A questão da inflação é claramente um problema de Política Econômica, mas é evidente que as diversas escolhas possíveis envolvem diretamente a Economia Política e sua compreensão, pano de fundo para essas escolhas.
Um relevante grupo de economistas brasileiros considerar que as políticas de Estabilidade são mera desculpa para legitimar valores de taxa básica da economia que favoreçam os portadores da dívida pública. algumas contas apontam que 25 mil famílias são detentoras da Dívida Pública brasileira e que elas seriam as beneficiárias da política de Estabilidade, um instrumento de caráter neo-liberal.
A política econômica de Dilma caminha por ai e sua marca mais clara foi ter relativizado o regime de metas em detrimento de uma política de estímulos estatais ao produto da economia.
Por esse caminho o centro da meta deixou de ser importante e passou a ser importante o teto. Trocando em miúdos ou invés de olharmos para os 4% , olhamos para os 6%. O alinhamento da inflação com a crise. Quer dizer, expectativa de baixa do produto alinhada com a expectativa de pouca pressão da produção sobre os preços, de certa forma vinha colaborando com o projeto.
O problema com políticas de flexibilização das metas é que o governo não controla o mercado e a formação de preços. Vivemos uma forte expectativa de inflação no setor de alimentos em decorrência da seca nos EUA, fenômeno que terá fortes repercussões nos preços de commodities fundamentais como o milho, nos próximos meses e provavelmente no próximo ano. Outro segmento fora de controle é o de serviços. A inflação de serviços continua forte e é preciso ter em vista que ela não é influenciável pelo resto do mundo. Quer dizer, na área de produtos a importação é um meio de travar a alta de preços. Serviços não são "importáveis" de modo geral.
Enfim, hoje saiu o IPCA-15, marcando 0,39 em agosto, contra 0,33 em julho. acumulando 5,37% nos últimos 12 meses.
Aqui a economia política se enrosca com a política econômica. Até qual momento a inflação deixa de ser uma problema pouco relevante? Ou por acaso o governo imagina mesmo que uma inflação de 6%, que é onde parece que chegaremos, a continuarem os reflexos da seca americana e da inflação de serviços, é um bom contributo para uma taxa de juros nominais capaz de alavancar a economia e produzir o tão esperado desenvolvimento?
Demetrio Carneiro