quarta-feira, 8 de agosto de 2012

PRINCÍPIO DE ECONOMIA VERDE VIRA UM TIRO NO PÉ

É de hoje, 8, no N.Y. Times: Carbon Credits Gone Awry Raise Output of Harmful Gas é o título da matéria. Acho que Tiro no pé seria uma boa tradução...

São cerca de 19 plantas industriais, a maioria na China e na Índia. Basicamente elas produzem gases para uso em aparelhos de ar condicionado e refrigeradores. Estes gases especificamente são tidos como altamente poluentes e  alguns dos principais responsáveis pelo efeito estufa e aquecimento global. Seu preço de venda é extremamente baixo inviabilizando a entrada de produtos alternativos menos poluentes no mercado.

Com toda a lógica o programa de crédito carbono privilegia créditos para plantas que destruam esses gases. Enquanto o crédito carbono para evitar a emissão de um gás menos nocivo é calculado, por exemplo, à base de um crédito por tonelada de gás carbono não emitido, para esses gases a razão é de 11 mil créditos por tonelada de gás refrigerante destruído. Esses créditos são facilmente vendidos num mercado que gira dezenas de milhões de dólares.

Basicamente é o princípio da autorização para poluir. Você tem uma empresa que polui a atmosfera com um gás. As autoridades limitam seu direito de poluir em, digamos, uma tonelada por mês medida em gases gerados por seu processo produtivo. Você sabe que para ter lucro máximo precisa gerar, digamos duas toneladas. Dai ou você investe em novas tecnologias ou você reduz a produção ou você compra no mercado créditos carbono e passa a ter direito a poluir. 
De principio é um mecanismo atrativo, pois você está comprando direito de poluir de alguém que por qualquer motivo deixou de poluir. Assim funciona como uma forma de não travar e economia e ao mesmo tempo como uma forma de estimular que queira ou possa reduzir a poluição de sua indústria.

A questão com estas indústrias que produzem gases refrigerantes é que elas ganham dos dois lados do balcão. Os gases que produzem não poluem diretamente o local de produção. Portanto não são consideradas como poluidoras e não têm sua produção limitada. A poluição só vai aparecer de fato no descarte dos gases ao fim do tempo de vida do gás nos aparelhos.  A poluição é entregue à domicílio na casa do comprador. A forma de evitá-la é descartar os gases. Onde? Nos produtores que recebem, então, créditos para destruírem o que eles mesmos fabricaram. 

O negócio é tão lucrativo que algumas empresas já obtém cerca de 50% de seus lucros no processo de descarte. Obviamente, instaladas as plantas em regiões do mundo em desenvolvimento, os governos locais vão resistindo a romper um processo que gera empregos e riqueza.

Este é o resumo da ópera. É ou não um tiro no pé do projeto da ONU e da tentativa de reduzir os danos ambientais tentando controlar o aquecimento global?

Demetrio Carneiro