Não tem muito tempo, pouco mais de 90 dias, Mantega ridicularizou a possibilidade do PIB de 2012 chegar a 1,5% prevista num relatório do Credit Suisse. Escolheu o banco suíço talvez por haver mais repercussão internacional. Na realidade internamente não eram poucos os especialista que já apontavam esta possibilidade.
Foi mais ou menos por ai que Mantega criou a teoria do Cabo da Boa Esperança. De olho numa recuperação esperável para o fim de ano o ministro anunciava aos quatro ventos a retomada "em breve" da economia brasileira e um crescimento de 4%. Depois explicou melhor, que o crescimento nos trimestres seguintes, se anualizado seria de 4%.
Muito bem, além de não dobrarmos o Cabo é o BC que respeitosamente baixa a previsão do PIB de 2012 para 1,6%. Imaginamos que na próxima revisão para baixo deverão falar em 1,49% para não deixar o ministro vexado.
O grande problema deste jogo de mídia é que as oportunidades vão se esvaindo por conta das leituras equivocadas. Os mandatos de Lula se deram em boa parte num contexto muito positivo. Teria sido o momento de buscar transformações significativas nas estruturas e nas instituições da economia brasileira, mas o foco era o poder e sua manutenção com base no gasto público crescente e de resultados imediatos. Os investimentos sofreram um criterioso corte midiático, transformados em PAC resultaram em quase nada de positivo.
Apesar dos pesares os bons anos de crescimento mais acelerado nos trouxeram a "nova classe média" criando condições históricas para um mercado de massa que hoje bate na trava da falta de investimentos e se recente de uma transformação qualitativa que eleve a plataforma de consumo, mas que é perfeitamente adequado ao atual momento de crescimento mais lento. Ao menos enquanto mantiver o ritmo de emprego e correção real da massa salarial.
Para desenvolver e ampliar esse mercado de consumo de massa novas e mais arrojadas mudanças serão necessárias. Necessário o investimento não apenas nas bases materiais da economia, mas ele também precisa se dar nas bases imateriais, no Capital Humano. Mais uma vez, como na questão do investimento e da formação de poupança, não há atalhos e os resultados jamais são imediatos. Mais uma vez se olha para outro lado. A dúvida para muitos é o quanto uma eventual rotação de poder mudaria esse quadro de uma economia "sendo levada".
Já a inflação "sob controle" vai para 5,2%...
Por enquanto a piada mesmo continua sendo a permanência do ministro.
Demetrio Carneiro