terça-feira, 14 de agosto de 2012

INFRAESTRUTURA E INVESTIMENTOS


Amanhã, quarta, Dilma deverá apresentar suas propostas na questão da infraestrutura. Não tenho ideia do que vira, mas ano passado apresentei uma proposta de pesquisa justamente tratando sobre infraestrutura e investimentos. Está ai abaixo na íntegra. Talvez dê alguma contribuição na compreensão dessa questão.

Demetrio Carneiro

UMA AGENDA DE PESQUISAS SOBRE A SUFICIÊNCIA DOS MECANISMOS DE INVESTIMENTO EM INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES FRENTE ÀS NECESSIDADES TOTAIS DE FINANCIAMENTO

O Brasil tem um plano estratégico para os transportes, em vigor, e seu alcance vai até 2023, o Plano Nacional de Logística e Transporte(1). Em linhas gerais ele vincula transporte e logística, focado na questão do transporte de cargas, e procura tratar de uma proposta que vincule entre si os diversos formatos de modais de forma a gerar economia de custos e redução do tempo entre despacho e entrega. Por último e com base na experiência internacional o Plano propõe uma profunda mudança no perfil de participação dos modais no transporte de cargas. Busca-se, partindo do perfil atual um maior equilíbrio entre os modais, tendo em vista a ainda forte concentração no transporte por rodovias. Evidentemente há um custo e o previsto para os próximos anos, 2012-2015 e 2015 em diante, pelo PNLT é da ordem de R$ 287 bi.

De outro lado há quem critique a formulação(2). No caso do período 2012-2015 o investimento total previsto pelo PNLT é da ordem de R$ 176,7 bi. Se tivermos em vista o Plano Plurianual 2012-2015, ora em debate no Congresso Nacional, o valor total de investimentos do Plano seria cerca de 0,84%, posição de nítida desvantagem frente ao investimento realizado em outros países em situação de desenvolvimento semelhante a nossa e em épocas bem recentes:

Percentuais do PIB
Colômbia (2001) – 0,89%
Filipinas (2003) – 1,2%
Chile (2001) – 1,96%
Tailândia (2003) – 3,9%
China (2003) – 4%
Vietnam (2003) – 6%

     Segundo se deduz do relatório “A indústria e o Brasil” da Confederação Nacional das Indústrias(3), de 2010, os investimentos totais em infraestrutura feitos pela Índia e a China são da ordem de 5% e 7,5% do PIB, respectivamente. Como exemplo, conforme o blog americano Zero Hedge, a China acaba de direcionar, como medida contracíclica, apenas para uma rede de transporte de massas subterâneo, a ser implantada em 28 cidades até 2020, a importância de R$ 280 bi, num pacote, com previsão total de investimentos em infraestrutura, de R$ 455 bi.(4)

Conforme apresentação feita por Miriam Belchior, ministra do planejamento, o PPA 2012-2015 prevê um investimento público (5)(Incluindo além do governo central e investimentos das estatais :Renúncia Fiscal, Plano de Dispêndios Globais das Estatais, Fundos, Agências Oficiais de Crédito e Parcerias com o Setor Privado. Pág. 20 da apresentação) de R$ 171,1 bi em transportes(6).

Contudo como a previsão de investimentos públicos do PPA está amarrada à previsão de arrecadação e como a previsão de arrecadação está baseada num crescimento do PIB que não parece tão evidente hoje:

2012 – 4,5% e 5,5% para os anos de 2013, 2014, 2015
E supondo que as necessidades de investimento previstas do PNLT não se alteram mesmo com a queda de tributação e supondo uma “correção” para uma média anual mais suave de 3,5% (totalizando R$ 15, 9 tri acumulados no período contra os R$ 21,15 tri anteriores), por exemplo, o investimento público, mantida a proporção, cairia para R$ 87,7 bi.

Evidentemente se espera que a diferença entre o que está previsto no Plano e o que o setor púbico prevê gastar seja coberta pelo setor privado. Assim teríamos uma variação de no mínimo, mantida a expectativa de crescimento do PPA, R$ 59,6 bi a R$ 89 bi, corrigida a expectativa de crescimento do PPA. Isso sem considerar o alinhamento com os gastos realizados por outros países que poderiam dobrar ou triplicar o valor.

Supondo que as necessidades reais estejam num valor intermediário entre o R$ 59,6 e R$ 89 bi e cientes de todas as dificuldades da poupança pública e do investimento, a questão que fica é como prover esses valores por meio de recursos privados.

Daí parecer ter sentido a proposta de uma Agenda de pesquisas sobre o desempenho dos investimentos privados em infraestrutura de logística e transportes – seguindo a lógica do PNLT de casar as duas questões - procurando avaliar o contexto atual e o futuro:

a) A suficiência dos atuais mecanismos de captura dos investimentos privados como as PPPs e os FIP-IE;

b) A possibilidade de outros mecanismos capazes de direcionar a poupança privada, inclusive a das famílias;

c) A questão dos investimentos privados em transporte na área de transporte público de massas, notadamente nos transporte intermunicipal dentro das regiões metropolitanas e dentro das grandes cidades(7);

c) O ambiente institucional em que vêem se dando os investimentos, suas próprias suficiências e insuficiências(8);

d) A percepção de risco dos investidores envolvendo a confiabilidade tanto por conta dos problemas na política (o choque entre a gestão do poder e a gestão das políticas públicas), como por conta da crise internacional e da possibilidade de que os fartos recursos de investimento estrangeiros disponíveis hoje possam refluir.

Notas:

1) Disponível em

(2) FRISCHTAK, Cláudio R.,  O INVESTIMENTO EM INFRA-ESTRUTURA NO BRASIL: HISTÓRICO RECENTE E PERSPECTIVAS, 2008.
Disponível em

3) Disponível em


4) Disponível em


5) Verificar Efficiency-Adjusted Public Capital and Growth, IMF working paper nº wp/11/217
Disponível em

6) Disponível em


7) O investimento previsto no PPA 2012-2015 para a “mobilidade urbana” é de R$ 18 bi, frente as um investimento, considerado infraestrutura, em habitações no total de R$ 390,2 bi.

8) No Doing Business do Banco Mundial, quesito “facilidades de fazer negócios”  há uma pista sobre o ambiente institucional: O Brasil ocupa em 2011 o 120º pior lugar num total de 184 países.