Nosso Fundo de Riqueza Soberana, na intimidade Fundo Soberano, já cumpriu a finalidade de situar o governo brasileiro como portador de uma das maiores reservas do planeta e, com a Rússia, Índia e China, somos donos de cerca de 80% das reservas mundiais.
Agora, feita a mídia, o FS terá outra finalidade.
Já de algum tempo a questão cambial vem assustando economistas ligados à defesa da volta ao protecionismo da indústria nacional. Muita coisa já se disse e muita teoria já foi montada para justificar quando, como e por qual motivo a indústria local deve ser “defendida”, nos velhos moldes dos anos 70.
Mantega saiu na frente e resolver, seguindo os bons conselhos destes economistas, taxar o ingresso de capitais de curto prazo. Não rolou.
Hora de partir para o plano B e ai entra o FS. Vai rolar? Nossos colegas terão seus sonhos concretizados e o real apreciará, facilitando a vida de nossos amigos industriais? Poderemos finalmente esquecer este papo cansativo de concorrência no setor privado e volta à boa época das empresas nacionais à sombra protetora do Estado?
Abaixo uma matéria publicada pelo Bloomberg, no dia de ontem, 4, onde são feitas algumas considerações sobre o FS como plano B, em especial do Tony Volpon.
Demetrio Carneiro
Brasil usa Fundo Soberano para depreciar o Real
Por Tal Barak Harif
4 de janeiro (Bloomberg) – A decisão brasileira de usar o Fundo Soberano para comprar dólares no mercado de câmbio indica que irá utilizar este veículo de investimento para tentar segurar a atual onda de apreciação do Real, segundo a Nomura Holding Inc.
O funcionário do Tesouro brasileiro Cleber Oliveira comentou semana passada que o fundo, com um ano de existência, poderia comprar dólares no mercado como outro interveniente adicionalmente ao Banco Central.
A medida deverá falhar em deter a apreciação do Real na medida em que os investimentos continuem fluindo para os mercados financeiros do país, disse Tony Volpon, Estrategista-chefe do Nomura para a América Latina.
“É apenas mais uma ferramenta para enfraquecer a moeda e ajudar os exportadores”, disse Tony em uma entrevista por telefone de Nova York, no dia 31 de dezembro passado. “Não terão êxito”.
O objetivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é enfrequcer o Real para evitar uma bolha, com relação ao que o Goldman Sachs Group Inc. chama de a moeda mais “supervalorizada” do mundo em um relatório de novembro passado.
O Real apreciou 33 por cento no ano passado, o maior ganho anual desde sua criação em 1993 e mais que qualquer outra grande moeda, dado a maior economia da América Latina ter sido uma das primeira do mundo a sair da recessão global.
Em 19 de outubro último, para aliviar a pressão e buscar manter a margem de lucro dos exportadores, o Ministro da Fazenda Guido Mantega impôs uma taxa de 2 por cento na compra por estrangeiros de ações e títulos de renda fixa. O Real caiu 0,6 por cento desde então. Em novembro Mantega disse que o governo “não permitirá” que a taxa de câmbio prejudique a economia.
O Real valorizou hoje 0,9 por cento. Indo de 1,7445 por dólar para 1,7284, às 9:25, em Nova York, dia 31 de dezembro.
Reservas internacionais
Telefonemas dirigidos ao porta-voz do Ministério da Fazenda, na busca de comentários sobre o fundo de riqueza soberana não foram retornados.
O Brasil criou o fundo, que teve 16,3 bilhões de reais a partir de
24 de dezembro, como uma reserva para fazer o pagamento da dívida em caso
receita insuficiente do governo. O fundo pode também ser usado para
investir em empresas brasileiras no exterior. Ao contrário de outros
fundos soberanos, o do Brasil não é financiado com excedentes orçamentários
já que o país apresenta um elevado déficit.
As reservas externas do país subiram de 32,2 bilhões dólares, ano passado, para US $ 239 bilhões comprados pelo Banco Central.
As reservas alcançaram um recorde de 239,45 bilhões dólares em 2 de dezembro, muito acima dos 55 bilhões dólares de seis anos antes, segundo dados do banco central .
Uma montanha de dinheiro
A “montanha de dinheiro" que entra no país pode levar água abaixo os
esforços do governo para conter a movimentação do real, disse o economista da Goldman Sachs Thomas Sloper, em novembro. Os economistas estimam
o real vai mudar pouco em 2010, fechando o ano em 1,75 por dólar, de acordo com a mediana de 19 previsões numa Pesquisa da Bloomberg. A moeda apreciou 103 por cento desde que Lula assumiu o cargo em janeiro de 2003, impulsionado em parte por um aumento no preço das exportações do país das commodities.
Volpon prevê que ainda apreciará 8 por cento, para 1,60 no final do próximo ano
pois há um crescente déficit no orçamento e no Conta Corrente brasileiro e isto significa atrair o investimento estrangeiro necessário para financiá-los.
O déficit orçamentário aumentou de 1,5 por cento para o equivalente a 4,1 por cento do Produto Interno Bruto, nos 12 meses até novembro. O déficit anual em conta corrente aumentou de U$ 18,9 bilhões em outubro para US $ 21,1 bilhões em novembro e vai subir para US $ 40 bilhões no próximo ano, de acordo com o Banco Central.
Os projetos de desenvolvimento do governo para preparar a Copa do Mundo de 2014 e 2016 Jogos Olímpicos também exigirão financiamento internacional, disse Volpon.
"Eventualmente mais fluxos estrangeiros virão ao Brasil para ajudar financiar esses projetos”, disse ele. Esses "por sua vez, fortalecerão o real ".