O números mostram um descompasso entre a produção industrial e o consumo, que pode ser explicado pelo aumento das importações. Volta à cena o temido fenômeno da desendustrilização frente ao apreciado valor do real. Num momento onde, para nós brasileiros, a criação de um forte mercado interno é condição substancial para um crescimento sustentando e menos vulnerável. Como sabemos e o Obama deixou claro no seu State of the nation, a desendustrialização não é muito compatível com um mercado interno que seja, ele próprio, sustentável.
É de ser reconhecer que o governo tem procurado administrar a situação sem muitos sobressaltos, porém sem muito sucesso. Mas ele próprio, o governo, deveria reconhecer que estão enrascados por conta própria.
Vamos chamar que o nome do rabo onde se enroscaram de “custo-eleitoral” que é o que um gestor executivo gasta “a mais do necessário” para garantir a eleição de seu ou sua, no caso, sucessora.
Por conta de uma história cheia da voltas, mas não de soluções, já há no passivo o “custo-Brasil”. Agora podemos acrescentar o “custo-eleitoral”.
Ontem o Tony comentava sobre como a necessidade de rolagem da Dívida Pública Federal vai impactar os juros no mês de fevereiro. São R$111 bi vencendo e tendo que ser rolados num momento onde a expectativa é de alta inflacionária e, portanto, de alta de juros. Antes de bater no cachorro morto, quer dizer o BC, é bom lembrar que foram os gastos “a mais do necessário” que estimularam a inflação fora do alvo, mas "dentro da banda”, como diz Mantega, no Plano Anual de Financiamento 2011, de onde sai a informação sobre a rolagem em fevereiro*.
A economia nacional por ser um sistema aberto para o resto do mundo tem desses problemas. Um parafuso mal apertado ali, do outro lado, pode afrouxar um parafuso deste lado das políticas públicas.
Agora é BNDES permanece com a política de subsídios via a prorrogação do Programa de Sustenção de Investimento que deveria ser encerrado no próximo mês. Subsídios ao custo de cerca de R$1 bi anuais em valores de hoje. Não é muito. Não é? A indústria desindustrializada precisa de incentivos.
A apreciação do real, que estimula as importações, que estimulam a desendustrialização, é o lado ruim do lado bom que é o ingresso de capitais para financiar nosso crescimento já que não conseguimos gerar poupança interne o suficiente para nós mesmo financiarmos. Por sua vez a competitividade estimulada pelos recursos do BNDES, olhando pelo lado bom, tem seu lado ruim que continuará a gerar um prejuízo de um bi por ano que vai se somar ao gasto a mais que o necessário que estimulam a inflação que eleva os juros que pressionarão ainda mais a dívida pública que será mais alta com o bi do BNDES.
Demetrio Carneiro
* Mais alguns números:
Total atual da Dívida Pública Federal: R$ 1.649 tri. É isto mesmo "trilhões".
Total previsto para 2012 : Entre R$1.800 tri e R$ 1.930 tri.
Prazo médio de vencimento: 3,5 anos, sendo que cerca de um pouco mais de 20% vencem com um ano. É o "perfil" da dívida para países, digamos, dívida-dependentes : juros altos e prazos de pagamento mais curtos.
Liquidação a ser realizada em 2011: R$ 464,30 bi, sendo que estão previstos apenas R$ 98,7 bi no Orçamento Federal. Portanto o governo terá que "rolar", quer dizer "renovar" criando outra dívida, R$365,6 bi.
Do total de R$ 464,6 bi, R$41,4 bi são título entesourados no BC. R$ 327,6 bi são dívidas que estão vencendo e R$ 82,50 bi são juros devidos.
Apenas para ter um termo de referência bem visível:
O valor da rolagem, renovação, da dívida que será efetuada em 2011, é de R$ 365,6 bi.
A previsão de Receita Líquida, isto é deduzidas as transferências constitucionais do FPE e FPM, é de R$ 825,15 bi.
Segundo as autoridades ninguém precisa se preocupar com isso, pois a "participação percentual da dívida em relação ao PIB" vem caindo historicamente.
Eu, pessoalmente, ficaria bem menos preocupado se não soubesse aquela regrinha básica do bom devedor: Banco só empresta a juros baratos e prazo curto quando o tomador não precisa. Quando o tomador precisa desesperadamente, o que é nosso caso, as regras são outras...