domingo, 2 de setembro de 2012

AS QUESTÕES DA SUSTENTABILIDADE DAS CIDADES 1


O texto abaixo escrevi para servir de base para minha participação num Seminário em Salvador com o tema Cidades Sustentáveis. 

Ainda dentro dessa linha pretendo postar outro texto, mais teórico, envolvendo o debate sobre os Ecossistemas Urbanos e sua análise. Questão que considero fundamental para uma correta compreensão sobre o que de fato são Cidades Sustentáveis e capaz de nos levar na direção de propostas factíveis.

Alguns problemas de configuração ficam por conta do Blogger que hoje está péssimo.

Demetrio Carneiro

Introdução

Estudo inédito da ONU prevê que a taxa de urbanização no Brasil será de 90%  Quase 80% de toda a população da América Latina e do Caribe vivem em áreas urbanas, revelou o relatório "Estado das Cidades da América Latina e Caribe" do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-HABITAT), divulgado no dia 28 de agosto passado.

Evidentemente a questão da sustentabilidade das nações latino-americanas e do Caribe assume caráter dramático, com o nosso pais transformando-se num dos países com a maior taxa de urbanização do planeta.

Querer uma Cidade Sustentável envolve muitos desafios. Um dos maiores é construir este projeto a partir de um ente subnacional, o município, numa federação fortemente centralizada nas mãos de um poder executivo federal detentor de boa parte dos recursos necessários ao projeto.

Sustentabilidade é um tema da moda. Mas o quê exatamente é uma cidade sustentável?

Há todo tipo de definições, mas todas, inevitavelmente, consideram a necessidade de uma interação positiva entre o tecno-ecossistema criado pelo nosso processo civilizatório e os ecossistemas naturais, fornecedores de serviços essenciais à permanência da vida como os ciclos de produção de oxigênio e absorção de CO2, purificação e preservação da qualidade das águas, reprodução da vida marinha etc. A interação negativa, todos sabemos, se dá pelos impactos ambientais da produção, do consumo e pela própria lógica de existência das cidades atuais, entre outros.

Quais questões são estratégicas para a municipalidade de uma cidade sustentável?

# Compreensão do perfil populacional, das potencialidades, dificuldades e dos limites da cidade.
# Recursos públicos para custeio, investimento e geração de renda própria.

# Políticas públicas municipais de promoção do capital humano.

# Políticas públicas municipais da transição.

Requisitos de uma cidade sustentável

Cabe agora quais os requisitos para uma cidade poder ser sustentável:

Alguns são muito evidentes. Outros ficam ocultos por outras dimensões como a econômica ou a social.

Em primeiro grau podemos afirmar que uma cidade não é sustentável se e apenas se seu governo quiser. Há necessidade de um pacto de governança no qual a sociedade civil e os agentes econômicos estejam integrados.

Na sequência podemos afirmar que uma cidade não é sustentável se não for capaz de produzir seus próprios projetos de desenvolvimento. Aqui entra a governança de longo prazo, para além dos limites de um mandato. São necessários Planos de Desenvolvimento Sustentável Local de longo prazo, 20 anos, consensuados em Conselhos e Conferências  Municipais e integrados à produção dos Planos Plurianuais.

A cidade também não será sustentável se não for capaz de inserir em seus Planos de Desenvolvimento Local a noção da Economia de Transição. Ou seja como aquela comunidade local e seu governo democrático pretendem ir do ponto A ao ponto B. Sabemos, fora de qualquer dúvida, que não se trata de uma declaração de intenções, embora até seja positivo fazê-las, trata-se de um enorme esforço de vontade política, já que os pré-requisitos da sustentatibilidade envolvem profundas alterações não apenas na cultura, mas na ordem econômica, social e na própria estrutura de poder dentro do Estado e do Poder Real. As metas serão relevantes, mas se não houver uma transição pensada, planejada e com bases efetivas de financiamento não se chegará lá.

Outra questão conexa à cidade sustentável é que ela não pode supor-se “sustentável” sem que seu entorno imediato também o seja. Quer dizer, é preciso ir além dos limites da cidade e verificar o impacto da cidade sobre as outras cidades de sua proximidade. Isso indica que qualquer planejamento de sustentabilidade da cidade não estará completo se não incluir o entorno imediato das outras cidades, não apenas mitigando os efeitos ambientais, mas trazendo expectativa de desenvolvimento sustentável integrado no âmbito regional. É a responsabilidade da cidade e de sua população com as outras cidades e populações que fazem da cidade o que ela é e devem estar integradas ao projeto do que ela quer ser.

Projetos e metas

Finalmente chegamos a ao projeto, as metas que é onde queremos chegar, a agenda, que nos dá os momentos relevantes a cada período e o “de onde partimos”.

Projeto e metas de uma cidade sustentável estão assentados em algumas premissas hoje bem definidas:

Capital humano - A Economia da Transição e a Nova Economia estão inseridas na Sociedade do Conhecimento. Inevitável falar de formação e qualificação, instituições capazes de prover essa demanda, corporações capazes de apoiar e financiar propostas inovadoras ou adaptativas;

Proteção aos ecossistemas – A proteção aos ecossistemas naturais dentro das cidades e periféricos a ela. Compatibilização com o tecno-ecossistema.

Equidade – A questão da equidade tanto é vista do ponto de vista do acesso às oportunidades, como do ponto de vista do combate à intensa concentração de renda, quanto do ponto de vista dos direitos das gerações futuras a uma qualidade de vida mínima;

Combate ao patrimonialismo – O combate ao patrimonialismo é fundamental como forma de garantir que os recursos públicos sejam utilizados em favor dos projetos da sociedade e da cidade sustentável;

Mudanças nos hábitos de consumo – Compete ao governo municipal, principalmente pela via do sistema de ensino fundamental, apresentar à comunidade opções alternativas de hábitos de consumo e a aplicação de políticas públicas efetivas como às previstas na questão dos resíduos sólidos;

Eficiência e alternativas energéticas – Investimentos na eficiência energética dos prédios públicos e da iluminação pública, estímulos por meio do código municipal de obras, uso e estímulo ao uso de fontes alternativas de produção de energia alternativa;

Reabilitação das zonas urbanas degradadas – A cidade vive e morre, expande em umas direções e se contrai em outras. Nesse sentido algumas zonas urbanas “ficam para trás” e sua reabilitação deve se dar dentro de padrões modernos de sustentabilidade;

Acessibilidade universal – A garantia da mobilidade universal tanto na circulação, como no acesso aos prédios públicos municipais faz parte das políticas inclusivas e, principalmente, equitativas necessárias a uma cidade sustentável;

Mobilidade Urbana – Os projetos de mobilidade estimulando o transporte coletivo e o uso individual alternativo ao carro também estão entre as premissas da cidade sustentável;

Localização nos bairros – Previsão da inclusão do conceito de localização dos bairros nos projetos de desenvolvimento é importante, pois evita locomoções entre bairros distantes, facilitando a mobilidade geral e gerando economia de tempo e gasto energético;

Geração e estímulo de alternativas de economia e serviços sustentáveis – O estímulo das alternativas de produção adequadas à transição e à nova economia também é parte integrante de uma proposta de cidade sustentável. Nesse sentido a prestação de serviços também precisa estar conectada ao projeto;

Elementos de base de um projeto de cidade sustentável

Controle de danos e riscos ambientais – A viabilidade de um projeto de cidade sustentável envolve trabalhar na produção do Zoneamento Econômico-Ecológico que sirva de base às políticas públicas e ao PDOT. Implica ainda na produção de um Mapa de Riscos Naturais e Ambientais. Lateralmente envolve a criação de um Sistema de Defesa Civil capaz de lidar com o seu controle e regulação e possa responder com eficiência inclusive ao pós-evento


Geração de rendas própria – A premissa final é que os recursos oriundos dos governos federal e estadual nem de longe são suficientes para sustentar uma ação mais intensa da prefeitura. Faz parte do projeto a necessária ampliação das fontes de renda tributária municipais, obviamente conectadas às possibilidades de desenvolvimento da cidade.

Mapa de potencialidade e fragilidades da cidade, planejamento de longo prazo – Outra base do projeto é a produção de um Mapa de Fragilidades e Potencialidades da cidade que possa servir como elemento de um amplo processo de debates.