São duas pequenas notas do Roberto Padovani, no seu blog "O negócio é o seguinte" , que devem ser lidas juntas, pois se complementam. Na verdade “Não há milagres na economia” é o título de uma delas, mas vale para as duas.
Demetrio Carneiro
Cambio: não ha milagres na economia
Desde que o banco central norte-americano anunciou uma nova rodada de afrouxamento quantitativo e inundou os mercados mundiais com dólares, ha uma preocupação crescente com o nível da taxa de cambio nos países emergentes. O Brasil passou a liderar o debate, sugerindo a implementação de medidas de controle no mercado cambial, procurando com isso reduzir os fluxos de capitais gerados pela política monetária dos Estados Unidos.
Ha vários estudos que indicam que os efeitos destas medidas tendem a ser temporários. Mais que isso, no entanto, e preciso não se iludir. A estabilidade do cambio nominal e um fator que contribui para o aumento da inflação, junto com o aquecimento econômico local e a forte alta de preços das commodities. Com a inflação em alta, o cambio real tende a se apreciar. Portanto, seja em termos nominais ou em termos reais, as condições globais de liquidez irão necessariamente implicar uma apreciação da moeda brasileira. E bem verdade que a volatilidade não interessa a ninguém e que ha o risco de bolhas neste mercado. Mas melhor seria nos voltarmos para os problemas concretos da baixa competitividade do Pais: excesso de gastos públicos, carga tributaria elevada e complexa, infraestrutura precária, mão-de-obra pouco qualificada e caos logístico. Não ha milagres na vida. Nem na economia.
Juros contra juros
Ha uma situação inusitada na economia mundial. A necessidade norte-americana de se evitar um segundo mergulho recessivo tem produzido uma política monetária excessivamente frouxa: primeiro com corte de juros, depois com medidas de relaxamento quantitativo. Os objetivos são claros: (a) evitar o medo de deflacao, e estimular o consumo; (b) manter baixo o custo real de financiamento de longo prazo (juros de longo prazo descontados da expectativa de inflação); gerar ganhos de riqueza por meio da valorização dos ativos financeiros (bolhas); e desvalorizar a moeda, estimulando as exportações.
Diante deste cenário, a inflação global vem se acelerando. E o Brasil importa esta inflação por meio dos preços de commodities. Neste ambiente, como o Banco Central brasileiro (BC) deve reagir? Dado nosso recente passado inflacionário e diante da falta de autonomia do BC, não ha alternativa que não o aumento de juros. Não por outro motivo, o BC retomou o ciclo de aperto monetário interrompido em setembro do ano passado. Mas a política monetária brasileira dificilmente ira anular todos os efeitos impostos pela política monetária norte-americana. Neste caso, faz sentido trabalhar com outros instrumentos que não apenas os juros: o aperto fiscal e o aperto quantitativo (deposito compulsório) – atenuando eventuais impactos sobre o cambio. Dadas as restrições ao uso da política fiscal e cambial, ou o BC terá que elevar mais a taxa de juros ou devera se valer do amplamente recomendado intervalo da banda de inflação. Enfim, como nossa inflação e em grande parte explicada por uma causa externa, a política monetária dos Estados Unidos, a reação do BC precisa existir, mas tem que ser cautelosa.