quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

ANO NOVO, INFLAÇÃO NOVA

   Num momento onde o governo joga todas as suas fichas no "crescimento a qualquer custo", pressionando a inflação o IBGE resolve alterar a forma de cálculo do IPCA, dando mais peso aos bens duráveis, que historicamente flutuam menos, e menos peso aos serviços, mais sensíveis às flutuações de preço ou sejam respondem mais rapidamente.

   Isto posto, provavelmente a medida da inflação em 2012 será menos reativa às mudanças de preços. Tudo bem, são "olhares" que a gestão pública pode se considerar autorizada a mudar. Um bom exemplo é quando o BC decidiu "olhar além do horizonte", abandonou a inflação de 2011 e passou a mirar na de 2012. Foi uma mudança substancial de postura e criou o meio para justificar a permanência do estímulo à atividade econômica em 2011, mesmo que isso levasse a inflação para além da meta. Enfim, o recado da área econômica era: "Temos que estimular a economia para que não caia abaixo de 4%, na época era 4%. Dai teremos maior inflação em 2011, mas em 2012 a inflação será menor". Como resultado daqui a pouco o BC vai ter que olhar para 2198 para ver a inflação encostar na meta. Mas tudo bem, é para isso que eles foram eleitos. Alguém votou e deu a eles este mandato.

   O raciocínio do "ganhou, levou", contudo é correto em termos. Temos a considerar a confiança. Muito da economia se movimenta pelo mecanismo das expectativas. Se um dado governo, mesmo que legítimo, vai mudando as regras do jogo e se essa mudança mostra direcionamentos completamente diferentes dos declarados originalmente, o agente econômico pode ou não confiar que essas mudanças sejam as melhores para o conjunto da economia e para a sociedade. Eu diria que é exatamente o caso da estratégia de crescimento a qualquer custo e pode ser o caso dessa mudança no IPCA.

   Até o momento, qualquer que seja a explicação "técnica" do IBGE, o que é perceptível é que a mudança é uma forma se suavizar, relativizar, se for um termo melhor, os números da inflação. Como qualquer outro indicador os do IBGE só fazem sentido se a série histórica for coerente ao longo da escala de tempo. Mudanças na qualidade dos dados acabam dificultando as avaliações em retrospectiva. Por tanto devem sr muito bem fundamentadas. O IBGE, com base certamente nas apurações do Censo 2010, afirma que o perfil de consumo mudou e que o consumo de bens duráveis afeta o perfil de consumo dos estamentos de renda ao ponto de ser necessário mudar seu peso. Em tese, com maior renda as famílias tenderiam a abrir ou aumentar gastos em bens duráveis.

   Como comenta hoje César Maia é uma questão de aguardar e ver o que vai realmente rolar. Ainda dentro do comentário dele, de qualquer forma é de preocupar a proximidade com uma Argentina cujo governo desmoralizou o seu instituto encarregado de monitorar a inflação.

Demetrio Carneiro