sexta-feira, 24 de agosto de 2012

AS AMARRAS DO PATRIMONIALISMO

Bem e serviços públicos são oriundos de uma pactuação social mediante a qual brasileiras e brasileiros cedem uma parte substancial do fruto de seu trabalho ao Estado.

Deveria ser evidente o como o patrimonialismo, é uma prática que apropria os bens e serviços públicos em favor privado para grupos associados no projeto de garantir sua sobrevivência política e permanência no poder.

Estamos ai acompanhando o julgamento do mensalão, a abertura do ministro relator é clara no sentido da denúncia da operação patrimonialista. Quase que diariamente recebemos notícias do envolvimento de agentes públicos, agentes políticos, empresas e empresários do setor privado. Uma questão é como isto impacta o voto e se isso é capaz de mudar as lógicas atuais. Mas há outra e envolve o papel do patrimonialismo como amarra do crescimento econômico e do desenvolvimento.

Fazemos um bom debate sobre o atual modelo econômico e vão ficando mais evidentes suas limitações, assim como vai ficando mais evidente a necessidade de propor à nação um novo, outro, modelo não apenas de crescimento econômico, mas de desenvolvimento.

O debate econômico é substancial. Dentro dele é natural que muitos de nós citemos, por exemplo, as restrições ambientais, os limites ecológicos, como restritores ao crescimento indiscriminado da economia, tanto na produção, como no consumo. O que certamente tem suas implicações no Estilo de Crescimento. 

Contudo não é tão comum a percepção do patrimonialismo como um forte restritor ao crescimento econômico mais acelerado, dado o seu papel na concentração de renda. Bens e serviços públicos apropriados privadamente são elementos de ampliação da concentração de renda, criando amarras ao desenvolvimento.

Enquanto restritor o patrimonialismo é um debate da Economia Política e da Política e não apenas um debate da economia ou da justiça.

O debate do crime e de sua punição é importante, mas a tomada de consciência da sociedade quanto ao patrimonialismo como uma restrição ao crescimento e ao desenvolvimento é fundamental para que se torne mais claro que a punição de pessoas não elimina a estrutura patrimonialista. É neste terreno que a política precisa avançar.

Demetrio Carneiro