quarta-feira, 19 de setembro de 2012

INVESTIMENTOS, TECNOLOGIA E PROPRIEDADE: ATÉ QUANDO SEREMOS O PAÍS DO FUTURO?

A economia brasileira pode parecer paradoxal. O produto cai na direção de 1,5% e ainda assim estarmos muito próximos do pleno emprego, com um mercado de trabalho reajustado em valores reais e bastante ativo. Parece evidente que o mercado de consumo cresceu muito mais rápido do que a capacidade de expansão da oferta de produtos e serviços, criando uma dialética de produto baixo e alto emprego.


A questão de crescer além dessa trava material envolve investimentos. Deste lado as informações das Contas Nacionais mostram que a Formação Bruta de Capital Fixo, isto é os investimentos materiais de fato realizados, está alinha com uma perspectiva de crescimento como o atual, mas é claramente insuficiente para dar suporte material a um crescimento de 4% ou mais que não pressionasse o produto potencial de forma inflacionária, com uma demanda muito acima da oferta. Seria preciso que a FBKF crescesse ao menos 30%. Do lado do Estado a coisa fica complicada, pois o gasto de custeio é parte do processo de poder e não deixa espaço para gastos de investimento. Do lado privado parece que o bom momento dos capitais externos generosos vai passando e os focos vão sendo redefinidos. Internamente o protecionismo nacionalista não é exatamente um bom indutor de investimentos privados.

Agora, mesmo que houvesse meios de expandir a FBKF nos 30% ou mais ainda teríamos problemas de ordem institucional e estrutural. Tocando nesta última questão dois artigos publicados no Jornal da Ciência da SBPC reforçam o tema.

Em "Brasil será potência da inovação, mas no futuro", em matéria original da Folha de São Paulo, o “diretor-geral da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi), o australiano Francis Gurry, eleito em 2008 com apenas um voto a mais que o candidato brasileiro, José Graça Aranha, saúda a crescente colaboração do País no órgão e anota uma mudança de atitude, de três anos para cá, com maior aceitação da propriedade intelectual pelo governo.

Contudo “o Brasil vai mal nos rankings de inovação e patentes da organização, e Gurry, que esteve no País na semana passada, afirma que ‘a inovação é, cada vez mais’, o campo de batalha" global. Ele diz que o Brasil será uma potência em inovação, mas ‘no futuro’.

A matéria toca em duas questões centrais:

A participação da inovação, diferente da criatividade conforme o entrevistado, no processo de transformação positiva da economia e a condição necessária de haver uma clara definição do Estatuto de Propriedade, quesito onde o Brasil fica muito a dever e é uma questão eminentemente institucional. As instituições devem poder estar estruturadas para fornecer incentivos e não a se constituírem em barreiras. A leniência do governo central fica evidente de um lado na lentidão como as que as questões da propriedade intelectual vão sendo destravadas e de outro com a leitura equivocada do nacionalismo zarolha que estimula e financia as cadeias produtivas mundiais com produção de conhecimento em suas matrizes. O debate sobre a propriedade aberta das patentes criadas dentro da pesquisa universitária não ajudam muito...

A outra matéria “Produção de tecnologia no Brasil cresce menos que mercado”, originalmente publicada no Estado de São Paulo, está conectada tanto aos problemas de nossa FBKF, como indiretamente à matéria anterior: “Os investimentos da indústria em máquinas, equipamentos e instalações, entretanto, devem encolher 11% em 2012, prevê a Fiesp. Enquanto em 2011 foram gastos R$ 118 bilhões, espera-se que, neste ano, caia para R$ 105 bilhões. O economista Luciano Martins Póvoa, da Universidade de Brasília, alerta que grande parte do crescimento de um país provém do investimento em tecnologia. ‘O país que se descola disso está indo contra a teoria econômica. Pode-se conseguir um crescimento de curto prazo, mas, para ser sustentável, precisa-se de tecnologia’, afirma.”

Enfim, para trazer o futuro para o presente é preciso bem mais que esperança ou discursos...É preciso mudança e vontade para mudar.

Demetrio Carneiro