratados e acordos internacionais. Cesar Maia lembra a este Ex-Blog, que ouviu da ministra de relações exteriores do México, e do vice-ministro de relações exteriores da França para América Latina, no início dos anos 2000, enormes elogios ao Itamarati. As reclamações da ministra mexicana eram quanto à impermeabilidade à manipulação política, da diplomacia brasileira.

4. Um ou outro empreiteiro brasileiro se encanta com a “venezuelo-cubanização” da política comercial externa, na medida em que conseguem grandes projetos com financiamento brasileiro e sem nenhuma licitação. Se somarmos as linhas de crédito anunciadas por Lula para exportações brasileiras, de bens e serviços, vamos chegar a quase 10 bilhões de dólares. Na prática, talvez uns 5% disso tenham sido realizados. Lula anuncia o perdão de dívidas de países pobres para exaltar suas viagens e minimizar a importância desses países em relação ao Brasil, em atos desrespeitosos.

5. Mas quando um país confronta, como Bolívia e Paraguai, Lula recua, e sequer defende contratos assinados pelo Brasil anos atrás e direitos de nossas estatais. Reclama do FMI e, para parecer grande, transfere reservas ao mesmo FMI. Na crise grega atual, anunciou que estava ajudando a Grécia. Na verdade era a participação do Brasil no capital do FMI, ou 250 milhões de dólares, ou 2,5% das reservas transferidas ao FMI, ou 0,003333% da ajuda internacional. No Haiti, seu imobilismo, expôs o exército brasileiro ao constrangimento de ter que abrir alas para a passagem de militares dos EUA, até que Lula se recompusesse.

6. O Unasul virou um palanque para o exibicionismo de Lula, Chávez, Kirchner, et caterva. O Mercosul foi demolido pelo governo Lula. A presença de Lula nos fóruns internacionais é apenas midiática. Obama impulsionou a sua vaidade ao apontá-lo como 'o cara'. Com isso, amaciou-o no G-20. Em todos os pódios duplos, quando da visita a outro país, o presidente/chefe de governo desses países tem que ouvir, com um sorriso amarelo, as metáforas e gracinhas futebolísticas de Lula. De tudo isso o que se vê de resultados é o Brasil ter virado uma economia primário-exportadora do século 19, e boa parte do século 20, para o estremecimento cepalino, em seus túmulos, de Raul Prebish e Celso Furtado. Isso tudo, para não falar nas cumplicidades nem tão ocultas com Farc e congêneres. Ai..., quando o laptop de Raul Reyes 'falar'.

7. E o Senado do Brasil -responsável constitucional pela aprovação dos tratados, acordo, convênios internacionais- a tudo assiste, impávido colosso, passivamente, com Lula tomando decisões que são de outro Poder, ignorando as atribuições do Senado, certo de que a "base aliada" coonestará o que decidiu sem ouvir e sem debater.

8. Esse é o melancólico fim de oito anos dessa Diplomacia de Slogans, que deixa a tradição do Itamarati num quadro de humilhação e constrangimento. E Lula feliz por seu histrionismo diplomático.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

ADOLFO SACHSIDA: A QUESTÃO IRANIANA

Para não ficar me repetindo e por considerar essa questão de maior gravidade, passo a bola para o Adolfo. O texto abaixo foi publicado no Blog dele.
Demetrio Carneiro

A Questão Iraniana
Alguma novidade no caso iraniano? Não. Tudo corre como o previsto: os iranianos aceitam o acordo proposto por Lula. O Irã ganha mais tempo para desenvolver sua bomba nuclear. Minha dúvida refere-se ao que ganha Lula? Certamente não ganha prestígio internacional, mas ganha prestígio interno. Lula ganha uma arma política, capitaliza seu fracasso como sucesso para as eleições de outubro.

Em 1 mês o Irã irá descumprir tudo que prometeu e restará aos embaixadores brasileiros duas alternativas: admitir que foram feitos de bobos ou dizer que tudo esta ok e manter as aparências. Evidente que o Itamaraty irá optar pela segunda alternativa: dando ainda mais tempo ao Irã para desenvolver sua arma nuclear.

O Brasil quer um assento no conselho de segurança da ONU: não vai conseguir. Anos de política internacional respeitável foram jogadas no lixo pelo governo Lula e por Celso Amorim. A cada dia que passa o Brasil se aproxima de ditadores e se afasta de democracias. Esse é o resultado da política internacional do governo Lula.

O Brasil tentou se aproximar da China para conseguir um assento no Conselho de Segurança da ONU. Aos iluminados brasileiros não surgiu a questão mais óbvia de todas: se o Brasil entrar no Conselho de Segurança o Japão também entra, coisa que a China não irá permitir tão cedo. Logo é perda de tempo contar com o apoio chinês para a ampliação do Conselho de Segurança.

Onde estão os grandes embaixadores brasileiros? Não é possível que no Itamaraty só restem esses desqualificados. O Itamaraty tem uma longa tradição de produzir bons diplomatas, não merecia esse fim.

APRECIAÇÃO DA MOEDA CHINESA: PODE NÃO SER NADA DE BOM PARA A AL

Um dos debates recorrentes na economia mundial e mesmo aqui no Brasil é sobre a necessidade de uma apreciação da moeda chinesa. Para nossas indústrias seria um maná, pois aumentaria a competitividade dos produtos brasileiros frente aos chineses, dentro de nosso mercado interno. Da mesma forma a disputa nas vendas externas ficariam mais equilibradas. Não seríamos apenas nós a estar gratos. Americanos, portugueses, canadenses...A lista ia ser longa.

Agora, hoje, 20, alguém jogou um jato de água fria nessa fervura.
Em texto postado no portal VoxEu pesquisadores ligados ao Interamerican Developement Bank, apoiados por um professo de Cambridge e USC(1), divulgam um texto onde argumentam basicamente o que se segue:

Importante para a América Latina a questão dos fundamentos e da manutenção dos fluxos de capitais durante a crise. Mas fundamental a presença da China.

Num estudo de modelo baseado nas relações entre as 26 maiores economias avançadas e emergentes, no período entre o último quadrimestre de 1979 e o segundo quadrimestre de 2008 puderam avaliar de forma eficaz o impacto do crescimento chinês sobre a América Latina.
Percebem claramente três canais ligando a China e a América Latina:
- Relações bilaterais diretas;
- Relações com os maiores parceiros da América Latina;
- Influência no mercado mundial de commodities.
Todos os três canais dão uma sensibilidade bastante alta para a relação. Algo do tipo se a China vai bem nós iremos bem. Mas se a China for mal certamente seremos muito afetados.

É ai que pega a questão da apreciação da moeda chinesa. Segundo a avaliação dos autores a apreciação da moeda gerará uma redução no ritmo de crescimento da China que não poderá compensar a queda das suas vendas externas com o aumento de vendas em seu mercado interno. A queda do ritmo de crescimento da China chegará para a América Latina pelos canais das relações bilaterais e da influência no preço das commodities. Haverá queda na demanda direta chinesa e queda nos preços das commodities.

Dito assim, defender a apreciação da moeda chinesa tem seu lado bom, mas o lado bom fatalmente trás de contrapeso o lado ruim. Segundo os autores uma apreciação de 10% no Yuan levaria a uma queda de 0,5% no crescimento chinês, 0,15% no crescimento americano e 0,3% no crescimento da América Latina.

Ainda segundo os autores a América Latina frente a uma apreciação do Yuan deveria reagir da seguinte forma:

• Em primeiro lugar, os países precisam fortalecer suas posições fiscais A América Latina aprendeu a lição da gestão fiscal prudente durante a crise recente. É preciso aperfeiçoar essas políticas, inicialmente controlando qualquer estímulo fiscal destinado a apoiar a demanda durante a crise e, em seguida, ajustar equilíbrios estruturais de acordo com considerações de sustentabilidade a médio prazo em suposições conservadoras de crescimento e condições de financiamento externo. Isto é especialmente importante à luz dos desenvolvimentos em curso na Grécia, bem como Portugal, Irlanda e Espanha.
• Em segundo lugar, os países latino-americanos devem abster-se de tentar controlar as taxas de câmbio. A história tem mostrado que os países que tentam controlar suas taxas de câmbio para evitar a especulação acabar com mais especulação. Ao deixar as taxas de câmbio flutuar livremente, os países podem criar mais incertezas no mercado, desencorajando ingressos especulativos.
• E, finalmente, a América Latina deve melhorar a sua competitividade na produção em comparação com a China. Deve investir mais em políticas que aumentem a produtividade. Em particular, como a emblemática monografia recentemente publicado sobre a Inter-American Development Bank sobre a produtividade na região argumenta (Pages 2010), a região precisa avançar com reformas estruturais e melhorar a infra-estrutura e educação, em um contexto no qual os custos de transporte prejudicam gravemente difusão de tecnologia e aprovação, através do comércio internacional.

Claro que existe a tese de que se conselho fosse bom não seria de graça. De qualquer forma a receita de três pontos não livraria o Brasil apenas da apreciação da moeda chinesa. Com certeza.

Demetrio Carneiro

(1)

Ambrogio Cesa-Bianchi
PhD student, Catholic University of Milan; Research Assistant in the Research Department, Inter-American Development Bank

Hashem Pesaran
Professor Economics, University of Cambridge; John Elliott Chair and Professor of Economics at the University of Southern California; Professorial Fellow of Trinity College, Cambridge

Alessandro Rebucci
Senior Research Economist in the Research Department of the Inter-American Development Bank

terça-feira, 18 de maio de 2010

“EUA vão se dar mal se adotarem sanções contra o Irã”, diz Garcia

Surpreendente que o notório apoiador da FARC, fraglada, em nosso país, em operação de venda de drogas para financiar o terrorismo na Colômbia, ainda esteja podendo falar como autoridade brasileira. 
E, pior, fazendo bravatas contra um país com o qual mantemos relações amigáveis. 
Tudo a alguns meses do encerramento dessa aventura.

Tem algo muito errado...

Demetrio Carneiro


MADRI - O assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, afirmou nesta terça-feira, 18, em Madri, que a eventual adoção de sanções contra o Irã por parte dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU - EUA, França, Reino Unido, Rússia e China - não será legítima, nem bem recebida pela comunidade internacional.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

SOBRE O “ESFORÇO” LULA PARA A CANDIDATURA À ONU – 2

Aparentemente o acordo Brasil-Irã-turquia não é exatamente o que o mundo esperava. 
O acordo assinado por Lula dá ao Irã o controle de si próprio e soa muito como mais uma manobra protelatória brasileira para evitar que o Irã receba sansões do Conselho de Segurança da ONU.

Lula segue por um caminho perigoso e atua como aprendiz de feiticeiro. De forma muito semelhante ao episódio de Honduras a política externa brasileira vai cavando sua própria cova.
Nada a estranhar já que nosso verdadeiro ministro das relações exteriores é Marco Aurélio, o "amigo" das FARC, aquela quadrilha que atua dentro do Brasil vendendo cocaína para financiar o terrorismo em uma nação vizinha.

Realmente tudo indica que Lula está convicto de que tem um protagonismo mundial muito além da própria mesa de negociações da ONU. Estando a alguns meses do final do governo. Alguns achariam tal atitude temerária. 

Lula disse seria o líder da oposição no próximo governo. Mesmo sem mandato. Pelo visto avançamos mais um ponto e, mesmo sem mandato, veremos Lula como líder de um curioso bloco político que unirá regimes autoritários em muitos continentes. Já temos a OEA do B. Será o ONU do B?

Demetrio Carneiro

domingo, 16 de maio de 2010

QUESTÃO DE SEGURANÇA NACIONAL

A descoberta de uma base das FARCs em território nacional coloca questões extremamente sérias:
-A base tem servido para internalizar e distribuir drogas em nosso país;
-Os recursos são enviados para financiar atividade terrorista na Colombia;
-Isso tudo ocorre há muitos anos;

Não pode haver qualquer dúvida que se trata de um problema de segurança nacional.

Demetrio Carneiro

SOBRE O “ESFORÇO” LULA PARA A CANDIDATURA À ONU – 1

Até aqui o que há de concreto é a nota do governo iraniano sobre a visita, ignorando a questão principal, a capacidade de produzir bombas atômicas.
Logo iremos saber se namorar uma ditadura descarada e sanguinária ajudará a eleger Lula para a ONU. Não que isso seja apenas uma solução para o problema dele. Claro que ele pensa na nação e responde às suas reais inclinações: Fidel, Chaves etc.
Demetrio Carneiro

O TRILEMA DE DAN RODRIK

Por gentileza do "Volpon News", nosso correspondente exclusivo em NY - o coração do Império do Mal - , exclusivo apesar das canjas ao Bloomberg, dou conhecimento  do texto abaixo, de cujo original em inglês fiz uma rápida e livre tradução para os nossos monoglotas do pedaço.

Tenho a impressão que o Rodrik deveria dispensar apresentações, mas precaucionalmente e tendo em vista nosso grau de ligação zero com o resto do mundo ,ai vai a nossa prestação básica de serviços:
Dan Rodrik, professor de Política Econômica na Universidade de Harvard, Escola de Governo John F. Kennedy, foi o primeiro a receber o prêmio Albert O. Hirschman do Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais(Social Science Research Council). Seu livro mais recente: Uma Economia, Muitas Receitas: Globalização, Instituições e Crescimento Econômico (One Economics, Many Recipes: Globalization, Institutions, and Economic Growth.).
De quebra, para os não-monoglotas, ele tem um ótimo Blog cujo endereço se encontra na nossa área de Blogs recomendados, ai do lado direito.

Tem muito pano para a manga aqui. 
Principalmente para nós brasileiros, mas mais principalmente para aqueles entre nós que defendem de forma incisiva a questão da governança global como única saída para o planeta. 
A proposta do “trilema” de Rodrik nos obriga a um pé no chão e a diversas interrogações sobre a viabilidade real dessa proposta. 
Em realidade, ao menos para os marxistas, não é um assunto novo. Esse era o projeto de Trótsky, que percebia na unificação política planetária a única saída para viabilizar uma propostas de socialismo.

Demetrio Carneiro


Lições gregas para a economia mundial

CAMBRIDGE - O pacote de apoio de USD 140 bi que o governo grego, finalmente, recebeu de seus parceiros da União Européia e do Fundo Monetário Internacional, dá o espaço necessário para empreender a difícil tarefa de colocar suas finanças em ordem. O pacote pode ou não impedir que a Espanha e Portugal tomem o mesmo caminho ou até mesmo eliminar a eventual proliferação de um padrão grego de problemas. Independentemente do resultado, é evidente que o descalabro grego deu a UE um olho roxo.

No fundo, a crise é mais uma manifestação do que chamo de "trilema político da economia mundial": A globalização econômica, a democracia política e o Estado-Nação são mutuamente incompatíveis. Nós podemos ter no máximo dois termos ao mesmo tempo. A democracia só é compatível com a soberania nacional se restringir a globalização. Se formos para a globalização, mantendo Estado-Nação, devemos abandonar a democracia. E se queremos democracia, juntamente com a globalização, temos de deixar o Estado-nação de lado e lutar por uma maior governança internacional.

A história da economia mundial mostra o trilema trabalhando. A primeira era da globalização, que durou até 1914, foi um sucesso, já que as políticas econômicas e monetárias mantiveram-se isoladas das pressões das políticas internas. Essas políticas poderiam então ser completamente subjugadas às exigências do padrão-ouro e livre mobilidade do capital. Mas, uma vez que a participação política foi ampliada, a classe trabalhadora se organizou e a política de massas tornou-se a norma, os objetivos econômicos nacionais começaram a competir (e esmagar) com as regras e restrições externas.

O caso clássico é o retorno, de curta duração, ao ouro na Grã-Bretanha no período entre guerras. A tentativa de reconstituir o modelo pré-I Guerra Mundial de globalização entrou em colapso em 1931, quando a política interna obrigou o governo britânico a preferir uma inflexão doméstica em relação ao padrão-ouro.

Os arquitetos do regime de Bretton Woods tiveram essa lição em mente quando redesenharam o sistema monetário do mundo em 1944. Eles entenderam que os países democráticos precisam de espaço para realizar políticas monetárias e fiscais independentes. Então eles contemplaram apenas "globalização" restrita, com os fluxos de capitais em grande parte limitados a empréstimos de longo prazo. John Maynard Keynes, que escreveu as regras junto com Harry Dexter White, olhava o controle de capitais não como um expediente temporário, mas como uma característica permanente da economia global.

O regime de Bretton Woods entrou em colapso na década de 1970 como um resultado da incapacidade ou falta de vontade - não é totalmente claro - de levar os governos a controlar a maré crescente de fluxos de capitais.

O terceiro caminho identificado pelo trilema é acabar com a soberania nacional por completo. Neste caso, a integração econômica pode ser casada com a democracia através da união política entre os estados. A perda de soberania nacional é, então, compensada pela "internacionalização" da política democrática. Pense nisto como uma versão global do federalismo.

Os Estados Unidos, por exemplo, criaram um mercado unificado nacional uma vez que o seu governo federal assumiu suficiente o controle político dos Estados individuais. Isso estava longe de ser um processo suave, como a Guerra Civil Americana, demonstra amplamente.

As dificuldades da União Européia decorrem do fato de que a crise financeira mundial pegou a Europa em meio ao caminho de um processo similar. Os líderes europeus sempre entenderam que a união econômica tem que ter um pé para na política. Mesmo que alguns, como os britânicos, quisessem dar à União o mínimo possível de energia, a força do argumento ficou com aqueles que pressionaram para a integração política junto com a integração econômica. Ainda assim, o projeto político europeu, ficou muito aquém do econômico.

A Grécia se beneficiou de uma moeda comum, dos mercados de capital unificados, do comércio livre com outros Estados membros da UE. Mas ela não teve acesso automático a um emprestador em última instância europeu. Seus cidadãos não receberam cheques de desemprego a partir de Bruxelasm no formato que, digamos, os californianos recebem a partir de Washington, DC, quando a Califórnia tem uma recessão. Também, devido às barreiras linguísticas e culturais, os gregos desempregados não podem se mover tão facilmente, e atravessar a fronteira para outro estado europeu mais próspero. E os bancos e as empresas gregas perdem a sua credibilidade junto ao seu governo, se os mercados percebem que estão insolventes.

Os governos alemão e francês, por sua vez, tiveram pouca influência sobre as políticas orçamentárias da Grécia. Eles não podiam impedir os empréstimos do governo grego no Banco Central Europeu(BCE), enquanto as agências de avaliação de risco davam credibilidade à dívida grega. Se a Grécia escolhe uma lógica, não se pode fazer valer as reivindicações dos bancos sobre os mutuários grego ou apreender os bens gregos. Também não podem impedir que a Grécia de sair da zona do euro.

O que tudo isto significa é que a crise financeira acabou por ser muito mais profunda e sua resolução muito mais confusa do que o necessário. Os governos francês e alemão tiveram má vontade para fazer acontecer o pacote principal de empréstimos e só o liberaram depois de um atraso considerável e com o FMI em pé ao seu lado. O BCE baixou o limite de crédito que os títulos do governo grego devem atender a fim de permitir a continuação de empréstimos aos gregos.

O sucesso da operação de salvamento está longe de ser assegurado, tendo em vista a magnitude do aperto de cintos que solicita e a hostilidade que suscitou da parte dos trabalhadores gregos. Quando o impulso vem dos confrontos da política interna supera os credores estrangeiros.

A crise revelou como são demandas dos pré-requisitos da globalização. Isso mostra o quanto as instituições européias ainda devem evoluir para sustentar um único mercado saudável. A escolha que a UE enfrenta é a mesma em outras partes do mundo: Se o que se quer é a integração política ou apenas a facilitação da unificação econômica.

Antes da crise, a Europa parecia ser o candidato mais provável para fazer uma transição bem sucedida para o equilíbrio do primeiro quesito - uma maior unificação política. Agora seu projeto econômico está em frangalhos, enquanto a liderança necessária para reacender a integração política está longe de ser vista.

O melhor que se pode dizer é que a Europa não será mais capaz de retardar a escolha a ser feita e que o caso grego tem posto o problema a descoberto. Se você é um otimista, pode até concluir que a Europa, portanto, em última análise, emergirá mais forte.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O QUE HÁ POR TRÁS DO DEBATE DA AUTONOMIA DO BC

Ontem, quinta-feira, pude escutar de uma pessoa que julgo bastante séria a observação de que “por trás da defesa da autonomia do BC haveria alguma coisa”.

Fiquei “dando tratos à bola” e só dava para concluir que essa desconfiança está ligada ao velho discurso sobre o conluio do BC com os banqueiros, a proteção aos rentistas etc.
Na realidade até o início da crise e o revival do desenvolvimentismo keynesiano essas coisas pareciam encerradas no museu da história do pensamento político brasileiro.

Não vou ficar novamente discutindo sobre juros reais, regime de metas e todo o resto. Quem ainda não entendeu o papel do BC, quem não entendeu que o problema dos juros reais é estrutural, não entende por que não quer entender. Acha que o discurso mais fácil, o atalho para corações e mentes é o discurso forte. A teoria da conspiração dos banqueiros sempre mexe com o imaginário popular do nosso anticapitalismo básico.

O BC tem um papel institucional na política monetária que cumprirá se tiver liberdade para isso. Se não tiver liberdade não cumprirá. Simples assim.

Existem meios de coordenar política fiscal e política monetária. Existem meios de coordenar ambas tendo por base metas de crescimento econômico.
Um debate que tratasse dessas coisas seria um debate sério. 
Vamos ao debate sério.

Demetrio Carneiro

quinta-feira, 13 de maio de 2010

DESCONSTRUINDO A DEMOCRACIA COM AUTORIZAÇÃO DO TSE?

No mesmo dia em que o TSE multou o PT e Dilma Roussef, praticamente na mesma hora, novamente a lei foi desrespeitada por ninguém menos que o presidente da república.
A corte "não teve tempo" de avaliar essa inserção. Vamos ver, agora que outra ilegalidade foi cometida, "de baixo das barbas" dos juízes, o que irá acontecer e se o tribunal irá se impor ou ser subjugado.
O jogo de Lula não é apenas ilegal. Parece haver a intenção de confrontar e desmoralizar a corte. Muito longe de ser traquinagem de um brasileiro cordial é ação de quem tem extrema malícia política. Existe um risco potencial de conturbação do processo eleitoral. O futuro dirá.
Demetrio Carneiro

NOTA DO DEM-PSDB ACERCA DO DECRETO 7.037/2009, O PLANO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 3.

1. O cerceamento da liberdade de pensamento e expressão pelo Estado compromete e condena a versão particularíssima de direitos humanos que o governo federal impingiu à Nação por meio do Decreto 7.037, de 21.12.2009.

O Decreto, não obstante o compromisso explícito do ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, de revê-lo e abri-lo à discussão com o Congresso Nacional, está em pleno vigor, mantendo ambiente de receio e espanto na sociedade brasileira.

2. Nesse decreto, em nome de uma causa nobre – os direitos humanos -, constam decisões que a negam, invertem e agridem, tais como, entre muitas outras:

Ø Restrições à liberdade religiosa (proibição de uso de seus símbolos em locais públicos);

Ø Restrições à liberdade de imprensa e à produção cultural;

Ø Quebra do monopólio do Judiciário para a resolução de conflitos (cláusula pétrea constitucional)

Ø Estímulo às invasões de terras e afronta ao direito de propriedade

Ø Banalização do aborto, tema cujo âmbito de discussão e decisão é o Congresso Nacional.

3. Repudiamos a tentativa de estabelecer, em nome dos direitos humanos – que devem pairar acima de ideologias e partidarismos -, um regime de restrições incompatível com o Estado democrático de Direito e as aspirações da sociedade brasileira.

4. Os partidos que assinam esta nota se comprometem a lutar contra esse decreto, pela dignidade e pelos direitos humanos de todos em nosso país, não importa o credo político ou religioso, tendo sempre em mente que:

Ø é dever do Estado brasileiro proporcionar a todos oportunidades de emprego e renda, garantir acesso à moradia, saúde, educação, segurança e promover a superação da pobreza;

Ø o desenvolvimento econômico e social do país pode e deve ser buscado por caminhos de liberdade e respeito efetivo aos direitos humanos e civis;

Ø o Congresso Nacional, com ampla consulta à sociedade, é o foro adequado para o debate de temas éticos envolvendo a vida em família e o direito à vida;

Ø a busca de realização dos verdadeiros direitos humanos não se coaduna com a imposição de modelos de Estado ou civilização fabricados em núcleos de militantes e em laboratórios intelectuais, por mais prestigiados que sejam;

Ø será com a participação de todos que iremos realizar o sonho de uma grande Pátria com liberdade, deveres e direitos equânimes garantidos a todos.

5. Por sua abrangência e pretensa transversalidade, o referido Decreto equivale a uma mini-constituinte. Se outro mérito não tem, revela a verdadeira face ideológica de um governo que faz profissão de fé democrática, mas que, em conferências com sua militância (que pretende substituir a sociedade civil), conspira pelo obscurantismo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ

Caso alguém tivesse ido à lua num programa turístico e tivesse ficado por lá nos últimos, digamos, seis meses, sem acesso ao rádio e à TV, levaria um susto ao ler as notícias nos últimos dias.

Estamos vivendo uma inversão total de sinais. A se acreditar no que vai na mídia.

Temos uma Dilma “responsável”, defensora da estabilidade e mesmo privatizante e um Serra estatizante.

O debate sobre o Banco Central, gerado a partir de uma entrevista de Serra à CBN continua rendendo ao ponto do Correio Braziliense ( Mercado compra Dilma, edição de hoje, 12.05 ) já identificar em Serra a imagem que deveria, por hipótese, estar colada em Dilma.

A confusão é muito grande e Serra não se sai bem. Quando falou no necessário entrosamento entre as políticas monetária e fiscal, registrado pelo Estadão, na edição de ontem, 11, não soube especificar exatamente do que estava falando, o que só fez aumentar o problema. 
Dilma não disse é nada, mas foi curta e direta: Sou pela autonomia do BC. Como também foi em um debate sobre infraestrutura e admitiu a privatização da Infraero, se fosse necessário.

Na edição de terça-feira do Estadão, que citei antes, há uma belíssima foto com Dilma em primeiro plano. Em segundo plano estão Palocci e Marco Aurélio Garcia. Nada mais emblemático. O fotógrafo captou numa imagem a essência do momento político: Responsanbilidade interna e irresponsabilidade externa. A prática e o discurso.

Palocci, no próximo dia 19, irá falar sobre o próximo governo em Nova Yorque. Certamente já sabemos que fará o discurso da estabilidade, pois todos, principalmente com a crise da Grécia, já sabem que sem recursos externos o crescimento do Mantega, de mais de seis por cento ,vai para o sal. 
Serra pelo visto não se deu conta desse pequeno detalhe de que é o mercado quem baliza os investimentos com base em expectativas que os agentes públicos criam ou não.

A “virada” petista já vem de longe.
Foi o último Congresso do PT o divisor de águas. Quem acompanhou o intenso debate dos petistas durante a crise. ..Quem leu todos as falas alertando para o fim do neoliberalismo, para a retomada do desenvolvimentismo keynesiano de gastos público etc...ficou surpreso ao constatar as metas petistas e verificar que entre elas estava a defesa do conceito de estabilidade econômica. Mais surpreso deve ter ficado ainda ao ver a crítica ao caráter violentamente regressivo da tributação.

De lá para cá as coisas foram evoluindo a ponto de ver o nosso Mantega defendendo!!! O corte de gastos públicos caso a meta de inflação ficasse prejudicada pelo crescimento de mais de seis por cento.

Pode parecer o samba do crioulo doido, mas a necessidade de recursos de investimento para um projeto extremamente ambicioso num país sem capacidade interna de investimentos pode fazer milagres. Existe uma clara previsão de estrangulamento a partir dos 5% por conta do nosso custo-Brasil, a questão da infraestrutura.

Certamente o PT “roubou” o discurso de Serra e ele não estava preparado para isso e, pior, não soube rastrear os acontecimentos.

E agora, Serra não tem discurso? 
Vai posar de “estatizante”?
Já tem alguns meses que estamos chamando a atenção para o erro de fazer o debate “em partes”. Claro que nosso interesse não é pautar o discurso dele, mas mostras que  poderia ter sido outra a estratégia.
Não que não haja o que falar e nós falamos. 
Tentamos mostrar o erro de transformar o debate dos juros num problema do BC quando os juros reais são determinados pelo mercado e se são altos o são como resultado da razões estruturais. 
Da mesma forma tentamos mostrar que soluções conjunturais na questão cambial não são eficientes e só adiam a solução dos problemas. 
Até mesmo para a falta de compatibilidade entre as políticas fiscal e monetária já apresentamos uma proposta que está registrada em um texto do Tony e meu na nº 25 da Revista Política Democrática da Fundação Astrojildo Pereira.

O que procuramos estabelecer é que o debate de partes só tem sentido se você lida com o todo. Ou seja, só dá para debater partes se em tua cabeça há um claro projeto de desenvolvimento.

Este é o ponto. 
O debate que Serra devia forçar é o debate sobre o modelo de desenvolvimento que queremos e que apontará para o nosso futuro enquanto nação. 
O modelo do desenvolvimentismo keynesiano está superado. Defasado. 
Temos que ter a ousadia de buscar novas propostas de desenvolvimento que respondam às demandas de nosso tempo. Esse deveria ser o centro do debate. 
As questões da macroeconomia e da microeconomia, o papel do Estado, a questão das políticas públicas, tudo isto ou tem um eixo orientado para o desenvolvimento que queremos ou serão um debate perdido.

PT que “comprou” pragmaticamente a estabilidade tem ai o seu ponto fraco, pois continua percebendo no velho desenvolvimentismo keynesiano a única saída.

Demetrio Carneiro

O HÁBITO NÃO FAZ O MONGE

Romeu Tuma Filho aparece na política no rastro de seu pai.
Romeu Tuma, o pai, o senador, membro do, neste momento político, importantíssimo PTB-tempo de TV, encerra seu mandato nessa legislatura.
Romeu Tuma, o pai, ficou famoso pela postura “técnica” dentro da PF, buscando sempre fortalecer a instituição, torná-la mais eficiente.
Romeu Tuma, o filho, vai para as manchetes por estar usando suas conexões para favorecer criminosos que seu pai teria combatido se ainda estive na PF.

Do filho a resistência em abandonar o cargo. Apesar de todas as evidências, ao invés de se demitir, sai “de férias”. Reconhecendo sua relação de amizade com o contrabandista chinês, a indagação: O quê é que tem...?

A indagação/indignação deveria ser a pista. De fato para o filho não há qualquer problema na relação de amizade entre uma autoridade e o cidadão que ele deveria reprimir, por ser autoridade.

Não é uma anomalia. É um comportamento sintomático de servidores, são todos servidores desde o senador ao secretário, pois são remunerados com o nosso dinheiro, que se julgam acima do bem e do mal.
Boa parte da imoralidade republicana no funcionalismo ainda está fundada nesse conceito colonial de agente público que coloca-os ao lado de Deus e inalcançáveis às leis que regem o comum dos mortais.

Resta saber quanto irá pesar nesse jogo o tempo de TV do PTB.

Demetrio Carneiro