terça-feira, 6 de dezembro de 2011

LEALDADES DENTRO DA COALIZÃO VENCEDORA E AS CHANCES DOS DESAFIANTES: A IMPOTÊNCIA DA OPOSIÇÃO

A teoria diz que coalizões vencedoras muito amplas acabam precisando transforma benefícios privados, usados para favorecer os membros da coalização e manter sua coesão, em benefícios públicos, políticas públicas. Esse fato deveria de alguma forma contribuir para uma redução da lealdade dos membros da coalizão e aumentar a possibilidade de traições em favor dos desafiantes, a oposição.

Empiricamente falando o que se percebe é que a produção de políticas públicas no âmbito federal não impede que elas venham a ser apropriadas pelas rede neopatrimonialistas no âmbito dos outros dois entes federativos: Os estados e municípios. E convertidas pela apropriação em benefícios privados em favor das redes locais patrão-cliente. De alguma forma o sistemas de interesses e sobrevivências do mundo da política acaba satisfeito e o estímulo à dissidência acaba sendo neutralizado. Enfim, o neopatrimonialismo pode afetar positivamente as expectativas de sobrevivência dos políticos da coalização vencedora.

Essa capacidade de conversão é a primeira questão empírica. A segunda questão empírica é que uma coalizão muito ampla também pode não gerar infidelidades se os desafiantes não forem capazes de oferecer uma perspectiva viável. No caso brasileiro o executivo vem mantendo altíssimos níveis de aprovação independentemente dos escândalos que vão surgindo e o mundo político parece ter uma compreensão intuitiva das consequências da falta de lealdade. A traição teria sentido se a opção do desafiante fosse viável e não é o que se constata, independentemente do tamanho da coalizão vencedora. 

Postas as coisas assim o que fica evidente é a irrelevância dos desafiantes, já que a única forma de se transformarem em coalizão vencedora seria pela coptação dos membros menos beneficiados da coalizão vencedora. 
O que a pragmática deixa evidente é que para os insatisfeitos transformar-se em desafiantes não é uma solução de sobrevivência.

Nesse sentido para os desafiantes a única possibilidade de constituir uma coalizão vencedora viria pela ruptura interna da atual coalizão. Ou a desagregação das suas bases neopatrimonialistas. Esta última questão joga nas eleições municipais uma relevância que os desafiantes não são capazes de compreender, mas que os membros da coalizão vencedora já perceberam.

Uma forte crise econômica que reduzisse os níveis de popularidade do governo face a impossibilidade de entregar empregos e renda estável não garantiria necessariamente o acesso dos desafiantes a uma nova coalizão vencedora. Esta é uma aposta no futuro incerto e a política precisa se dar por conta de futuros minimamente certos.

Demetrio Carneiro