A COP-17, que está acontecendo agora em Durbam na África do Sul, até este momento repete o que já acontece na União Européia nos tempos da crise econômica: É o império dos Estados-Nação e não do interesse cooperativo. A cooperação está mais limitada aos blocos de interesse comum entre grupos de Estado-Nação.
Existe uma oposição evidente entre os interesses específicos grupos de populações locais e o que pode ser a necessária acomodação de cada país ou bloco ao interesse, digamos, planetário.
No caso da comunidade européia havia um acordo sobre limites de endividamento. Na Grécia, o caso mais crítico, os governos escolheram alavancar o crescimento do bem estar social, e assim garantir reeleições, criando mais dívida pública. O interesse que prevaleceu foi o que foi gerado dentro dos limites do Estado-Nação. Com a crise a Grécia deixou de poder surfar na onda do crescimento e os problemas para continuar financiamento a dívida e o crescimento artificial apareceram. O que se viu foi uma fase de intensa revolta popular contra a quebra do tabu qualidade de vida, uma tentativa de evitar o inevitável por parte da Elite e agora um certo sentido de acomodação gerado pelo risco da Grécia ter que seguir em frente fora da comunidade. Neste sentido um ar de resignação. No fim do dia foi o risco de ficar muito pior que levou os gregos a aceitarem ficar um pouco piores.
Ai começam os problemas com o aquecimento global. A crise na tua porta é um dado concreto. A escolha entre permanecer na comunidade européia, por exemplo, mesmo com algum sacrifício ou se meter na aventura e sair dela é muito clara e evidente.
O aquecimento global é um dado remoto, extremamente abstrato e as pessoas podem não ligá-lo necessariamente aos eventos climáticos atuais.
Um bom exemplo é a mudança do regime dos ventos no sul do país. A previsão é que parte da região passe a estar sujeita e um regime permanente de ventos de alta velocidade. Esses eventos vêm com alguma frequência gerando prejuízos locais e perdas em vidas. Em teoria as populações dessas regiões deveriam ser as primeiras a se manifestarem por um bom acordo em Durban. Mas, claro, não é o que estão fazendo. Talvez por não estarem certas de que o aquecimento global tenha alguma coisa a haver com isto ou talvez por esses eventos serem esparços o suficiente para não se constituírem num problema de fato para a grande maioria.
De fato quem se preocupa se os urso brancos serão dizimados pelo derretimento acelerado dos gelos eternos? Ou quem se preocupa com a recente constatação de que o derretimentos dos gelos eternos nas calotas polares produz o gaz metano e que este gás tem a capacidade de gerar o efeito-estufa muito maior que o gás carbônico e que este derretimento é 2,5 vezes pior do que o desmatamento das florestas em termos de impacto. Veja na matéria linkada um vídeo com experiência da University of Alaska sobre a presença de metano no gelo.
São questões fortemente abstratas se olhadas do ponto de vista do cotidiano das populações locais e mesmo lá na África subsaariana açoitada pelo fenômeno da expansão da desertificação as populações locais certamente não irão promover manifestações contra o aquecimento global.
Do ponto de vista de cada Estado-Nação a questão ambiental acaba se concretizando no embate que se dá com os paradigmas do atual processo industrial e no processo de ocupação física do território.
Na questão do paradigma um e seus pilares está no consumo de combustível fóssil como fonte de energia. Outro está no desconhecimento das consequências ambientais do processo industrial e suas conexões com o consumo.
Na questão da ocupação física do território está a formação dos hiper-aglomerados urbanos e o desflorestamento.
O próprio desflorestamento tem fortes conexões com a questão do conflito pela posse da terra(veja trabalho acadêmico sobre esse tema). Talvez com implicações maiores do que as que se possam prever no novo formato da Lei das Florestas ( veja esse post).
O próprio desflorestamento tem fortes conexões com a questão do conflito pela posse da terra(veja trabalho acadêmico sobre esse tema). Talvez com implicações maiores do que as que se possam prever no novo formato da Lei das Florestas ( veja esse post).
O primeiro cenário de embate foi entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Naquele passado, não tão longínquo ainda, os países desenvolvidos eram os maiores produtores de gás carbônico e na visão dos países emergentes deveriam "pagar a conta". Ao mesmo tempo os países emergentes deveriam ter alvará, tendo o "direito" de produzir carbono para poder crescer e deveriam ser "indenizados" se tivessem que sacrificar seu processo industrial.
A história pode mudar e a história mudou. Agora são os emergentes os líderes na produção em gás carbônico. Seja pela industrialização, seja pelo desflorestamento.
Num situação ou noutra o que realmente está em jogo são os diversos custos que se tornam inevitáveis na mudança de paradigmas de industrialização, envolvendo questões como uso de energias alternativas, processos mais econômicos e racionais no uso de capital natural, o lidar com resíduos e detritos e, mesmo, novos hábitos de consumo. Os custos aqui não são apenas econômicos, mas políticos também, pois envolvem a sobrevivência política e a virtual acomodação dos eleitores aos padrões atuais, passando por questões mais práticas como a readequação dos sistemas educacionais ou estilos de consumo.
Nesse sentido e nesse momento de crise a última coisa que as elites políticas de cada Estado-Nação podem querer é testar paradigmas sacrificando possibilidades de crescimento frente a seus eleitores, já que provavelmente eleitores não estarão dispostos a sacrificar suas chances de manter um dado nível de qualidade de vida por um abstrato "bem global". Para cada eleitorado local tem mais sentido que o "outro" faça este sacrifício. Este é o único sentimo realmente comum entre todos os países. E nesta história não tem bandido e mocinho, embora muitos tentem criar em proveito próprio esta imagem. Como se diz no sul: "Cada um, cada qual".
A partir do estrito interesse de cada Estado-Nação e sua população local é que esse acordo terá que ser construído e se falarmos num sentido mais estratégico é isso que demonstra que a chamada "mudança de paradigmas de industrialização" ou o "caminhar para uma economia verde" não serão movimentos tão rápidos e nem serão tão simples.
Demetrio Carneiro