sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

REFLEXÕES SOBRE O DISCURSO DE DILMA NO CONGRESSO - 1

Algumas reflexões ficam melhores se amadurecidas.

Esta peça de fala deveria ter sua importância implícita no simples fato de que não houve um debate programático, durante as eleições, extenso o suficiente para dar, pelo menos, pistas sobre o que será este governo, em seu conjunto e não em suas partes.
De suas partes diversos recados foram e estão sendo dados.
Primeiramente se trataria, então, de tentar ver o conjunto da obra e esta seria uma ótima oportunidade.
Uma fala protocolar e contínua frente ao Congresso Nacional. Evento com seu significado próprio, pois a presença de Dilma rompeu uma tradição que remonta à ditadura, quando os generais do golpe decidiram não se misturar com a ralé congressista e preferiram enviar emissários. Daí a importância de abrir o discurso saudando o contínuo exercício de democracia que vivemos nesses anos recentes. Há um simbolismo republicano por trás da presença física e dessa abertura de fala que não pode ser ignorado.

Claro que intenções e fatos são coisa diferentes. Escolhas são escolhas e podem indicar um pensamento oculto. O simbolismo republicano deveria dar início a outra fala. A da consolidação das instituições e da necessidade de uma profunda reforma política. Mas o discurso preferiu enveredar pela erradicação da pobreza, assumindo que a consolidação da democracia estimula a necessidade e fornece as condições para isso. Errado? Não. Claro que não, mas um protocolar jogo de palavras que assume as instituições democráticas como já consolidadas e não em consolidação. Pode não parecer muito, mas é tudo e é o que dá margem aos comentários sobre a “oportunidade” ou não da Reforma Política. Isso o discurso demonstra bem ao passar batido pela reforma política, olhar para a pobreza e enveredar pela economia.

Talvez o discurso de Dilma no Congresso, a parte o simbolismo republicano, insisto, valha mais pelo que não quis dizer do que pelo que disse.
Ainda voltaremos ao assunto.

Demetrio Carneiro