segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

DETERMINAÇÃO DA ECONOMIA PELO CICLO ELEITORAL

Abaixo texto de Tony Volpon, publicado na Folha de São Paulo e citado pelo "Democracia Política e Novo Reformismo", tratando da relação, pouco observada no debate atual, né?, entre o processo eleitoral e o uso do aparelho de Estado na permanência das estruturas de poder. Ou seja o "ciclo econômico-eleitoral". Não é assunto novo. Novo é ser tratado por um analista de mercado que decide sair do espaço das "questões de mercado" para questões mais amplas e de determinação estratégica. 

Mais uma questão que não empolga nosso incipiente controle social. Aliás que controle social pode haver quando o controle do executivo sobre o legislativo é no mais eficiente estilo rolo compressor, como está se vendo na votação do SM? É assim que consolidaremos a democracia em nosso país?

Demetrio Carneiro


Período eleitoral seguido de aperto fiscal determina o ciclo econômico do país

por Tony Volpon

Existe um "ciclo eleitoral" no Brasil? O ciclo eleitoral é a tese segundo a qual governos tentam controlar o ciclo econômico para influenciar o resultado das eleições.
Essa tese encontrou pouco apoio nos Estados Unidos, onde, diante de uma economia complexa, seria difícil manipular o ciclo econômico para coincidir com o calendário eleitoral.
Mas, se não parece ter obtido sucesso nos EUA, no Brasil a historia é outra em relação a esse ciclo eleitoral.
O economista Marcelo Neri, da FGV, estudou a variação na renda, pobreza e gastos do governo nas eleições de 1982 a 2006 e encontrou forte evidência sobre a existência do ciclo eleitoral.
Por exemplo, Neri descobriu que o aumento da renda mediana foi de 12,5% no período pré-eleitoral, para cair a 11,9% nos anos pós-eleição.
Essa evidência empírica mostra que infelizmente nossa ainda jovem democracia, onde o Estado possui muitas políticas para influenciar o nível da atividade, parece estar sujeita ao ciclo eleitoral.
De fato isso parece ser a única maneira de explicar o último ano do governo Lula, que acelerou o impulso positivo da política econômica apesar da fortíssima recuperação pós-crise.
Por exemplo, os gastos do governo aumentaram em 10,1% entre 2009 e 2010.
Acelerações em 2010 em relação a 2009 foram também vistas nos aumentos de salários dos servidores, transferências para cidades e municípios e aumento de crédito dos bancos públicos.
Não surpreende que em 2010 a economia brasileira deva ter o maior crescimento anual em décadas.
Se 2010 for de fato um caso extremo, mas não atípico, do ciclo eleitoral no Brasil, o que esperar para 2011?
Como mostram os dados, o boom pré-eleitoral é seguido por forte ajuste. Afinal, não vale a pena deixar a economia perseguir um caminho insustentável no inicio de um novo mandato.
As recentes medidas de ajuste do governo devem ser entendidas dentro desse contexto.
TONY VOLPON é chefe de pesquisas de mercados emergentes da Nomura Securities International Inc