Antes de ontem, 28, a BBC veio com uma excelente reportagem, de Sílvia Salek, sobre a relação entre o PIB brasileiro e uma cesta de outros indicadores, mostrando como a riqueza do PIB não refletia a diversidade dos problemas enfrentados. A começar pela extrema concentração de renda, problemas de ordem institucional etc. Com base nas informações contidas nela é que fizemos os posts: 2011: O Brasil em números e Quando o crescimento se dá em bases insustentáveis. Falha minha não ter dado à repórter e à mídia o devido crédito.
Ontem, 29, a BBC trás outra ótima matéria, de Mario Camera, falando da perspectiva dos brasileiros que vivem em países desenvolvidos, basicamente Noruega e Holanda, do norte da Europa. Países tradicionalmente considerados mais equalitários social e economicamente falando.
Em particular o modelo norueguês pode nos ser interessante por conta do uso da exploração do petróleo para sustentar todo um conceito de atenção e serviços ao cidadão. Está longe de ser um ponto pacífico, mas é uma excelente referência de como as democracias maduras lidam com a questão da exploração de recursos naturais, tanto no sentido das questões ambientais envolvidas, quanto no sentido das distribuição social desse ganho ao lidarem com uma fonte finita de energia fóssil.
O que a matéria relata basicamente é o que acontece em democracias plenas e maduras onde a renda não é violentamente concentrada como no Brasil e onde as rederes patrimonialistas não se apropriam de boa parte do produto social apropriado pelo Estado. Como comenta um dos entrevistados, lá você percebe que o tributos que é apropriado é usado em seu favor.
Enfim democracia não é apenas liberdade de voto e opinião, embora seja evidentemente essencial termos estas e outras liberdades políticas e, ainda, mecanismos de defesa da cidadania frente ao Estado. Como totalidade é preciso que a Democracia também alcance diversas outras dimensões. Entre essas diversas que seja democracia social, com o acesso equitativo e a custos aceitáveis, com base na renda, a serviços e bens públicos de qualidade.
Para que isto aconteça, do lado do Estado é preciso, por exemplo, eliminar as deseconomias geradas pela corrupção e a apropriação dos recursos públicos, os privilégios injustificados em diversos segmentos do funcionalismo. Precisamos discutir a qualidade e o próprio controle dessa qualidade dos bens e serviços públicos. Do lado da sociedade, pois é a sociedade que precisa exigir, precisamos rever os mecanismos que conduzem a nossa absurda concentração de renda. A começar pelo caráter regressivo e fortemente desigual da tributação, mas sem esquecer o quanto a baixíssima qualificação do sistema de ensino e a dificuldade do acesso às escolas de boa qualidade colaboram na formação de uma sociedade desigual. Precisamos de coragem e vontade política para promover as reformas que se façam necessárias, para construir instituições mais sólidas capazes de gerar estímulos e cooperação, mas também competividade e produtividade.
Há uma fartíssima agenda propositiva e estruturante para 2012 e os próximos anos e é somente assim, por esse caminho que, gostemos ou não, é duro e difícil que chegaremos lá e não pelos atalhos oportunistas do voto fácil e da ampla cobertura midática a-crítica, onde pouquíssimos se dão bem em detrimento da absoluta maioria.
Demetrio Carneiro