Conforme viemos comentando ao longo dos últimos meses Dilma fez uma clara escolha dentro dos limites do trade off clássico da teoria do ciclo político-partidário: A ter menos inflação e menos crescimento ela preferiu ter mais inflação para gerar mais crescimento. Dai a desconstrução na noção de centro de meta da inflação e a adoção da teoria de Delfim sobre a inflação boa. Não deu tão certo e o crescimento é bem menos espetacular do que estava nos sonhos tanto da equipe econômica como da presidente e a inflação poderá incomodar muito ainda.
No caso importa mencionar que a escolha foi fundada no crescimento a qualquer custo e mais ainda nos atalhos de crescimento. Existe uma lógica de geração de votos nessa escolha e é um mecanismo de sobrevivência política via reeleição. . Nesse caso em específico o que se vê é um grande e correto esforço de ampliação do mercado interno conduzido da forma errada, justamente devido ao atalho.
Alguns ainda caem no conto de fadas de que o crescimento do mercado interno se dá única e exclusivamente pelo aumento da renda dos trabalhadores. É verdade que a massa salarial ao menos entre 2004 e 2010 veio crescendo a um ritmo maior que a inflação e incorporou praticamente todos os ganhos do crescimento do PIB. Mas também é a mais completa verdade que a maioria dos trabalhadores está na faixa abaixo de dois salários e que nossa distribuição de renda é uma das mais injustas do planeta.
Ora o que vem expandido o mercado interno é justamente o segmento de salário mais próximo do salário médio e abaixo dele. Não é preciso sacar muito de economia ou sociologia ou estatística para entender que essas populações têm uma demanda fortemente reprimida. Mas também não é preciso fazer muitas contas para perceber as fortes limitações do poder de compra desses agrupamentos de trabalhadores abaixo de cinco salários, por exemplo.
Se agregarmos a isso o fato de que mais da metade da população brasileira vive em 300 municípios, que neles está 75% do PIB brasileiro, que um outro corte em 50% do PIB resulta em nenos de 130 municípios, que nesses municípios o custo de vida é significativamente mais alto, que São Paulo é a 10ª cidade do mundo com custo de vida mais alto e que a cidade do Rio de Janeiro é a 12ª podemos ter um outro cenário.
Enfim esses dados todos alinhados indicam que boa parte da renda dessas famílias acaba em gastos de manutenção, não devendo sobrar tanto para consumo de bens duráveis e nada para a poupança.
Apesar desses fatos a estratégia de governo é buscar atalhos para o crescimento. Isto vai resultar numa forte pressão na mídia com apelos para o consumo, o que explica a notícia dada pela Folha e repercutida pelo César Maia: O nível de endividamento das famílias brasileiras é maior do que o nível de endividamento das famílias americanas. Vinte e dois por cento contra dezesseis por cento. Quase 40% maior! Vamos insistir novamente: Em detrimento da poupança.
O problema mais complicado é que essa forte expansão só se viabiliza com base nas absurdas taxas de juros cobradas pelo sistema financeiro. Atenção: O Banco Central pode até ser omisso, mas basicamente existe ai um problema institucional de desregulação econômica em favor dos oligopólios na área financeira. É um problema de governo.
São taxas extremamente altas que viabilizam qualquer aventura nessa área, pois funcionam como um seguro contra a inadimplência garantindo uma taxa de ganho que talvez seja a maior em termos comparativos mundiais com qualquer outro tipo de negócio diferente do tráfego de armas ou de tóxicos.
Sendo assim a classe trabalhadora comemora seu poder de compra, mas quem faz mesmo a festa são outras e outros.
Ao contrário do que afirma o governo não dá para dizer que isto é crescimento em bases sustentáveis, embora até dê para dizer que gera muitas riquezas. Para alguns.
Demetrio Carneiro
A BOLHA CRESCE!
(Folha de SP, 28) Os consumidores brasileiros comprometem uma fatia maior de sua renda com dívidas do que os americanos. Os brasileiros gastam hoje 22% do que ganham com o pagamento de empréstimos e outros tipos de financiamento, de acordo com o Banco Central. Os americanos comprometem cerca de 16% de sua renda com dívidas. Em novembro, as taxas de juros cobradas dos consumidores estavam 14% mais elevadas do que há um ano, apesar da redução da taxa básica de juros pelo governo nos últimos meses.(grifo nosso. DC)