O que deveria unir a ação dos três poderes republicanos seria o bem estar dos brasileiros, o desenvolvimento ou a democracia etc., mas no mundo real não é.
Estamos vivendo uma espécie de segundo tempo da lei de Gérson, que fez suas auspiciosa estréia na ditadura, e que se referia ao "se dar bem" das pessoas em geral. . No primeiro tempo ainda havia um certo encabulamento no que se referisse ao setor público. Nicolau Lalau foi apenas o precursor e como toda pessoa à frente de sua época pagou o preço da inovação.
Neste segundo tempo a presidente não se acanha em sustentar seu ministro corrupto, o presidente do Senado não se acanha em trocar cargos para cabos eleitorais por votos na casa e um ministro do Supremo não se acanha em receber um milhão de reais como "indenização".
O que une a Dilma, que protege seu amigo pessoal, Pimentel, a Sarney, que faz da troca de favores um estilo de política, e a Lewandosky que se auto protege numa investigação justamente sobre seus ganhos talvez até lícitos, mas imorais, é a prática patrimonialista.
A mesma prática que esta levando juízes de todo o país a uma desconstrução sistemática do Conselho Nacional de Justiça. Alguns juízes não querem ser investigados. Claro, alguns juízes não podem ser investigados sob o risco de expor à sociedade uma relação custo benefício onde o benefício é todo deles, por meio de todo o tipo de maracutaias para aumentar rendimentos e benefícios diretos e indiretos e os custos todos da sociedade, expresso na demora dos processos ou nas omissões dos juízes.
A República brasileira está podre e reflete isso no seus mais elevados níveis. O Estado brasileiro não existe pelo povo e para o povo. Para o povo são as aparas do banquete. O Estado brasileiro existe para uma elite enquistada no poder. Eles fazem de conta que ISTO é democracia e, pior, os eleitores fazem de conta que acreditam.
A reforma política e outras reformas são essenciais, mas mesmo que elas venham, e o mais certo é que não venham já que não se muda um time que está ganhando, a principal reforma talvez tenha que ser aquela que fale sobre qual seja o verdadeiro papel dos agentes políticos e dos agentes públicos.
Não será por falta de leis e regulamentos que o patrimonialismo se espalha como uma praga, mas sim por que a reforma sobre o papel dos agentes políticos e agentes públicos só pode ser feita mediante o voto. O eleitor brasileiro precisa decidir. Se quiser...
Demetrio Carneiro