Véspera de eleição presidencial, indefinição de programas de governo e, portanto, de equipes que farão a gestão da política econômica.
Na tentativa de transformar em realidade a profecia: “2010 será um debate entre as subcorrentes keynesianas”, o nosso querido desenvolvimentismo nacional/keynesiano vai à luta.
Insistem na questão do controle cambial e partem do argumento de que o real apreciado gera um processo de desindustrialização no Brasil.
De fato, números recentes mostram, para o período posterior a 2006/2007, uma acentuada queda nas exportações líquidas com agregação tecnológica, ao passo que as mesmas exportações líquidas que agregam baixa tecnologia permanecem em alta constante. Agora, o problema é pontual e já se manifestou em outras épocas. Claro que o fato dos Investimentos Diretos Estrangeiros se concentrarem em commodities ou a concentração dos investimentos privados disponíveis no pré-sal são fatores que deveriam estar preocupando os atuais gestores e deverão preocupar os que se propuserem a sê-lo no futuro.
Claro que a estratégia chinesa tem sido manter a moeda nacional sob controle, numa permanente e historicamente estável desvalorização perante o dólar americano. Tivéssemos uma ditadura e nenhum respeito aos direitos trabalhistas, que completam o tripé chinês, quem sabe não seria interessante repetir a China? É bom acrescentar que reter a posse de boa parte dos papeis americanos dá aos chineses um fortíssimo estímulo a tomar muito cuidado com a situação do dólar americano.
Voltando ao início, também é claro, que estamos muito longe da dramática situação desenhada por nossos desenvolvimentistas nacional/keynesianos.
Evidentemente o debate sobre a desindustrialização enquanto possibilidade futura é interessante, mas vamos dar uma olhada a solução proposta.
Embora tudo isto dê a impressão de terem utilizado o método de sempre, a engenharia reversa, ou seja, partiram da proposta para buscar argumentos que a justificasse, a questão é que a proposta é basicamente desistir da política de câmbio flexível. Nada mais natural, já que vem do mesmo grupo que defende a irresponsabilidade fiscal, a inflação como estratégia de crescimento etc.
Tudo que o desenvolvimentismo nacional/keynesiano tem feito é recuperar as velhas fórmulas desenvolvimentistas já superadas historicamente, sem que se dêem conta que não apenas mudou o país, mas que o mundo, olhando para o futuro, é outro.
O que está por trás da proposta de controle cambial é o velho nacionalismo das décadas de 40, 50,60 e 70 que via no Estado a salvação da lavoura (salve o café!), perdão da indústria nacional.
O resultado e os custos para a nação deste protecionismo estão presentes em toda a nossa história econômica recente.
A visão atrasada do protecionismo encaixa perfeitamente num projeto ideológico que vê o Estado como único agente confiável para tocar o desenvolvimento. A sociedade é controlável via as bondades paternalistas e a iniciativa privada deve ser olhada com desconfiança, mas é muito boa para gerar os tributos que vão sustentar toda a rede tecno-burocrática, suas periferias e aliados.
É este projeto de poder que está tentando se firmar nos futuros programas de governo. É bom que se perceba que para eles tanto faz o lado, já que Dilma e Serra são “iguais”.
Para os segmentos industriais que desde sempre se beneficiaram da proteção e tutela estatais e buscaram nela a vantagem comparativa frente aos produtos do resto do mundo, controlar o câmbio é uma excelente forma de aumentar lucros que deveriam estar sendo empregados em investimentos que aumentassem a capacidade competitiva e, ai sim, gerando empregos qualificados e renda para as famílias. Para o Estado é a “boa” solução, pois cria aliados de primeira hora, sempre dispostos à generosa compreensão.
Demetrio Carneiro