sábado, 15 de setembro de 2012

A AMBIGUIDADE GEO-ESTRATÉGICA AMERICANA NA QUESTÃO DO TERRORISMO PODE DAR CERTO?



A questão da Líbia tem toda a complexidade dos compromissos assumidos para depor Kadhafi e que passaram pelo apoio à ação dos grupos jiradistas. De fato são uma minoria,mas uma minoria extremamente ativa e em busca do poder. Nada será tão simples, como ficou claro com o atentado recente. A Síria vai pelo mesmo caminho, embora mais resistente, devido envolvimento direto da Rússia e da China. 

A ambiguidade da política americana de dar uma no cravo e outra na ferradura, conforme já havíamos comentado, enviando diferentes sinais ao mesmo tempo, está na origem de boa parte do problema.

Num artigo postado hoje pelo Project Syndicate, Libya's Jihadist Minority, o articulista, Omar Ashhour[1], fala exatamente desta contradição aberta, mas do lado da integração dos grupos armados anti-kadhafi ao novo governo estabelecido e coloca o atentado fora do âmbito da responsabilidade de um desses grupos integrados ao processo institucional, debitando, antes, o problema à dificuldade de completar o processo de integração dos antigos combatentes ao novo governo. 
Comenta:  "O jiradismo Salafi não é uma organização, mas uma tendência ideológica baseada na crença de que um núcleo de táticas armadas de todo o gênero é o mais eficaz - e em algumas versões mais legítimo - método de promove mudanças sociais e políticas."

Este argumento não é muito diferente do que conhecemos aqui no Brasil durante o período de luta contra a ditadura civil-militar. Lá a ideologia é religiosa, mas o pensamento é basicamente hegemonizante, autoritário e intolerante com as diferenças, como todas as proposta de tomada violenta do poder.

O problema com o artigo de Ashour é que ele meio que navega pela perplexidade em relação aos acontecimentos recentes e tende a culpar a ação de minorias religiosas, não integradas e não interessadas na integração, e não os equívocos da ambiguidade da geoestratégia americana, comprada pelos países da Europa.

Ao fim do artigo sugere que os "governos da primavera árabe" busquem mostrar que  a população americana não tem nada a haver com o filme que deflagrou o movimento onde o terrorismo pegou uma carona. Conclui, "A punição coletiva e usar pessoas inocentes como alvo é proibido pelo Al Corão...". Falta avisar aos jiradistas.

[1] Diretor do Middle East Graduate Studies, Institute of Arab and Islamic Studies, University of Exeter. Palestrante visitante no Brookings Doha Center, autor de "The De-Radicalization of Jihadists: Tranforming Armed Islamists Moviments and Security Sector Reform in Egypit: Dilemmas and Challenges. 

Demetrio Carneiro