quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A INDÚSTRIA QUÍMICA NOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO



No início de agosto passado no nosso post Princípio de Economia Verde Vira um Tiro no Pé, comentávamos uma matéria do NYT sobre manobra realizada por empresas da indústria química da Índia e da China.

O esquema é relativamente simples: Produtoras de gás destinado à refrigeração, que no caso específico destas indústrias, são gases capazes de afetar diretamente o aquecimento global, as indústria ganham dos dois lados do balcão. De um lado vendem o gás a um preço tão baixo que inviabiliza a utilização de produtos menos agressivos e até sua pesquisa. De outro lado são essas empresas que têm expertise para destruir o gás já ineficiente. Para isso cobram e recebem um bônus no formato de papéis negociáveis. Algumas empresas já obtém metade de seu faturamento destruindo o gás que elas mesmas produzem.

Evidentemente os Estados-Nação, basicamente Índia e China, têm seus interesses próprios e acabam apoiando a manobra, por conta da geração de emprego & renda.
Seja como for é um bom exemplo de um processo histórico, já bem estudado, de transferência de indústrias potencialmente danosas ambientalmente do Centro para a Semi-Periferia, processo que, de alguma forma, está na base do atual ciclo de crescimento mundial, com a consolidação das atuais cadeias produtivas internacionais, ligando produção e consumo em escala global.

É exatamente esse caráter global que coloca em cena o debate e a busca de soluções combinadas e pactuadas entre as diversas nações. Não há como ignorar o peso e o papel das indústrias da Semi-Periferia, mas não dá para ignorar as questões ambientais envolvidas.

Daí ter todo o sentido o interesse do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA na questão das indústrias químicas na Semi-Periferia e Periferia. Pactuações bem orientadas podem mudar a realidade de riscos ambientais potencialmente danosos para resultados positivos na direção de novos paradigmas econômicos.

Abaixo o release do PNUMA, repercutido pelo Blog  Aldeia Comum, relatando o documento Panorama Global de Químicos: Em busca de um manejo adequado de químicos (Global Chemical Outlooks: Towards Sound Management Chemicals, dado como um relatório-síntese para tomadores de decisão.

Demetrio Carneiro


Relatório da ONU mostra que a intensificação química das economias de países em desenvolvimento significa maior risco de exposição a substâncias perigosas

Novo estudo mostra que o tratamento adequado de químicos pode trazer grandes benefícios econômicos e dar suporte à Economia Verde

Genebra / Nairóbi / Cidade do México / Nova York, 5 de Setembro de 2012 – De acordo com um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), uma ação coordenada entre governos e indústria é urgentemente necessária para reduzir as crescentes ameaças à saúde humana e ao meio ambiente, oferecida pelo manejo insustentável de químicos no mundo.

Esses riscos são agravados pela mudança constante na produção, uso e descarte de produtos químicos em países desenvolvidos, emergentes e em desenvolvimento, onde medidas e regulamentos de proteção costumam ser fracos, diz o relatório.

O Global Chemical Outlook (Panorama Global de Químicos) do PNUMA, lançado hoje, destaca o peso de químicos nocivos sobre a economia, particularmente em países em desenvolvimento.

Entre 2005 e 2020, o custo acumulado de doenças e injúrias decorrentes de pesticidas na agricultura de pequena escala da África Subsaariana poderia alcançar USD $90 bilhões.

Um manejo de qualidade dos químicos pode reduzir gastos financeiros e de saúde, e beneficiar meios de subsistência, dando suporte a ecossistemas, reduzindo a poluição e desenvolvendo tecnologias verdes, diz o estudo.

O lançamento desse relatório — a primeira avaliação compreensiva desse tipo — dá seguimento a compromissos renovados por países na Cúpula Rio+20 para a prevenção do despejo ilegal de resíduos tóxicos, o desenvolvimento de alternativas seguras para químicos nocivos em produtos e aumento dos níveis de reciclagem de lixo, dentre outras medidas.

Ao examinar as tendências globais dos químicos e suas implicações econômicas, o relatório do PNUMA faz um mapa das abordagens mais efetivas para tomadores de decisão poderem cumprir esses compromissos.

“Comunidades do mundo todo — particularmente as de países emergentes e em desenvolvimento — são cada vez mais dependentes de produtos químicos, desde fertilizantes e petroquímicos até eletrônicos e plásticos, para seu desenvolvimento econômico e a melhora de seu sustento”, declarou o Subsecretário Geral da ONU e Diretor Executivo do PNUMA, Achim Steiner.

“Porém os lucros fornecidos por químicos não devem prejudicar a saúde humana e o meio ambiente. Poluição e doenças relacionadas ao uso insustentável, produção e descarte de químicos podem, de fato, impedir o progresso rumo aos principais objetivos de desenvolvimento, afetando o suprimento de água, a segurança alimentar, o bem estar e a produtividade de trabalho. Reduzir riscos e melhorar o manejo de químicos — em todos os estágios da cadeia alimentar — é então um componente essencial da transição para uma Economia Verde inclusiva e eficiente no uso de recursos”, adicionou Steiner.

Na Cúpula de Joanesburgo sobre Desenvolvimento Sustentável de 2002, os Estados-membros da ONU traçaram um objetivo para 2020 no qual químicos deverão ser produzidos e utilizados de formas que levem a um caminho de minimização de efeitos adversos significantes na saúde humana e no meio ambiente.

“A análise econômica apresentada no Panorama Global de Químicos demonstra que um manejo saudável de químicos é uma área tão favorável quanto a educação, transporte, infraestrutura, serviços de saúde e outros serviços públicos essenciais. Isso poderia favorecer a criação de muitos empregos verdes, decentes e saudáveis, bem como meios de subsistência para países desenvolvidos e em desenvolvimento”, disse a Dra. Maria Neira, Diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS.

Nos últimos anos, convenções internacionais, governos e empresas têm dado passos significantes no desenvolvimento de capacidades nacionais e internacionais para o manejo seguro e saudável de químicos.Mas o Panorama Global de Químicos mostra que o ritmo do progresso tem sido lento e que os resultados são, quase sempre, insuficientes. 

Tendências Químicas Globais: Impactos na saúde e no meio ambiente 

Em economias emergentes e em desenvolvimento, produtos da indústria de químicos — como corantes, detergentes e adesivos, entre outros — estão substituindo rapidamente produtos tradicionais de base animal, vegetal ou cerâmica.

De acordo com o relatório do PNUMA, as vendas globais de produtos químicos devem aumentar cerca de 3% ao ano até 2050. 

A África e o Oriente Médio devem registrar um aumento médio de 40% na produção de químicos entre 2012 e 2020, enquanto a América Latina deve aumentar cerca de 33%.

A “Intensificação Química”, conforme termo usado no relatório do PNUMA, significa que os produtos químicos sintéticos estão rapidamente se tornando os maiores constituintes de fluxos de resíduos e poluição ao redor do mundo —aumentando assim a exposição dos seres humanos e dos habitats a riscos químicos.

Dentre as principais preocupações ambientais estão a contaminação de rios e lagos por pesticidas e fertilizantes, poluição por metais pesados ​​associados a cimento e produção têxtil, e contaminação por dioxina proveniente da mineração.

Escoamento de fertilizantes e pesticidas vem contribuindo para um número crescente de ”zonas mortas” pobres de oxigênio em águas costeiras.

Os poluentes orgânicos persistentes (POPs) podem ser transportados por longas distâncias no ar e depois ser depositados em recursos hídricos e terrestres. Esses produtos químicos podem se acumular em organismos, já que eles se movimentam pela cadeia alimentar.

O mercúrio, por exemplo, é transformado por organismos aquáticos em compostos que podem chegar a dezenas de milhares de vezes a concentraçãooriginalmente presentes na água.

Além de prejudicar a biodiversidade, isso pode ter um efeito sério sobre a pesca— uma importante fonte de proteína e subsistência de milhões de pessoas em todo o mundo. 

Tendências químicas globais: implicações econômicas

A transição para a produção, uso e descarte sustentável de produtos químicospode produzir benefícios econômicos significativos em termos de desenvolvimento, redução da pobreza e menores riscos para a saúde humana e para o meio ambiente, diz o Panorama Global de Químicos.

Nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, cadeias de suprimento mais complexas e a introdução de novos compostos químicos, tornam os produtosmais propensos a deixar de cumprir as normas de segurança, de acordo com orelatório do PNUMA.

Isso pode aumentar o risco de acidentes industriais, com todos os pesados ​​encargos financeiros e de saúde que eles trazem. Custos incorridos devido ao amianto e paredes de gesso contaminadas, por exemplo, somam um total demais de US$ 125 bilhões no mundo — e esses números ainda estão subindo.

Em países em desenvolvimento e emergentes, grandes ganhos econômicospodem ser alcançados por meio de práticas agrícolas sustentáveis, como manejo integrado de pragas (MIP).

O MIP (ou IPM, na sigla em inglês) envolve o uso de menos produtos químicos, e a introdução de métodos alternativos, como a rotação de lavouras, proporcionam condições favoráveis para inimigos naturais das pragas, assim como seu monitoramento.

Melhor gerenciamento do fim da vida de substâncias químicas também poderiam apoiar a recuperação de materiais valiosos provenientes de resíduos. Isso é particularmente relevante para lixo eletrônico (e-lixo), que é reciclado oudesmontado por metais preciosos, como o ouro ou cobre — cada vez mais nos países em desenvolvimento.

No entanto, a reciclagem de e-lixo em países em desenvolvimento é um setor em grande parte não regulamentado, em que os trabalhadores são rotineiramenteexpostos a muitos produtos químicos nocivos, como as dioxinas liberadas porcabos ardentes.

Caminho a seguir e recomendações

Muitos países têm implementado, ao longo das últimas quatro décadas, marcos legais, medidas reguladoras e outras formas de redução de riscos químicos.

Mas, apesar desses progressos, o Panorama Global de Químicos afirma que são necessários mais esforços em todas as fases da cadeia de abastecimento de produtos químicos, para que a meta de 2020 do Plano de Implementação de Joanesburgo seja atingida, e os benefícios econômicos, ambientais e de saúderelacionados sejam alcançados.

O relatório descreve abordagens fundamentais para uma transição global paraum melhor manejo de produtos químicos — especialmente nas economias emergentes e em desenvolvimento.

Muitos países já estão avançando com novas abordagens em relação aos produtos químicos.

O Brasil estabeleceu uma Comissão Nacional de Segurança Química para melhorar a coordenação entre as agências do governo, enquanto a Costa Ricatambém estabeleceu um corpo semelhante.

“Mas, para aproveitar os benefícios econômicos do manejo de produtos químicos, é necessária uma cooperação mais estreita e um melhor planejamento e coordenação entre os diversos setores da sociedade na cadeia de fornecimentode produtos químicos”, acrescentou o Steiner.

Nota dos editores

Para ler a íntegra deste press release (em inglês), acesse:
A Síntese para Tomadores de Decisão do relatório “Panorama Global de Químicos: Em busca de um manejo adequado de químicos” está disponível em:
Para maiores informações sobre a divisão de químicos do PNUMA, visite:
A Terceira sessão da Conferência Internacional sobre Manejo de Químicos acontecerá em Nairóbi de 17 a 21 de setembro de 2012. Para maiores informações, acesse:
http://www.saicm.org/index.php?option=com_content&view=article&id=96&Itemid=485

O PNUMA está atualmente facilitando as negociações intergovernamentais sobre um instrumento legalmente vinculante sobre mercúrio. Para maiores informações, visite:

Contatos para a imprensa:
Nick Nuttall, Diretor Interino de Comunicação e Porta-Voz do PNUMA
Tel. +254 733 632 755


Shereen Zorba, Chefe do Centro de Notícias do PNUMA

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