É evidente que um processo de desenvolvimento sustentável no longo prazo, capaz de retornar riquezas aos brasileiros, rompendo inclusive padrões de concentração de renda, está intimamente ligado à produção de conhecimento soberano. Ou seja, estar ligado às cadeias produtivas mundiais dá emprego e aumenta o produto, claro, mas com toda certeza a parte do leão fica em mãos dos detentores das patentes que estão nos países do Centro e não aqui.
Dentro desta lógica de produção de conhecimento soberano os agentes públicos, e os agentes políticos, deveriam ler, ou reler, a obra de Schumpeter. Se estiverem com preguiça leiam pelo menos "O Profeta da Inovação", de Thomas K. MacCraw, da Record.
Schumpeter faz uma clara distinção entre o inovador e o capitalista. Para ele essas coisas não estão necessariamente vinculadas. Inovador é o criador. Capitalista é quem corre o risco econômico e financeiro da levar a nova proposta ao mercado. Neste sentido não se trata do Estado investir na criação de empresas inovadoras, até por que o termo é uma falácia. Inovações deixam de ser inovações no exato momento que deixam de ser monopólio e caem no domínio da concorrência. Uma economia regular não é feita de milhares de facebooks, mas de milhares de investimentos que dão certo uma parte do tempo e não necessariamente todo o tempo. As empresas que permanecerão são aquelas que tiverem meios de estabelecer nichos próprios. São os ciclos de destruição criativa.
O que os agentes públicos deveriam mirar, e os agentes políticos perceber, é que cabe ao Estado é viabilizar espaços onde a inovação possa prosperar. Estamos falando não de estruturas, mas de ambientes e instituições. A inovação está vinculada à produção de conhecimento e a produção de conhecimento em boa parte está ligada a um ambiente de ensino formal e a mecanismos facilitadores da aplicação da ideia no mundo real, ai sim as empresas e instituições facilitadoras e não complicadoras como no caso dos processos de estabelecimento de patentes.
Não será com um ensino público fundamental com esta qualidade que temos, com professores pessimamente remunerados que chegaremos lá. As Escolas Técnicas ou Universidades, supondo que sejam de fato eficientes, não podem fazer magica. Da mesma forma as facilidades públicas não precisam ser apenas de financiamento para de empresas, mas deveriam olhar para o destravamento na criação e operação de empresas e seus custos. Inclusive o trabalhista. Questões onde o Estado que acha que ajuda só atrapalha.
Demetrio Carneiro