quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

PANAMERICANO: AS DÚVIDAS PERMANECEM

Na versão do Diretor-Executivo do FGC, Antonio Carlos Bueno Camargo Silva, não há qualquer questão no financiamento da operação de compra do Panamericano pelo Pactual, pois os recursos que constituem o fundo pertencem aos bancos.

Estranho seria se ele disse diferente, pois o que se esperaria do cargo de Diretor Executivo é que ele esteja afinado com a estratégia de governo que, desde o início da crise era prover a “estabilidade do sistema” e “prever uma crise bancária sistêmica”, o que, aliás está arrolado na Missão Institucional do Fundo.

Não esquecer que foi o BC quem encaminhou a “solução” do problema para o fundo.Certamente não foi por conta do interesse do público em geral, já que o PanAmericano não tinha foco na abertura de conta-corrente, 2,1 milhões de clientes ativos, embora agora o Pactual informe que a intenção de compra seja buscar a rede de varejo (16,9 milhões de clientes cadastrados no PanAmericano).

No caso do PanAmericano ainda falta entender em que medida o 27° banco brasileiro no ranking de ativos (dados do BC em setembro de 2010), pode desestabilizar o sistema bancário brasileiro. Num ranking onde apenas os 10 primeiros bancos, fora o BNDES, somam ativos que representam 88% do total de ativos de 102 instituições, incluído o BNDES.
Sem dúvida dá margem para suspeitar do critério político sobreposto ao critério técnico.

Ao afirmar que o recurso é dos bancos o Diretor-Executivo do fundo parece desconsiderar que o FGC foi criado a partir de uma resolução do Conselho Monetário Nacional, recebe a supervisão, com direito a tem ingerência, como vimos, do BC, e tem em seu Conselho Administrativo os presidentes da Caixa e do BB.
Não, o dinheiro não é dos bancos. O dinheiro ERA dos bancos e está sendo utilizado em um fim institucional tutelado pelo Estado.
É a mesma lógica de achar que o tributo cobrado a mais no fumo, por exemplo, e que é cobrado a mais para cobrir despesas de saúde do usuário do fumo, pertence ao usuário que pagou o maço de cigarro.
O fato dos bancos estarem no board não implica que possam fazer o que achar melhor. Até porque não está nada claro se essa transação toda, orientada a partir do governo (Cobertura de SS e venda subsidiada para o Pactual, aliás o 10º na relação dos 10 maiores), realmente “agradou” aos bancos.

Com certeza não agradou aos contribuintes.
Quanto a quem arca com os custos disso, vamos fazer de conta que a gente não sabe que é mais um custo compondo a conta do custo do crédito e operações bancárias, já extremamente altos, no país. Ao contrário do que argumenta o Diretor-Executivo, é cada cliente das instituições bancárias quem sustenta o FGC,  na hora em que contrata algum tipo de financiamento bancário ou despesas para manutenção de conta-corrente.
O recurso sai do lucro em última instância, mas para sair ele teve que primeiro entrar na estrutura dos custos do banco. Custos que são pagos pelos usuários do sistema.
O resto é conversa para boi dormir.

Demetrio Carneiro