terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

ENSINO: PARA ONDE O FUTURO NÃO APONTA OU NÃO DEVERIA APONTAR

“A competitividade econômica, a eqüidade social e o desempenho cidadão são simultaneamente impactados pela educação . A educação de qualidade representa, portanto, um objetivo estratégico sem o qual o projeto de desenvolvimento nacional em curso não se viabiliza . Para isso, como parte da agenda estratégica, o Governo Federal coloca em execução o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que reúne um conjunto de iniciativas articuladas sob uma abordagem do sistema educativo nacional, cuja prioridade é a melhoria da qualidade da educação básica . Investir na melhoria da qualidade da educação básica
passa por investimentos na educação profissional e na educação superior, pois, os diferentes níveis de ensino estão ligados, direta ou indiretamente. Significa mobilizar a sociedade para a importância da educação envolvendo pais, alunos, professores e gestores, em iniciativas que busquem o sucesso e a permanência do aluno na escola”
Mensagem presidencial - PPA 2008/2011

Nossa rápida história principia quando Lula decide mudar a orientação geral de seu segundo PPA (2007-2011).
Assim como o primeiro PPA foi dedicado ao primeiro Objetivo de Desenvolvimento do Milênio, “Erradicar e extrema pobreza e a fome”, originalmente o segundo PPA seria dedicado à segunda meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio – Ensino Básico Universal, sendo lido no PPA como um ensino básico de qualidade, alinhando-se assim às críticas de que este tipo de meta deveria visar a qualidade e não a quantidade. Naquele momento o PAC, embora previsto, era uma segunda linha.
Posteriormente alguém decidiu que ensino de qualidade não era boa matéria eleitoral. De fato na leitura de alguns gênios da mídia para os pais bastaria que os filhos estivessem matriculados em alguma escola. Foi quando o PPA foi modificado e o PAC passou a ser a prioridade, incorporando as propostas de ensino, que voltaram basicamente a ser quantitativas. É quando inauguramos a gestão-chafariz, isto é a gestão pública federal no estilo municipal mais tradicional, muito bem sintetizado pela imagem de Sucupira de Dias Gomes. Iniciamos um forte ciclo de inaugurações, nem que fosse de placas.

Dilma esteve presente em todos esses momentos e deve sua eleição a essa inflexão de lógica eleitoral que acabou mudando o sentido do PPA. De certa forma ao se mostrar tão dedicada ao ensino talvez venha refazendo o roteiro original. O tempo dirá.

Agora o Estado de São Paulo trás uma matéria, citada no Blog do Noblat, sobre a questão dos cursos tecnológicos. A descrição é altamente preocupante: De um lado esses cursos se mostram um filão excepcional de investimento. Entre o ano 2000 até 2009, o número de cursos cresceu de 364 à 4.449.
Difícil dizer se a acelerada expansão foi realmente lucrativa para os investidores, mas com certeza respondeu a uma demanda reprimida fundada na noção generalizada de que a formação passou a ser elemento essencial para o mercado de trabalho.
É ai que deveria entrar o papel regulador do Estado. Não se trata de um número de mágica. Na mão esquerda uma demanda reprimida. Na mão direita a iniciativa privada. Abracadabra milhares de bons tecnólogos imundam o mercado de trabalho desabastecido e todos serão felizes para sempre.
No mundo real as avaliações oficiais indicam, conforme título da matéria, que 160 mil estudantes estão matriculados em cursos mal avaliados. Isto que apenas pouco mais de um terço dos cursos pode ser avaliado.
Mais que incompetência não é um estelionato legitimado pela omissão do poder público?
E agora?

Demetrio Carneiro