segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

CHINA: OS LIMITES DO DESENVOLVIMENTO SEM DEMOCRACIA

Algum tempo atrás, traduzimos e transcrevemos uma entrevista com o economista chinês Cui Zhiyuan, do município de Chongqing, uma das áreas de experimentação econômica na China. Zhiyuan, de formação liberal, defende na entrevista um modelo misto de economia envolvendo propriedade pública estatal, propriedade coletiva e propriedade privada. Ele defende que a convivência desses três formatos de propriedade é possível e credita o rápido crescimento econômico do município a esta estratégia. 
Na longa entrevista o que não fica claro é como se conciliaria democracia e desenvolvimento que é uma questão posta para debate toda ocasião em que há rápido crescimento econômico em países autoritários: Daria mesmo para conciliar desenvolvimento e autoritarismo? A história tem mostrado que não, embora embora haja quem argumente que a China mostraria que sim.

Há um debate interessante aqui, pois desenvolvimento enquanto uma totalidade dependeria de coesão social, enfim instituições de cooperação produzindo incentivos fundados num regime de informação aberta. Não parece que um regime autoritário consiga prover essas necessidades.

Uma matéria publicada hoje no Financial Times, “Communist party tested by village protests”, Partido Comunista testado por protestos em pequenas cidades, trás à tona esses elementos mais profundos.

Os protestos relatados na matéria começaram com a denúncia do envolvimento de dirigentes comunistas numa negociata de terras em uma pequena comunidade. Reprimidos evoluíram rapidamente e culminaram poucos dias atrás com a morte de um líder local na prisão. Após a morte do líder os protestos se intensificaram com a participação agora de estudantes.

O cenário desses protestos é Guangdong uma província litorânea e um outro local de experimentações econômicas. Quangdang economicamente é a maior província chinesa. Wang Yang, o secretário provincial do Partido Comunista era considerado uma das “esperanças” liberais para a nova direção do Partido Comunista Chinês. A repressão desencadeada, incluindo a morte do líder local na prisão, a evidente prática patrimonialista acobertada pela repressão e o ostensivo silencio do secretário, não condizem com o estilo de quem pouco tempo atrás defendia publicamente e de forma muito incisiva que as pessoas se organizassem em ONGs, atitude fortemente desestimulada pelo PCCh.

Como toda estrutura fortemente hierarquizada e autoritária o PCCh parece ter seus limites estabelecidos de forma muito clara e não parece disposto a abrir mão do controle absoluto sobre a sociedade. Nesse contexto de “pouso suave” com retração da atividade econômica, com uma aparente bolha de especulação imobiliária em vias de implodir, num país com situações extremas de miséria, é muito provável que o poder real não esteja muito disposto a correr riscos.

Chongqing é controlada por um linha dura do PCCh, Bo Xilai e em competição política com o liberal Yang de Guangdong. Ambas são locais de experimentação econômica e muito bem sucedidas economicamente. O futuro mostrará o quanto liberais e conservadores podem ser iguais quando se trata a sobrevivência e quais os limites impostos pela necessidade de sobrevivência e principalmente que tipo de coesão o autoritarismo pode produzir.

Demetrio Carneiro