quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O MAIOR ATIVO DO FUTURO BRASILEIRO

As economias crescem o por seus mercado interno ou pelo mercado externo ou, o que é mais comum, por uma combinação de ambos. Quase uma década de um quadro internacional favorável, uma tributação recorde sustentando níveis recordes de gastos, acabaram por fornecer os elementos capazes de alavancar um longo período de crescimento real da massa salarial dos trabalhadores brasileiros. Em paralelo um poderoso programa assistencialistas de transferência de rendas tirou alguns milhões de famílias da pobreza extrema ou não, dando a elas capacidade compra. A soma combinada acabou resultando no ingresso de muitos milhões de famílias no mercado de consumo, alavancando a atividade econômica. Mas não foi menos importante a transferência histórica das cadeias produtivas do Centro para a Semiperiferia, gerando uma interação nova na economia mundial e, pela primeira, vez trazendo para a Semiperiferia parte do ganho na produção de manufaturados mais sofisticados tecnologicamente. Somando tudo está em jogo um poder de compra avaliado em R$ 1 tri, perto de 25% do PIB brasileiro de 2011.

O estilo de crescimento brasileiro não é exatamente um sucesso, mas mantém seu passo vigoroso, se comparado às economias desenvolvidas e está bem acima do crescimento da população. 

Com uma economia hipodimensionada pelas travas estruturais e institucionais, com investimentos abaixo do necessário para vôos maiores, agregar esses milhões de famílias
num período historicamente curto de uma década cria uma situação em que mesmo com um produto rodando na casa de 1,5%, ainda assim o mercado de trabalho apresenta taxas de desemprego significativamente baixas.

A estruturação do mercado de consumo de massas vai avançando e entre seus frutos está o voto, que pode dar o caminho da sobrevivência política. Este fenômeno de emergência sempre esteve nos sonhos de muitas gerações de gestores públicos e agentes políticos brasileiros, mas agora está aqui, presente e trata-se de saber para onde caminha esse segmento extremamente amplo e complexo que o atual presidente do IPEA, Neri, parceiro no projeto da SAE, chamou de nova classe média. Colou e o nova é fundamental ao menos para explicar que essas famílias emergentes nada têm com o que se imagina ser a classe média nos padrões mais clássicos. Aliás, nem mesmo a haver com classe propriamente dita. De qualquer forma o parâmetro de renda dá uma noção do que se entende aqui como nova classe média: famílias com renda entre R$290,00 e R$1.019,00...

Para onde caminham essas famílias que mudaram o voto no Brasil passou a ser preocupação  da situação e da oposição. Obviamente no poder a situação organiza seu conhecimento e seu pensamento. Hoje, 20, a Secretaria de Assuntos Estratégicos, Moreira Franco, político e sociólogo, lançou o projeto Vozes da Classe Média que envolve o esforço de diversos setores do governo e deverá resultar numa publicação bimestral com esse nome, chamada de cartilha. Conheça a primeira

Já no final da apresentação feita para divulgar o lançamento do projeto a frase Classe Média o Maior Ativo do Futuro do Brasil dá a exata medida do valor emprestado pelo setor pensante do governo. A apresentação é obviamente ufanista, numa linha de leitura que certamente tende a dar o governo petista como a origem única deste ativo que quase coloca o Brasil no G-20. Contudo o problema não está tanto no que é esse segmento, mas como a gestão pública é capaz de produzir políticas que continuem melhorando a qualidade de vida dessas famílias.

Demetrio Carneiro